
Na Cadeia Velha, foi produzido o relat�rio do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou movimenta��es suspeitas de Fabr�cio Queiroz, assessor de Fl�vio na Assembleia Legislativa do Rio. At� agora, por�m, nada liga Ramagem, diretor-geral da Ag�ncia Brasileira de Intelig�ncia (Abin), ao vazamento ou a outra ilegalidade na a��o dos policiais federais no Rio.
Em novembro de 2017, a Cadeia Velha investigou a concess�o ilegal de benef�cios fiscais a empresas mediante vantagens indevidas. A Furna da On�a, em novembro de 2018, apurou o pagamento de propinas a deputados estaduais. Ambas tiveram como epicentro a Alerj, e seus desdobramentos chegaram a assessores de mais de 20 parlamentares. Segundo o Coaf, eles movimentariam em contas banc�rias quantias muito superiores a seus vencimentos.
Isso levantou a suspeita de rachadinha – repasse de parte do sal�rio do comissionado ao parlamentar que o contratou. Um dos ocupantes desses cargos era Queiroz, que, em um ano, movimentou R$ 1,2 milh�o. O assessor recebeu dep�sitos de colegas de gabinete, muitas vezes em datas perto do dia de pagamento. A investiga��o dessas suspeitas ficou com o Minist�rio P�blico Estadual e envolveu Fl�vio. Ele n�o fora alvo das duas opera��es que devassaram a Casa e levaram � pris�o seus ex-presidentes Jorge Picciani e Paulo Melo (MDB).
Entre as duas a��es da PF, Ramagem se tornou pr�ximo dos Bolsonaros. Foi designado para cuidar da seguran�a do ent�o presidenci�vel ap�s o atentado � faca em Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. Teve ascens�o r�pida no novo governo. Chegou a ser nomeado superintendente da PF no Cear�, em fevereiro de 2019, mas foi deslocado para um cargo de assessor especial do ent�o ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz. Em julho, foi para a Abin. Recentemente, Bolsonaro quis nome�-lo diretor-geral da PF. O presidente queria ter, segundo Moro, algu�m com quem pudesse “interagir” e que lhe fornecesse relat�rios de intelig�ncia. A suposta interfer�ncia do presidente na PF � investigada no STF, pelo decano da Corte, Celso de Mello.
De acordo com entrevista ao jornal Folha de S.Paulo do empres�rio e suplente de senadorPaulo Marinho, que participou da campanha de Bolsonaro, Fl�vio lhe contou que, uma semana ap�s o primeiro turno, o coronel Miguel Braga, atual chefe de gabinete do senador, o procurou. O militar disse que um delegado da PF pedia um encontro, para tratar de assunto do interesse do parlamentar. Braga afirmou ter respondido que o senador eleito estava ocupado, mas relatou ao filho 01 do presidente o que ocorria. Recebeu ordem para encontrar o policial. Reuniram-se, segundo Marinho, na porta da superintend�ncia da PF no Rio, na Pra�a Mau�. O policial disse que a Furna da On�a iria “acontecer” na Alerj e atingiria Queiroz e a filha dele, Nathalia.
Ambos foram exonerados antes da a��o que, segundo o delegado, seria postergada at� depois da vota��o, para n�o atrapalhar o resultado.
O desembargador Abel Gomes, relator da Opera��o Furna da On�a no Tribunal Regional Federal da 2.ª Regi�o, divulgou nota oficial afirmando que a a��o que mirou esquema de desvio de sal�rios na Alerj “n�o foi adiada, mas, sim, deflagrada no momento que se concluiu mais oportuno, conforme entendimento conjunto entre o Minist�rio P�blico Federal, a Pol�cia Federal e o Judici�rio”. Segundo o magistrado, as autoridades entenderam que realizar a opera��o ap�s o segundo turno das elei��es 2018 “seria o correto e consent�neo” com a lei – decis�o que caracterizou como uma “precau��o l�dima e l�gica”.
Marinho disse que tem “elementos que comprovam” seu relato. “Tenho provas, tenho elementos que comprovam o relato que eu fiz. J� adianto que tudo que eu falei vou repetir durante depoimento � PF, rigorosamente igual”, disse o empres�rio ao site G1. Fl�vio � investigado pelo Minist�rio P�blico do Rio por peculato (desvio de dinheiro p�blico por servidor), lavagem de dinheiro e organiza��o criminosa. Mais de 90 pessoas tamb�m est�o sob investiga��o.
O senador reagiu �s afirma��es de Marinho. Em nota, atacou o ex-aliado. “O desespero de Paulo Marinho causa um pouco de pena. Preferiu virar as costas a quem lhe estendeu a m�o. Trocou a fam�lia Bolsonaro por (Jo�o) Doria e (Wilson) Witzel, parece ter sido tomado pela ambi��o. � f�cil entender esse tipo de ataque ao lembrar que ele, Paulo Marinho, tem interesse em me prejudicar, j� que seria meu substituto no Senado. Ele sabe que jamais teria condi��es de ganhar nas urnas e tenta no tapet�o”, afirmou.
O parlamentar nega todas as acusa��es. J� tentou parar as apura��es na Justi�a pelo menos nove vezes. Ap�s alguns sucessos iniciais, as investiga��es foram retomadas. Queiroz tamb�m sempre negou ter cometido irregularidades, embora tenha mudado de vers�o. J� disse que ganhava dinheiro vendendo carros e depois admitiu que recolhia dinheiro dos colegas, mas para ampliar a assessoria de Fl�vio, que n�o saberia da pr�tica. Tamb�m Marinho disse que o parlamentar teria dito que Queiroz quebrara sua confian�a. O presidente Bolsonaro sempre negou irregularidades e j� disse ser o verdadeiro alvo dos que atacam Fl�vio que, acusou, teve seu sigilo banc�rio quebrado ilegalmente.
A reportagem tentou contato com Alexandre Ramagem, sem sucesso.
A entrevista de Marinho teve outras consequ�ncias. O Minist�rio P�blico Federal (MPF) dever� requerer que a Pol�cia Federal desarquive inqu�rito que j� tramitou, para apurar ind�cios de vazamentos na Furna da On�a. Alguns presos n�o demonstraram surpresa com a chegada da PF – um deles estava com o diploma de curso superior, que lhe garantiria pris�o especial. E o pr�prio Marinho, a seu pedido, passou a contar com prote��o policial em torno de sua casa, a partir desta segunda, 18. Sofreu amea�as e pediu ajuda ao governo fluminense.