Se, em tese, o voto deveria ser pautado pelas prefer�ncias pol�ticas, nas elei��es de 2018, a polariza��o na disputa pelo Pal�cio do Planalto entre a extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) e a esquerda de Fernando Haddad (PT), substituto do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, tem levado o eleitor a considerar escolher n�o seu candidato favorito entre os 13 nomes que concorrem ao cargo. Em vez disso, pesa na avalia��o votar no advers�rio capaz, segundo as pesquisas, de derrotar o concorrente que o eleitor mais repudia. A op��o valeria, no caso, como voto contra Haddad ou Bolsonaro, que lideram a corrida presidencial. Comum no segundo turno, a pr�tica, conhecida como voto �til, domina o primeiro turno do pleito e leva os demais candidatos a reagir. Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB), que se distanciaram do segundo lugar, criticam essa estrat�gia eleitoral, numa tentativa de retomar a competitividade na corrida presidencial.
Os n�meros apontam que Bolsonaro lidera as inten��es de voto, com 28% da prefer�ncia, crescendo dois pontos percentuais. Oficializado candidato no �ltimo dia 12, Haddad se consolida em segundo lugar, com 19% das inten��es, 11 pontos em rela��o ao levantamento anterior. Ciro Gomes vem atr�s, com 11% das inten��es, seguido de Alckmin, 7%, e Marina, 6% – os tr�s disputavam empatados o segundo lugar em outras pesquisas anteriores. Ciro se manteve e Alckmin e Marina ca�ram dois e um ponto, respectivamente.
"A ideia do voto �til � n�o desperdi�ar o voto em torno de quem n�o tem chance ou n�o ajudar a eleger algu�m que o eleitor rejeita. O c�lculo que o eleitor faz � de quem tem chances reais de ganhar%u201D
F�bioWanderley, professor em�rito de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
“A ideia do voto �til � n�o desperdi�ar o voto em torno de quem n�o tem chance ou n�o ajudar a eleger algu�m que o eleitor rejeita. O c�lculo que o eleitor faz � de quem tem chances reais de ganhar”, explica o professor em�rito de Ci�ncias Pol�ticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) F�bio Wanderley. “Por causa dessa polariza��o, muita gente se coloca contra eventual vit�ria do PT ou de Bolsonaro”, comenta.
Por causa dessa divis�o e com o avan�o de Haddad, Ciro vem acirrando as cr�ticas ao PT, com a inten��o de atrair eleitores de esquerda e consolidar seu nome na disputa de um segundo turno. Ele trata o voto �til como “insulto � experi�ncia popular”. Ontem, ele lembrou em sua conta no Twitter as elei��es de 2014, em que as pesquisas apontavam segundo turno entre Dilma Rouseff (PT) e Marina Silva. “O resultado das urnas foi completamente diferente, levando A�cio para o segundo turno, ao inv�s de Marina, como apontava o Ibope. Ent�o, meu povo, a li��o que fica � que nunca devemos transferir a nossa decis�o e nosso entusiasmo para os institutos de pesquisa”, afirmou, refor�ando ainda que as pesquisas internas do partido lhe deixam “muito animado”.
Na semana passada, ele disse em campanha que o brasileiro n�o merece ter que decidir entre um “fascista”, em refer�ncia a Bolsonaro, e as “enormes contradi��es do PT”. “At� a reta final, ainda haver� muitos momentos de emo��o e viradas”, apostou. Ele tamb�m argumenta que seu nome � o mais forte para derrotar Bolsonaro no segundo turno.
Em franca queda nas pesquisas eleitorais e em visita a Belo Horizonte, Marina Silva se posicionou contra os n�meros e pediu para que o eleitor vote de acordo com suas convic��es. “Os grandes partidos far�o de tudo para que quem defina as elei��es sejam as pesquisas. Vou fazer de tudo pra que quem defina seja a popula��o”, afirmou.
'Estrat�gia pouco inteligente'
Na tentativa de levar o eleitor de Jair Bolsonaro (PSL) a migrar para sua candidatura, Geraldo Alckmin (PSDB) tem dito que eleitores que repudiam o PT podem estar garantindo a vit�ria do partido num eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad. “Pode ser o inverso, pode ser um passaporte para a volta do PT, porque, no segundo turno, o Bolsonaro � o �nico que perde para o PT”, disse o tucano.
A pesquisa Ibope mostrou que, num eventual segundo turno, Bolsonaro fica tecnicamente empatado com Haddad, Ciro e Alckmin e ganha de Marina. J� Bolsonaro, que lidera a rejei��o nas pesquisas, quer usar a l�gica do chamado voto �til para definir a disputa no primeiro turno. “Bolsonaro pode estar a um Amo�do ou a um �lvaro Dias de vencer no 1° turno, at� pesquisas j� come�am a reconhecer”, postou no Twitter Fl�vio Bolsonaro, filho do deputado.
Os advers�rios em quest�o, Jo�o Amo�do (Novo) e �lvaro Dias (Podemos), t�m 2,8% e 1,9% das inten��es de voto, respectivamente, segundo a pesquisa CNT/MDA. Em campanha no Rio ontem, �lvaro Dias tratou o voto �til como “estrat�gia pouco inteligente”. “Quem defende o voto �til assina um atestado de burrice”, criticou. Contra o voto �til, Amo�do usa como mote da campanha o “Vote sem medo”. “Pessoal, na pesquisa espont�nea estamos � frente de Alckmin e Marina, com 3% das inten��es de voto. Isso s� reafirma que �til mesmo � o voto no candidato em que voc� acredita!”, postou o candidato nas suas redes sociais.
Com menos de 1% das inten��es de voto, o candidato do Psol, Guilherme Boulos, comentou o fato de poder perder votos para Haddad como rea��o de parte dos eleitores ao medo de vit�ria de Bolsonaro. “Isso pode levar a uma ideia de n�o votar no projeto que acredita mais em nome de combater esse retrocesso tremendo que representa o Bolsonaro. Mas, agora, � sempre preciso lembrar o seguinte: a elei��o � em dois turnos”, afirmou Boulos, colocando-se na disputa.
ANTIPOL�TICA O cientista pol�tico Lucas Cunha, pesquisador do Centro de Estudos Legislativos (CEL), percebe tend�ncia maior de antecipa��o do voto �til no primeiro turno nas elei��es deste ano. “O eleitor tende a votar em quem est� pontuando mais nas pesquisas. A elei��o virou jogo plebiscit�rio entre o ‘sim’ e o ‘n�o’. Entre aqueles de extrema direita e insatisfeitos com os governo recentes contra o Lulismo e o campo progressista que tem avers�o � Bolsonaro”, afirma.
Ele define que o pleito tem se configurado como “a elei��o da antipol�tica” e que demonstra um desgaste do sistema partid�rio brasileiro. “Quem lidera as pesquisas � um candidato de um partido nanico”, refor�a. O pesquisador n�o acredita, entretanto, que pesquisas sejam suficientes para determinar a elei��o. “ A pesquisa influencia em parte, mas numa disputa presidencial, a campanha na TV, o r�dio e a internet tem muito peso”, diz. Cunha lembra as elei��es de 1989, em que a aposta era de que Leonel Brizola iria para um segundo turno contra Fernando Collor de Mello. Na �ltima hora, ele acabou perdendo a vaga para Lula, que perdeu a elei��o para Collor.