Terceiro colocado na elei��o de 2018, Ciro afirma que trabalha para construir um projeto de Pa�s que pode ter uma empres�ria como vice - Luiza Trajano, a dona da Magazine Luza, � classificada por ele como uma "pessoa extraordin�ria" - e o marqueteiro Jo�o Santana, que atuou nas campanhas de Lula e Dilma Rousseff.
Em entrevista ao Estad�o, ele voltou a defender o impeachment de Jair Bolsonaro. Para ele, diante do contexto atual, n�o � certo que o presidente "ser� um dos polos do segundo turno" na elei��o do pr�ximo ano.
• Ministro, o sr. � pr�-candidato � Presid�ncia? � irrevers�vel?
Meu partido tem uma delibera��o de que eu sou candidato e eu estou muito motivado para ser. E isso por uma circunst�ncia: acho que a solu��o para a terra arrasada, sob os pontos de vista sanit�rio, social e econ�mico que o Bolsonaro vai deixar exige um novo projeto nacional de desenvolvimento, um novo desenho do di�logo nacional para sustentar as bases desse projeto, muita imagina��o institucional para inovar e, neste sentido, acho que o lulopetismo � uma volta ilus�ria ao passado.
• A rela��o com o chamado lulopetismo continua intranspon�vel?
Eu lutei pelo restabelecimento dos direitos pol�ticos do Lula. Fui mal entendido quando disse que a condu��o coercitiva era arbitr�ria e que o S�rgio Moro estava semeando nulidades. Portanto, � um ato de civilidade declarar a suspei��o do Moro e dizer que o Lula tem direito, como qualquer grande bandido - que n�o � o caso dele - ao devido processo legal. O Lula volta a ser um pol�tico para a gente examinar. Juridicamente, fez-se o melhor direito, mas n�o � que ele foi proclamado inocente, como ele, de novo, est� mentindo. Politicamente, entretanto, n�o h� como disfar�ar que o Lula � o grande respons�vel pelo entranhamento org�nico da corrup��o na vida brasileira. � inequ�voco que o PT transformou a corrup��o, a fisiologia, o loteamento das estruturas centrais do Estado em ferramenta central do modelo de poder que o Lula implantou.
• No segundo turno de 2018, o senhor fugiu da associa��o com o PT como o diabo foge da cruz...
N�o fugi n�o, eu me senti moralmente obrigado a n�o sancionar mais essas contradi��es do PT. Acho que temos de ajudar o povo brasileiro a entender que temos dois terr�veis desafios pela frente. O primeiro � derrotar o bolsonarismo bo�al, corrupto, que est� levando o Brasil a uma condi��o de terra arrasada. O Brasil est� vivendo a pior crise da hist�ria. Ent�o, essa � uma tarefa em que todo mundo tem que estar junto. N�o vou escolher quem est� e quem n�o est�. Quem fez isso foi o Lula, l� atr�s, quando me avistei com o Fernando Henrique Cardoso e assinamos manifestos pedindo a uni�o do Pa�s contra o Bolsonaro e fomos pedir o impeachment. O Lula disse que n�o era "Maria vai com as outras". A segunda miss�o, mais grave, � construir o futuro. E ser� que construir o futuro � um back to the past? Definitivamente n�o �. O lulopetismo, neste sentido, � parte do problema.
• Ent�o a resposta � sim.
Na primeira tarefa estou junto da porta do inferno para tr�s. Agora, para construir o futuro, o lulopetismo � parte central do problema. Lula � candidato desde 1989. Ele n�o tem nenhuma responsabilidade por ter posto a Dilma? Bolsonaro derrubou a economia em 4,1% e est� se desculpando porque est� em uma pandemia. Alguma raz�o ele tem. A Dilma derrubou 3,2% sem pandemia! O Palocci era o bra�o direito desse modelo, devolveu R$ 100 milh�es. Tudo bem, o Chico Buarque adora o Lula? Respeito os afetos do Chico Buarque, mas e o Palocci?
• Muitos acham que para bater Bolsonaro � preciso que a esquerda se una ao centro. Em que espectro pol�tico o sr. se encaixa?
H� duas tarefas: A primeira � derrotar Bolsonaro e, neste sentido, todos os democratas - pouco me importa se s�o de direita, de esquerda, de centro, se s�o de Marte, de V�nus, de Merc�rio -, todos temos a responsabilidade de criar um ambiente para isso. Segundo, � grande a necessidade estrat�gica deste momento. Eu n�o vou deixar o Lula ganhar essa na lamban�a. � construir o futuro e, infelizmente, neste sentido a largueza que sonho n�o � poss�vel pelas nossas diferen�as.
• Nesse desafio de construir um projeto de futuro, como v� poss�veis projetos eleitorais como os de Luciano Huck e S�rgio Moro?
