Corrida come�a a afunilar na disputa eleitoral para presidente da Rep�blica
Para analistas, candidatos � Presid�ncia da Rep�blica, como Bolsonaro e Lula, est�o consolidados. Cresce a press�o sobre o nome da terceira via na disputa
Lula lidera pesquisas eleitorais, mas cai diferen�a para Bolsonaro (foto: Ricardo Stuckert/Fotos P�blicas
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Os recentes resultados das pesquisas eleitorais para a corrida presidencial, nas quais o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem tirando, gradativamente, a diferen�a para a lideran�a de Luiz In�cio Lula da Silva (PT), confirma o come�o do afunilamento da disputa.
Mesmo porque, a depender do desempenho dos outros nomes postos na corrida ao Pal�cio do Planalto, come�ar�o as press�es para que se retirem da corrida e facilitem coliga��es competitivas. Nessa seara, os nomes de Sergio Moro (Podemos), Jo�o Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) s�o os que mais est�o na vitrine.
Sergio Moro, do Podemos, � um dos nomes que est�o na vitrine (foto: Marcello Casal Jr/Ag�ncia Brasil
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Para o cientista pol�tico Andr� Pereira C�sar, as candidaturas de Bolsonaro e Lula est�o consolidadas sobretudo pela lideran�a nas pesquisas. Mas ele enxerga que, no pelot�o de tr�s, come�a a se formar uma disputa interessante e que promete fortes emo��es eleitorais: a da terceira via.
C�sar observa esse espectro pol�tico como dividido em dois blocos. O primeiro tem Moro e Ciro disputando os votos entre si. Os dois se apresentam com um discurso anti-Bolsonaro, anti-Lula e anticorrup��o que agrada ao eleitor em busca de uma op��o � polariza��o que se apresenta at� agora.
Simone Tebet (MDB) tenta emplacar como candidata da terceira via (foto: Leopoldo Silva/Ag�ncia Senado
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Mas os pontos de contato terminam a�. O pr�-candidato do PDT � feroz cr�tico do ex-juiz da Lava-Jato, a quem acusa de ter rasgado a Constitui��o e o Direito Penal nas decis�es que tomou � frente da opera��o.
O segundo bloco, na vis�o de C�sar, � composto por pr�-candidatos que, para ele, devem naufragar por falta de musculatura. "Vejo no m�ximo quatro candidaturas minimamente competitivas: Lula, Bolsonaro, Ciro e um representante de uma uni�o em torno de Moro, (Simone) Tebet ou (Jo�o) Doria", avalia.
POUCO ESPA�O
Professor da Funda��o Getulio Vargas e cientista pol�tico, S�rgio Pra�a tamb�m v� margem m�nima para mudan�as no panorama da corria presidencial at� outubro. "Acho que tem espa�o para Lula, Moro, Bolsonaro, Ciro e, talvez, mais uma candidatura da centro-direita ou de direita", aponta.
Ele destaca que n�o v� capacidade de avan�ar nas campanhas do tucano Doria e de Ciro. "Eu os descartaria. Falando de potencial de crescimento, acho que o Eduardo Leite (governador ga�cho que, cogita-se, pode trocar o PSDB pelo PSD para disputar o Planalto) teria. O Moro, tamb�m". Pra�a n�o v� a decolagem de Ciro porque, no ambiente da esquerda, Lula � hegem�nico. "Acho dif�cil surgir uma alternativa nesse campo", prev�.
No caso de Leite, o professor da FGV avalia que o governador entra na disputa com um objetivo fundamental: tornar-se conhecido do eleitor de Norte a Sul. "N�o precisa entrar para ganhar agora. Ele se beneficiaria apenas se mostrando como candidato, como alternativa, para se fazer conhecido. J� que n�o quer se reeleger governador, a melhor op��o parece ser tornar-se candidato pelo PSD mesmo", disse.
O partido de Gilberto Kassab, por�m, tem o senador Rodrigo Pacheco (MG) como o nome colocado para a disputa ao Planalto e Leite s� seria alternativa se o parlamentar desistir do projeto.
