
A vota��o, que � secreta, ocorre nesta quarta-feira (1) e Lira tem um amplo arco de apoio, indo do PL de Bolsonaro ao PT de Lula. Dois fatores principais explicam a r�pida metamorfose.
Primeiro, a fragilidade da esquerda, que controla apenas cerca de um quarto das 513 cadeiras na C�mara, o que tornou a perspectiva do lan�amento de uma candidatura contra o l�der do centr�o uma aventura de alt�ssimo risco.
Segundo, as tr�s a��es de Lira que pavimentaram a aproxima��o com os petistas: o imediato reconhecimento p�blico da vit�ria de Lula, a condu��o da aprova��o da PEC que deu f�lego or�ament�rio ao novo governo e, por fim, a rea��o contra os v�ndalos golpistas do dia 8 de janeiro.
"O PT fez uma escolha pragm�tica. Aprendeu na elei��o do Eduardo Cunha. Achou que n�o compensava correr o risco de tentar eleger uma pessoa do partido deles e dar errado. Foi uma decis�o correta do ponto de vista estrat�gico", afirma o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi l�der do governo Bolsonaro na C�mara.
A refer�ncia feita pelo parlamentar � � elei��o de 2015, quando a ent�o presidente Dilma Rousseff bancou a postula��o de Arlindo Chinaglia (PT-SP) contra Eduardo Cunha (ent�o no MDB-RJ), mas viu seu candidato ser derrotado no primeiro turno pelo emedebista.
Menos de um ano depois e ap�s uma s�rie de atritos, Cunha deflagraria o processo que levaria ao impeachment da petista.
A avalia��o de Barros � compartilhada por outros parlamentares ouvidos pela Folha.
"N�o acho que o pragmatismo seja do presidente Arthur Lira. O pragmatismo foi do governo. Voc� tem a compet�ncia do Arthur Lira de ter sido um articulador que contemplou todos os interesses convergindo para a candidatura dele neste momento. A� foi muito pragm�tico para o governo embarcar numa candidatura que j� tinha todos os sinais de vitoriosa, numa composi��o que � ben�fica para todos", diz Marco Bertaiolli (PSD-SP).
Para Danilo Forte (Uni�o-CE), h� a necessidade de uma rela��o mais madura do Executivo com Lira, "porque o presidente da Casa est� mais forte".
O l�der da bancada do Republicanos, Vinicius Carvalho (SP), afirma que a aproxima��o Lula-Lira � salutar. "Tem que haver sim, essa sinergia e esse entrosamento."
Reconhecimento da vit�ria de Lula
O primeiro ato de Lira rumo ao barco petista se deu ainda na noite do segundo turno, em 30 de outubro. Apesar de ter sido um aliado fiel e de ter comandado no Congresso a aprova��o do pacote eleitoreiro que buscava vitaminar as chances de reelei��o de Bolsonaro, Lira foi a p�blico naquela noite parabenizar Lula, fazer a defesa do resultado das urnas e dizer que era hora de "construir pontes".
A mensagem p�blica de que n�o engrossaria nenhum movimento de contesta��o do resultado, dada momentos depois de o Tribunal Superior Eleitoral declarar Lula matematicamente eleito, representou um esvaziamento da t�tica bolsonarista de tentar minar a confiabilidade das urnas eletr�nicas.
Nesse mesmo domingo, Lira conversou amistosamente pela primeira vez com Lula, por telefone, para parabeniz�-lo. Segundo quem testemunhou a conversa, o petista chegou a perguntar, como forma de quebrar o gelo, sobre a sa�de do pai do deputado, o ex-senador Benedito de Lira (PP), 80, hoje prefeito em Alagoas.
A Folha de S. Paulo mostrou que logo ap�s a elei��o integrantes do centr�o j� sinalizavam que Lula poderia contar com uma base parlamentar bem mais s�lida caso apoiasse ou, pelo menos, n�o criasse obst�culos � tentativa de Lira se reeleger.
PEC da Transi��o
O primeiro encontro pessoal entre os dois ocorreu dez dias depois do segundo turno, na casa de Lira, em Bras�lia.
Na reuni�o de cerca de duas horas, Lula disse que n�o iria interferir na elei��o para o comando da Casa, segundo relatos. Ou seja, deu a senha que o l�der do centr�o esperava para continuar "construindo pontes" visando a sua reelei��o.
Feito esse pr�-acordo, Lira foi um dos principais condutores da aprova��o ainda em dezembro da Proposta de Emenda � Constitui��o que abriu espa�o no Or�amento para gastos e promessas do ent�o presidente eleito.
O resultado folgado de 331 votos a favor n�o seria poss�vel sem o apoio de Lira. O PP, por exemplo, entregou quase 40 votos a favor do texto.
Atos golpistas
O terceiro movimento considerado crucial por petistas foi a rea��o de Lira aos ataques golpistas de 8 de janeiro.
O presidente da C�mara n�o s� se manifestou condenando a depreda��o e cobrando puni��o, como foi ao procurador-geral, Augusto Aras, entregar uma not�cia-crime contra suspeitos de vandalizar as depend�ncias da Casa.
Mais importante, relatam aliados de Lula, assegurou a aprova��o rel�mpago na C�mara da interven��o federal na Seguran�a P�blica do Distrito Federal, al�m de trabalhar nos bastidores para que governadores da oposi��o comparecessem ao encontro promovido por Lula com os chefes dos tr�s Poderes, no dia seguinte ao vandalismo, como forma de demonstrar unidade das autoridades contra os golpistas.
Apoio a Bolsonaro
Lira foi eleito presidente da C�mara em fevereiro de 2021, com o apoio de Bolsonaro. Em seus dois anos no cargo, atuou alinhado ao ex-presidente da Rep�blica, assegurando sua sustenta��o pol�tica em troca da ger�ncia de bilh�es do Or�amento federal, o que usou para manter coeso o seu arco de alian�as.
Ao mesmo tempo em que barrou pedidos de impeachment, Lira tamb�m foi importante pe�a na campanha de Bolsonaro � reelei��o ao conduzir a aprova��o do pacote eleitoreiro que reduziu o valor dos combust�veis e elevou o Aux�lio Brasil a R$ 600.
Ele e Lula chegaram a trocar acusa��es na campanha principalmente por causa da alta concentra��o de poder nas m�os do deputado, decorrente da distribui��o das emendas de relator.
Agora, isso s�o �guas passadas, na vis�o dos dois grupos pol�ticos.
Integrantes do PT dizem, por�m, que, passada a elei��o da C�mara, Lira pode readequar o seu caminho pol�tico, o que pode representar dor de cabe�a ao Pal�cio do Planalto.
Apesar disso, governistas afirmam n�o ver outra op��o a Lula neste in�cio de mandato.
O atual presidente da Rep�blica distribuiu nove minist�rios a PSD, MDB e Uni�o Brasil, mas, mesmo com o apoio fechado dessas tr�s legendas —o que dificilmente ocorrer�—, precisar� do centr�o de Lira para ter uma maioria s�lida na C�mara.
� considerada uma base segura um contingente fidelizado de cerca de 350 dos 513 parlamentares. Para haver emendas � Constitui��o, por exemplo, � preciso do voto de ao menos 308 deputados.