
"Diminuir o peso dos impostos de consumo e aumentar um pouquinho na renda � algo que vai ser desafiador, mas � necess�rio do ponto de vista da justi�a social", disse ele ao Correio.
Filho do ex-ministro e ex-deputado federal Jos� Dirceu, Zeca Dirceu falou sobre a rela��o do PT e do governo com o presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL). Lira foi fundamental para a aprova��o da Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) da Transi��o, no fim do ano passado, o que rendeu o apoio do PT e da base aliada ao presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) � sua recondu��o ao comando da Casa. No entanto, Lira � do PP, partido que formou base aliada do governo Jair Bolsonaro e comp�e o bloco de oposi��o ao governo com PL e Republicanos.
Mesmo assim, o l�der do PT se mostrou otimista na longevidade da alian�a com Arthur Lira para o avan�o de pautas priorit�rias do governo, bem como em articula��es internas, como relatoria de projetos e presid�ncia de comiss�es.
Nesta legislatura, Dirceu ter� um novo desafio para liderar o partido, que � a federa��o com PV e PCdoB. O deputado falou sobre a import�ncia de manter a base unida e atuante de acordo com os interesses do governo.
O parlamentar tamb�m falou sobre a conviv�ncia no Congresso com deputados e senadores ligados � Opera��o Lava-Jato, principalmente o deputado e ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e o senador e ex-juiz Sergio Moro (Uni�o-PR), ambos de seu estado, o Paran�. Zeca Dirceu disse que n�o quer estender o assunto sobre "essas pessoas" que, segundo ele, atuaram para "criminalizar a pol�tica" e devem ficar isolados dentro do Congresso Nacional.
O senhor � l�der do PT, partido do presidente Lula. Como alinhar os interesses da agremia��o em rela��o aos do governo de coaliza��o do presidente Lula, uma vez que h� alas, dentro do pr�prio PT, que s�o menos pragm�ticas?
A minha principal tarefa � manter a bancada bem informada dos assuntos que est�o em debate na C�mara, bem informada sobre as prioridades do governo, do que o governo � a favor e contra. Sempre vou recorrer ao l�der (do governo na C�mara, Jos�) Guimar�es, ao ministro (de Rela��es Institucionais, Alexandre) Padilha e aos demais ministros sobre os integrantes de cada bancada tem�tica para manter a banda unida. Os deputados t�m opini�es diferentes em determinados assuntos, mas a bancada do PT � muito coesa historicamente.
Nessa legislatura h� a figura da federa��o do PT com PCdoB e PV, que n�o seguem exatamente a mesma cartilha do seu partido. Isso dificulta a uni�o?
Com a federa��o, manter a bancada coesa torna esse desafio ainda maior. Al�m disso, outra tarefa importante � manter os 80 deputados muito ativos, que tenham opini�o, compreendam o que est� acontecendo em cada comiss�o.
Apesar dos desafios, para mim tem sido muito f�cil manter sintonia fina com o governo pela amizade e pelo tempo que convivi com Alexandre Padilha, quando eu era prefeito (em Cruzeiro do Oeste, no Paran�, entre 2005 e 2008), quando ele foi ministro da presidente Dilma. E o Guimar�es deve me conhecer desde crian�a, porque eu j� ia muito para S�o Paulo visitar meu pai (Jos� Dirceu), que era dirigente do PT.
Como o governo e o partido v�o conseguir construir essa base de apoio na C�mara? A PEC da Transi��o acabou passando com grande influ�ncia do presidente Arthur Lira.
Eu acredito que o presidente Lira vai continuar ajudando, ele vai compreender que � importante para o pa�s, para a democracia, tenho muito otimismo que ele continue junto, colaborando. Mas o governo tamb�m deu prova de capacidade de articula��o, pois conseguiu votos de partidos que n�o estavam oficialmente com a gente como aliados na disputa eleitoral.
Ent�o, h� vari�veis a� de tamanho de base em temas mais pol�micos, em quest�es de f�, religi�o, principalmente, e ainda em um ou outro tema sobre a quest�o econ�mica. Mas estou com a avalia��o de que o governo est� dando passos consistentes. Quando o governo traz Uni�o Brasil, PSD e MDB para os minist�rios e mant�m di�logo com PP, Republicanos e parte do PL, � outro sinal que me deixa otimista que vai ter uma base de apoio para as medidas mais importantes. A base de apoio � um processo gradual, n�o precisa ter agonia no come�o.
A prioridade do governo no primeiro ano � justamente a reforma tribut�ria. Como o governo vai se portar nessas negocia��es para conseguir aprovar a medida nos moldes mais pr�ximos poss�veis ao que o governo deseja?
O governo est� muito decidido a simplificar os tributos. Isso � positivo para todo mundo, com exce��o de quem frauda e sonega. Para o governo � bom, vai arrecadar mais, vai reduzir as fraudes, fica mais f�cil controlar quando tem menos tributos.
Simplificar tributos facilita vida do pequeno e m�dio empres�rio, do grande empres�rio, dos demais contribuintes, fica mais f�cil declarar, prestar contas e controlar o que est� sendo pago de impostos. Ent�o, traz mais recursos e n�o aumenta a carga tribut�ria do pa�s para quem j� � s�rio, cumpre a lei, para quem n�o frauda a Receita Federal.
E como seria essa altera��o? Diminuiria o peso do consumo?
