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Estado de Minas LULA ELEITO

Qual o futuro do bolsonarismo ap�s derrota na elei��o?

Mesmo com Bolsonaro derrotado, o bolsonarismo deve seguir vivo como uma das principais for�as pol�ticas do pa�s nos pr�ximos anos. Mas conseguir� se manter coeso? Haver� disputa pela lideran�a da direita? Entenda o que pode vir pela frente.


31/10/2022 08:20 - atualizado 31/10/2022 10:25


Apoiador do presidente Jair Bolsonaro carregando bandeira do Brasil, em frente a um pequeno caminhão também decorado com bandeiras, bonecos infláveis de Lula vestido de presidiários e uma imagem de Bolsonaro em papelão
Mesmo com Bolsonaro derrotado, o bolsonarismo deve seguir vivo como uma das principais for�as pol�ticas do pa�s nos pr�ximos anos. Mas conseguir� se manter coeso? (foto: AFP)

Jair Bolsonaro (PL) saiu derrotado em sua tentativa de reelei��o. Mas os mais de 58 milh�es de votos recebidos pelo capit�o reformado, 15 governadores aliados a ele vitoriosos e mais de uma centena de parlamentares eleitos pelo PL para C�mara e Senado mostram que o bolsonarismo dever� seguir vivo nos pr�ximos anos como uma das principais for�as pol�ticas do pa�s.

O que esperar daqui para a frente? Como ser� a atua��o da bancada bolsonarista no Congresso sob o novo governo de Luiz In�cio Lula da Silva (PT)? A direita ter� capacidade de se manter coesa uma vez fora do Executivo? Conseguir� manter eventuais mobiliza��es nas ruas?

E Bolsonaro: permanecer� como principal l�der do campo da direita, com aliados como Sergio Moro, Tarc�sio de Freitas e Romeu Zema j� sendo percebidos como poss�veis sucessores do atual presidente e potenciais candidatos em 2026?

A BBC News Brasil ouviu o cientista pol�tico Jo�o Feres J�nior (UERJ) e a antrop�loga Isabela Kalil (Fesp), estudiosos do bolsonarismo. E o deputado reeleito Luiz Philippe de Orleans e Bragan�a (PL-SP) e o cientista pol�tico Ant�nio Fl�vio Testa (UnB), apoiadores de Bolsonaro e pensadores da direita, para entender os rumos desse campo pol�tico nos pr�ximos anos.

Os valores do bolsonarismo

"O bolsonarismo � algo complexo, n�o � simplesmente um discurso em torno de valores conservadores", observa Jo�o Feres J�nior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador da pesquisa qualitativa Bolsonarismo no Brasil, que ouviu 24 grupos focais com eleitores de Bolsonaro em seis Estados brasileiros em 2021.

"Esse n�cleo � um deles — o dos valores da fam�lia, que congrega evang�licos e cat�licos conservadores. Mas h� tamb�m o discurso da seguran�a e das armas, que congrega muita gente que tem admira��o pelo militarismo. E tem o n�cleo do discurso anticorrup��o, mais ligado a um antipetismo radicalizado", afirma o pesquisador.

Para al�m dos discursos que comp�em o bolsonarismo, uma outra caracter�stica marcante deste campo pol�tico � sua estrutura de comunica��o, avalia o cientista pol�tico.

"S�o redes sociais, canais de TV aberta e a cabo — Rede TV, Record, SBT, Jovem Pan — e um terceiro pilar s�o as igrejas evang�licas e movimentos conservadores da Igreja Cat�lica, que servem como correia de comunica��o para as mensagens bolsonaristas", enumera.

"Ent�o existe uma esfera comunicacional mais ou menos aut�noma que Bolsonaro construiu em torno de si e que permite com que ele tenha resistido tanto tempo com uma popularidade t�o alta."

