Rodrigo Janot era procurador-geral da Rep�blica em maio de 2017 quando entrou armado no pr�dio principal do Supremo Tribunal Federal (STF) com a inten��o de matar o ministro Gilmar Mendes, por insinua��es que ele supostamente fizera sobre sua filha.
Em 2017, quando a desaven�a entre os dois j� era not�ria, Janot disse, em entrevista no 12º Congresso da Associa��o Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em S�o Paulo, que todas as vezes em que teve de se dirigir "de uma maneira mais dura foi reagindo a uma agress�o".
Na mesma ocasi�o relatou que os dois tomaram posse no Minist�rio P�blico Federal no mesmo dia - 1º de outubro de 1984 - e que, nos anos 1980, durante o per�odo de forma��o acad�mica de ambos, simultaneamente Janot foi para It�lia e Mendes para a Alemanha. "L� a gente se frequentava, ele nunca veio � It�lia, eu fui � Alemanha, n�s sa�amos, tom�vamos cerveja. N�s �ramos de um mesmo grupo e depois a vida foi encaminhando cada um para o seu lado. Eu n�o tenho nada contra ele, � da minha turma de concurso."
A cena do quase assassinato est� narrada, sem detalhes, no livro Nada Menos que Tudo (Editora Planeta), que ser� lan�ado na pr�xima semana. Gilmar Mendes e Janot viviam trocando cr�ticas e indiretas em p�blico: o ministro � cr�tico dos m�todos utilizados pela for�a-tarefa da Opera��o
Lava-Jato, que foi comandada por Janot por quase quatro anos. Janot saiu do comando da Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) em 17 de setembro de 2017.
Em 2016, ambos usaram o trabalho do ent�o juiz federal Sergio Moro para se criticarem diretamente. Janot havia afirmado que os processos da Lava Jato t�m ritmo "mais lento" por serem conduzidos por um tribunal, e n�o pela Justi�a em primeiro grau. Mendes respondeu dizendo que a atua��o de Moro era muito mais r�pida. "Eu acho que h� morosidade nas investiga��es na PGR. Curitiba � muito mais c�lere do que a PGR. Isso � evidente", disse o ministro.
Em mar�o de 2017 Gilmar Mendes acusou a PGR de divulgar de forma indevida informa��es de processos sigilosos. "Quando praticado por funcion�rio p�blico, vazamento � eufemismo para um crime que os procuradores certamente n�o desconhecem. A viola��o do sigilo est� no artigo 325 do C�digo Penal (...) Mais grave � que a not�cia d� conta dessa pr�tica dentro da estrutura da PGR. Isso � constrangedor."
No dia seguinte, sem mencionar o ministro do STF em seu discurso, Janot rebateu as cr�ticas de Mendes. "N�o vi uma s� palavra de quem teve uma disenteria verbal a se pronunciar sobre esta imputa��o ao Congresso, ao Pal�cio e at� o Supremo", disse o ex-PGR.
Os dois exemplos foram os mais expl�citos de trocas de farpas em declara��es p�blicas da dupla. Em cita��es indiretas h� dezenas de casos desde ao menos 2015 no notici�rio pol�tico brasileiro. O tom estava mais forte nos �ltimos meses do mandato de Janot, quando a PGR j� preparava a primeira den�ncia contra o ex-presidente Michel Temer.
Ap�s a sa�da de Janot, os dois chegaram a se estranhar at� em avi�o para a Europa. Um m�s ap�s sair do cargo, em outubro de 2017, Janot insinuou que Gilmar Mendes tivesse algum problema de sa�de que o levasse a ter �dio. "Ningu�m tem essa capacidade de odiar gratuitamente a v�rias pessoas a n�o ser que tenha algum problema, n�, de sa�de", disse durante palestra na Universidade Georgetown, em Washington.
Pouco antes disso, Mendes chegou a sugerir durante sess�o no STF que Janot deveria ter pedido a pr�pria pris�o diante do malogro das investiga��es do caso JBS. "Eu sou da turma de 84. Certamente j� ouvimos falar de procuradores pregui�osos, de procuradores violentos, alco�latras, mas n�o de procuradores ladr�es. � disso que se cuida aqui, corruptos num processo de investiga��o. Essa pecha a Procuradoria n�o merecia ao fazer investiga��o criminal", disse Gilmar Mendes em setembro de 2017 em uma das primeiras sess�es ap�s a sa�da de Janot.
Mendes n�o deu tr�gua na l�ngua afiada durante todo o mandato de Janot e chegou a falar de morte ao se referir ao ex-PGR. Instantes antes da �ltima sess�o plen�ria do Supremo durante o mandato de Janot, o ministro usou erroneamente um trecho de um poema para se referir � despedida. "Eu diria em rela��o ao procurador-geral Janot uma frase de Bocage: 'Que saiba morrer quem viver n�o soube'", disse o ministro em 14 de setembro de 2017, quatro meses depois do epis�dio que, segundo Janot, quase tirou sua pr�pria vida. A frase do soneto do poeta portugu�s Manuel Maria Barbosa Du Bocage diz, no entanto: "Saiba morrer o que viver n�o soube".