Diminuir o peso dos impostos de consumo e aumentar um pouquinho na renda � algo que vai ser desafiador, mas que � necess�rio do ponto de vista da justi�a social. Um pa�s t�o desigual como o Brasil, pa�s que tem tanta gente passando fome, trabalhando 12, 15 horas por dia, com sal�rios achatados, tem que buscar uma solu��o pr�xima disso. Como faz 20 anos que o pa�s est� tentando votar a reforma tribut�ria e n�o consegue, esse ac�mulo vira uma coisa positiva, pois est� muito maduro na cabe�a de deputados e senadores.
Acho que a gente tem condi��es de aprovar a reforma, o (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad est� se dedicando muito. Quando ele foi ministro da Educa��o, j� mostrou que est� dispon�vel para o di�logo, inclusive com a oposi��o, e � o que ele est� fazendo como ministro da Fazenda. Eu participei de quatro reuni�es com Haddad e estou confiante de que vamos caminhar para aprovar a reforma tribut�ria por m�rito da C�mara e por m�rito do Senado, em uma conjun��o de fatores.
Sobre Lava-Jato: alguns nomes da opera��o foram eleitos, como Deltan Dallagnol e S�rgio Moro. Como ser� a conviv�ncia com esses pol�ticos que estreiam no Congresso?
Eu acho que essas figuras que voc� citou n�o v�o ter import�ncia ou influ�ncia no funcionamento da C�mara ou do Senado. S�o pessoas que criminalizam a politica, que cometeram in�meras irregularidades em suas hist�rias no Minist�rio P�blico e no Poder Judici�rio. N�o vou me alongar para n�o perder tempo com gente insignificante, e eles s�o muito mal vistos. Ningu�m quer conversar e ter di�logo com pessoas que chegaram ao Congresso a partir de crimes, ilegalidades, com tentativas de destruir reputa��es, de criminalizar a pol�tica. Eu nem sei o que eles est�o fazendo a�. A vida toda eles criminalizaram a pol�tica e, agora, se disp�em a ser parlamentares.
As investiga��es da Lava-Jato causaram muitos danos ao PT. Qual a import�ncia deste mandato do presidente Lula para mudar a percep��o de parte da sociedade que ainda v� o presidente e o PT de forma negativa?
A Lava-Jato perdeu qualquer tipo de credibilidade quando foram reveladas as conversas de Moro e do ex-promotor Deltan. O juiz combinava com a acusa��o como � que a acusa��o iria ser feita para depois ele mesmo julgar. Eles deveriam estar presos. Boa parte da popula��o j� sabe disso. S� uma minoria que, �s vezes, acaba tendo peso significativo em uma elei��o proporcional, como � a de deputado, ainda n�o percebeu que s�o pessoas hip�critas e mentirosas. Eles tinham um objetivo pol�tico, que era interferir na elei��o de 2018 - que Lula tamb�m liderava e seria vitorioso.
Eles tiraram o Lula da elei��o, eles interferiram na normalidade democr�tica do pa�s. Numa democracia, algu�m se coloca como presidente e o eleitor vota em quem entender. Em 2018, eles operaram criminosamente para impedir que Lula fosse candidato. Acho que j� h� uma compreens�o da enorme maioria da popula��o, dos meios de comunica��o, das figuras p�blicas com rela��o a isso, e n�o acredito que tenha novos desdobramentos. Vai ficar evidente, como eu disse, que s�o duas pessoas de pouco valor, insignificantes, que v�o ficar totalmente isoladas em um ambiente democr�tico, que elas se autoisolaram.
O Senado j� tem uma lista com 37 assinaturas para a CPI dos atos antidemocr�ticos. Qual a sua opini�o sobre a instala��o dessa CPI?
N�o vejo necessidade de cria��o de CPI, em raz�o de que as pol�cias, o Minist�rio P�blico, o Judici�rio e o pr�prio governo federal est�o cumprindo o seu papel. Um n�mero muito grande de pessoas foi presa. Os inqu�ritos est�o em curso, a pol�cia est� cumprindo seu papel. Quem incentivou, organizou, financiou e participou est� sendo identificado, alguns est�o sendo punidos, outros ainda v�o ser punidos dentro do processo legal, e n�o vejo raz�o para criar CPI. A CPI viraria palco de disputa pol�tica e, depois dos atos terroristas de 8 de janeiro, essa disputa, dentro desse contexto, n�o se justifica. Enfraquece o Congresso Nacional, a C�mara e o Senado. Espero que essa CPI n�o prospere. Temos outras prioridades para colocar nossas energias.
Quais s�o essas prioridades?
Temos o desafio, de novo, como o Lula j� fez no passado, de acabar com a fome no pa�s. Temos que gastar energia com isso. O Brasil precisa voltar a crescer, a se desenvolver e a gerar empregos. O pequeno e o m�dio empres�rios, o pequeno e m�dio agricultores precisam voltar a ter apoio, pois � ali que se gera emprego de qualidade no interior do pa�s, nas pequenas cidades.
E sobre a pol�mica com o Banco Central, em que o presidente Lula decidiu criticar abertamente a pol�tica de juros da autoridade monet�ria?
Temos, sim, que discutir a quest�o econ�mica, inclusive sobre a taxa de juros, que alguns tentam transformar em debate sobre a autonomia do BC, mas n�o �. A discuss�o � sobre a alta dos juros e as decis�es que o BC tem tomado. � outra discuss�o que faz parte de temas que impactam a vida das pessoas, e n�o de uma CPI para fazer luta pol�tica, uma vez que os �rg�os de investiga��o est�o fazendo o seu trabalho. Acabamos de sair de uma elei��o e n�o � hora de fazer luta pol�tica nesse n�vel.