Luiz Philippe de Orleans e Bragan�a, herdeiro da fam�lia imperial brasileira e deputado federal por S�o Paulo reeleito com 79 mil votos, acrescenta a essa lista de valores da direita: a soberania nacional, o liberalismo econ�mico — com foco no est�mulo � livre iniciativa e na diminui��o do Estado — e uma defesa da liberdade da express�o que v� a atua��o do Supremo Tribunal Eleitoral (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como "tir�nica".

J� Isabela Kalil, professora da Funda��o Escola de Sociologia e Pol�tica de S�o Paulo (Fesp) e coordenadora do Observat�rio da Extrema Direita, cita a presen�a dos militares na pol�tica e o apoio do agroneg�cio como outras caracter�sticas importantes do bolsonarismo, mas defende que o tra�o mais marcante desse campo pol�tico � seu vi�s antidemocr�tico.

"O bolsonarismo representa um novo paradigma de pol�tica", defende a antrop�loga.

"De 1988 para c�, t�nhamos um processo de amplia��o do espa�o democr�tico, um ac�mulo de direitos, ainda que com desafios. O que temos agora � um novo paradigma em que, pela primeira vez, um pol�tico faz apologia � tortura, � ditadura militar e se coloca de maneira contr�ria �s conquistas democr�ticas das �ltimas d�cadas. Ent�o o bolsonarismo tem muitas faces, mas a principal � essa mudan�a de paradigma."


Num cartaz em inglês, manifestante pede a destituição dos ministros do STF em protesto bolsonarista no 7 de setembro de 2021 em São Paulo
Num cartaz em ingl�s, manifestante pede a destitui��o dos ministros do STF em protesto bolsonarista no 7 de setembro de 2021 em S�o Paulo (foto: AFP)

As elei��es de 2022 e a for�a da direita

Diante da expectativa de parte da esquerda de que Lula pudesse ser eleito j� no primeiro turno, o pa�s se deparou no 2 de outubro com uma realidade muito diferente: Bolsonaro com uma elei��o bastante superior ao que sugeriam as pesquisas eleitorais e um forte resultado de candidatos apoiados por ele entre governadores, deputados e senadores.

"Essa elei��o revelou que � preciso pensar o bolsonarismo como um fen�meno que transcende a figura de Jair Bolsonaro", diz Kalil.

Ela cita como exemplo o n�mero recorde de eleitos para o Congresso Nacional e assembleias com passagem pelas For�as Armadas e pelas pol�cias, grupo conhecido como "bancada da bala" — ser�o 103 representantes na pr�xima legislatura, entre deputados estaduais, federais e senadores, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz divulgado em 25 de outubro.

No Senado, ela chama a aten��o para os ex-ministros de Bolsonaro que ganharam espa�o — foram cinco: Damares Alves (Republicanos-DF), Tereza Cristina (PP-MS), Rog�rio Marinho (PL-RN), Marcos Pontes (PL-SP) e Sergio Moro (UB-PR) —, o que pode ser relevante no processo de indica��o de futuros nomes para a Suprema Corte.


Tereza Cristina e Marcos Pontes
Tereza Cristina e Marcos Pontes est�o entre os cinco ex-ministros do governo Bolsonaro eleitos para o Senado a partir de 2023 (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag�ncia Brasil)

"O perfil da popula��o brasileira � de fato conservador", avalia Ant�nio Fl�vio Testa, professor da UnB (Universidade Bras�lia) e parte de um grupo de cientistas pol�ticos que participaram da formula��o da estrat�gia bolsonarista desde a elei��o de 2018.

"Sempre foi assim, mas durante 25 anos houve um predom�nio dos partidos de esquerda: o PT e o PSDB. Havia um constrangimento na popula��o de colocar suas ideias, mas com a ascens�o do mundo evang�lico na pol�tica e de alguns partidos que ocuparam esse espa�o, a partir de agora h� uma configura��o mais delineada de perfis pol�ticos conservadores", diz Testa.

Na �ltima d�cada, o PSDB era visto no debate pol�tico brasileiro como um partido de centro-direita, mas o bolsonarismo costuma classificar o partido social-democrata de FHC e Covas como de "esquerda".

