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Estado de Minas BBC

Bolsonaro na R�ssia: como visita a Putin pode afetar rela��o com EUA

Americanos expressam mal-estar e afirmam que visita a Putin passar� mensagem de apoio a investidas b�licas russas


07/02/2022 23:16 - atualizado 07/02/2022 23:16

Montagem com fotos de Bolsonaro e Biden lado a lado
Bolsonaro e Biden nunca conversaram (foto: Alan Santos/PR | Getty Images)
A decis�o do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de visitar Vladimir Putin, na R�ssia, em meados de fevereiro, abriu um novo flanco de tens�es na rela��o com o governo dos Estados Unidos. � BBC News Brasil, profissionais da diplomacia americana chamaram a decis�o do mandat�rio brasileiro de "insana" e "sem sentido".

 

Embora Brasil e R�ssia componham o bloco de emergentes BRICS (junto com China, �ndia e �frica do Sul) e mantenham rela��es comerciais e diplom�ticas h� tempos, a viagem de Bolsonaro ao pa�s do Leste Europeu caiu mal para os americanos especialmente pelo momento em que ocorrer�.

UA e R�ssia protagonizam duro embate pol�tico internacional. De um lado, os russos estacionaram mais de cem mil soldados na fronteira com a Ucr�nia e amea�am invadir o pa�s a qualquer momento se os americanos e seus aliados ocidentais n�o interromperem qualquer processo para a entrada da Ucr�nia na OTAN, a alian�a militar do Atl�ntico Norte.

 

De outro lado, os americanos abastecem o governo ucraniano com armas e j� deslocaram mais de 3 mil soldados para bases da OTAN na Rom�nia e na Pol�nia. O risco � que a situa��o, que at� agora gerou �speras discuss�es na ONU e trocas de acusa��es de parte a parte, evolua para uma guerra na Europa.

� nesse contexto que Bolsonaro desembarcar� em Moscou no dia 14 de fevereiro.

 

"� como assistir uma crian�a correndo na pista para tentar atravessar uma rodovia expressa e movimentada", afirmou � BBC News Brasil um ex-alto diplomata americano, que j� trabalhou no Brasil, a respeito da visita do presidente brasileiro � R�ssia.

 

Na semana passada, oficiais do Departamento de Estado agiram para expressar claramente o descontentamento dos EUA com os planos brasileiros. H� dez dias, consultado pela BBC News Brasil, o departamento de Estado afirmou, por nota, que "o Brasil tem a responsabilidade de defender os princ�pios democr�ticos e proteger a ordem baseada em regras, e refor�ar esta mensagem para a R�ssia em todas as oportunidades''.


Putin e Bolsonaro se cumprimentam durante encontro em 2019
Putin e Bolsonaro j� se encontraram anteriormente, em novembro de 2019 (foto: Marcos Corr�a/PR)

A portas fechadas, diplomatas americanos disseram aos brasileiros que a viagem de Bolsonaro � R�ssia passaria ao mundo uma mensagem de que o Brasil endossa as atitudes de Putin em rela��o � Ucr�nia e de que o governo brasileiro � indiferente a amea�as de invas�o de territ�rios alheios por pot�ncias.

 

O Brasil � atualmente um aliado militar extra-OTAN dos Estados Unidos, status garantido ao pa�s ainda na gest�o do republicano Donald Trump. No ano passado, j� no governo do democrata Joe Biden, os americanos afirmaram endossar que o Brasil se tornasse um parceiro global da Alian�a Militar do Atl�ntico, o que aumentaria ainda mais acesso �s For�as Armadas brasileiras a armamentos e treinamentos.

 

"N�o � poss�vel que o Brasil ignore o significado simb�lico dessa viagem. Esse n�o � o momento de discutir rela��es bilaterais com a R�ssia, enquanto eles amea�am invadir seu vizinho. Claro que os Estados Unidos n�o est�o felizes com o plano, assim como os europeus tamb�m n�o est�o, porque sugere uma falta de respeito em rela��o �s regras do jogo internacional, que historicamente o Brasil costumava defender", afirmou � BBC News Brasil o ex-embaixador americano no Brasil Melvyn Levitsky, atualmente professor de rela��es internacionais da Universidade de Michigan.

