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Estado de Minas TR�NSITO INTERROMPIDO

Descoordena��o e excesso de zelo explicam sobrevida de bloqueios, dizem especialistas

Aparente demora das autoridades em desobstruir as vias bloqueadas em manifesta��es dos apoiadores de Bolsonaro tem explica��es diversas de especialistas


02/11/2022 10:21 - atualizado 02/11/2022 11:21

Rodovia Castelo Branco, parcialmente inteditada por caminhões, nos arredores de São Paulo
Rodovia Castelo Branco, parcialmente inteditada por caminh�es, nos arredores de S�o Paulo (foto: CAIO GUATELLI / AFP)
A resili�ncia de bloqueios em estradas e avenidas do pa�s pode ser fruto de descoordena��o das autoridades da seguran�a p�blica, de interesses pol�ticos no legado eleitoral do presidente derrotado nas urnas ou de uma esp�cie de excesso de zelo -potencialmente seletivo- de for�as policiais.

Esses s�o os principais fatores mencionados por especialistas em seguran�a ouvidos pela Folha de S.Paulo sobre a aparente demora das autoridades em desobstruir as vias bloqueadas em manifesta��es antidemocr�ticas de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), que protestam contra o resultado eleitoral e impedem a circula��o de pessoas, produtos e servi�os.

"Esse caso mostra a urg�ncia de se fazer uma reforma das pol�cias para que fiquem cada vez mais profissionais, menos ideol�gicas e menos perme�veis � pol�tica da ocasi�o", avalia Rafael Alcadipani, professor da �rea de seguran�a da Funda��o Get�lio Vargas (FGV-SP).

Jacqueline Muniz, professora do Departamento de Seguran�a P�blica da UFF (Universidade Federal Fluminense), enxerga nesses epis�dios uma janela de oportunidade. "O preju�zo para as pol�cias e sua perda da credibilidade autoriza uma reforma estrutural que produza governabilidade, e n�o as gambiarras que o Brasil tem feito nessa �rea", sugere. "A democracia sai fortalecida desse mico."

�s 20h do domingo (30), foi anunciada a vit�ria de Lu�s In�cio Lula da Silva (PT), que teve 60,3 milh�es de votos, contra 58,2 milh�es de Bolsonaro. Poucas horas depois, j� circulavam na internet v�deos de manifestantes bloqueando as primeiras estradas. At� a noite desta segunda (31), foram mais de 300 bloqueios em estradas de 25 estados e no DF. Na noite de ter�a (1), eram 190 bloqueios em 19 estados, segundo a Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF).

"Estava escrito nas estrelas que algo aconteceria [ap�s um resultado desfavor�vel ao atual presidente], e os servi�os de intelig�ncia da Pol�cia Federal e do Minist�rio da Justi�a existem para isso", aponta o soci�logo Arthur Trindade, ex-secret�rio de Seguran�a P�blica do DF e diretor do Instituto de Ci�ncias Sociais da Universidade de Bras�lia.

Ele explica que, ao ter not�cia dos bloqueios pelos servi�os de intelig�ncia, essas autoridades federais teriam de deflagrar duas a��es. "Convocar efetivos para ter meios de intervir e articular com governos estaduais para uma a��o coordenada", explica. "Lockdowns e greves de caminhoneiros n�o s�o novidade no Brasil, e existe uma central de comando e controle na PRF e no Minist�rio da Justi�a para coordenar esse tipo de opera��o."

Segundo Trindade, se o governo federal n�o age, os governadores teriam de agir rapidamente. "Por parte dos estados, h� uma descoordena��o acrescida de uma certa incompet�ncia. N�o vejo corpo mole", afirma.

A exce��o � o diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques. A corpora��o realizou blitzs em pleno domingo (30) de elei��o, criando inseguran�a em rela��o � vota��o, em especial no Nordeste, regi�o em que o presidente eleito teve o maior n�mero de votos.

Vasques � agora alvo de pedido de abertura de inqu�rito por parte do Minist�rio P�blico Federal tanto em rela��o a sua atua��o nas elei��es como em rela��o aos bloqueios de rodovias por manifesta��es antidemocr�ticas.