O professor ainda destaca que Moro, Doria e Leite como candidatos congestionaria o estrato pol�tico pelo qual se apresentam. "S�o do mesmo campo ideol�gico, s�o tr�s alternativas de centro-direita a Bolsonaro e Lula. N�o tem por que todos serem lan�ados", observa.
* Estagi�rio sob a supervis�o de Fabio Grecchi
Bolsonaro age contra o tempo
Presidente tem cobrado da Casa Civil e do Minist�rio da Economia medidas que
gerem repercuss�o positiva junto ao eleitorado e se convertam em votos (foto: Antonio Cruz/Ag�ncia Brasil
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Com as consequ�ncias da guerra entre a R�ssia e a Ucr�nia batendo �s portas em reflexos na economia do Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem se concentrado em medidas populistas na tentativa de minimizar os estragos em sua popularidade e, consequentemente, se reeleger. O chefe do Executivo passou as �ltimas semanas cobrando da Casa Civil e do Minist�rio da Economia que intentos que gerassem repercuss�o positiva sa�ssem do papel.
J� est� certo, por exemplo, a libera��o do saque do Fundo de Garantia do Tempo de Servi�o (FGTS) de at� R$ 1 mil por trabalhador com saldo dispon�vel na conta, al�m de um pacote de cr�dito de R$ 100 bilh�es para micro e pequenos empres�rios.
No entanto, al�m do receio de um desequil�brio fiscal, especialistas apontam que apesar do aux�lio � popula��o, os benef�cios podem acabar “engolidos” pela alta da infla��o, causando deteriora��o ainda maior de Bolsonaro e com convers�o eleitoral m�nima, de alcance incerto.
O primeiro vice-presidente da Comiss�o de Rela��es Exteriores da C�mara, deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR), caracterizou o governo de “desastrado e incompetente”. “Basta ver a economia se arrastando, desemprego, pobreza e mis�ria aumentando em nosso pa�s. O reflexo na economia poder� ser bom de um lado, mas para o conjunto do equil�brio fiscal poder� ser um desastre e comprometer gera��es. Populismo � a marca de um governo completamente despreparado para enfrentar momentos durante quatro anos e agora bate o desespero dos derrotados.”
Para o economista Jos� Lu�s Oreiro, professor do Departamento de Economia da Universidade de Bras�lia (UnB), os efeitos ocorrer�o independentemente da posi��o que Bolsonaro tenha assumido com o presidente russo, Vladimir Putin. Ele cita o aumento do pre�o internacional do petr�leo, do g�s, do milho, do trigo e da soja como consequ�ncias internas do conflito no leste europeu.
“Temos uma desvaloriza��o das moedas dos pa�ses emergentes, em particular do Brasil com respeito ao d�lar, representando acelera��o da press�o inflacion�ria, contrariando as expectativas iniciais do Banco Central de que a infla��o come�aria a ceder a partir de abril. Nenhuma das medidas que Bolsonaro adotou ter� qualquer impacto sobre a cota��o internacional das commodities”, completou.
Oreiro observou ainda que a economia j� vinha em ritmo fraco e que o conflito acabou com as chances de reelei��o do chefe do Executivo. “O boletim Ibre do FGV j� mostrava crescimento de ritmo menor do que o esperado no in�cio de 2022. Essas medidas do presidente podem ter algum impacto sobre os convertidos de Bolsonaro, mas dificilmente ter�o algum impacto real sobre o n�vel de atividade econ�mica. A guerra na Ucr�nia acabou com as possibilidades de Bolsonaro de se reeleger como presidente porque o impacto sobre a economia brasileira a partir de abril vai ser muito forte com a alta infla��o de alimentos, economia retraindo e aumento do desemprego. Contra isso, n�o existe m�gica poss�vel que o Posto Ipiranga possa fazer”, analisou.
