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Estado de Minas ARTIGO

Sob c�meras, sofrimento e dor: o BBB 21, o bullying e o suic�dio de jovens

As pessoas que violentaram Lucas o fizeram de modo perverso, atacando-o, desferindo golpes, usando uma esp�cie de '�tica' e de 'verdade'


09/02/2021 11:48 - atualizado 09/02/2021 12:22

 
(foto: correiobraziliense.com.br/reprodu��o)


A sequ�ncia de viol�ncia da qual foi v�tima o ator e o cantor Lucas Penteado, no BBB 21, foi terr�vel. De maneira vil, articulada e violenta, pessoas-jogadoras, quase todas elas, uniram-se contra o rapaz, acusando-o, xingando-o, rejeitando-o, humilhando-o, destratando-o, pondo em causa a sua verdade, a sua sinceridade, a sua exist�ncia. Classificado por “abusador”, “aproveitador”, “falador”, Lucas n�o aguentou a press�o e saiu da Casa.

Em expl�cito sofrimento, perseguido, Lucas parecia uma v�tima tradicional do bullying, aquela que n�o consegue nem se defender e nem consegue que quem assiste a sua degrada��o a defenda.

As pessoas que violentaram Lucas o fizeram de modo perverso, atacando-o, desferindo golpes, usando uma esp�cie de “�tica” e de “verdade”, uma justi�a b�rbara e coercitiva. Juntam-se muitos para perseguir um, � comum em casos de bullying. 

Lucas teria, em um dado momento do jogo, numa festa, regada, como sempre, a muita bebida alco�lica, comportado-se de modo inadequado com algumas pessoas da casa. Isto foi o suficiente para que a hostilidade e a toxidade dessem o tom da conviv�ncia e Lucas passasse a ser tratado como uma esp�cie de “esc�ria”, “indesejado”, “nocivo”, “escroto”. Os que o violentaram o fizeram sem qualquer r�stia de empatia.

Em 2014, nos Estados Unidos, um adolescente negro, Lamar Howkins, matou-se no banheiro da escola, a Greenwood Lakes.. Segundo a sua m�e, Lamar foi v�tima de persegui��o sistem�tica, de abusos f�sicos e emocionais. Assim como no caso de Lucas, quem violentou Lamar n�o teve sentimento de compaix�o, de compreens�o, n�o se importou com o sofrimento do adolescente. E ele ceifou a vida. 

No Brasil, segundo dados do Minist�rio da Sa�de, entre os anos de 2012 e 2016, para cada 100 mortes por suic�dio de homens-jovens-brancos, houve 145 mortes por suic�dio de homens-jovens-negros. 45% a mais quando comparados os n�meros entre uma etnia e outra. Lucas � negro. Lamar era negro. O racismo estrutural, sutil e criminoso, dilacerante e adoecedor � certamente matriz dessas trag�dias.

Ocorre que, no caso de Lucas, al�m do racismo, houve bifobia, homofobia, machismo, adultocentrismo. Numa palavra, houve muita maldade, perversidade, julgamento e condena��o. Elementos que s�o campo f�rtil para a emerg�ncia do sofrimento, logo para a exist�ncia de psicopatologias, de comportamentos autodestrutivos, de doen�as mentais das mais diversas e de dif�cil tratamento.

O bullying surge em espa�os e tempos nos quais nas conviv�ncias n�o h� di�logo, reflex�o e cuidado, mas h� preconceito e ruindade. Esse tipo de viol�ncia envolve frequentemente pessoas egoc�ntricas, vaidosas, agressivas, com baixa autoestima, v�timas de abuso sexual, inseguras, autorit�rias, impulsivas, frias, calculitas, dissimuladas, vulner�veis de alguma sorte.  Quando expulso da mesa, no momento das refei��es, Lucas n�o reagiu. Preferiu o sil�ncio. Aceitou para n�o guerrear.

� uma estrat�gia de sobreviv�ncia. Tornar-se invis�vel. N�o dizer mais nada. Tentar agradar. Submeter-se. De alguma maneira, acreditar que quem o violentava tinha raz�o e o que cabia a ele, era acatar.

Antes de se matar, Lamar Howkins suportou humilha��o, destrato, covardia. Realmente, n�o sei se as for�as econ�micas que sustentam o reality show em quest�o est�o interessadas nesta minha reflex�o, mas deveriam.

Segundo a OMS, o suic�dio de pessoas entre 15 e 29 anos de idade � a segunda causa morte no mundo e a terceira causa morte no Brasil. Ocorre-me uma quest�o: para al�m de supostamente entreter, o que quer realmente o BBB 21? O que objetiva? Qual a sua mensagem? Qual o seu compromisso com os jovens que lhe d�o audi�ncia? Ou nada disso � relevante? Isso n�o tem qualquer relev�ncia? 
 
 
*Professor, pesquisador, historiador e terapeuta 
  


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