
O senador A�cio Neves (PSDB) est� de volta ao jogo pol�tico em Minas Gerais e come�a, em fevereiro, a se dedicar a reuni�es e visitas a pelo menos 10 regi�es do estado em busca de reconstruir seu campo pol�tico para lan�ar uma candidatura ao governo.
Em entrevista ao Estado de Minas, A�cio n�o poupou cr�ticas a Pimentel. “A situa��o de Minas � das mais ca�ticas hoje do Brasil”, disse. Ele tamb�m prometeu responder aos mineiros, por onde for, sobre as acusa��es que enfrenta na Opera��o Lava-Jato. “Vou enfrentar isso com altivez, olhando nos olhos dos mineiros de forma muito clara”.
A�cio tamb�m disse que o cen�rio da disputa presidencial est� indefinido e que, apesar de o ex-presidente Lula (PT) e o deputado Jair Bolsonaro (PSC) estarem � frente nas pesquisas, h� espa�o para uma candidatura de centro, que poder� ser ocupado pelo PSDB. O tucano afirmou que o partido precisa se apressar e que o governador Geraldo Alckmin, que assumiu o comando da legenda, deve fortalecer seu discurso e andar pelo pa�s.
O tucano tamb�m falou sobre a pris�o da irm� e disse ter errado ao aceitar que o empres�rio da JBS, Joesley Batista, lhe fizesse um empr�stimo de R$ 2 milh�es entregues em uma mala de dinheiro. Ele, no entanto, negou qualquer crime e afirmou n�o contar em nenhuma hip�tese com uma condena��o.
O sr. disse que vai concorrer ao governo ou ao Senado em Minas, mas o PSDB e o senhor v�m de duas derrotas no estado. Como espera reverter esse quadro?
S�o elei��es distintas. Perdemos a elei��o municipal, tivemos um grande candidato, mas existia um sentimento em torno de algo novo, que o prefeito Alexandre Kalil (PHS) de alguma forma absorveu, e venceu as elei��es. Em rela��o ao governo, v�nhamos vencendo h� tr�s elei��es e pol�tica � c�clica. Perdemos a �ltima elei��o e acho que isso est� possibilitando aquilo que n�o existia antes: uma compara��o, a possibilidade de um contraponto em rela��o ao que foi feito no nosso governo e o que est� sendo feito no dele: o aparelhamento da m�quina p�blica, desorganiza��o absoluta do estado, o sucateamento das superintend�ncias regionais em todas as �reas. Perder e ganhar faz parte do jogo, mas acho que temos muita solidez para mostrar aos mineiros o que � uma administra��o eficiente, qualificada, necess�ria para Minas voltar a ter aqueles indicadores que tivemos no nosso tempo. Recebo manifesta��es de policiais militares e civis de muita saudades do que era no nosso tempo, quando nossos compromissos eram honrados. Agora, h� um esfor�o herc�leo dessas entidades de servidores n�o mais para ter um reajuste acima da infla��o, como d�vamos no nosso tempo, mas para um direito b�sico, como receber em dia o sal�rio ou ter o 13º antes das festas de Natal. N�o obstante isso, temos atuado no Congresso de forma muito firme em defesa de Minas.
O senador Anastasia tem dito que n�o � candidato. Tirando ele e o senhor, o PSDB n�o tem nome de peso para apresentar ao governo. Sem um dos dois, o PSDB tem como lan�ar cabe�a de chapa?
Temos que trabalhar com outras alternativas do nosso campo pol�tico. N�o � necess�rio que o candidato seja do PSDB, at� porque, quando n�s constru�mos nossa obra em Minas, foi com apoio de muitos partidos. Se o candidato for de um desses partidos, nesse campo, que resgate os valores da efici�ncia, dos resultados da nossa administra��o, poder� ter nosso apoio e de outras for�as pol�ticas. Vamos fazer uma s�rie de reuni�es, j� temos um encontro pr�-agendado para os primeiros dias de fevereiro com o Anastasia, o ex-deputado Dinis Pinheiro (PP) e o Rodrigo Pacheco (PMDB) para tratar da constru��o desse processo de decis�o transparente e harmonioso. Acima das postula��es individuais, por mais leg�timas que sejam, est� nossa responsabilidade de encerrar esse ciclo do governo do PT. Meu papel � construir essa converg�ncia em torno do nome que tenha as melhores condi��es de vencer, seja do PSDB ou dos partidos aliados.
