
O presidente Jair Bolsonaro deve encontrar dificuldades, pelo menos por enquanto, para atrair o apoio do MDB na disputa pelo comando da C�mara dos Deputados a partir de 2021. O partido tem sinalizado, diante de alguns gestos de aproxima��o do presidente, que pretende manter a linha independente que o levou a se desligar do Centr�o, bloco parlamentar que ocupa cada vez mais espa�o no governo.
A iniciativa de Bolsonaro de convidar o ex-presidente Michel Temer (MDB) para liderar a miss�o humanit�ria brasileira no L�bano foi vista, no meio pol�tico, como uma tentativa de aproxima��o com o MDB. Al�m do convite, o presidente viajou a S�o Paulo para participar da solenidade de partida da miss�o e trocou afagos com Temer e o presidente da Federa��o das Ind�strias do Estado de S�o Paulo (Fiesp), o emedebista Paulo Skaf.
Tamb�m foi interpretada como um flerte de Bolsonaro a escolha do deputado Ricardo Barros (PP-PR), do Centr�o e ex-ministro da Sa�de de Temer, como novo l�der do governo na C�mara. O ex-presidente, mesmo com o desgaste da pris�o no processo do decreto dos portos, ainda exerce certa influ�ncia no MDB.
A primeira resposta ao gesto de Bolsonaro partiu do presidente do partido, deputado Baleia Rossi (SP), que tentou se antecipar a qualquer interpreta��o equivocada. “Sucesso ao presidente Temer na miss�o no L�bano, que � 100% de car�ter humanit�rio e zero por cento de car�ter pol�tico-partid�rio. O L�bano � uma na��o irm� e merece nossa solidariedade e nossa prece”, tuitou o parlamentar.
Baleia Rossi, autor da principal proposta de reforma tribut�ria em discuss�o na C�mara, � o nome preferido do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para suced�-lo no cargo nas elei��es de fevereiro de 2021. Com o aval de Maia, o MDB e o DEM anunciaram, no fim de julho, o desligamento do Centr�o para formar um bloco independente com o PSDB.
O compromisso com a independ�ncia da C�mara em rela��o ao governo � um dos principais pr�-requisitos exigidos de um postulante � presid�ncia da Casa. O movimento do MDB e do DEM enfraqueceu o poder de articula��o do deputado Arthur Lira (AL), l�der do PP e do Centr�o e nome preferido do Planalto para a disputa pela sucess�o de Maia. Muito pr�ximo de Bolsonaro, Lira tem atuado como l�der informal do governo na C�mara e participado de todas as negocia��es de cargos para o Centr�o na administra��o federal.
No vaiv�m da pol�tica, a ofensiva do Planalto � um novo caminho que se abre para o MDB, mas ainda n�o se v�, pelo menos at� agora, qualquer sinal de mudan�a de rumo na sigla. A �nica certeza � de que o partido, dono de uma bancada de 35 deputados federais, virou objeto de uma disputa que est� apenas come�ando.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS) elogiou os gestos de aproxima��o de Bolsonaro, afirmando que a boa rela��o entre os Poderes � sempre bem-vinda, principalmente na crise atual. Por�m, o parlamentar refor�ou que o partido segue firme com o prop�sito de manter independ�ncia em rela��o ao Planalto. Esse posicionamento quebra uma longa tradi��o do MDB, conhecido por negociar, durante os �ltimos governos, cargos federais em troca de apoio no Congresso.
Moreira explicou que o partido, ao lado do DEM e do PSDB, decidiu abandonar o Centr�o para ter protagonismo em discuss�es importantes na C�mara. “Se continu�ssemos no Centr�o, n�o ter�amos esse protagonismo. Mas isso n�o significa que sa�mos do Centr�o para sermos contra o governo. N�s queremos ter independ�ncia”, declarou o parlamentar, destacando o compromisso do partido com as reformas. Segundo ele, dentro do partido, o convite de Bolsonaro a Temer foi visto como um “gesto de carinho e respeito”.
“Na quest�o do Michel Temer, o pr�prio Bolsonaro percebe que grande parte da evolu��o da economia nasceu naquelas reformas feitas pelo presidente Temer. Eu acho que esse foi um gesto de grande eleg�ncia e intelig�ncia. Primeiro, o presidente Temer � liban�s, e ele, Bolsonaro, aproveitou e pegou um ex-presidente e fez isso. Para n�s do MDB, n�o tenha d�vida, foi um gesto de carinho, de respeito”, disse Moreira.
J� o deputado Celso Maldaner (MDB-SC), diferentemente da maioria dos seus correligion�rios, admitiu que toda essa movimenta��o tem como pano de fundo a disputa pelo comando da C�mara. “� claro que a sa�da do MDB e do DEM do Centr�o tem muito a ver com a sucess�o na C�mara. Com certeza, vai refletir na sucess�o do pr�ximo presidente da Casa”, previu o parlamentar.
Maldaner tamb�m reafirmou a independ�ncia da legenda em rela��o ao Executivo. “Eu, como presidente do MDB estadual, e tamb�m como deputado federal, defendo essa decis�o que foi tomada por unanimidade, e aqui vai o nosso reconhecimento ao espa�o democr�tico aberto por nosso l�der Baleia Rossi, nosso presidente nacional. Ele respeita as decis�es, ouve toda a bancada, e foi uma decis�o tomada por unanimidade, de independ�ncia em rela��o ao Executivo”, disse Maldaner. “Mas, em tudo o que for bom para o Brasil, o Bolsonaro pode contar com o apoio do MDB.”
A disputa pelo comando da C�mara foi antecipada com a decis�o de Bolsonaro de articular uma base parlamentar de apoio para isolar Rodrigo Maia, visto como um advers�rio. Em abril deste ano, o presidente, acuado por dezenas de pedidos de impeachment na C�mara e por investiga��es no Supremo Tribunal Federal (STF), acabou se rendendo a pr�ticas que ele chamava de “velha pol�tica”, como a oferta de cargos em troca de apoio no Congresso. Na semana passada, a escolha do deputado Ricardo Barros como novo l�der na C�mara ampliou ainda mais o espa�o do Centr�o no governo, ap�s o bloco parlamentar ter assumido cargos bastante cobi�ados na administra��o federal.
“O novo modelo de relacionamento do presidente com o Congresso, a partir da aproxima��o com o Centr�o, tem um peso muito importante no jogo pol�tico. O presidente, agora, tem interlocutores mais tarimbados, como o novo l�der Ricardo Barros, o que torna o di�logo parlamentar mais natural. Aqui, podemos afirmar que a ‘velha pol�tica’ se sobrep�s � ‘nova’, de maneira absolutamente leg�tima, em um governo que se espera de coaliz�o”, avaliou o cientista pol�tico Andr� Pereira C�sar, da Hold Assessoria Legislativa.