Direto da Su�cia: conhe�a detalhes do novo ca�a brasileiro

Link�ping (Su�cia) – Quem um dia tentou montar um brinquedo a partir de pe�as de pl�stico e ferro at� pode se sentir confort�vel no galp�o de fabrica��o de um avi�o de combate. A compara��o � inevit�vel, mas tudo aqui � mais complexo, a partir de escalas inimagin�veis para um leigo em engenharia e avia��o. A m�quina que ganha forma dentro das estruturas da empresa Saab, localizada a 200 quil�metros de Estocolmo, � uma das mais avan�adas no mercado mundial da guerra, uma aeronave que atinge a velocidade m�xima de 2.200km/h (duas vezes a velocidade do som).

Para o ca�a Gripen – encomendado pelo governo brasileiro – se materializar, � necess�rio encaixar mais de 17 mil partes delicadas e distribuir 35 quil�metros de cabos na estrutura. Em meio a computadores, quadros, furadeiras e todo tipo de material necess�rio para colocar no ar um ve�culo de 10 toneladas, h� brasileiros sendo treinados e trabalhando ao lado de suecos.

Ainda em 2014, nos estertores do primeiro mandato do governo Dilma Rousseff, a For�a A�rea Brasileira (FAB) anunciou a vencedora de uma concorr�ncia de US$ 5,4 bilh�es (cerca de R$ 17 bilh�es) para a renova��o da frota de avi�es de combate para o Brasil. A novela, que se arrasta desde 2001, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso, deu um passo importante na semana passada.

A c�pula militar brasileira esteve na cidade de Link�ping para acompanhar o in�cio dos testes de voo da aeronave, constru�da numa parceria para desenvolvimento de tecnologia entre suecos e brasileiros.

A via-cr�cis a�rea do Brasil em busca de um ca�a moderno, entretanto, enfrenta um dos mais desafiadores momentos, desde a disputa entre a Saab, a Boeing (EUA) e a Dassault (Fran�a): a falta de recursos para os repasses de dinheiro para os suecos, que garantem desde j� a continuidade do programa.

Os recursos reservados para a compra e o desenvolvimento do Gripen subiram entre 2018 (R$ 1.050.133.500) e 2019 (R$ 1.357.511.151), mas ca�ram drasticamente na previs�o para 2020 (R$ 643.340.000). Isso sem contar o que pode vir a ser contingenciado ainda neste ano e no pr�ximo.

De uma forma geral, houve uma queda de 42% nos programas da pasta da Defesa. O ministro Fernando Azevedo e Silva disse, ainda na quarta-feira, que, a pedido do presidente Jair Bolsonaro a equipe econ�mica est� revendo a previs�o or�ament�ria para 2020. “S�o projetos que j� est�o iniciados, assim, tenho uma expectativa positiva para o pr�ximo ano, para que n�o tenha uma defasagem.”

O engenheiro de produ��o Henrique Pinto, de 33 anos, est� h� quatro meses em Link�ping, uma cidade simp�tica e que, em parte, se movimenta em raz�o da fabrica��o do Gripen. Contratado por uma empresa subsidi�ria da Saab no Brasil para a montagem das pe�as da fuselagem do ca�a, ele � um dos 350 brasileiros que, em algum momento, participar�o do treinamento para a transfer�ncia de tecnologia, um dos principais pontos para a escolha dos suecos na disputa com norte-americanos e franceses.

Selecionado para o treinamento, Henrique chegou � Su�cia com a mulher. Em todos os passos, ele � acompanhado por um instrutor. Nos pr�ximos cinco anos, assumir� a fun��o do mentor na montagem, em S�o Bernardo do Campo (SP), de parte dos 36 modelos encomendados pelo Brasil.

Respons�vel por trabalhar na montagem dos esqueletos das asas do Gripen, Luzieide Silva, de 37, est� h� cinco meses em Link�ping e vai continuar o treinamento por mais dois anos. Natural de Jacare�, munic�pio do Vale do Para�ba, em S�o Paulo, ela trabalhou na Embraer e se especializa na montagem do quebra-cabe�as nos galp�es da Saab. Nas horas vagas, tanto Luzieide quanto Henrique, bem como todos os brasileiros que hoje trabalham em uma das etapas da constru��o do avi�o, se encontram com suecos selecionados antecipadamente pela Saab para servir de buddy, esp�cie de amigo com perfis parecidos, como idade, estado civil e hobbies. A presen�a dos brasileiros tem mudado aos poucos alguns costumes na cidade, como o corte das carnes: alguns estabelecimentos come�aram a vender picanha.

Eventuais quedas nos repasses do governo � Saab n�o preocupam a empresa sueca. “Entendemos, mas n�o estamos preocupados”, disse, na �ltima quarta-feira, o chefe do setor aeron�utico da empresa sueca. A partir dos cortes � natural uma renegocia��o do contrato, incluindo a� a pr�pria reavalia��o dos prazos de entrega. O atual cronograma prev� que, no pr�ximo ano, se inicie a produ��o de 15 aeronaves no Brasil. No ano seguinte, a entrega do primeiro lote da s�rie da For�a A�rea Brasileira (FAB).