Alcadipani n�o fala em omiss�o, mas numa atua��o "muito mais branda que habitual" por parte das pol�cias estaduais na lida com os bloqueios ilegais de apoiadores do presidente derrotado.

"Isso pode se dar tanto por um receio de que ocorram abusos policiais e isso prejudique a imagem da Pol�cia Militar junto � popula��o quanto pelo fato de existir uma identifica��o ideol�gica com os manifestantes", diz. "Se fosse uma manifesta��o de outra matriz ideol�gica, talvez houvesse maior vontade, na ponta da linha, de debelar logo a situa��o."

O modo brando ganhou relevo quando cidad�os come�aram a enfrentar os bloqueios, por iniciativa pr�pria. Torcedores do Atl�tico Mineiro desobstru�ram a estrada BR-381, em Minas Gerais, e torcedores do Corinthians movimentaram carros de um bloqueio de apoiadores do presidente na marginal Tiet�, na capital paulista.

"Esse voluntarismo vai causar problema e algu�m pode morrer. O m�nimo que se espera � coordena��o das a��es das autoridades", alerta Trindade.

Para Glauco Carvalho, coronel da reserva e ex-comandante da PM na capital paulista, o tipo de a��o da pol�cia junto aos manifestantes de agora � similar ao que ele testemunhou durante protestos do MST e do MTST: a negocia��o de uma sa�da pac�fica.

"A democracia exige conversa e a redu��o do uso da for�a ao m�nimo poss�vel. N�o � mais usual assistir a tropa de choque batendo em manifestante. O �ltimo descontrole se deu no movimento de 2013", avalia.

Segundo o coronel �lvaro Camilo, secret�rio-executivo da PM de S�o Paulo, "n�o existe coniv�ncia ou leni�ncia" por parte da pol�cia do estado. O governador Rodrigo Garcia anunciou que ser�o aplicadas multas de R$ 100 mil por hora para cada ve�culo que obstruir vias paulistas. Al�m disso, os manifestantes ser�o fichados e, eventualmente, podem ser presos, informou Dutra.

"Se houve uma demora aqui ou ali � da tentativa de solucionar o bloqueio de maneira pac�fica", diz Camilo, citando a complexidade dos casos. "Na rodovia Castelo Branco s�o mais de 400 caminh�es parados", ilustra sobre o caso em que, horas depois, haveria confronto da Tropa de Choque com manifestantes.

Camilo explica que a ordem � negociar, depois multar e, s� ent�o, dar in�cio ao uso progressivo da for�a, que pode, eventualmente, culminar com algumas pris�es.

"O direito de manifesta��o, que � constitucional, foi plenamente exercido. Agora est� interferindo demais no direito de ir e vir das pessoas", diz. "Vamos restabelecer a ordem e garantir a democracia. Aqueles que n�o ficaram felizes com o resultado das urnas, daqui quatro anos, ter�o a oportunidade de mudar."

Muniz, da UFF, entende que os bloqueios se alongaram porque t�m rendimentos pol�ticos. "Todo mundo quer o legado dos votos conservadores e moderados de Bolsonaro. E os governadores, que poderiam intervir imediatamente para liberar as estradas estaduais, pagaram para ver, porque a manuten��o das obstru��es tinha potencial para desidratar o atual presidente", avalia.

Segundo Muniz, � preciso controlar o potencial de autonomiza��o das for�as, delimitar a liberdade decis�ria dos policiais na ponta e determinar qual � a capacidade coercitiva das for�as, alvo de decis�o soberana da sociedade. "Isso tudo est� nas m�os dos governadores e do presidente e s�o medidas administrativas."

Para Alcadipani, � importante tamb�m que se estabele�a mandato e plano de comando para chefes de pol�cia, al�m de criar uma quarentena para candidaturas de policiais e algum controle efetivo do que o policial pode publicar em rede social. "Essa � a grande li��o dessa hist�ria toda."

 

 


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