O PSDB, que saiu combalido da elei��o de 2022 e declarou neutralidade entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), n�o vai integrar a base do governo petista, segundo o presidente da sigla, Bruno Ara�jo.
Ele diz que haver� compromisso com a governabilidade, com endosso em pautas da agenda tucana e enfrentamento em mat�rias de ordem econ�mica.

Apesar da derrota hist�rica em S�o Paulo, estado que a sigla governa desde 1995, os tucanos comemoraram a elei��o de tr�s governadores da nova gera��o -Eduardo Leite (RS), Raquel Lyra (PE) e Eduardo Riedel (MS).
Entre o primeiro e o segundo turnos, Ara�jo foi a Porto Alegre convidar Leite, a quem enxerga como um presidenci�vel natural em 2026, a presidir o PSDB.
A legenda aguarda que ele aceite a "quase convoca��o". Leite concorreu no Rio Grande do Sul depois de perder as pr�vias tucanas para Doria em 2021.
"Nossa recupera��o passa pela renova��o", diz Ara�jo � Folha. Para ele, a debacle do PSDB est� mais ligada � falta de uma candidatura presidencial pr�pria -o partido integrou a chapa de Simone Tebet (MDB)- do que � associa��o com o bolsonarismo."A leitura central � que o PSDB se preparou para um projeto de ter uma candidatura presidencial e n�o conseguiu", diz ele, relembrando a taxa de rejei��o de Doria e se esquivando de responsabiliz�-lo. Ara�jo assumiu o comando do PSDB em 2019 com a b�n��o de Doria, mas acabou se tornando um advers�rio do ex-governador.
O ex-ministro e ex-deputado federal, que deu o voto decisivo para a abertura do impeachment de Dilma Rousseff (PT) na C�mara, diz que o retorno do PT � parte do jogo democr�tico e evita criticar o partido eleito. A prov�vel participa��o do MDB na base de Lula, por�m, fez esfriar as conversas sobre uma federa��o, que est� mais avan�ada com o Podemos.
PERGUNTA - Como foi seu encontro com o vice Geraldo Alckmin (PSB)?
BRUNO ARA�JO - Recebemos um elegante convite de Alckmin. Estive l� com Leite, Ranolfo [J�nior, governador do RS] e [Reinaldo] Azambuja [governador do MS]. Foi uma conversa republicana. O vice-presidente eleito reafirmou a rela��o republicana que haver� com os governadores dos estados.
Confirmamos a posi��o de que n�o faremos parte da base de apoio do governo do PT muito menos participar com cargos, mas teremos atitude de compromisso com a estabilidade e a governabilidade. Uma posi��o comprometida com o processo democr�tico e apoiando as bandeiras que n�s acreditamos.
P. - O sr. usou a palavra oposi��o na conversa?
BA - N�o, porque n�o h� uma constru��o definitiva, � preciso ouvir a executiva do partido.
J� ouvimos as bancadas e outros l�deres -desde ontem temos feito conversas num grau mais intenso. E h� uma posi��o j� clara de que o PSDB n�o ser� base do governo do PT. Essa discuss�o ainda est� sendo aprofundada. At� que ponto o PSDB ter� uma posi��o de independ�ncia em rela��o ao governo, sem qualquer ocupa��o de cargos, ou at� onde eventualmente isso vai a uma pr�pria oposi��o democr�tica e respons�vel.
P. - O sr. deu o voto decisivo para a abertura do impeachment contra Dilma e, na �poca, ela disse que o PT iria voltar. O PT voltou, acha que isso � negativo para o pa�s?
BA - � a confirma��o de um pa�s que vive dentro de regras do jogo democr�tico. Dilma foi retirada dentro das regras do jogo democr�tico e o presidente Lula voltou dentro das regras democr�ticas.
P. - O sr. acha que ser� um governo ruim ou est� satisfeito com a amplitude demonstrada na transi��o?
BA - Est� muito cedo. O governo nem se instalou.
P. - Como est�o as conversas com MDB e Podemos para que esses partidos integrem a federa��o PSDB-Cidadania?
BA - Apontam para uma autoriza��o para seguirmos com um di�logo com a presidente Renata Abreu, do Podemos, no sentido de o Podemos vir a fazer parte. N�o estamos descartando a conversa com o MDB, mas neste momento parece mais s�lida uma converg�ncia em torno do di�logo com o Podemos.
P. - A chance de federa��o com o MDB � menos concreta pelo fato de o partido provavelmente ter quadros que integrar�o o governo Lula? BA - S�o diversos fatores. Ouvi as bancadas e membros da executiva e cada um tem sua pondera��o: a eventual participa��o do MDB no governo Lula, eventuais conflitos regionais.
P. - O sr. convidou Leite para suced�-lo e aposta nele para 2026, mas ele � um nome de concilia��o, dado que n�o teve maioria em pr�vias apertadas?
BA - Meu convite se intensificou em encontros nesta semana e, de forma coletiva, n�s levamos o convite, quase que uma convoca��o a Eduardo para que aceite essa miss�o, com a alma da renova��o deste segundo turno.
Tivemos longas conversas em grupos importantes no partido e achamos que era razo�vel aguardar o tempo dele. Estamos na expectativa de que ele possa vir a aceitar. Com a sinaliza��o positiva, haver� converg�ncia.
P. - Pela segunda elei��o, a bancada do PSDB cai praticamente pela metade. O que levou a isso e como recuperar o eleitorado?
