
Segundo relatos feitos � reportagem, a orienta��o foi repassada a oficiais-generais. A principal preocupa��o est� com os movimentos previstos entre reservistas no Rio de Janeiro.
Para isso, oficiais da For�a ficar�o atentos � movimenta��o no Clube Militar - grupo de integrantes da reserva que promover� um almo�o, no Rio, para celebrar o golpe de 1964.
O evento � convocado sob a alcunha "Movimento Democr�tico de 1964", com ingresso a R$ 90 e restrito a s�cios e convidados. Generais ouvidos pela reportagem afirmam que n�o � rara a presen�a de oficiais da ativa em eventos do Clube Militar, especialmente pelo fato de reservistas terem familiares na ativa.
A iniciativa de Tom�s n�o decorre de orienta��o direta do ministro da Defesa, Jos� M�cio Monteiro, mas foi tomada ap�s decis�o da pasta de manter-se em sil�ncio diante do anivers�rio do golpe de 1964.
Somente o plano de ignorar a data foi acertado entre M�cio e os comandantes Tom�s Paiva (Ex�rcito), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aeron�utica), em conversas informais.
A pasta confirmou � reportagem que n�o emitir� notas sobre o dia. "O minist�rio n�o divulgar� nenhum comunicado ou ordem do dia sobre a data", disse a assessoria.
Integrantes da c�pula do Minist�rio da Defesa afirmam, sob reserva, que a decis�o de ignorar a data foi a forma encontrada de evitar crises na data tanto com os militares quanto com o governo Luiz In�cio Lula da Silva (PT).
Golpe era comemorado nos �ltimos anos
O sil�ncio ainda � o meio-termo entre as comemora��es � data, feitas nos �ltimos quatros anos sob o governo Jair Bolsonaro (PL), e a divulga��o de comunicado em rep�dio ao golpe militar, que, na avalia��o da Defesa, poderia desgastar a rela��o de M�cio especialmente com oficiais de baixa patente.
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Outras �reas do governo tamb�m t�m decidido ignorar a data. O Minist�rio de Direitos Humanos, por exemplo, n�o emitir� nenhum comunicado em rep�dio ao golpe militar no dia de seu anivers�rio.
Por outro lado, a pasta organizou nos �ltimos dias a "Semana do Nunca Mais", programa��o com uma s�rie de agendas voltadas � preserva��o da mem�ria, da verdade e da justi�a sobre o per�odo da ditadura.
A semana teve como �pice a primeira sess�o da Comiss�o de Anistia, nesta quinta, �s v�speras do anivers�rio do golpe de 1964. No encontro, o colegiado reverteu pedidos de indeniza��o negados pelo governo Bolsonaro, em julgamentos considerados injustos.
"Recha�ar os crimes e as viola��es de direitos humanos ocorridos na ditadura civil-militar brasileira n�o significa, portanto, criticar as For�as Armadas, mas apontar para um per�odo da hist�ria que todos, sem exce��o, devem deixar para tr�s", afirmou o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, durante o evento.
"E isso n�o se dar� silenciando sobre este per�odo, mas conhecendo-o profundamente para que n�o deixemos que se reproduza no presente, como hoje o faz por lament�veis atos de viol�ncia e amea�as contra cidad�os e institui��es democr�ticas."
Ap�s o retorno da Comiss�o de Anistia, o minist�rio articula agora a recria��o da Comiss�o de Mortos e Desaparecidos, extinta por Bolsonaro.
As manifesta��es contra a ditadura tamb�m t�m sido feitas pela Empresa Brasil de Comunica��o (EBC), que planejou programa��o especial nesta semana para exibir filmes e organizar debates sobre o "verdadeiro car�ter ditatorial do golpe militar de 1964", segundo um de seus avisos.
"Entendemos que � importante que os que n�o viveram este per�odo da hist�ria do Brasil conhe�am os males causados pelos regimes autorit�rios e entendam os benef�cios da democracia", disse a EBC em nota.
A decis�o do Minist�rio da Defesa de ignorar o anivers�rio do golpe militar rompe um ciclo de quatro anos consecutivos em que, sob Bolsonaro, o governo comemorou a ditadura em comunicados oficiais.
Nos �ltimos quatro anos, o Minist�rio da Defesa publicou ordens do dia em celebra��o ao golpe militar de 1964. A comemora��o foi uma ordem dada pelo ex-presidente.
"Nosso presidente j� determinou ao Minist�rio da Defesa que fa�a as comemora��es devidas com rela��o ao 31 de mar�o de 1964 incluindo a ordem do dia, patrocinada pelo Minist�rio da Defesa, que j� foi aprovada pelo nosso presidente", disse em 2019 o ent�o porta-voz da Presid�ncia, general Ot�vio R�go Barros.
Depois disso, os ent�o ministros Fernando Azevedo e Braga Netto divulgaram comunicados sobre o dia, que foram lidos nos quart�is e eventos militares marcados para 31 de mar�o.
Em 2020, Azevedo escreveu que "o Movimento de 1964 � um marco para a democracia brasileira. Muito mais pelo que evitou". E completou: "A sociedade brasileira, os empres�rios e a imprensa entenderam as amea�as daquele momento, se aliaram e reagiram. As For�as Armadas assumiram a responsabilidade de conter aquela escalada, com todos os desgastes previs�veis".
Braga Netto, em 2021, foi ainda mais incisivo em sua manifesta��o. Ele disse que a ditadura militar merece ser "celebrada". "O movimento de 1964 � parte da trajet�ria hist�rica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de mar�o", finalizou o comunicado.
O Ex�rcito chegou a celebrar a ditadura de 1964 em comunicados oficiais, lidos em quart�is, antes do governo Bolsonaro. Nos primeiros mandatos de Lula, o comandante militar escreveu quatro manifesta��es em comemora��o ao anivers�rio do golpe.
Em 2006, por exemplo, o comandante Francisco Albuquerque emitiu um comunicado para o Ex�rcito "orgulhar-se do passado".
"O 31 de Mar�o insere-se, pois na hist�ria p�tria e � sob o prisma dos valores imut�veis de nossa For�a e da din�mica conjuntural que o entendemos. � mem�ria, significado � �poca pelo incontest�vel apoio popular, e une-se, vigorosamente, aos demais acontecimentos vividos, para alicer�ar, em cada brasileiro, a convic��o perene de que preservar a democracia � dever nacional."
� �poca, o ministro da Defesa Waldir Pires disse que respeitava a posi��o do comandante do Ex�rcito. "N�o tenho nada a contestar � posi��o de quem interprete dessa forma [a exalta��o ao golpe militar]. Tenho que respeitar a posi��o de cada um", afirmou.
O Ex�rcito deixou de divulgar comunicados oficiais em comemora��o ao golpe militar em 2007. Nos �ltimos 16 anos, as �nicas cita��es oficiais foram feitas pelo Minist�rio da Defesa.
Logo ap�s assumir a Presid�ncia, em 2011, Dilma Rousseff (PT) determinou que as For�as Armadas n�o citassem a ditadura militar nas ordens do dia. Naquele ano, o Ex�rcito chegou a vetar uma palestra do general Augusto Heleno que seria realizada em comemora��o ao golpe.