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Estado de Minas ENTREVISTA/CARLOS LUPI

Nos '100' de Brizola, PDT enxerga tra�os em Ciro: 'Coragem e temperamento'

Presidente pedetista diz que plano do partido para o pa�s tem a gera��o de empregos como ponto central e confia em 'derretimento' de Bolsonaro


20/01/2022 19:00 - atualizado 20/01/2022 18:13

Carlos Lupi, presidente do PDT, dá entrevista em Belo Horizonte
Carlos Lupi, presidente do PDT, tra�a paralelos entre Ciro Gomes, nome do partido ao Planalto, e Leonel Brizola; Get�lio Vargas tamb�m � lembrado (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Em 2002, dois anos antes de morrer, Leonel Brizola, fundador do PDT e l�der do trabalhismo brasileiro, apoiou Ciro Gomes, ent�o no PPS, � Presid�ncia da Rep�blica. Ele resolveu apostar no ex-governador do Cear� depois de tentar chegar ao Planalto por duas vezes e de ser o vice de Lula na chapa de 1998. Em 2022, ano do centen�rio do "velho caudilho", � justamente em Ciro que os pedetistas depositam fichas para conseguir o comando do governo federal. Ele ser� lan�ado oficialmente como pr�-candidato nesta sexta-feira (21/1), dia anterior ao anivers�rio de Brizola.

O presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, enxerga muitas semelhan�as entre eles. Ao falar das afinidades entre Ciro e Brizola, lista tra�os ideol�gicos, mas n�o se esquece de apontar coincid�ncias f�sicas e de recorrer � "coragem".

"Brizola era um homem de muita coragem e enfrentamento do poderoso e do grande. Ciro tem a mesma caracter�stica de coragem, enfrentar o sistema financeiro e dizer que vai taxar as grandes fortunas", diz, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas. "As [semelhan�as] mais importantes s�o as ideol�gicas, a coragem e a do temperamento forte", emenda.

A fim de conquistar o eleitorado, o ex-ministro da Integra��o Nacional tem como principal trunfo o chamado Projeto de Desenvolvimento Nacional, criado pelo ex-presidente Get�lio Vargas ainda nos anos 1930.

"Ciro adaptou o projeto que come�ou com Get�lio e passou a diagnosticar os pontos mais complexos da sociedade brasileira", afirma o dirigente, que confia no "derretimento" de Jair Bolsonaro (PL). "Lula est� na dianteira muito forte, at� pela compara��o do que foi o governo dele com essa desgra�a que est� a�".

A gera��o de postos de trabalho � ponto central da agenda trabalhista. "Quanto mais gente empregada, mais sal�rio; quanto mais sal�rio, mais compra; quanto mais compra, mais gente vendendo; quanto mais gente vendendo, mais gente fabricando", observa Lupi, citando a Consolida��o das Leis Trabalhistas (CLT), desenhada por Get�lio. Outro ponto de otimismo no PDT emana da presen�a de Jo�o Santana, marqueteiro de vitoriosas campanhas do PT e, desde o ano passado, respons�vel pelas propagandas de Ciro, que est� de lema novo.

O PDT se programou para uma s�rie de homenagens a Brizola no s�bado (22), em Bras�lia, mas freou os planos por causa do avan�o da variante �micron da COVID-19. Apesar disso, ao falar do fundador do partido, Lupi levanta a bandeira da Educa��o, pauta defendida pelo ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro com o apoio do antrop�logo Darcy Ribeiro.

Esta semana marca o centen�rio de Leonel Brizola e o lan�amento oficial da pr�-candidatura de Ciro Gomes. O senhor enxerga muitas similaridades entre eles? Quais?
H� algumas [semelhan�as] que, para mim, s�o muito fortes, [como] a coragem. Brizola era um homem de muita coragem e enfrentamento do poderoso e do grande. Ciro tem a mesma caracter�stica de coragem, enfrentar o sistema financeiro e dizer que vai taxar as grandes fortunas. Mexer com o sistema financeiro � um ato de coragem. A ideia do projeto nacional-desenvolvimentista, que come�a com Get�lio [Vargas] na d�cada de 1930, que � nosso grande idealizador do trabalhismo, Ciro segue na mesma linha. E a for�a do temperamento: Brizola era um homem de temperamento forte, mais do interior e jeitoso no trato, mas Ciro tamb�m tem um tipo de temperamento forte, mais incisivo do que Brizola.

