
A informa��o foi levada � comiss�o pelo deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) e pelo irm�o dele, Luis Ricardo Miranda, chefe de importa��o do Departamento de Log�stica do Minist�rio da Sa�de. O servidor tamb�m relatou ao colegiado “press�es anormais” por parte dos seus superiores para agilizar a importa��o da Covaxin, do laborat�rio indiano Bharat Biotech, representado no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos, que � alvo da CPI. O minist�rio assinou contrato de R$ 1,6 bilh�o com a Precisa, em 25 de fevereiro, para a compra de 20 milh�es de doses do imunizante. O deputado informou ter relatado a Bolsonaro as suspeitas de corrup��o na negocia��o, identificadas por seu irm�o, e as press�es que ele vinha sofrendo.
J� havia desconfian�a na comiss�o sobre a atua��o incisiva do governo em prol da Covaxin, inclusive com a participa��o de Bolsonaro, enquanto outros imunizantes com estudos mais adiantados, como o da Pfizer, eram deixados de lado.
Enquanto isso, Bolsonaro faz o que costuma fazer quando se v� envolto em informa��es negativas ao governo: ataca a imprensa e o advers�rio mais forte para as elei��es de 2022, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) — apelidado por ele de “ladr�o de nove dedos” — e brada que desde o come�o de sua gest�o n�o houve casos de corrup��o.
Na sexta-feira, horas antes do depoimento dos irm�os Miranda na CPI, Bolsonaro negou superfaturamento da Covaxin e disse ser “incorrupt�vel”. “O contrato, pelo que me consta, n�o h� nada de errado nele. N�o h� superfaturamento. � mentira. Eu vou ouvir Queiroga (Marcelo Queiroga, ministro da Sa�de) para saber da opini�o dele”, frisou, em entrevista coletiva. “N�o foi gasto um centavo com a Covaxin, n�o chegou uma ampola aqui. Voc�s querem me julgar por corrup��o? V�o se dar mal. Eu sou incorrupt�vel.”
O presidente e governistas t�m se amparado no discurso de que “nada foi pago”, apesar de o contrato ter sido assinado e havido uma tentativa da empresa de receber US$ 45 milh�es antecipados — investida travada por Luis Ricardo Miranda.
Numa tentativa de contragolpe, o governo tem adotado, tamb�m, a estrat�gia de desacreditar oponentes. Bolsonaro disse que pedir� � Pol�cia Federal a abertura de investiga��o contra Luis Miranda. “Olha a vida pregressa desse deputado. � l�gico que a PF vai abrir inqu�rito”, enfatizou. Afirmou, ainda, que o parlamentar ostenta um “prontu�rio” policial extenso, numa alus�o aos processos judiciais que pesam sobre o pol�tico do DEM.
O governo tamb�m enfrenta suspeitas de corrup��o na gest�o do agora ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Ele pediu demiss�o na quarta-feira depois de intenso desgaste provocado pelas opera��es Handroanthus e Akuanduba, que apura suspeita de envolvimento dele num esquema envolvendo a exporta��o ilegal de madeira.
Impacto
Na avalia��o do cientista pol�tico Rodrigo Prando, apesar de os ind�cios serem graves, � necess�rio aguardar o desdobramento das investiga��es. Ele acredita, no entanto, que os casos t�m potencial de arranhar o discurso de Bolsonaro. “A sa�da do Salles � um sinal fort�ssimo de que tem coisa para resolver ainda e acaba atrapalhando um discurso que sempre quis se colocar diferente de todos os demais. Essa narrativa de que ‘somos diferentes’ e n�o houve corrup��o tamb�m foi dos petistas, at� que o mensal�o apareceu e depois o petrol�o, v�rias quest�es relacionadas ao PT. Nesse sentido, a ret�rica � a mesma”, enfatizou.
Conforme Prando, caso seja comprovada corrup��o em rela��o � gest�o de Salles, a t�tica de Bolsonaro ser� a de dizer que ele n�o faz mais parte do governo e que deixar� que a investiga��o esclare�a o caso.
Em rela��o � vacina indiana, a situa��o parece mais complicada. “Se comprovada corrup��o (no caso) da Covaxin, pode n�o apenas desestruturar o discurso para 2022 como atrapalhar a meta de reelei��o, porque Bolsonaro vai perder um eixo significativo do seu discurso”, destacou. “O governo come�ou com dois pilares: ideias de combate � corrup��o, na figura de Moro (Sergio Moro, ex-ministro da Justi�a e ex-juiz da Opera��o Lava-Jato), e de liberalismo, na figura de Paulo Guedes (ministro da Economia). Moro foi defenestrado do governo. Guedes n�o consegue levar a cabo um projeto liberal.” Para o especialista, “Bolsonaro precisar� de uma criatividade enorme para criar um discurso que possa mostrar, em 2022, que ele conseguiu fazer um bom governo, que � honesto e liberal”. “Neste momento, ele n�o conseguiria apresentar esses tr�s t�picos”, observou.