MAIS INFLA��O
S�rgio Pra�a, cientista pol�tico e professor da FGV corrobora que, com a crise da guerra, � inevit�vel que a infla��o e a gasolina aumentem. “As consequ�ncias internacionais ser�o grandes e o Brasil vai sentir, como o resto do mundo. N�o acho que tenha como escapar. As medidas objetivadas pelo presidente s�o boas, mas v�o acabar sendo engolidas pelo aumento da infla��o. Melhor fazer do que n�o fazer, mas o efeito eleitoral vai ser pequeno, pois n�o faz parte de um plano econ�mico coeso e com credibilidade. S�o medidas pontuais”.
“� diferente do presidente chegar e falar que tem um pacote de 10 medidas para enfrentar esses tempos, mas a condu��o econ�mica sempre foi ruim. N�o � um plano coeso, mas de alcance incerto. N�o � uma boa maneira de conduzir a economia do pa�s, muito menos de fazer Or�amento Secreto e o desastre fiscal do ano passado. � um conjunto de erros que a gente vai sentir nos pr�ximos meses. Em parte, � culpa dele. E em parte, n�o. � consequ�ncia de uma guerra unilateralmente pensada. Mesmo assim, ele deve sentir porque o presidente � visto pela condu��o na economia. Se pesar no bolso do brasileiro, mesmo que n�o seja culpa direta, se reflete na popularidade dele”, emendou.
J� o cientista pol�tico Rodrigo Prando, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avalia que o pacote de bondades do presidente deve ter um certo impacto. Mas, aponta, a grande quest�o � se ser� capaz de reverter a deteriora��o da aprova��o do presidente, que se confirma nas consequ�ncias da pandemia e da quest�o da infla��o e do aumento de custo do brasileiro.
“Persistindo o cen�rio de guerra, o aumento nos combust�veis que j� vinha em uma crescente, � um fato que pode deteriorar ainda mais a situa��o de aprova��o do presidente. Fora quest�es como o aumento do trigo, consequentemente do p�o e al�m de tudo, a quest�o dos fertilizantes que pode atrapalhar os produtores e o agro. De todas as formas poss�veis, Bolsonaro vai buscar esses recursos tentando reverter uma situa��o que, ao meu ver, � muito dif�cil. Seria interessante que ele n�o s� conseguisse dinheiro para investimentos, mas que ele mudasse de postura e fosse mais emp�tico com o brasileiro, que mudasse a conduta em rela��o � vacina��o e a situa��o da pandemia. Mas � dif�cil porque a situa��o dele � de se resguardar dentro desse grupo radical que o apoia, ele tem pouco esfor�o envolvido na tentativa de ampliar o discurso dele para o centro”, salientou.
Ele emendou tamb�m que o governo Bolsonaro � reativo, mas quando reage � de forma tardia e malfeita. "Mesmo na pandemia, o governo teve todas as condi��es de, no in�cio, atacar o v�rus como um inimigo e ganhar capital pol�tico e popularidade. O fato dele ter ido � R�ssia, encontrado Putin e n�o ter condenado a invas�o da Ucr�nia � outro elemento que torna qualquer discurso do presidente desencontrado com a realidade".
"Gasto p�blico em ano eleitoral costuma ter um impacto. � ineg�vel. O problema � se o tempo que ele ter� para esse impacto ser sentido ser� tempo suficiente para que o brasileiro que estava em pior situa��o entenda que � algo relacionado diretamente ao presidente que tem hist�rico de se colocar distante das agruras do brasileiro em momentos de trag�dia. Melhoria do pagamento do Auxilio Brasil, linhas de cr�dito, tudo isso pode ajudar em regi�es em que a pobreza e mis�ria � maior. Tem que ver se haver� tempo para que esse impacto seja traduzido em ganho de popularidade e se converta, de fato, em voto. Bolsonaro vai fazer de tudo para melhorar a situa��o eleitoral, mas quando come�ar a campanha, os candidatos far�o de tudo para desgastar e colocar repetidas vezes as a��es e falas deles nesses tr�s anos."