Ciro � um Brizola mais jovem, no come�o da carreira do Brizola. Est� ficando muito semelhante [a Brizola], at� fisicamente, na minha opini�o, o Ciro. As [semelhan�as] mais importantes s�o as ideol�gicas, a coragem e a do temperamento forte.

O senhor falou do Projeto Nacional de Desenvolvimento, que PDT e Ciro defendem h� pelo menos seis anos. Quais as bases desse programa?

� uma adapta��o do que Get�lio j� fez na d�cada de 1930. O Brasil era agropecu�rio, da pol�tica do caf� com leite de Minas e S�o Paulo. Get�lio fez o Brasil-ind�stria. Criou a Companhia Sider�rgica Nacional (CSN), a Vale do Rio Doce, a Petrobras, toda a pol�tica industrial e a F�brica Nacional de Motores. Ele, na d�cada de 1930, iniciou esse Projeto Nacional de Desenvolvimento, criando o Sistema �nico de Sa�de e uma s�rie de fatos.

Ciro pegou essa base hist�rica e a atualizou, envolvendo tecnologia de ponta e disputa de mercado pela internet. Ciro adaptou o projeto que come�ou com Get�lio e passou a diagnosticar os pontos mais complexos da sociedade brasileira. A ind�stria b�lica do armamentismo, por exemplo: t�nhamos, aqui, a Embraer, empresa nacional de fabrica��o de avi�es. Privatizamos. O que o Brasil ganhou com isso? Alguns d�lares pela venda, mas perdeu a tecnologia de ponta para fabricar avi�es que, hoje, concorrem � segunda maior empresa de fabrica��o de avi�es do mundo.

Estamos diagnosticando os problemas setoriais do Brasil: sa�de, com�rcio, agroneg�cio, ind�stria de ponta e, principalmente, educa��o, bandeira maior da hist�ria do partido. Educa��o em tempo integral. Educa��o que o Cear� [ber�o da fam�lia Gomes] � modelo. Se voc� ver concursos p�blicos do Instituto Tecnol�gico de Aeron�utica (ITA), por exemplo, quase metade � ganho por cearenses, por causa da escola p�blica de qualidade. [Pensamos na] quest�o das novas tecnologias em que a sociedade tem que se inserir, principalmente os jovens.

� um projeto para que o Brasil caminhe em todas as pontas do desenvolvimento com cada setor estrat�gico, e o Estado seja uma esp�cie de fomentador e incentivador da ind�stria nacional e do capital produtivo. E que fa�a o enfrentamento necess�rio para democratizar o que, em nossa opini�o, � o c�ncer da sociedade moderna: o sistema financeiro. Nos Estados Unidos, megacapitalista, h� estados com 50 bancos; o Brasil todo tem tr�s bancos que controlam 75% do mercado financeiro: Bradesco, Ita� e Santander.

Queremos a democracia. Somos t�o favor�veis � democracia que queremos que ela chegue ao mercado financeiro. Nosso programa � desenvolver o Brasil com as voca��es regionais, de cada estado.

Ciro Gomes discursa durante evento na UFMG, em 2019
Ciro se ampara em Projeto Nacional de Desenvolvimento para impulsionar candidatura (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


O senhor falou em desenvolver todas as pontas. Delas, qual � a mais carente, que demanda medidas urgentes?