Coes�o no Congresso � improv�vel

Diante da for�a revelada nas urnas e da capilaridade do bolsonarismo na sociedade, atrav�s de sua rede de comunica��o pr�pria e do apoio das igrejas, a d�vida agora � se essa coes�o se mant�m sem Bolsonaro � frente do Executivo federal.

Com rela��o ao Congresso, a avalia��o � praticamente un�nime: o bloco conservador tende a perder for�a sob Lula, com pol�ticos do Centr�o hoje alinhados a Bolsonaro migrando para a base do petista, por terem uma atua��o mais fisiol�gica (isto �, baseada em interesses pessoais) do que ideol�gica.

O bloco formado por PL, PP e Republicanos, os tr�s partidos do Centr�o mais ligados a Bolsonaro, elegeu 187 deputados para a legislatura que tem in�cio em 2023.

A t�tulo de compara��o, o bloco de partidos de esquerda (PT, PCdoB, PV, PDT, PSB e Psol) elegeu 125 deputados. Para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda � Constitui��o), por exemplo, s�o necess�rios tr�s quintos dos votos dos deputados (308).


Gráfico mostra a composição por partidos da bancada eleita para a Câmara dos Deputados em 2022
Composi��o da bancada eleita para a C�mara dos Deputados em 2022 por partidos (foto: Ag�ncia C�mara)

"Num governo Lula, a l�gica fica muito diferente, porque o Centr�o opera sempre na base do fisiologismo. Ent�o duvido que o PL continue com unidade sob Lula eleito. O PL vai rachar no meio", acredita Jo�o Feres J�nior, da Uerj.

"Lula est� careca de saber que s� se pode governar com maioria parlamentar e, se os hoje bolsonaristas forem brincar de fazer oposi��o, v�o fazer isso do lado da pol�tica parlamentar que ganha menos recursos, que n�o ganho cargos, e o pessoal do Centr�o � tradicionalmente atra�do por esse tipo de coisa. Ent�o duvido que se forme um superbloco contra o Lula."

Parlamentar do PL, Orleans e Bragan�a tamb�m avalia que ser� dif�cil manter a unidade do partido que deu abrigo a Bolsonaro para as elei��es de 2022, ap�s o presidente deixar o PSL que o elegeu em 2018 e fracassar na tentativa de fundar seu pr�prio partido, o Alian�a pelo Brasil.

"N�o acho que [o PL] vai ter tanta unidade assim, vai perder alguns, n�o tenho a m�nima d�vida. S� que n�o acho que v�o ser muitos, acho que � uma parcela menor de perda, alguns que vieram da base da esquerda e que estavam na base da esquerda por conveni�ncia tamb�m. Eles s�o fisiol�gicos, n�o s�o ideol�gicos", avalia o deputado reeleito.

"Certamente que uma parte da direita � corrupta e vai se corromper e fazer alian�as com o governo do Lula. N�o tenha d�vida. Alguns l�deres de partidos que fazem parte da coliga��o que tentou reeleger Bolsonaro t�m tradi��o de acompanhar o poder. Por isso precisamos de uma direita ideol�gica. Isso faria bem at� para a esquerda, pois o debate � produtivo", acrescenta Orleans e Bragan�a.

J� Fl�vio Testa, da UnB e pr�ximo ao bolsonarismo, reconhece que Lula � habilidoso em trazer parlamentares para o seu lado atrav�s da oferta de cargos, mas avalia que esse � um processo que leva tempo, devendo se consolidar mais para o fim do pr�ximo ano.

"Nesse espa�o de tempo, � muito poss�vel que Lula sofra uma rea��o muito grande e haja at� mesmo o encaminhamento de pedidos de impeachment", diz o cientista pol�tico, lembrando que a Lava Jato conseguiu eleger nomes importantes como Moro e Deltan Dallagnol (Podemos-PR).

