
H� oito dias, Marielle, que acompanhava na condi��o de vereadora a interven��o federal, como forma de coibir abusos das For�as Armadas e da pol�cia a moradores de comunidades, recebeu den�ncias envolvendo PMs que patrulham a Favela de Acari, na zona norte do Rio. Moradores contaram, na primeira reuni�o do Observat�rio da Interven��o, no Centro de Estudos de Seguran�a e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, que dois homens foram assassinados por policiais e tiveram os corpos jogados num val�o. Segundo estes moradores, a PM vem se sentindo "com licen�a para matar" por conta da interven��o.
A vereadora compartilhou a not�cia em seu perfil no Facebook, com a inscri��o 'Somos todos Acari, parem de nos matar". "Precisamos gritar para que todos saibam o est� acontecendo em Acari nesse momento. O 41° Batalh�o da Pol�cia Militar do Rio de Janeiro est� aterrorizando e violentando moradores de Acari. Nessa semana dois jovens foram mortos e jogados em um val�o. Hoje, a pol�cia andou pelas ruas amea�ando os moradores. Acontece desde sempre e com a interven��o ficou ainda pior", dizia a mensagem, que conclamava os internautas a reverberarem a den�ncia.
A advogada criminalista Ma�ra Fernandes, membro do Comit� Latino Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher, acredita na hip�tese de execu��o. "Marielle era a nossa esperan�a na pol�tica", lamentou. "Eu a conheci h� quase duas d�cadas: sempre nas mais importantes lutas, coerente, aguerrida, corajosa. T�nhamos muitos planos para ela. Esse seria o primeiro mandato de muitos! Tinha um caminho enorme pela frente. N�o consigo acreditar. Acabo de ver as fotos e vejo que isso n�o foi assalto. Foi execu��o. � preciso descobrir quem fez isso e fazer justi�a � Marielle."
O soci�logo Renato Lima, diretor presidente do F�rum Brasileira de Seguran�a P�blica, defendeu que a PF entre imediatamente na apura��o do crime. "Estou absolutamente chocado, a morte de Marielle Franco � mais um sinal da banaliza��o da viol�ncia que toma conta do Pa�s e que nos faz ref�ns do medo. O m�nimo que se espera do interventor � uma apura��o rigorosa e transparente do epis�dio. N�o podemos aceitar que o caso n�o seja rapidamente esclarecido. O interventor tem diante de si um dos seus maiores desafios desde que a medida foi adotada, n�o deixar esta morte impune. Tudo indica que foi uma execu��o".
O cientista social Luiz Eduardo Soares afirmou que a execu��o foi confirmada pela pol�cia, e lembrou do caso da ju�za Patricia Acioli, assassinada por policiais em 2011 depois de condenar � pris�o policiais ligados a mil�cias. "Mulher, negra, lutadora contra as desigualdades e a viol�ncia. Teve uma vota��o surpreendente, em 2016. Ela passou esta semana denunciando viola��es praticadas pela PM em Acari. Temos estado juntos na longa milit�ncia. Estive com ela dois dias antes de viajar, semana passada. Faltam palavras para expressar o horror e mal posso imaginar o que se passa na cabe�a de sua filha e de sua fam�lia.
E o motorista, sua fam�lia, um trabalhador inocente, honrado? A pol�cia confirma que foi execu��o. A ju�za Patricia Acioli foi assassinada em 2011 por policiais militares. Agora, � poss�vel que o mesmo tenha acontecido. Quando, meu Deus, quando a popula��o vai despertar e entender que a inseguran�a p�blica come�a nos segmentos corruptos e brutais das pol�cias, e que n�o podemos conviver mais com esse legado macabro da ditadura. Vamos continuar falando em 'desvios de conduta individuais'? O que fazer, agora, al�m de chorar?", ele escreveu em seu perfil no Facebook.
O PSOL divulgou a seguinte nota: "O Partido Socialismo e Liberdade vem a p�blico manifestar seu pesar diante do assassinato da vereadora Marielle Franco. Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partid�rios do PSOL/RJ nesse momento de dor e indigna��o. A atua��o de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a milit�ncia do PSOL e ser� honrada na continuidade de sua luta. Exigimos apura��o imediata e rigorosa desse crime hediondo. N�o nos calaremos! Marielle, presente!"
O coronel da reserva Ibis Silva, ex-comandante geral da corpora��o, desolado, n�o conseguiu comentar a perda. "Perdi uma irm�. Ela era minha madrinha no PSOL, me levou para l�. Conhecia h� muitos anos. O Rio perdeu uma pessoa extraordin�ria. Eu perdi uma grande amiga."
Tamb�m evitando dar declara��es sobre a a��o criminosa, Paulo Storani, antrop�logo e ex-capit�o da Pol�cia Militar, acredita que, tendo sido execu��o ou n�o, o caso n�o ficar� impune. "Todas as hip�teses devem ser consideradas. A assessora que sobreviveu poder� esclarecer tudo. Dificilmente a verdade, seja qual for, ficar� acobertada".
O prefeito Marcelo Crivella (PRB) divulgou nota de pesar, em que ressaltou a "honradez, bravura e esp�rito p�blico" da vereadora. "Sua trajet�ria exemplar de supera��o continuar� a brilhar como uma estrela de esperan�a para todos que, inconformados, lutam por um Rio culto, poderoso, rico, mas, sobretudo, justo e humano. Em cada lar uma prece, em cada olhar uma l�grima e em cada cora��o um voto de tristeza, dor e saudade. � assim que hoje anoitece a cidade desolada e amargurada pela perda de sua filha inesquec�vel e inigual�vel. Que Deus a tenha!"