Tudo o que se refere � gera��o de empregos. O grande mal da sociedade moderna � n�o entender que, mesmo j� tendo mais de 100 anos de exist�ncia, no mundo, da carteira de trabalho, muitos n�o compreendem o avan�o que ela �. O trabalho � que d� cidadania e, com seus direitos - INSS, Fundo de Garantia e a CLT, criada por Get�lio - � que d� autoestima ao ser humano. Fui ministro do Trabalho por cinco anos, e sa� de l� com 4% de desemprego - ou seja: pleno emprego. Ajudei a gerar 12,5 milh�es de empregos. Isso � que faz o Brasil conseguir crescer. Quanto mais gente empregada, mais sal�rio; quanto mais sal�rio, mais compra; quanto mais compra, mais gente vendendo; quanto mais gente vendendo, mais gente fabricando.

O grande desafio [� o emprego], al�m de prioridade absoluta � sa�de por causa da pandemia. N�o fosse a estrutura do SUS, apesar desse profeta da ignor�ncia, como chamo Bolsonaro, ser contra, os 40 mil postos avan�ados do SUS foram o que garantiram chegarmos a quase 80% de vacinados. Temos o Butantan e a Fiocruz que, tendo os insumos, podem fabricar at� 1 milh�o de vacinas ao dia.

[H�] a quest�o da educa��o, que � o maior investimento que se pode fazer para a gera��o brasileira. Educa��o de qualidade, em tempo integral, e acesso � universidade. Todo o sistema educacional, principalmente em um ciclo de forma��o e qualifica��o profissional. 

 

 

Educa��o era a principal bandeira de Brizola e Darcy Ribeiro, parceiro dele na vida p�blica. Eles tinham o modelo dos CIEPs, educa��o integral, no Rio de Janeiro. � vi�vel encaixar isso dentro do contexto brasileiro?

� mais do que nunca vi�vel. Quanto mais voc� tem investimento em uma escola de tempo integral, onde os filhos possam ficar oito ou nove horas, est� gerando dois grandes fatores que beneficiam a economia. Primeiro, a m�e pode ir trabalhar tendo a garantia de o filho estar em uma escola de qualidade, com quatro ou cinco refei��es di�rias. Segundo, essa crian�a, na escola, deixa de aprender o que n�o deve na rua. Uma parcela deixa de ser o que chamamos, infelizmente, sob aspas, de "soldados do tr�fico". Voc� tira da sedu��o do dinheiro f�cil e do crime organizado.

� mais do que necess�rio e pr�tico e concreto; � obriga��o constitucional do Estado brasileiro: sa�de e educa��o para todos.

Como est�o as conversas com outros partidos sobre a possibilidade de apoio a Ciro?

Nesta hora, todo mundo est� conversando com todo mundo, mas ningu�m decide nada. � como os grupos em uma balada: todo mundo olhando e querendo namorar, mas at� chegar o "ficar" demora um pouquinho. Est� todo mundo conversando e dialogando. Neste momento, a polariza��o est� colocada. Lula est� na dianteira muito forte, at� pela compara��o do que foi o governo dele com essa desgra�a que est� a�.

Sou dos poucos brasileiros que acredita que Bolsonaro vai derreter mais. Ele j� derreteu, perdeu um ter�o dos eleitores que teve em 2018. Ciro tem todas as condi��es de ocupar esse espa�o e fazer a polariza��o com Lula. � o que chamo de segundo turno dos c�us. Vai ser a vit�ria do povo brasileiro. Acredito nisso, e acho que vai levar um tempo. Temos a pr�-conven��o; depois, devemos ter inser��es de propaganda eleitoral em mar�o, abril e maio, e vamos us�-las. Vamos ver se, at� as conven��es, conseguimos dar uma crescida. Crescendo, as alian�as v�m naturalmente.

Leonel Brizola no Palácio da Liberdade, em 2002, após conversar com o também já falecido Itamar Franco, então governador mineiro
Pedetistas garantem inspira��o em Leonel Brizola, que faria 100 anos em 2022, para vencer a corrida presidencial (foto: Marcelo Sant'Anna/Estado de Minas)


H� setores da esquerda que, algumas vezes, afirmam que o PDT e o trabalhismo perderam parte da ess�ncia ap�s a morte de Brizola. Como o senhor reage a declara��es do tipo?

