
Avessa aos holofotes, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber passou os �ltimos dez anos na Corte praticamente sem conceder entrevistas. Pr�xima ministra a assumir a presid�ncia do STF, � vista pelos pares como extremamente discreta e t�cnica. No entanto, Weber tem assumido uma postura mais contundente nos autos dos �ltimos processos que relatou e se tornou um dos nomes mais temidos pelos bolsonaristas.
Em setembro, a ministra vai ser empossada como presidente da mais alta Corte do pa�s — no auge da campanha eleitoral de 2022. Ela ser� a terceira mulher a ocupar o cargo. Desde o ano passado, Weber viu crescer o seu protagonismo no STF. O principal desafio � manter uma rela��o institucional equilibrada entre o Judici�rio e o Pal�cio do Planalto, sem ceder aos rompantes do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Decis�es proferidas por ela, como a que suspendeu a execu��o das emendas do chamado Or�amento Secreto, e o posicionamento a respeito do caso da vacina indiana Covaxin, por exemplo, indicam que a magistrada pretende seguir firme e t�cnica em seus despachos.
Nas m�os da ministra tamb�m est� o conjunto de a��es contra a gra�a constitucional dada pelo presidente Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ). O parlamentar foi condenado pelo Supremo a oito anos e nove meses de pris�o, mas recebeu o indulto do chefe do Executivo, desgastando ainda mais a rela��o entre os Poderes.
Na an�lise do envolvimento de Bolsonaro no caso da compra do imunizante Covaxin, Rosa Weber negou, em mar�o, um pedido da Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) para arquivar o inqu�rito que apura se o presidente cometeu crime de prevarica��o na negocia��o da vacina.
Ela tamb�m foi relatora da a��o apresentada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associa��o dos Magistrados do Brasil (AMB), entre outras entidades, contra a emenda criada a partir da PEC dos Precat�rios. O projeto para viabilizar o pagamento do Aux�lio Brasil e outros gastos sociais s�o de extremo interesse do governo, pois fazem parte do plano de reelei��o do presidente.
Na avalia��o do professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de S� e Silva, o perfil t�cnico de Weber � extremamente positivo, diante do cen�rio polarizado do pa�s. "Os �ltimos presidentes de tribunais superiores se meteram a fazer pol�tica, se atrapalharam e fragilizaram suas respectivas Cortes", opina.
"Toffoli e Fux queriam fazer acordos com Bolsonaro e acordavam com gritos de 'fora STF' na janela; Barroso foi tentar incorporar militares no processo eleitoral e abriu flancos para ataques �s urnas", ressaltou Silva.
O cientista pol�tico Leonardo Queiroz Leite, doutor em administra��o p�blica e governo pela Funda��o Getulio Vargas de S�o Paulo (FGV-SP), destaca que o estilo contido da ministra pode ser um aliado para lidar no momento de tens�o. "Ela n�o busca holofotes como outros, que s�o mais midi�ticos. � extremamente discreta e reservada — o que � muito pertinente. Um juiz tem que ser imparcial e se distanciar do calor das disputas pol�ticas", acredita.
Apesar das decis�es mais contundentes, o comportamento da magistrada ainda � um mist�rio no que diz respeito a discursos p�blicos e declara��es � imprensa. Diferentemente do ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que na �ltima semana deu declara��es enf�ticas em defesa do processo eleitoral, Weber deve manter uma linha moderada.
Aos 73 anos, a ministra deve se aposentar em outubro de 2023. Pelas regras vigentes, � obrigat�ria a aposentadoria dos membros do STF aos 75 anos.
Chegada ao STF
Rosa Maria Pires Weber nasceu em Porto Alegre, em 1948. Antes de assumir uma cadeira do Supremo, presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tamb�m foi ministra do Tribunal Superior do Trabalho (TST).
A carreira como jurista come�ou em meados de 1967, quando ela foi aprovada em primeiro lugar no vestibular para o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A gradua��o foi conclu�da em 1971 e, em 1976, Weber j� era ministra substituta.
Em 1991, foi promovida para o segundo grau de jurisdi��o, tornando-se desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Regi�o. Ocupou diversos cargos administrativos at� alcan�ar a presid�ncia da Casa, exercida entre 2001 e 2003.
Em 2005, foi indicada pelo ent�o presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) como ministra do TST. Seis anos depois, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) sugeriu o nome da magistrada para ocupar a cadeira deixada pela ministra aposentada do STF Ellen Gracie.
Em 13 de dezembro de 2011, Rosa Weber foi sabatina pelo Senado Federal, onde obteve 57 votos a favor e 14 contra. Ela foi questionada sobre temas como uni�o homoafetiva, nepotismo, mensal�o e demarca��o de terras de quilombolas. A posse no STF ocorreu em 20 de dezembro do mesmo ano. Atualmente, ela � vice-presidente da Corte Suprema.