Testa pondera, por�m, que Lula dever� ter um STF mais favor�vel a ele do que teve Bolsonaro.

Na sociedade, mobiliza��o � incerta

Se no Congresso a expectativa � de que parte da for�a bolsonarista se dissipe em meio ao fisiologismo, na sociedade em geral, a pot�ncia da mobiliza��o da direita mais radical agora de volta � oposi��o ainda � incerta.

"O Brasil tem uma capacidade instant�nea de se mobilizar, mas tem uma doen�a pol�tica terr�vel que � a dificuldade de se manter mobilizado. Vimos isso naquela crise dos 20 centavos l� em 2013, 2014. Logo em seguida veio a Copa do Mundo e o pa�s se desmobilizou", diz Testa.

"Ent�o vai ter que ter algum catalisador para fazer com que haja uma mobiliza��o a favor ou contra o governo", acrescenta. "Talvez a vari�vel das redes sociais possa ajudar bastante, mas n�o podemos fazer uma previs�o objetiva sobre isso ainda. N�o sabemos."


Protesto pró-Bolsonaro em Brasília no 7 de setembro de 2021
'O Brasil tem uma capacidade instant�nea de se mobilizar, mas tem uma doen�a pol�tica terr�vel que � a dificuldade de se manter mobilizado', diz Fl�vio Testa, da UnB (foto: Getty Images)

Para Luiz Philippe de Orleans e Bragan�a, o fato de o PL n�o ter poder sobre a mobiliza��o das ruas � uma for�a, e n�o uma fraqueza do campo da direita.

"O PL n�o tem mobiliza��o. N�o � que nem o PT, que tem grupos vinculados ao PT, PCdoB e Psol que t�m mobiliza��o nas universidades, sindicatos vinculados, aquela coisa. O PL n�o tem nada e os parlamentares tamb�m n�o t�m essa rela��o com movimentos organizados", diz.

"Mas � isso que � o grande poder e � isso que a esquerda n�o est� entendendo: que � espont�neo. Isso vai ser mantido exatamente porque o partido n�o est� no comando, � um fluxo totalmente descentralizado, n�o coordenado e que n�o se controla."

J� Isabela Kalil, da Fesp e do Observat�rio da Extrema Direita, avalia que � dif�cil prever a capacidade mobiliza��o da direita e que ela vai depender de fatores como a pr�pria atua��o de Bolsonaro. Se ele conseguir�, por exemplo, manter sua base aquecida se optar por insistir em acusa��es de fraude sobre os resultados das elei��es, a exemplo de Donald Trump nos Estados Unidos.

Quanto ao apoio evang�lico, a antrop�loga avalia que parte dele tamb�m pode deixar o �mbito do bolsonarismo ap�s a derrota eleitoral do presidente.

"Parte dessa base conservadora e evang�lica j� esteve na base do PT. Ent�o n�o h� nada que indique que determinadas lideran�as conservadoras v�o de fato se colocar frontalmente como oposi��o ao governo de esquerda", diz Kalil.

Ela observa que essa base se organiza em torno de temas espec�ficos como a descriminaliza��o do aborto, direitos da comunidade LGBTQIA+, a pauta da fam�lia e quest�es relacionadas ao campo da educa��o, que poderiam ser apaziguadas num governo Lula mais conservador.

A professora avalia que grupos como os armamentistas, militaristas e contr�rios �s institui��es devem permanecer fi�is a Bolsonaro. Mas ela observa que outros grupos que foram importantes no ciclo de mobiliza��o da direita entre 2013 e 2016 perderam protagonismo, como os movimento de renova��o pol�tica e da pauta anticorrup��o.

Disputa pela lideran�a � direita

Com Bolsonaro fora da Presid�ncia, a disputa pela lideran�a no campo da direita ser� inevit�vel, avaliam tanto Feres e Kalil, como Orleans e Bragan�a e Testa.

Mas dentro desta aparente concord�ncia h� vis�es distintas.