BA - O PSDB pela primeira vez n�o conseguiu levar uma candidatura presidencial pelos fatores que todos j� conhecem. Isso impactou nosso resultado no Congresso.
Ressurgimos das cinzas no segundo turno, com a elei��o de tr�s importantes novas lideran�as nacionais, que ainda v�o demonstrar capacidade administrativa e a voca��o do PSDB para governar com qualidade.
P. - A nossa recupera��o passa pela renova��o do partido. Leite j� � um nome nacionalizado, o que foi proporcionado pelas pr�vias.
A reconstru��o do partido tamb�m passa por um reposicionamento ideol�gico?
BA - O PSDB se associou ao bolsonarismo em diversas ocasi�es. � muito simpl�rio fazer uma an�lise do PSDB associado ao bolsonarismo. Prefiro entender que grande parte do PSDB que seguiu com Bolsonaro representa a oposi��o hist�rica feita ao PT. Essa p�gina est� virada.
Podemos agora construir uma posi��o clara de, quando necess�rio, apoiar as causas e as bandeiras que s�o caras ao PSDB, como responsabilidade fiscal e incremento de programas que reduzam a desigualdade social e regional, e fazer um enfrentamento nas mat�rias de ordem econ�mica em que durante tanto tempo houve importantes diverg�ncias entre PT e PSDB.
Alguns tucanos fazem a autocr�tica de que o partido inflou o antipetismo e se associou � direita mais radical que acabou engolindo os eleitores do pr�prio PSDB. Essa leitura � perif�rica. A leitura central � que o PSDB se preparou para um projeto de ter uma candidatura presidencial e n�o conseguiu.
Agora o PSDB vai ter absoluto foco em construir uma alternativa de uma candidatura presidencial de qualidade, moderna, conectada com esse momento da sociedade e sem pressa. A prioridade � colaborar para o melhor desempenho dos mandatos dos nossos governadores.
P. - O centro n�o prosperou por falta de nomes, de op��es?
BA - Por falta de ter definido e conseguido consolidar uma candidatura vi�vel com um tempo consistente para dialogar com o resto da sociedade. Era uma candidatura que tinha que estar pronta e n�s tentamos, na �poca das pr�vias, t�-la pronta no m�s de outubro, ter�amos um ano para matur�-la. O projeto n�o deu certo pelas raz�es conhecidas.
P. - Quando Doria foi considerado invi�vel, ele tinha cerca de 4% de inten��es de votos. Tebet terminou com os mesmos 4%. Foi um erro apostar nela e n�o numa candidatura tucana?
BA - Havia uma s�rie de leituras naquele momento. Havia uma taxa de rejei��o que gerava um grau de preocupa��o muito consistente entre os candidatos a governador.
P. - Quais s�o as raz�es conhecidas que inviabilizaram a candidatura tucana?
BA - Os 4% pareciam uma inten��o de voto muito baixa comparada � realidade hist�rica. Depois, havia n�o s� a preocupa��o com inten��o de voto, mas registros de um grau de rejei��o que os candidatos a governador temiam que transbordasse para suas candidaturas estaduais.
O fracasso do PSDB em S�o Paulo est� ligado ao partido ou ao governador Rodrigo Garcia? O que foi avaliado nas urnas em S�o Paulo n�o foi a administra��o do PSDB muito menos o trabalho do governador Rodrigo Garcia. Foi uma elei��o capturada por aqueles que ficaram presos � dicotomia Lula ou Bolsonaro, o que arrastou as candidaturas de Haddad e Tarc�sio a essa polariza��o.
P. - Rodrigo Garcia n�o poderia ter feito uma campanha melhor do que fez. Hoje fica claro que talvez nada mudasse o resultado.
Qual o saldo de Doria?
BA - Muitos tucanos atribuem a erros dele a situa��o do partido. Doria deixou a vida privada e conseguiu num intervalo curto ser prefeito e governador da maior cidade e do maior estado. Ele teve um ciclo muito intenso e relativamente curto, mas o conjunto das a��es positivas, a exemplo da vacina, � algo que tem que ser registrado como importante para a sociedade.
P. - O sr. disse que n�o ter um candidato a presidente atrapalhou. Essa fatura est� na conta dele?
BA - Eu n�o fa�o vida p�blica apontando o dedo pra ningu�m. Prefiro guardar as a��es de contribui��es positivas que Doria deixou. Os danos que o PSDB carregou nesse processo, eu prefiro que olhemos para frente e possamos construir um momento novo no partido.
O sr. disse que faltou tempo para Tebet, mas ela saiu fortalecida e vai ter quatro anos pela frente. Pode ser uma advers�ria de Leite no campo de centro em 2026? Est� muito distante. Prefiro apostar que vamos ter um governo exitoso de Leite e t�-lo pronto para se apresentar ao pa�s no momento apropriado em 2026.
P. - Mas como avalia Tebet?
BA - Um grande quadro, fez uma bela elei��o. E agora entramos em novo ciclo pol�tico.
RAIO-X
Bruno Ara�jo, 50
Formado em direito pela Universidade Federal de Pernambuco, foi deputado estadual (1999-2007) e deputado federal (2007-2019). Entre maio de 2016 e novembro de 2017, licenciou-se para exercer o cargo de ministro das Cidades do governo Michel Temer (MDB). Hoje sem cargo eletivo, � presidente do PSDB desde PSDB em maio de 2019.