Na opini�o de Prando, a nova controv�rsia � fruto de imper�cia do governo. “� um problema que o presidente acaba criando quando n�o tem especialistas, assessores que sejam capazes de entender a complexidade da administra��o p�blica e as dificuldades de separa��o entre interesses p�blicos e privados”.
A constitucionalista Vera Chemim, mestre em direito p�blico pela Funda��o Getulio Vargas (FGV), tamb�m refor�ou a necessidade de acompanhar o andamento das investiga��es. “Caso sejam comprovadas (as suspeitas), a bandeira de inexist�ncia de corrup��o cair� por terra e ser� mais uma vari�vel determinante para o resultado das pr�ximas elei��es presidenciais, sem esquecer das circunst�ncias que envolvem a imagem de Bolsonaro, quanto � sua omiss�o e/ou descaso com rela��o � crise do coronav�rus”, afirmou.
Para que o governo erga a bandeira da anticorrup��o, acrescentou, � indispens�vel que se elucidem os fatos no sentido de isent�-lo de qualquer envolvimento il�cito. “Contudo, n�o s�o apenas essas amea�as que podem derrotar o mandat�rio, pois existem outras mazelas de natureza pol�tico-ideol�gica, como a grave polariza��o, al�m do retorno de Lula ao cen�rio eleitoral e a possibilidade, ainda que remota, do surgimento de uma terceira via que detenha credibilidade, carisma e compet�ncia para disputar as elei��es de 2022”, completou.
Analista pol�tico do portal Intelig�ncia Pol�tica, Melillo Dinis afirmou que a situa��o do presidente em rela��o aos esc�ndalos s� se complica. “A sombra da corrup��o est� cada vez mais iluminando pelo conjunto da obra que Bolsonaro vem apresentando. Ele acaba por, nesses dois epis�dios (Salles e Covaxin) completar o servi�o que come�ou com a demiss�o de Sergio Moro”, disse. O ex-juiz federal foi o “s�mbolo” anticorrup��o do governo Bolsonaro, que surfou na onda da Lava-Jato para se eleger.
Dinis acrescentou que as den�ncias envolvendo Ricardo Barros fizeram o governo perder mais credibilidade em rela��o ao discurso anticorrup��o. “J� era ruim, ficou pior”, disse. Agora, segundo ele, � preciso observar com aten��o os movimentos do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e, principalmente, os do presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), a fim de perceber se o “tom” subir� no Congresso. “O Centr�o vai ficar ainda mais importante na din�mica de submiss�o”, frisou.
Apoio
Antes da sess�o de sexta-feira da CPI, o vice-l�der do governo na C�mara Evair de Melo (PP-ES) negou que as quest�es envolvendo Salles e a Covaxin representem desgaste para o Executivo. Segundo o deputado, o term�metro do Planalto � o painel do plen�rio, referindo-se ao apoio a Bolsonaro. “E o plen�rio est� consolidado em n�meros absolutos em todas as vota��es. Quando voc� olha o plen�rio, os nossos resultados s�o autoexplicativos. Est�o querendo criar um cavalo de Tr�ia onde n�o existe”, destacou.
O parlamentar enfatizou que as den�ncias n�o t�m provas, nada que as sustentem. “O term�metro do governo � deputado. Quem fica na rua no dia a dia � deputado. Deputado � que anda, que joga voto para dentro. Deputado vai para o painel, bota a cara dele e segue a vida, significa que o term�metro da pol�tica est� certo”, pontuou.
Deputado nega
Em postagem no Twitter ap�s a acusa��o de Luis Miranda, o deputado Ricardo Barros afirmou: “N�o participei de nenhuma negocia��o em rela��o � compra das vacinas Covaxin. N�o sou esse parlamentar citado. A investiga��o provar� isso”. Ele disse estar � disposi��o para “quaisquer esclarecimentos”.
Controverso
Integrante da tropa de choque do governo, o deputado Luis Miranda j� foi processado por estelionato, em golpes que teriam sido aplicados no Brasil e nos Estados Unidos. Antes de ser eleito para este primeiro mandato, ele morou em Miami e ensinava, nas redes sociais, como ganhar dinheiro f�cil. Em 2019, uma reportagem do Fant�stico, da TV Globo, mostrou que Miranda era acusado de pegar dinheiro de usu�rios da internet.