O pesquisador da Uerj, por exemplo, v� dificuldade para outro l�der conseguir agregar os diferentes grupos da direita como conseguiu Bolsonaro.

J� o deputado do PL e o cientista pol�tico conservador da UnB veem o governo Bolsonaro como um governo "de transi��o" rumo ao predom�nio da direita no pa�s e avaliam que a lideran�a do campo poder� ser ocupada � frente por pol�ticos em ascens�o como o governandors eleitos em SP, Tarc�sio de Freitas, e em MG, Romeu Zema.

"O Bolsonaro mostrou que h� a possibilidade de fazer uma s�ntese, por mais que seja uma s�ntese altamente t�xica para a democracia brasileira. S� que isso funciona para ele muito bem porque, apesar dos seus m�ltiplos defeitos, ele � um cara carism�tico. Ele consegue se comunicar com o p�blico dele de uma forma muito direta", diz Jo�o Feres J�nior.

"Ent�o voc� precisaria de uma pessoa que n�o s� tivesse esse tipo de estrat�gia pol�tica na cabe�a, mas tivesse tamb�m o carisma que ele tem, o que n�o � f�cil."

O cientista pol�tico avalia que Sergio Moro � um exemplo de pol�tico da direita com pretens�es presidenciais que pode ter essa dificuldade de reproduzir a estrat�gia bem sucedida de Bolsonaro.

Para Feres, apesar de o presidente em fim de mandato ter idade para concorrer � elei��o novamente em 2026, ele se elegeu em 2018 em circunst�ncias muito espec�ficas, no auge da Lava Jato e da "antipol�tica". Al�m disso, ele avalia que o presidente e seus filhos saem do governo um pouco "queimados" pelos diversos casos de poss�veis crimes envolvendo a fam�lia revelados ao longo do governo e que poder�o ainda ser investigados.

'Governo de transi��o'

"Temos uma evolu��o e o presidente [Jair Bolsonaro] reflete ainda a transi��o de um modelo social-democrata, para um modelo democrata crist�o liberal", defende Orleans e Bragan�a.

"Se a vontade da direita � a vontade que ser� predominante em termos de estilo de representante, a sociedade ainda n�o est� 100% l� em v�rios quesitos. No quesito econ�mico a sociedade n�o est� vinculada a uma proposta 100% liberal. Eu sinto isso porque sou muito mais liberal do que a postura do governo", diz o deputado, que v� criticamente a expans�o do Aux�lio Brasil sob Bolsonaro, por acreditar que a direita deve reduzir a depend�ncia do Estado e estimular a livre iniciativa, e que a assist�ncia social deveria ser restrita aos "incapazes".


Luiz Philippe de Orleans e Bragança
'Eu nunca vi direita que � todo mundo funcion�rio p�blico. S�o todos ex-pol�ticos, ex-militares, ex-policiais, ex-burocratas. Isso � a direita?', questiona Luiz Philippe de Orleans e Bragan�a (PL-SP) (foto: Divulga��o)

Para o parlamentar, h� uma parcela do eleitorado que se sente melhor representada pela direita, mas que n�o est� votando � direita devido ao perfil "antag�nico" de Bolsonaro. Atualmente, ele n�o v� algu�m eleitoralmente vi�vel para ocupar esse espa�o, mas avalia que isso poder� ser constru�do a partir de 2023.

"Talvez o Jair esteja construindo o Tarc�sio para isso", avalia. "Mas eu nunca vi direita que � todo mundo funcion�rio p�blico, essa � minha cr�tica. S�o todos ex-pol�ticos, ex-militares, ex-policiais, ex-burocratas. Isso � a direita? Pera a�! Que direita � essa?", questiona.

O deputado, no entanto, v� dificuldade para algu�m "de fora do sistema", sem conhecimento da m�quina p�blica ocupar essa lideran�a. "Tem que ser algu�m que conhe�a o sistema. S� com a opini�o p�blica, sem o controle da burocracia, n�o consigo ver possibilidade de vit�ria."

