
O ex-ministro Sergio Moro n�o anunciou, at� o momento, uma pr�-candidatura � Presid�ncia da Rep�blica, mas sua filia��o ao partido Podemos, nesta quarta (10/11), � um passo a mais na dire��o de concorrer a um cargo p�blico nas elei��es de 2022.
Longe do cen�rio pol�tico no �ltimo ano — que passou morando nos Estados Unidos — Moro volta ao Brasil sem ter a mesma popularidade que tinha como juiz no auge da opera��o Lava Jato.
Sua imagem foi desgastada por crises que v�o desde uma passagem conturbada pelo governo Bolsonaro at� a decis�o do STF (Supremo Tribunal Federal) queconsiderou o ex-juiz parcialno julgamento do ex-presidente Lula.
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Mas apesar das crises e do distanciamento, Moro ainda mant�m uma popularidade que n�o pode ser desconsiderada — nas pesquisas feitas pelo Datafolha que inclu�ram seu nome, o ex-ministro ficou pouco abaixo dos 10% de inten��o de votos.
"Eu diria que ele est� hoje no mesmo patamar do (governador de SP) Jo�o Doria", afirma Mauro Paulino, diretor do Instituto Datafolha.
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O ex-ministro � considerado uma grande "aquisi��o" pelo Podemos, cujo integrante mais conhecido nacionalmente era at� hoje o senador �lvaro Dias (Paran�). Mesmo que Moro acabe n�o concorrendo � Presid�ncia, seu capital eleitoral ser� aproveitado pelo partido, que tamb�m considera a possibilidade de lan��-lo como candidato ao Senado.
Entenda quais s�o os pontos fortes e as fraquezas de Moro em uma eventual campanha presidencial e seu impacto na disputa de 2022 — caso o ex-ministro decida realmente enfrentar Lula e Bolsonaro nas urnas.

Rosto conhecido
Embora Lula e Bolsonaro sejam hoje os favoritos para as elei��es presidenciais do ano que vem, n�o se pode desconsiderar a possibilidade de um outro candidato ir para o segundo turno, explica Mauro Paulino, do Datafolha.
"Nos �ltimos anos, de maneira geral os eleitores t�m se dividido em tr�s grupos. Um mais de esquerda, um mais de direita e um grupo 'p�ndulo', ou seja, que tende a votar no centro ou que varia de um extremo a outro", explica Paulino.
"Apesar do favoritismo atual de Lula e Bolsonaro, n�o d� para desconsiderar um terceiro nome por causa desse grupo mais ao centro — que votou em Bolsonaro em 2018 mas agora est� descontente."
Moro � um de muitos nomes entre os poss�veis candidatos conhecidos como "nem-nem" — de eleitores que n�o querem nem Lula, nem Bolsonaro. Pol�ticos como Ciro Gomes (PDT), Jo�o Doria e Eduardo Leite (ambos do PSDB) e Luiz Henrique Mandetta (DEM) ainda podem ser lan�ados como pr�-candidatos pelo seu partido e disputar uma vaga no segundo turno.
Uma vantagem que Moro tem em rela��o a esses e outros pol�ticos que se colocam como uma "terceira via", aponta Mauricio Moura, diretor do instituto de pesquisa Ideia Big Data, � o fato de seu nome j� ser conhecido nacionalmente.
"O fato de ser amplamente conhecido pela opini�o p�blica � um grande diferencial em rela��o a outros candidatos", diz Moura.
Colocado sob os holofotes na �ltima d�cada por causa de sua atua��o como juiz dos processos da opera��o Lava Jato, Moro foi tratado como s�mbolo do combate � corrup��o durante anos, atingindo alta popularidade no auge da opera��o.
"O positivo desse reconhecimento (do seu nome) � que ele j� tem uma imagem consolidada com o p�blico, n�o precisa de muito pra refor�ar essa imagem", afirma Mario Paulino.
No entanto, aponta o pesquisador, o fato de Moro ser um rosto conhecido tamb�m traz aspectos negativos — ele tamb�m precisa lidar com desgastes associados � sua imagem.

