
Logo ap�s a vit�ria de Luiz In�cio Lula da Silva no segundo turno de 2022, bolsonaristas extremistas se dirigiram para frente de unidades militares de todo o pa�s pregando a interven��o das For�as Armadas e com a promessa de impedir a posse do petista em 1º de janeiro. O ponto central desse encontro foi o Quartel-General do Ex�rcito , em Bras�lia, para onde se deslocaram milhares de seguidores de Jair Bolsonaro, em carros e caravanas de �nibus e dezenas de caminh�es.
Al�m da guarida aos caminh�es, outras imagens demonstram a toler�ncia dos militares com os extremistas. Militares da Pol�cia do Ex�rcito circulavam entre os manifestantes sem tomar qualquer atitude e apenas observavam.
No local onde ficaram os caminh�es h� um placa grande informando se tratar ali de uma "�rea militar", diferente da Pra�a dos Cristais. Ou seja, obtiveram autoriza��o para estarem naquele espa�o. Se invadiram, n�o foram importunados. A "estadia" dos caminhoneiros bolsonaristas no local durou dois meses.
Nos �ltimos dias, depoimentos nas investiga��es e nas Comiss�es Parlamentares de Inqu�ritos (CPIs) — at� de oficiais e de bolsonaristas — confirmam que os militares nada fizeram para desmontar o acampamento do QG, que redundou em atos como a tentativa de invas�o na Pol�cia Federal e o plano de explodir uma bomba no Aeroporto Internacional de Bras�lia, ambos em dezembro. A derradeira e mais ousada a��o se deu com a invas�o do Supremo Tribunal Federal (STF), do Congresso Nacional e do Planalto no atos do 8 de janeiro.
O acampamento
Procurado pelo Correio , na �ltima sexta-feira, o Comando do Ex�rcito n�o comentou a presen�a dos caminh�es na �rea militar. Questionado tamb�m sobre a raz�o de os militares n�o terem desmontado o acampamento em frente ao QG, o Ex�rcito, hoje sob o governo Lula, deu a mesma resposta dos oficiais da gest�o de Bolsonaro. O Centro de Comunica��o do Ex�rcito respondeu que "n�o havia nenhuma determina��o judicial classificando o acampamento na frente do QG do Ex�rcito como ilegal, tampouco houve ordem judicial de que o mesmo fosse desmobilizado", informou Ex�rcito.
E sobre os militares fardados circulando entre os golpistas, a resposta foi: "por ser uma �rea de servid�o adjacente dos quart�is, os militares realizavam rondas constantes no interior das Pra�as dos Cristais com o objetivo de assegurar que a ocupa��o da �rea n�o impactasse negativamente na seguran�a das pessoas e instala��es militares, bem como para assegurar a manuten��o do tr�nsito local e os acessos �s instala��es militares situadas no SMU (Setor Militar Urbano)".
A explica��o do Ex�rcito � semelhante � do general Gustavo Henrique Dutra, que era o Comandante Militar do Planalto na gest�o de Bolsonaro. � Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito (CPMI) de 8 de Janeiro, h� duas semanas, o oficial afirmou que o acampamento n�o era considerado ilegal, que nenhum �rg�o competente o declarou fora da lei e que "n�o t�nhamos compet�ncia para declar�-lo ilegal". E tamb�m que "n�o poder�amos atuar sem uma ordem sob pena de abuso de autoridade. Seria uma opera��o muito complexa".
Dutra disse que o Ex�rcito chegou a retirar algumas das faixas que pediam interven��o federal pelos militares. Perguntado pela relatora da comiss�o, Eliziane Gama (PSD-MA) , se tinham imagem dessas cenas, ele respondeu que n�o.
O Centro de Comunica��o Social do Ex�rcito (Cecomsex) e o general informaram que acionaram a Secretaria de Seguran�a P�blica do Distrito Federal e pediram apoio ao policiamento de tr�nsito para garantir a seguran�a no SMU.
Para a senadora, n�o h� d�vida da coniv�ncia dos militares com o acampamento. Eliziane afirmou que v�rios depoimentos, tamb�m na Pol�cia Federal, deixam claro que houve reuni�es e planejamento para retirar os acampados, mas que, na hora da execu��o, o general Dutra mandava suspender a a��o. "� muito grave. Isso tudo (o acampamento) se dava na �rea de servid�o, no per�metro do Ex�rcito. Por um decreto, os militares t�m poder de pol�cia naquele local. Ele n�o autorizou porque decidiu n�o fazer isso", disse a relatora da CPI.
Bastava um "soldado raso" mandar
A bolsonarista Ana Priscila Azevedo , que atuou nas a��es contra Lula e est� presa desde 10 de janeiro, afirmou � CPI da C�mara Legislativa do DF, na �ltima quinta-feira, que os militares nunca os abordaram em frente ao QG para deixar o local e que bastava um "soldado raso" mandar, que todos sa�riam da frente dos quart�is.
"Jamais pensei que, ao atender ao chamado de militares, poderia ser marcada e presa. Era a institui��o onde a popula��o de patriotas depositava os maiores �ndices de aprova��o. Afinal, os acampamentos ficaram tanto tempo e por todo o pa�s, sem ningu�m falar nada em sentido contr�rio, por isso ousamos pensar que �ramos bem-vindos. Bastaria um soldado raso nos avisar que dever�amos sair, que ter�amos ido embora", disse.
O acampamento em frente ao QG foi frequentado at� por oficiais, que foram l� defender os atos golpistas. Na �ltima sexta, o general Ridauto L�cio Fernandes foi alvo da 18ª fase da Opera��o Lesa P�tria e foi levado pela Pol�cia Federal para depor. O militar foi diretor de Log�stica do Minist�rio da Sa�de durante a controversa gest�o de Eduardo Pazuello � frente da pasta.
O general foi alvo de busca e apreens�o e seu celular foi levado pelos agentes. Ridauto aparece em v�deos nas a��es dos bolsonaristas no 8 de janeiro, na Esplanada dos Tr�s Poderes.