Acho que o desafio de construir um projeto de Pa�s depende de um requisito de experi�ncia que falta a ambos. Falta vis�o, compreens�o, conhecimento do Brasil, traquejo pol�tico. E o Brasil n�o aguenta mais estagi�rio! Meu Deus do c�u! Qual era a experi�ncia anterior da Dilma na pol�tica? At� o Bolsonaro consegue 1/3 do Congresso para impedir o impeachment. A Dilma n�o foi capaz de reunir isso no primeiro ano do mandato. Al�m da trag�dia econ�mica, foi um desastre pol�tico.
• A falta de experi�ncia da qual o senhor fala vale para um eventual candidato a vice? O nome de Luiza Trajano tem sido colocado.
N�o imaginem que eu teria a indelicadeza de convidar a Luiza Trajano em p�blico. O que posso dizer � que a conhe�o e que ela � figura extraordin�ria. N�o s� porque � uma empres�ria de grande �xito, mas porque tem uma origem humilde, come�ou de baixo, respeita os trabalhadores, est� preocupada com a vacina��o do povo genuinamente. Admiro muito ela, mas n�o a convidaria pelo jornal.
• O sr. concorda que a entrada de Lula no jogo eleitoral estreita o espa�o para candidaturas?
A pre�o de hoje, sem d�vida. Mas digo, sem medo de errar, que nada do que parece ser�. Por exemplo: todo mundo considera, a pre�o de hoje, que Bolsonaro ser� um dos polos do segundo turno. Eu discordo, n�o acho que � certo que ele esteja.
• O sr. conversa com o marqueteiro Jo�o Santana para comandar a campanha? A estrat�gia � criar um ‘Ciro paz e amor’ contra as cr�ticas a seu temperamento?
� lisonjeiro para um homem com 63 anos de idade e 40 anos de vida p�blica que, a essa altura, a acusa��o que meus advers�rios fazem � sobre o meu temperamento. Claro que tenho de ouvir essas cr�ticas porque tenho, enfim, que adaptar uma linguagem diante da express�o da minha indigna��o. Mas, sabendo do que sei, vou fazer o qu�? Bancar o lorde ingl�s? Eu sou do interior do Cear�, fui educado na escola p�blica, meus pais passaram fome, fui governador, comandei a economia do Brasil...
• E o Jo�o Santana?
� um velho amigo. Respeito muito as opini�es dele e temos, sim, conversado. N�o sei se sair� uma parceria, vamos ver.
• � iminente o fim da Lava Jato com a poss�vel suspei��o do Moro. Isso � bom ou ruim?
A Lava Jato foi enterrada pelo senhor Jair Messias Bolsonaro. No sentido de uma exemplaridade de combater a corrup��o, isso � ruim. Mas, no sentido de restaurar os fluxos do Estado de direito democr�tico, est� a destempo. Punir corrup��o � uma coisa que tem de ser fria, s�bria, serena, severa, fora da pol�tica. O oposto do que Moro e sua banda de procuradores fizeram. Moro s� semeou nulidades. E os grandes bandidos deste Pa�s sair�o com o atestado, que o povo n�o � obrigado a saber do direito, como Lula est� fazendo, se anunciando inocente. Tem nada de inocente.
• Lula � um grande bandido?
O que estou dizendo � que quando se comete nulidades na persegui��o a um bandido, que n�o � o caso, voc� n�o est� punindo o bandido. N�o estou falando do Lula.
• Com Bolsonaro, os inqu�ritos da PF com base na Lei de Seguran�a Nacional cresceram 285%. O sr. � investigado, mas com base no C�digo Penal. Como avalia?
Vejo isso como uma coisa muito boa. O senhor Jair Messias est� entrando em desespero porque pedir para abrir inqu�rito � um constrangimento ilegal que nenhum juiz vai dar, nenhum tribunal vai sancionar. Trata-se de uma tentativa de constranger, de censurar que est� funcionando pelo oposto. Veja o meu caso. Estou pouco ligando.
• Como v� a crise federativa com governadores tendo de agir por conta pr�pria, reunindo-se em cons�rcios para comprar vacina?
O PDT e eu � que assinamos a peti��o que levou o STF a determinar a autonomia dos entes federativos para concorrentemente ajudar a enfrentar a pandemia. E ai de n�s se n�o tiv�ssemos feito isso porque l� atr�s o governo anunciou que era uma gripezinha, estimulou aglomera��o, evitou importar respiradores. Foi um desastre completo. E ainda age como charlat�o prescrevendo rem�dios e canalhas como o (Eduardo) Pazuello s� agravam o fen�meno. O que teria acontecido com o Brasil se os prefeitos e governadores n�o tivessem corrido atr�s? Estar�amos contando 1 milh�o de mortos. Agora, isso � uma loucura porque �, no limite, genocida.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.