Em entrevista ao EM, o ex-deputado Dinis Pinheiro, perguntado se queria seu apoio, disse que o mineiro quer mudan�a e que o senhor estaria mais preocupado com sua defesa no STF. Esse grupo n�o se desestruturou?
� natural que novas lideran�as estejam surgindo. Era uma utopia achar que indefinidamente esse grupo se construiria em torno de uma figura. Estou absolutamente seguro e sereno em rela��o � minha defesa contra esses ataques torpes dos quais tenho sido v�tima. Mas o que percebo, tanto no deputado Dinis, que esteve aqui hoje, quanto nos outros aliados desses partidos, � uma disposi��o de colocar o interesse de Minas e a derrocada do governo do PT acima das postula��es pessoais. Para isso, vamos estar todos absolutamente juntos, n�o tenho d�vida alguma.
Pimentel e Marcio Lacerda provavelmente v�o concorrer. Como ser� para o senhor, que esteve aliado aos dois na elei��o de 2008, t�-los como advers�rios?
Mantenho uma rela��o civilizada com ambos, mas obviamente sou oposi��o ao que o governo Pimentel representa hoje. O prefeito Marcio Lacerda, que foi meu secret�rio, gostaria tamb�m, se poss�vel, de v�-lo dentro dessa constru��o, mas n�o posso tirar de ningu�m o direito leg�timo de postular – e a informa��o que tenho recebido � que ele tem uma candidatura j� colocada de forma mais definitiva. Mas n�o podemos fechar as portas a algu�m da qualidade dele e que tenha essa contribui��o importante no nosso per�odo de governo.
Como o sr. est� avaliando administra��o do prefeito Alexandre Kalil? Espera apoio dele na elei��o?
A situa��o das prefeituras hoje n�o � f�cil no Brasil inteiro. O custeio aumentou muito, as receitas v�m diminuindo, e vejo que ele vem fazendo um esfor�o para, ao seu estilo, enfrentar os problemas de BH. Respeito a administra��o, sempre me coloquei � disposi��o em Bras�lia, naquilo que pudermos ajudar a obter recursos, serei sempre parceiro de BH. Mas, at� porque n�o o apoiei na campanha, n�o posso cobrar dele apoio. O que pretendo �, independentemente de qualquer posi��o dele na campanha eleitoral, continuar ajudando BH.
O an�ncio da candidatura do senhor ao governo ou ao Senado teve rea��es negativas nas redes sociais. Como o senhor espera mudar isso?
Todos n�s, homens p�blicos, temos que estar prontos para responder a quaisquer acusa��es que nos fa�am. Existe esse epis�dio espec�fico (da dela��o de Joesley Batista), que quero andar por Minas e responder a ele, quando essa quest�o for levantada. Se cometi um erro – e admito que cometi, primeiro em um linguajar que n�o me � pr�prio em uma conversa privada, e segundo em um momento de dificuldades, porque depois de ter sido duas vezes governador de Minas e presidente da C�mara, n�o tinha recursos para pagar custos advocat�cios da minha defesa – foi aceitar o empr�stimo de algu�m que se dizia meu amigo. Vou enfrentar isso com altivez, olhando nos olhos dos mineiros de forma muito clara. Porque, al�m de mim, os mineiros conhecem minha trajet�ria, sabem os governos que fizemos e da minha conduta. Por outro lado, recebo manifesta��es de apoio por onde ando. Em Bras�lia, estive essa semana com algumas dezenas de prefeitos pedindo que eu volte a Minas e estou organizando uma agenda de viagem a pelo menos 10 regi�es do estado agora no come�o do ano para conversar, ouvir meus companheiros e dizer que temos todas as condi��es de encerrar esse ciclo perverso do governo do PT.
O governo Pimentel atribui o enfrentamento da maior crise financeira do estado, com sal�rios atrasados, sem condi��o de pagar o 13º, � heran�a do PSDB. Como o senhor rebate?
