
O movimento de sa�da do DEM e do MDB do Centr�o surgiu porque os partidos perceberam que Arthur Lira usava o bloco para se colocar como o futuro comandante da C�mara. Ou seja, “sentou na cadeira antes da hora”, conforme os deputados comentam nos bastidores. E, assim, passou a se aproximar do governo, como o detentor de 220 votos. O governo �bvio, adorou. S� teve um problema: o Planalto achou que, ao negociar com Lira, poderia prescindir de Rodrigo Maia e de outros. N�o foi bem assim.
O encolhimento do Centr�o, ao mesmo tempo em que d� independ�ncia aos outros l�deres na hora de conduzir as vota��es em plen�rio – e, por tabela, mais autonomia na hora de negociar com o governo –, abre tamb�m o leque de candidatos ao comando da C�mara. O ocupante desse cargo estrat�gico det�m o poder de definir a pauta da Casa e o andamento de pedidos de impeachment. Da�, a ansiedade do governo em ter ali um aliado do presidente da Rep�blica. Mas ser� preciso muito jogo de cintura para controlar uma C�mara pulverizada, com s�rios reflexos no Senado.
Sabe-se, agora, que Lira, o nome que chegou mais cedo � disputa nos bastidores, queimou a pr�pria largada. Ele sabia que n�o era o n�mero um nas apostas de Maia, que, dentro do PP, tem prefer�ncia por Aguinaldo Ribeiro, l�der da Maioria e relator da reforma tribut�ria. Ribeiro, entretanto, s� conseguir� emplacar seu nome se Lira se inviabilizar como candidato, uma vez que n�o tem os votos dentro do pr�prio partido para emplacar como candidato contra o deputado alagoano. Ciente disso, Lira tratou de tentar se fortalecer dentro do Centr�o, de forma a sufocar outros postulantes. Foi com tanta sede ao pote que outros interessados perceberam e pularam fora do Centr�o para enfraquec�-lo enquanto pr�-candidato. Essa � a leitura dos bastidores de todo esse movimento.
Com Lira enfraquecido, outros nomes se lan�aram discretamente. O principal deles � o l�der do MDB, Baleia Rossi, que joga junto com Maia e deixou o Centr�o no mesmo momento do DEM. Ainda tem nessa lista o vice-presidente da C�mara, Marcos Pereira, e o deputado Marcelo Ramos (PL-AM), cujo partido ainda continua no Centr�o. E o l�der Wellington Roberto parceiro fiel de Arthur Lira dentro do grupo. O grupo PTB, Pros, que deixou o Centr�o para se aliar ao PSL, tamb�m pretende adquirir mais independ�ncia para essa disputa e for�a para negociar com o governo. Esse bloco deve crescer com a ades�o do PSC.
TODOS NO RADAR
A primeira rea��o de Arthur Lira foi conceder entrevistas minimizando a sa�da dos partidos do Centr�o. A segunda, por�m, foi chamar os l�deres e cobrar, numa reuni�o fechada, apoio ao bloco. Por enquanto, com sess�es virtuais e distanciamento social entre os pol�ticos, as conversas n�o se aceleraram. Mas est�o todos em campo. H� quem aposte que Lira ainda vai dar o troco naqueles que tentam puxar seu tapete desde j� na disputa pela Presid�ncia da C�mara.
As cartas est�o sendo colocadas na mesa. E o Pal�cio do Planalto conscientizou-se de que Rodrigo Maia est� mais forte do que nunca, mesmo a seis meses de deixar o comando da C�mara. Maia articula para que o DEM e o MDB formem, com o PSDB, uma frente de centro independente, ou seja, nem governista nem de oposi��o. � nesse ponto que a candidatura de Baleia Rossi � sucess�o de Maia cresce – sobretudo, se Aguinaldo Ribeiro n�o conseguir que o PP lhe d� a candidatura � presid�ncia da C�mara.
Presidente nacional do MDB e l�der do partido na C�mara, Baleia aparece como o nome na disputa porque, dificilmente, o DEM tentar� um candidato pr�prio. Autor da PEC 45, principal proposta de reforma tribut�ria da C�mara, o emedebista tem evitado comentar publicamente a sucess�o na Casa, ponderando que a prioridade � ajudar o pa�s a sair da crise provocada pelo novo coronav�rus. Marcelo Ramos est� tentando se encaixar no radar de Maia para suced�-lo em fevereiro de 2021.
Cumprindo o primeiro mandato de deputado federal, � pr�ximo do presidente da C�mara, que o escolheu, por exemplo, para presidir a comiss�o especial da reforma da Previd�ncia. E o parlamentar amazonense tamb�m goza da simpatia dos partidos de centro e de esquerda. E � esse diferencial que tem levado o grupo de Maia a fazer sondagens com a oposi��o, que tem o peso de 131 votos (possivelmente, 30 a mais que o Centr�o bolsonarista).