Alta rejei��o
O lado negativo de ser mais amplamente conhecido � ter que lidar com uma �ndice de rejei��o relativamente maior.
No caso de Moro, cerca de 26% dos brasileiros diziam que n�o votariam no ex-ministro de jeito nenhum em pesquisa divulgada pelo Datafolha em maio deste ano (�ltima na qual ele foi inclu�do).
A passagem do juiz pelo governo Bolsonaro e a suspei��o declarada pelo STF s�o principais fatores dessa rejei��o.
"Moro saiu do governo Bolsonaro menor do que entrou", afirma Maur�cio Moura, do Ideia Big Data.
Ministro da Justi�a e da Seguran�a P�blica de Bolsonaro entre janeiro de 2019 e abril de 2020, Moro rompeu com o governo dizendo que o presidente n�o estava cumprindo as promessas feitas quando o convidou para o minist�rio. O epis�dio se deu pouco depois de uma pol�mica envolvendo a acusa��o de que o presidente havia interferido na Pol�cia Federal para proteger seus filhos.
A alian�a mal sucedida com Bolsonaro foi especialmente problem�tica para Moro porque acabou afetando sua imagem com dois p�blicos: pessoas que rejeitam Bolsonaro e ficaram decepcionadas quando Moro entrou no governo, e bolsonaristas, que o consideraram "traidor" ao abandonar o presidente.
J� a decis�o do STF (Supremo Tribunal Federal) que o considerou parcial no julgamento de Lula no �mbito da Lava Jato prejudicou sua imagem como juiz.
"Essa imagem amplamente associada � Lava Jato se deteriorou, ele teve seu capital reputacional diminu�do", afirma Maur�cio Moura.
"Moro vai ter que lidar com algumas perguntas indigestas em uma campanha", afirma Creomar de Souza, CEO da consultoria pol�tica Dharma e professor da Funda��o Dom Cabral. "Ele interferiu nas elei��es de 2018 ao condenar Lula, como acusa a esquerda? Por que ele aceitou ser ministro de Bolsonaro?"
O ex-ministro n�o foi inclu�do nas �ltimas pesquisas de rejei��o feitas pelo instituto, em julho e setembro. Na �ltima, que ouviu 3.667 eleitores em 190 cidades nos dias 13 a 15 de setembro, a maior rejei��o era de Bolsonaro (59%), seguido por Lula (38%).
Tradicionalmente, candidatos com alta rejei��o n�o iam para o segundo turno das elei��es presidenciais, explica Mauro Paulino. "Mas isso mudou em 2018, quando a disputa no segundo turno ficou entre Haddad e Bolsonaro, ambos com alto �ndice de rejei��o."

Corrup��o e economia
O p�blico que votaria em Sergio Moro para presidente hoje � composto basicamente por eleitores "�rf�os do PSDB" no sul, sudeste e centro-oeste, diz Mauro Paulino, do Datafolha.
"Eleitores que consideram a corrup��o o principal problema do pa�s, t�m uma tend�ncia conservadora, optaram por Bolsonaro em 2018 e agora est�o insatisfeitos", explica Paulino.
Ter a imagem fortemente associada � pauta anticorrup��o � um ponto a favor de Moro caso dispute a Presidente contra Bolsonaro e Lula, cujos governos tiveram que lidar com uma s�rie de esc�ndalos.
Por outro lado, Moro ter� o desafio de fazer uma campanha em uma momento em que a sociedade est� pressionada por outras quest�es, de ordem econ�mica: infla��o, desemprego, desigualdade.
"As pessoas n�o sabem como Moro se posiciona em rela��o � pol�tica econ�mica", afirma Creomar Souza. Seu posicionamento em diversos outros assuntos tamb�m n�o � conhecido. Moro evitou se posicionar at� agora, por exemplo, sobre a postura do governo Bolsonaro no combate � pandemia, outro tema que deve ser central na campanha para 2022.
A economia sempre foi um fator importante na elei��o, explica Mauro Paulino, e o tamanho que o tema da corrup��o teve em 2018 foi at�pico. "Se as previs�es de que a situa��o econ�mica no ano que vem vai estar at� mais dif�cil do que hoje, o assunto vai readquirir o protagonismo perdido em 2018", diz ele.
"Por outro lado, ainda existe uma capilaridade desse tipo de discurso anticorrup��o. Combater a corrup��o � algo que tradicionalmente � visto no Brasil como a miss�o de um 'her�i pol�tico'", lembra Souza. "Basta lembrar que o PT, antes do mensal�o, tinha esse discurso. E Bolsonaro foi eleito em 2018 com esse discurso."
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