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Estado de Minas ATO ANTIDEMOCR�TICO

'CACs, precisamos de voc�s': a convoca��o a donos de armas para invas�o em Bras�lia

Mensagens convocando ca�adores, atiradores e colecionadores de armas circularam em redes sociais antes de atos em Bras�lia; especialistas veem risco.


17/01/2023 06:23 - atualizado 17/01/2023 07:39


Bolsonaristas em frente ao Congresso
Bolsonaristas invadiram o Congresso, o Pal�cio do Planalto e a sede do STF no dia 8 de janeiro (foto: Reuters)

"Aten��o CACs: precisamos de voc�s. Estejam juntos com o povo nesse levante para proteger a popula��o e os irm�os Patriotas em Bras�lia". Foi assim que donos de armas de fogo de todo o pa�s agrupados pela sigla CAC (colecionador, atirador desportivo e ca�adores) foram convocados para atos como a invas�o das sedes dos Tr�s Poderes, em Bras�lia, no dia 8 de janeiro.

N�o h� dados oficiais sobre a quantidade de CACs presos entre os invasores detidos pelas autoridades em Bras�lia, mas pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que esse tipo de convoca��o cria um risco em casos de atos semelhantes no futuro.

As investiga��es sobre a invas�o em Bras�lia ainda est�o em curso e s�o conduzidas pelas pol�cias Federal e Civil e pelo Minist�rio P�blico Federal (MPF). Pelo menos 1,3 mil pessoas est�o presas.

Os investigadores j� conclu�ram que boa parte dos invasores chegou � capital federal atendendo a convoca��es de para um protesto contra a vit�ria de Lula. Esses chamados circularam em redes sociais como o Telegram, WhatsApp, Facebook, entre outras.

Lideradas por militantes bolsonaristas, algumas dessas convoca��es tentaram mobilizar membros da base mais fiel de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre esses grupos, estavam os CACs.

Os professores e pesquisadores David Nemer (Universidade da Virg�nia, nos EUA) e Leonardo Nascimento (Universidade Federal da Bahia) monitoram grupos bolsonaristas em aplicativos como o Telegram para diferentes projetos de pesquisa e apontam que houve uma s�rie de mensagens convocando a participa��o dos CACs nos atos no per�odo que antecedeu a invas�o das sedes dos Tr�s Poderes.

Em uma delas, h� uma divis�o de tarefas e indica��es sobre que papel os CACs deveriam desempenhar: hackers e especialistas em TI deveriam derrubar sistemas do governo federal enquanto os CACs ficariam respons�veis por "proteger a popula��o".


Convocação de CACs
Mensagem que circulou em redes sociais bolsonaristas convocou CACs para participar de atos contra a elei��o de Lula (foto: Reprodu��o / Instagram)

Em outra, h� um plano delineado sobre como funcionaria a sequ�ncia de atos organizados pelo grupo. Nesta, a fun��o dos CACs seria "dar suporte" aos invasores.


flyer de convocação de CACs
Mensagem com convoca��o a CACs pedia "suporte" de donos de armas (foto: Reprodu��o / Facebook)

Circula��o e risco

David Nemer estuda grupos bolsonaristas h� alguns anos e diz que, no "ecossistema" desse segmento, a fun��o imaginada para os CACs sempre foi bem definida.

"Dentro desse ecossistema, os CACs seriam aqueles que trariam a for�a armada para for�ar um eventual golpe de estado. Essa era a expectativa", diz o pesquisador.

Leonardo Nascimento diz que, desde que iniciou os estudos sobre grupos bolsonaristas, os CACs sempre fizeram parte da base de apoio do ex-presidente.

"Os CACs viraram um dos pilares do bolsonarismo. Numericamente, eles n�o s�o t�o representativos quanto evang�licos, por exemplo. Mas como eles t�m acesso a armas, os CACs s�o um dos grupos que mais demanda aten��o", diz Nascimento.

Nemer afirma que, at� o momento, n�o h� elementos para afirmar que os CACs aderiram, em massa, ao protesto, mas que isso n�o significa que a situa��o esteja sob controle.

Ele diz que atos como o do in�cio do m�s t�m dois efeitos colaterais diversos sobre os bolsonaristas. Um deles � que atos de vandalismo afastam elementos mais moderados do movimento.

Por outro lado, explica Nemer, integrantes mais radicais tendem a resistir e a radicalizar ainda mais.

"O que pode acontecer no futuro, em novas convoca��es, � vermos um grupo mais radical atendendo a esse pedido. Basta apenas uma pessoa armada para fazer um estrago irrevers�vel", explica.