“� �bvio que eu fico feliz por estar no primeiro mandato, ser deputado de um estado que s� tem oito entre 513 deputados e ser reconhecido por meus colegas. Isso me deixa muito feliz. Agora, mais do que a minha felicidade, do que meu desejo de ser presidente da C�mara, tenho de ter responsabilidade com o pa�s. Antecipar o processo eleitoral da C�mara � dividi-la no momento em que ela precisa estar unida para aprovar medidas que ajudem o Brasil a enfrentar a pandemia”, diz Ramos.
Como um ‘sal�o de festas’

Mas, ao mesmo tempo que a a��o do DEM e do MDB enfraquece o Centr�o e favorece um candidato independente, a oposi��o, tida como fiel da balan�a, equilibra-se na corda bamba, sem unidade. Para Mellilo, o grupo, principalmente o PT, ter� de decidir se ajudar� na constru��o de um candidato independente em detrimento de um bolsonarista, ou se seguir� brigando por hegemonia. “Esse � o dilema. Se ajudam na constru��o da dire��o da Casa, para que funcione como anteparo e conten��o ao governo central, ou se fazem um movimento de atrapalhar em nome de uma ortodoxia de n�o se misturar com o Cidadania ou com o PDT. O PT tem no (Carlos) Lupi uma pessoa que sempre defendeu o Lula, mas tem o Ciro (Gomes) com ressentimento do PT. Tenho a impress�o de que o baile se acelera, e sa�mos da valsa do primeiro semestre, para ritmos mais animados. Uma salsa ou um forr�. Quando chegar em novembro, dezembro, vai ser um rock pesado”, comparou.
Por �ltimo, o analista avalia a situa��o de Bolsonaro, que, com o Centr�o enfraquecido, deu cargos e levou “gato por lebre”. “N�o sei se o Centr�o � centr�o, centro ou centrinho. E � nisso que d� colocar general para fazer articula��o pol�tica. Eles compraram cartucho de muni��o sem p�lvora. O que foi vendido n�o se consolidou. N�o h� unidade no Centr�o. N�o h� disciplina. E n�o tem sequer esse numer�rio todo que est�o vendendo para a articula��o pol�tica do planalto. Mas tem outro problema. Eles n�o est�o nisso pelos olhos e pela cloroquina do presidente. Est�o em uma rela��o de toma l� d� c� e n�o confiam no governo, que n�o consegue, sequer, atender pleitos dos membros do centr�o nem oferecer cargos sem ataques da ala radical de apoiadores”, alerta.
DIFICULDADE DE BOLSONARO
Professor de hist�ria contempor�nea da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e um dos organizadores do Observat�rio da Extrema Direita (OED), Odilon Caldeira Neto comenta a dificuldade de Bolsonaro de sustentar o discurso radical, ao mesmo tempo em que costura para influenciar a troca de presidente da C�mara. Ele tamb�m enxerga viabilidade de um dos deputados radicais da tropa de choque de Bolsonaro ocupar o assento. “Eu n�o diria que haver� uma candidatura da extrema direita, que, por defini��o, � mais radical, e tem como enuncia��o a condi��o antidemocr�tica. Ela n�o aceita e n�o quer jogar o jogo segundo as regras. Mas, se a gente pensar para al�m das quest�es terminol�gicas, tem a necessidade de o governo se enquadrar nas din�micas das regras do jogo. � uma opera��o complexa para o bolsonarismo, enquanto governo, estabelecer essa rela��o de jogo pol�tico”, avaliou.
Caldeira explica que, at� a elei��o do presidente da C�mara, Bolsonaro ter� de fazer dois discursos: o antissist�mico, para o n�cleo de apoiadores; e o da C�mara, institucional. Mas o primeiro enfraquecer� o segundo. Para o professor, mesmo que consiga um candidato do Centr�o mais moderado como representante, o presidente n�o poder� abandonar o discurso antidemocr�tico. “Olhando a experi�ncia do bolsonarismo, � uma articula��o dif�cil, que vem com uma concess�o do Centr�o, que � perspectiva do jogo pol�tico e tem de fazer a pr�tica da ultradireita. Ent�o, � dif�cil ver o governo na Presid�ncia da C�mara. Mas, de um modo mais efetivo, eu poderia dizer: essa medida de institucionaliza��o do bolsonarismo na Presid�ncia n�o vai significar o decl�nio do discurso, at� porque pode ser usado como argumento para os jogos pol�ticos que vir�o”, avalia.