'Quem tem dificuldade para formar lideran�as � a esquerda'

Fl�vio Testa, da UnB, tamb�m usa a express�o "transi��o" para falar do governo Bolsonaro.


Bolsonaro acenando num fundo escuro
'Depois do Bolsonaro v�o surgir novos l�deres, � natural isso', diz Testa (foto: Getty Images)

"Depois do Bolsonaro v�o surgir novos l�deres, � natural isso. Quem tem dificuldade de formar lideran�as � o PT e o Lula. Tem 50 anos que o Lula influencia a pol�tica brasileira e ele n�o deixa surgir nenhum sucessor", diz o cientista pol�tico.

"A direita n�o tem essa dificuldade, ent�o haver� novos l�deres. Depende de ter um projeto que tenha credibilidade", defende.

Ele cita Tarc�sio de Freitas como exemplo. "Se fizer uma boa gest�o em S�o Paulo, e � muito prov�vel que ele v� fazer, porque ele � um grande tocador de obras, um grande executivo, ele pode se cacifar para ser um sucessor de Bolsonaro", avalia.

"E outro � o Zema, que fez uma coisa impressionante l� em Minas Gerais, recuperou o segundo Estado mais rico do Brasil ap�s gest�es desastrosas do PSDB e do PT. Ent�o ele tem um potencial muito grande. Ele � uma figura que n�o � um radical de direita, � um empres�rio, um empreendedor, um gestor. Ent�o esse tipo de personagem pode sim comandar uma grande transforma��o desse pa�s. E outros podem ainda aparecer por a�", acrescenta Testa.

Questionado sobre a dificuldade que governadores do Sudeste enfrentaram desde a redemocratiza��o ao ambicionar a Presid�ncia — a exemplo dos tucanos Jos� Serra, Geraldo Alckmin, Jo�o Doria e A�cio Neves —, Testa concorda que o hist�rico n�o � favor�vel.

"Mas o Brasil tem uma desigualdade regional imensa, ent�o n�o h� lideran�as [nacionais] no Norte e Nordeste, tem algumas que aparecem no Sul e no Centro-Oeste. Ent�o onde pode surgir alguma lideran�a com essa capacidade s�o nesses tr�s grandes centros [Sudeste, Sul e Centro-Oeste]", opina o cientista pol�tica ligado ao campo da direita. "Mas em quatro anos muita coisa pode acontecer, muita coisa pode mudar."

Antibolsonarismo como for�a pol�tica

Embora o bolsonarismo deva seguir vivo no espectro pol�tico, a rea��o a ele tamb�m promete se tornar um elemento persistente da pol�tica brasileira, como aconteceu com o PT e o antipetismo.

Pesquisa Atlas divulgada em 24 de outubro, na semana anterior ao segundo turno, mostrava que, naquele momento, 27% dos brasileiros se diziam bolsonaristas, acima dos 21% que se declaravam petistas. Mas 45% se definiam como antibolsonaristas, acima dos 30% que se diziam antipetistas.

Para Isabela Kalil, no entanto, ser� preciso mais do que apenas o sentimento antibolsonarista da sociedade civil para p�r freio ao avan�o da direita antidemocr�tica.

"Esse freio vai ter que passar por uma reconstru��o da democracia e isso n�o tem s� a ver com a sociedade civil. Uma das coisas que ser�o fundamentais � o Brasil como sociedade rever a quest�o da atua��o dos militares na pol�tica", defende a professora da Fesp, citando que isso j� foi feito em outros pa�ses da Am�rica Latina que passaram por ditaduras militares.

"Outro elemento que eu destacaria � a quest�o das armas, que precisar� ser repensada num processo longo. Mas o ponto � que apenas a sociedade civil n�o consegue colocar freios ao bolsonarismo, pois o bolsonarismo � um conjunto de avan�os em termos institucionais e da sociedade civil. Ent�o � preciso que as duas coisas sejam combinadas."

- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63439014


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