Leonardo Nascimento afirma que algumas das mensagens com convoca��es a CACs podem ter chegado a dezenas de milhares de pessoas.

"Os canais no Telegram n�o t�m limite de integrantes. Alguns grupos podem ter at� 200 mil pessoas. Estamos falando de dezenas de milhares de pessoas que podem ter lido esse tipo de mensagem", afirmou o pesquisador.

Um dos exemplos de como a ret�rica extremista pode afetar CACs, ainda segundo Leonardo Nascimento, � George Washington de Sousa. Ele � um dos tr�s r�us no processo que apura uma tentativa de explodir uma bomba no Aeroporto Internacional de Bras�lia, em dezembro do ano passado.

Em seu depoimento � Pol�cia Civil, o gerente de postos de gasolina que est� preso em Bras�lia admitiu ter montado a bomba desarmada pelas autoridades do Distrito Federal e afirmou que virou um CAC motivado pelo discurso de Jair Bolsonaro. Com ele, a pol�cia apreendeu pistolas, um fuzil, cargas explosivas e muni��es.

Um outro exemplo de convoca��o de CACs levou � pris�o do empres�rio Milton Baldin, que, segundo as investiga��es, usou as redes sociais para convocar atiradores para uma manifesta��o durante a posse de Lula, em Bras�lia.

"Gostaria de pedir ao agroneg�cio, aos empres�rios, que deem f�rias aos caminhoneiros e mandem os caminhoneiros para Bras�lia. S�o s� 15 dias, n�o vai fazer diferen�a. Tamb�m pedir aos CACs, atiradores que t�m armas legais... Somos 900 mil atiradores no Brasil hoje, venham aqui mostrar presen�a", disse Baldin no v�deo que circulou pelas redes sociais nos dias anteriores � posse do presidente.

O que � um CAC?

CAC � a sigla pela qual � conhecida a pessoa f�sica que obteve o direito de comprar ou portar armas de forma legal. No Brasil, para que uma pessoa seja considerado um CAC, ela precisa preencher um requerimento junto ao governo federal e apresentar uma s�rie de documentos.

Ao longo de seu governo, Bolsonaro assinou decretos que facilitaram a compra de armamentos e muni��es por civis. O presidente chegou a defender que todo cidad�o tivesse um fuzil. Medidas e manifesta��es como essas consolidaram o apoio de parte dos CACs ao agora ex-presidente.

Um levantamento feito pela organiza��o n�o-governamental Sou da Paz em junho de 2022 estimou que o n�mero de CACs no Brasil aumentou 473% entre 2018 e 2022, saindo de 117,5 mil para 673,8 mil.

Ap�s assumir o poder, Lula revogou alguns dos decretos que flexibilizaram as normas para aquisi��o de armas assinados por Bolsonaro.


Jair Bolsonaro com arma
Em Israel, Bolsonaro postou em rede social foto com arma israelense. Na legenda, defendia o decreto que assinou no in�cio do ano, que aumenta o acesso � posse de armas (foto: Reprodu��o/Instagram Jair Bolsonaro)

Invas�o

Na tarde do dia 8 de janeiro, milhares de bolsonaristas insatisfeitos com a elei��o de Lula e defendendo pautas como o fechamento do Congresso Nacional invadiram as sedes dos tr�s poderes da Rep�blica.

Eles chegaram a Bras�lia em dezenas de �nibus e ocuparam a Esplanada dos Minist�rios, na �rea central da cidade, ao longo do dia. Rapidamente, eles invadiram e depredaram o Pal�cio do Planalto, Congresso Nacional e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF). M�veis, vidra�as e obras de arte foram destru�das ou danificadas.

Ap�s a invas�o, o presidente Lula anunciou uma interven��o federal na seguran�a p�blica do Distrito Federal. O secret�rio-executivo do Minist�rio da Justi�a, Ricardo Capelli, foi nomeado interventor.

Horas mais tarde, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado temporariamente pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes. No s�bado (14), o ex-secret�rio de Seguran�a P�blica do Distrito Federal Anderson Torres foi preso preventivamente, por ordem de Moraes. Ele � investigado por ter sido supostamente omisso em rela��o ao planejamento da opera��o de seguran�a que deveria impedir a invas�o do dia 8 de janeiro. Em suas redes sociais, Torres negou qualquer irregularidade e disse que ir� se defender na Justi�a.

Na semana passada, o ex-presidente Bolsonaro foi inclu�do em um dos inqu�ritos abertos pela Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR) para investigar os respons�veis por incitar as invas�es.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64299069


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