
No per�odo, s� Dilma Rousseff (PT) foi eleita presidente, enquanto sete homens passaram pelo comando do Poder Executivo. Ela foi destitu�da em 2016, ap�s sofrer um processo de impeachment mais de dois anos antes do fim de seu segundo mandato.
O Legislativo nunca teve desde a redemocratiza��o uma mulher como presidente da C�mara ou do Senado —foram 18 e 15 homens ocupantes do posto, respectivamente, nesse per�odo.
No Poder Judici�rio, s� tr�s mulheres (ante 26 homens) se tornaram ministras do STF (Supremo Tribunal Federal): Ellen Gracie, C�rmen L�cia e Rosa Weber. As nomea��es ocorreram entre 2001 e 2011.
As duas �ltimas seguem na corte. Rosa preside o tribunal de 11 ministros e destoa da predomin�ncia masculina na corte e nos demais Poderes, sob comando do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e do deputado federal Arthur Lira (PP-AL).At� em cargos abaixo da c�pula do Executivo, Legislativo e Judici�rio, a sub-representatividade feminina se mant�m.
No Congresso, o cen�rio repete 1985, quando as duas Casas elegeram s� uma mulher para cargo de comando nas mesas diretoras: Eunice Michiles —a primeira senadora do pa�s— foi indicada para a quarta secretaria do Senado.
Em 2023, as senadoras ficaram sem espa�o na mesa diretora, e apenas a deputada federal Maria do Ros�rio (PT-RS) conseguiu uma das sete vagas titulares na mesma estrutura na C�mara. Ela ser� a segunda secret�ria da Casa.
Um avan�o veio no fim de 2022, quando Lula indicou o maior n�mero de ministras da hist�ria e escolheu 11 mulheres para o in�cio do governo. No fim da gest�o Jair Bolsonaro (PL), havia apenas uma mulher dentre as 23 pastas.
Mas a paridade de g�nero ainda est� distante. As 11 ministras de Lula est�o em n�tida desvantagem na Esplanada e representam menos de um ter�o do total de 37 pastas.
O governo Jos� Sarney come�ou em 1985 sem nenhuma mulher ministra. A primeira e �nica da gest�o foi Dorothea Werneck (Trabalho), no �ltimo ano do mandato.
Para Claudia Costin, ex-ministra da Administra��o Federal e Reforma do Estado do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), criou-se ao longo dos anos um modelo do que seria um profissional competente para assumir altos cargos —em que mulheres e negros na maior parte das vezes n�o s�o lembrados.
Ela pondera que mudan�as culturais "levam tempo", mas que � importante haver press�o da sociedade e o que classifica como intencionalidade do pr�prio presidente e de membros dos outros Poderes de mudar esse quadro.
"Lula concretamente fez um esfor�o para nomear mais mulheres. E isso deveria ser natural. [Escolher] uma mulher negra no Supremo seria emblem�tico. N�o � poss�vel que n�o tenhamos juristas de renome negras. Tenho certeza que n�s temos."
A coordenadora-geral de pesquisa do Observat�rio Nacional da Mulher na Pol�tica, Ana Cl�udia Oliveira, afirma que ocupar posi��es de comando � fundamental para mudar a cultura de funcionamento dos espa�os de poder.
Ligado � Secretaria da Mulher da C�mara, o Observat�rio avalia a atua��o pol�tica das mulheres no �mbito federal, estadual e municipal.
Para Ana Cl�udia, a participa��o feminina em cargos de comando provoca n�o s� uma mudan�a cultural, mas tem tamb�m um efeito pr�tico: a inclus�o de mais mulheres.
"Quando uma mulher est� na mesa diretora ela acaba tendo mais voz para pautar o que vai ser votado em plen�rio, por exemplo. Ela tem mais voz para decidir que mulheres v�o ocupar espa�os em comiss�es, grupos de trabalho, frentes parlamentares".
A ex-senadora Rose de Freitas foi a primeira —e �nica— mulher a conquistar a vice-presid�ncia da C�mara. O feito ocorreu em 2011, quando derrotou os colegas homens que, segundo ela, n�o estavam acostumados a ver uma mulher na mesa diretora.
"As mulheres �s vezes s�o acossadas a ceder mais espa�o para os homens a pretexto de que eles s�o maioria. Mas n�o s�o. Podem ser no contexto do Congresso, mas na sociedade n�o s�o", afirma.
"Os homens t�m que entender que n�o existe democracia de verdade se a mulher n�o estiver ali falando de economia, pol�ticas sociais, agricultura, quest�es ambientais".
No STJ (Superior Tribunal de Justi�a), foi s� em 1999 que uma mulher chegou � corte, com a indica��o da ministra Eliana Calmon. Hoje, 6 das 33 vagas s�o de mulheres.
Para a presidente da corte, Maria Thereza de Assis Moura, a barreira � fruto de uma sociedade que segue desigual. Ela diz que iniciativas como a pol�tica de Incentivo � Participa��o Feminina no Judici�rio —implementada pelo CNJ (Conselho Nacional de Justi�a) em 2018— � exemplo concreto para alcan�ar a equidade de g�nero, mas � preciso mais.
"Precisamos dar o passo seguinte: construir oportunidades e ampliar o acesso aos postos mais elevados. Oferecer as mesmas oportunidades para que as profissionais que t�m id�ntica qualifica��o e capacidade sejam reconhecidas no ambiente de trabalho. Mudar essa perspectiva muda a institui��o por dentro e serve de exemplo para todos."
Em quase 90 anos de exist�ncia do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), s� 8 mulheres passaram pela corte. Hoje, dos 7 ministros efetivos, h� uma magistrada: C�rmen L�cia.
Para a ju�za e ex-presidente da AMB (Associa��o dos Magistrados Brasileiros) Renata Gil, chegar ao STF ou ao STJ � ainda mais dif�cil para as mulheres porque elas j� costumam estar exclu�das do ambiente pol�tico onde os nomes dos indicados s�o costurados.
"Essas escolhas s�o baseadas n�o s� nos crit�rios de antiguidade, mas tamb�m de merecimento, avalia��o social, que acabam sendo dificultadas se a mulher n�o est� presente nesses espa�os", diz.