Pura gente que n�o conheceu, n�o viu o governo de Brizola e discriminava ele. Desafio qualquer governo, de qualquer ala popular, de qualquer estado, a ter feito tanto pelo pobre e para o povo quanto Brizola. O maior compromisso de algu�m que se diz de esquerda � com o povo. As escolas p�blicas, projeto dos CIEPs... O "Minha Casa, Minha Vida", que surgiu com Lula e Dilma, [come�ou] foi aqui, com Brizola, com 'Cada Fam�lia, um Lote", em que ele dava os lotes em nome da mulher. Ele dizia, com aquele jeito gauchesco: "o 'n�go velho' troca a mulher por duas de 20; a mulher, n�o, e fica cuidando dos filhos at� o fim da vida". Servidor p�blico, introdu��o do 13°, primeira mulher negra secret�ria de Estado, Edialeda Salgado, primeiro homem negro senador e secret�rio de Estado, Abdias do Nascimento. Carlos Alberto Ca�, que desenvolveu a Lei Ca�, contra discrimana��o.

A pr�tica de Brizola mostra a op��o pol�tica e ideol�gica. N�o � o discurso. Se tiver discurso e n�o tiver pr�tica, de nada vale. Brizola tinha discurso e pr�tica.

Uma chapa com Ciro e Marina � vi�vel?

Acho a Marina grande nome. Uma guerreira, hist�ria de supera��o. Uma mulher que venceu mal�ria e preconceitos. A primeira mulher a defender essa quest�o do ecossistema, do meio ambiente. Uma mulher da nossa Amaz�nia. Acho excelente. Mas vice voc� n�o imp�e. Ciro tem excelente rela��o com Marina, mas depende dela, da Rede, de a gente ajustar um programa conjunto. Gostaria muito, mas n�o depende de mim.

Como tem sido o trabalho de Jo�o Santana? O que ele tem feito em prol da candidatura do Ciro?

Ele tem feito trabalhos di�rios; se voc� entrar nas redes do Ciro, ver�. Tem muita conota��o estrat�gica dele. Vamos fazer o pr�-lan�amento do Ciro com a nova marca que ele est� criando. Antigamente, t�nhamos o tempo de televis�o, que agora voltou, mas ele trabalhou todo o ano passado sem isso, s� com inser��es em rede social. Alcan�a o p�blico, mas a rede tem muita informa��o e muita gente usando. Ao mesmo tempo em que todo mundo v�, n�o fixa, porque � muita coisa sendo colocada. Mas ele tem colocado um norte muito legal na campanha do Ciro.

A mais recente pesquisa XP/Ipespe aponta Ciro em quarto lugar, atr�s de Lula, Bolsonaro e Moro. Isso n�o simboliza certa estagna��o da candidatura do PDT?

H� uma for�a��o de barra para transformar o Moro em substituto do Bolsonaro, em minha opini�o. Quando voc� imagina que Moro teve, nos �ltimos anos, exposi��o como ningu�m. Ele era o "Deus da Justi�a", a "espada da Justi�a". Antes de Bolsonaro ganhar, o nome dele foi ventilado como candidato, e nas pesquisas da �poca ele aparecia com [cerca de] 40%. Isso � momento, modismo. Hoje ele tem 8%, 10%. Em pesquisas que estamos fazendo, ele e Ciro est�o em empate t�cnico: 8%, 10%, 11%.

Nunca aparece, como colocaram agora, com 5%. N�o t�m boa vontade. A XP n�o � um ambiente que tenha muita simpatia com Ciro ou com a gente. Estamos questionando o sistema financeiro. O sistema financeiro vai achar que a gente � bonito? N�o. Quem tem tempo de estrada, como n�s, n�o se assusta. Vamos continuar firmando a candidatura para valer, at� o fim, e defendendo um projeto para o Brasil.


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