'Por que seu presidente n�o fala com o meu?'

O Itamaraty tem respondido aos americanos que a viagem estava pendente h� mais de um ano - embora o convite de Putin tenha sido formalizado apenas em dezembro -, e que tratar� estritamente de temas bilaterais.

 

A R�ssia n�o est� nem entre os dez maiores parceiros comerciais do Brasil, mas vende ao pa�s fertilizantes necess�rios para a agricultura brasileira. N�o h�, no entanto, expectativa de que a visita possa resultar em algum acordo comercial formal entre os dois pa�ses.

 

A viagem ao leste europeu tamb�m contar� com uma parada de Bolsonaro na Hungria, exclu�da por Biden do encontro pela democracia organizado pelos EUA em dezembro, j� que Washington v� o governo conservador e direitista de Viktor Orban como distanciado dos princ�pios democr�ticos.

 

Orban � hoje um dos principais aliados internacionais de Bolsonaro. A entusiastas que o questionaram na frente do Pal�cio da Alvorada, o presidente brasileiro tamb�m elogiou as credenciais pol�ticas de Putin: "Ele [Putin] � conservador sim. Eu vou estar m�s que vem l�, atr�s de melhores entendimentos, rela��es comerciais. O mundo todo � simp�tico com a gente".

 

Analistas internacionais afirmam que a viagem � R�ssia tem import�ncia pol�tica dom�stica para Bolsonaro, que quer mostrar aos eleitores brasileiros que n�o est� isolado no mundo, como afirmam seus cr�ticos. "Com a sa�da de Trump da Casa Branca, Bolsonaro perdeu seu principal aliado e tenta com a visita a Putin um realinhamento ideol�gico internacional. � claro que isso vai irritar ainda mais os EUA", afirma Carlos Gustavo Poggio, professor de rela��es internacionais da FAAP.

 

H� pouco mais de um ano, a rela��o entre brasileiros e americanos sofreu um forte abalo, depois que o republicano Donald Trump, considerado o maior aliado global do atual mandat�rio brasileiro, perdeu as elei��es e acusou de fraude eleitoral seu opositor Joe Biden, sem provas. Bolsonaro endossou tais alega��es de Trump e demorou semanas para parabenizar o novo presidente dos EUA, que, em troca, se recusa a conversar diretamente com o colega brasileiro desde que chegou � Casa Branca.

 

De l� pra c�, o Brasil tem sido pressionado pelos americanos a mudar sua postura em rela��o � quest�o do meio ambiente, j� que combater o aquecimento global � uma prioridade da gest�o Biden. Por outro lado, os EUA mantiveram o apoio para que o Brasil entrasse na Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico, a OCDE, uma prioridade para o governo Bolsonaro.

 

Um embaixador que acompanhou as discuss�es com os americanos sobre a viagem � R�ssia afirmou que para o Brasil n�o h� vantagens de se alinhar nesse momento com os americanos e cancelar a viagem. "Se eles acham que somos t�o importantes, porque ent�o o Biden n�o fala com nosso presidente?", teria sido uma das respostas da diplomacia brasileira.

 

Apesar da ret�rica, no entanto, na segunda-feira passada (31/1), o Brasil acompanhou os Estados Unidos no Conselho de Seguran�a da ONU ao concordar que a quest�o Ucr�nia deveria ser tratada no colegiado - contra a vontade dos russos.

 

No voto do pa�s, no entanto, o embaixador brasileiro Ronaldo Costa fez quest�o de pontuar que o Brasil n�o endossa nem os exerc�cios militares russos nem as amea�as de san��es econ�micas unilaterais dos americanos. E que manter� sua independ�ncia e defesa de sa�das diplom�ticas e multilaterais.