Isso � incompat�vel com os n�meros, com a realidade de Minas. Eu pr�prio assumi o governo do estado em 2003 sem recursos para pagar folha salarial e acabei com 3 mil cargos comissionados na primeira semana. O governo do PT criou 2 mil. Eu priorizei os programas para os quais t�nhamos recursos, eles pulverizam os recursos em programas que n�o chegam onde as pessoas est�o. Isentei de ICMS mais de 250 produtos e o que ele fez foi aumentar o ICMS de in�meros produtos. Acabei com impostos estaduais para resid�ncias que consumiam at� 90 kw de energia/m�s e o PT acabou com essa isen��o. Mas os jetons da Cemig aumentaram em mais de 100% nesse per�odo. � uma aus�ncia de prioridades. Transferir responsabilidade � muito c�modo mas isso n�o podemos aceitar. O que houve aqui foi um descontrole absoluto. A situa��o de Minas � das mais ca�ticas hoje do Brasil.
O senhor espera ter o presidente Michel Temer no seu palanque?
Acho que o presidente Michel Temer n�o vai participar de palanques. E (a pergunta) � at� uma oportunidade para repor algo que acho essencial para a compreens�o do papel do PSDB em todo esse processo, porque dentro do pr�prio partido existem incompreens�es. Vejo alguns gritando pela impopularidade do presidente e fora Temer; n�o temos nada com isso. Tinha um Brasil que n�o caminhava. Demos um apoio a essa agenda de reformas e nunca deixamos de dizer que o PSDB tem um projeto nacional. Agora � o momento de o PSDB defender seu projeto nacional sem se envergonhar de ter participado de um processo de esfor�o para retomada da economia. O PSDB ajudou na constru��o desse novo ambiente econ�mico, mas acho que um governo do PSDB, do ponto de vista nacional, � que pode alavancar essa retomada do crescimento de forma muito mais vigorosa que temos hoje.
Como explicar para o eleitor que o partido ficou no governo Temer at� as v�speras das elei��es e agora sai?
Apoiamos o Michel por responsabilidade com o Brasil. Apoiamos uma agenda que possibilitou a retomada do emprego, do crescimento, com infla��o e juros mais baixos. Essa � a heran�a que vamos compartilhar na campanha eleitoral, porque sem o apoio do PSDB nada disso teria acontecido, at� pela inser��o do PSDB na sociedade. Se tiv�ssemos feito o que sempre faz o PT, se o PSDB tivesse se decidido em raz�o do seu interesse, podia ter deixado o governo Temer naufragar, mas quem naufragaria seria a popula��o desempregada, as empresas fechando. Ajudamos nessa transi��o sempre dizendo esse n�o � o nosso governo, o nosso governo precisar� ser eleito.
A candidatura do governador Geraldo Alckmin ainda n�o decolou. As pesquisas mostram Lula e Bolsonaro na frente. O PSDB pode se tornar coadjuvante nessas elei��es?
Acho que n�o. O governador Alckmin precisar� realmente fortalecer seu discurso e andar pelo pa�s, mas h� um espa�o grande da constru��o de uma alian�a ampla no centro, com o compromisso com essas reformas, porque s� elas v�o permitir ao Brasil voltar crescer, o resto � balela. A candidatura do Lula ser� sempre uma inc�gnita em raz�o dos problemas que ele enfrenta. Vejo na candidatura Bolsonaro, com quem tenho boa rela��o pessoal, uma manifesta��o muito mais de protesto contra tudo que est� a� do que algo j� preparado para um enfrentamento presidencial. Acho que aquela for�a de centro que conseguir aglutinar maior n�mero de apoios e falar diretamente � popula��o da necessidade de se reformar o Estado brasileiro � que ter� maior chance.
A se confirmar a polariza��o entre Lula e Bolsonaro, o PSDB fica com quem? O partido se uniria a uma candidatura de extrema-direita s� pra n�o deixar o PT voltar ao poder?
Eu espero que a popula��o brasileira n�o esteja frente a esse dilema. Acho que haver� espa�o para uma constru��o de centro e � nela que o PSDB tem que buscar seu protagonismo, com alian�as verdadeiras, mas, sobretudo, com alian�a com a popula��o. O quadro est� totalmente indefinido ainda. O PSDB tem que andar r�pido e n�o temer reencontrar com sua hist�ria. Tem de refazer seu caminho de compromisso com as reformas, o estado eficiente e uma vis�o mais liberal para a economia com uma inser��o maior no mundo, no sentido de atrair investimentos.