 

"Visitas bilaterais s�o normais, n�o implicam na viola��o de nenhuma regra internacional. Com o voto na ONU, o Brasil tentou deixar claro que a viagem � R�ssia n�o deve ser tomada como a express�o de uma posi��o pr�-R�ssia. A quest�o est� na oportunidade: os americanos est�o fazendo um esfor�o para conter os �mpetos russos por meio de alian�as, e queriam contar com o Brasil nesse bloco", avalia o embaixador brasileiro S�rgio Amaral, que j� comandou a embaixada em Washington e hoje � integrante do Centro Brasileiro de Rela��es Internacionais.


Gráfico
(foto: BBC)

A preocupa��o dos americanos com a quest�o R�ssia/Ucr�nia tem dominado a agenda internacional do pa�s. E n�o s� porque ela pode detonar uma guerra na Europa, mas porque os Estados Unidos enxergam no desafio russo uma contesta��o � atual ordem internacional.

 

"Estamos vivendo um processo de demarca��o de linhas e territ�rios de influ�ncia pelas pot�ncias, que est�o reavaliando as suas posi��es geopol�ticas. E isso vai criando novas �reas de instabilidade. Os EUA v�o tentando manter sua hegemonia e as regras do jogo do p�s segunda guerra, que veta invas�es e tomadas de territ�rio, enquanto a R�ssia se v� prejudicada pela expans�o da OTAN. Dos 30 membros da alian�a militar hoje, 14 s�o ex-rep�blicas ou pa�ses de influ�ncia russa", nota Amaral. Nesse xadrez global, estaria tamb�m a tens�o entre China e Taiwan.

 

O grau de import�ncia e de tens�o do assunto transpareceu em um epis�dio entre os governos brasileiro e americano. Em meados de janeiro, depois de uma conversa com o chanceler Carlos Fran�a, o secret�rio de Estado americano Antony Blinken divulgou uma nota em que dizia que os dois pa�ses tinham "prioridades compartilhadas, incluindo a necessidade de uma resposta forte e unida contra novas agress�es russas � Ucr�nia". O Itamaraty considerou que os americanos cruzaram uma linha com a afirma��o, que n�o refletia o posicionamento brasileiro. O �rg�o veio a p�blico com um "esclarecimento", no qual defendia solu��o diplom�tica e pac�fica e mostrava n�o se alinhar a nenhum dos lados.

Uma sombra na rela��o

Para Melvyn Levitsky, a viagem de Bolsonaro � R�ssia "lan�ar� mais uma sombra sobre a rela��o Brasil-EUA". "N�o acredito que haver� uma resposta imediata (dos americanos), mas a rela��o vai piorar, certamente, e Bolsonaro ter� que responder - se (Brasil) se posicionou como um aliado militar extra-OTAN deveria se posicionar diante de Putin", diz o ex-embaixador no Brasil.

 

Bolsonaro j� afirmou em entrevista � rede Record que n�o mencionar� o assunto Ucr�nia na visita a Putin.

 

Na �ltima quinta (3/2), o secret�rio assistente de Estado para o Hemisf�rio Ocidental Brian Nichols afirmou em sess�o no Congresso dos EUA que, "at� onde sei", n�o h� planos para revogar o status de aliado militar extra-OTAN do Brasil.

Mas diplomatas ouvidos pela BBC News Brasil afirmam que, a depender do que acontecer na viagem e caso Bolsonaro se reeleja em outubro, essa � uma possibilidade.

 

Segundo os americanos, a visita recente do presidente argentino Alberto Fernand�z a Putin tamb�m provocou descontentamento em Washington. Os diplomatas dos EUA afirmam que o convite russo para os mandat�rios de Brasil e Argentina s�o uma forma de mostrar aos americanos que ele tamb�m pode exercer poder na zona de influ�ncia americana por excel�ncia e que n�o est� t�o isolado como o Ocidente gostaria.

 

Como Fernandez e Biden t�m boa rela��o, os argentinos estariam agora, segundo fontes americanas, se esfor�ando para reverter o mal-estar. Isso n�o seria verdade no caso brasileiro. Para os americanos, pode custar caro.

 

"Bolsonaro pode at� achar agora que ele n�o tem muitos amigos no governo americano ou na Europa Ocidental. Mas se seguir em frente com esse tipo de atitude, a� sim ele vai ver o que � ser barrado no baile", diz um ex-alto diplomata dos EUA.

 

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