O senhor trabalha com a hip�tese de ser condenado nas investiga��es da Lava-Jato?
Nenhuma. As acusa��es que me fazem, todas dizem respeito a financiamento de campanha. Eu era presidente de partido e o apoio �s campanhas estaduais e nacional era feito por empresas privadas. Elas doavam para os partidos pol�ticos e esses recursos eram registrados na Justi�a Eleitoral, est�o todos l�. Os investigadores avan�am e chegam � conclus�o de que o recurso foi aplicado em campanha eleitoral. Tenho plena confian�a de que tudo isso vai ficar esclarecido. Houve uma movimenta��o de criminalizar as doa��es eleitorais em determinado momento, misturando o que � l�cito com o il�cito. Tem algo em comum todos depoimentos. Todos dizem que A�cio nunca deu contrapartida. � isso que est� levando a que inqu�ritos caminhem para o arquivamento.
Em rela��o � JBS, o senhor precisava do empr�stimo e pediu a Joesley, mas por que o dinheiro foi entregue em uma mala?
Na verdade, e uma grava��o que havia sido omitida por ele mostra isso, minha irm� ofereceu a Joesley um apartamento que j� havia sido oferecido a quatro ou cinco empres�rios. Com o objetivo de obter sua dela��o, ele disse ‘n�o tenho interesse, mas empresto o dinheiro, quando venderem o apartamento voc� me paga’. Ele que fez quest�o de que fosse daquela forma, em dinheiro. Ele disse na grava��o, ‘tem dinheiro das minhas lojas e eu vou te emprestar’, dinheiro privado. Obviamente, por que insistiu que fosse daquela forma? Para criar a imagem, fazer a fotografia e vender isso para a Procuradoria como est�mulo aos benef�cios que eles tiveram. Ele insistiu em que fosse dessa forma. Foi um erro aceitar. Foi a forma como ele prop�s que eu pagasse os advogados. Agora, onde est� o crime? Foi uma arma��o com conhecimento de membros do MP para que conseguissem sua dela��o. Em 24 de mar�o, o sr. Joesley participa de uma reuni�o na PGR durante v�rias horas, assina um pr�-acordo de dela��o, sai dessa reuni�o e vai fazer comigo essa grava��o, que � um ato il�cito. E mesmo nessa conversa n�o conseguiu encontrar nenhum crime, tanto que a den�ncia da Procuradoria n�o cita contrapartida nem crime algum.
O �ltimo relat�rio da PF diz que apreenderam chips de celular na sua casa em nome de laranjas. Como explica?
N�o recebi isso ainda. N�o sei de quem s�o esses telefones, estou esperando que possamos ter acesso para explicar. Porque era uma casa usada desde a campanha eleitoral por muita gente, quero entender isso para dar explica��es cabais. Mas eles pr�prios investigaram liga��es desses telefones e n�o h� liga��o que pudesse ser comprometedora. Ali�s, em raz�o desse epis�dio da JBS, houve essa busca e apreens�o que ser� um ativo importante na minha defesa, porque n�o se encontrou nada que pudesse apontar para o cometimento de alguma ilegalidade. Isso vai ficar no final provado.
Neste ano o sr. viu sua irm� ser presa e foi afastado do Senado. Qual foi o pior momento?
Essa, de todas as quest�es, foi a mais absurda, porque a Andrea, que Minas conhece pela corre��o absoluta, marcou um encontro com ele, a quem n�o conhecia, para oferecer um apartamento. Isso � corroborado por um telefonema em que ela o convida para conhecer o apartamento da minha m�e, que estava � venda e ponto. A participa��o dela � apenas essa. Foi levada de rold�o em uma injusti�a absurda. Acho que a Justi�a vai reconhecer o final. Houve ali uma a��o despropositada do MP em uma quest�o que o tempo vai mostrar que, se houve crime, ele n�o foi cometido por mim e muito menos por ela. E sim por esses empres�rios e, agora se sabe, com apoio e solidariedade de membros do MPF.