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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Positividade t�xica: a falsa felicidade

A positividade t�xica � um subproduto da atual cultura que sobrevaloriza o individualismo, a competi��o e o sucesso


30/05/2021 04:00 - atualizado 27/05/2021 15:27

É fundamental acolhermos todas as nossas emoções, sejam elas agradáveis ou difíceis
� fundamental acolhermos todas as nossas emo��es, sejam elas agrad�veis ou dif�ceis (foto: vishnu vijayan/Pixabay )


Algu�m a� j� levou ou ouviu falar do “jogo do contente”? Aquele em que a miss�o � extrair algo de bom e positivo em tudo, mesmo em situa��es ruins ou nada legais. Quem n�o conhece a hist�ria de Poliana, este jogo � o que ela aprendeu com seu pai. Poliana, portanto, s� via o lado positivo das coisas, o que � um erro cognitivo. O livro � de 1913, s�culo 20. Em 2021, chamamos tal comportamento de positividade t�xica, o que muitas vezes � confundido com psicologia positivista.

Por isso, a psic�loga cl�nica Daniela Queiroz, especialista em psicologia positiva e hipnoterapia ericksoniana, explica que um dos pilares da psicologia positiva � de fato dar permiss�o para sermos humanos. O que significa que � fundamental acolhermos todas as nossas emo��es, sejam elas agrad�veis ou dif�ceis. J� na positividade t�xica, as emo��es negativas s�o negligenciadas. Como se o sujeito s� pudesse dar lugar, ou foco, �s positivas. “� por isso que se torna algo t�xico, porque n�o tem congru�ncia com a vida real. Todos, diariamente, vivenciamos emo��es diferentes.”

Daniela Queiroz destaca que n�o estar sempre feliz causa frustra��o e estar bem o tempo todo carrega a ideia de perfei��o, especialmente, para as pessoas que vivem no universo da compara��o: “Atendo muitos pacientes que acompanham a vida de celebridades nas m�dias sociais e se sentem extremamente frustrados com seu estilo de vida. Ningu�m consegue estar bem o tempo todo, isso soa como algo n�o real.”

Para muitos, � dif�cil entender como outras pessoas se afetam tanto pela vida alheia, a ponto de n�o sacar que aquela vida n�o � realidade, a rotina do dia a dia e, ainda mais intrigante, sofre com isso. Para a psic�loga, sofremos cada vez mais a influ�ncia da m�dia digital, dos algoritmos bem retratados no document�rio “O dilema das redes”. “J� dizia Freud que o ser humano � movido pelo princ�pio do prazer. Somos 'presas' f�ceis para o imediatismo, para certezas absolutas, queremos sempre eleger algu�m que nos conforte, direcione a nossa vida.”

Sem cair na armadilha da positividade t�xica, seria poss�vel sentir gratid�o e ver o lado bom em tudo o que acontece na vida? Para Daniela Queiroz, quando nos permitimos ser humanos, todas as emo��es s�o acolhidas e logo as mais dif�ceis de ser digeridas v�o se transformando em li��es e aprendizados. Um outro alerta � que muitos acreditam que o pensamento positivo � suficiente para prevenir infort�nios: “N�o temos esse poder. Cat�strofes, imprevistos acontecem. Como vamos reagir e lidar com eles, sim. Quanto maior a aceita��o maior ser� a nossa flexibilidade em ajustar de novo”, alerta a psic�loga.

(foto: Arquivo Pessoal)

Atendo muitos pacientes que acompanham a vida de celebridades nas m�dias sociais e se sentem extremamente frustrados com seu estilo de vida. Ningu�m consegue estar bem o tempo todo, isso soa como algo n�o real

Daniela Queiroz, psic�loga positivista



AS PESSOAS N�O SE ESCUTAM 


Daniela Queiroz chama a aten��o para quem vive uma situa��o emocionalmente dif�cil e j� se sente sozinha e isolada. Quando outros tentam, pensando que est�o ajudando, silenciar essas emo��es, especialmente familiares e amigos, o efeito � o contr�rio. A velha cartilha de conselhos tipo “� s� voc� pensar positivo”, “veja o lado bom”, “podia ser pior”, “precisa se conformar” ou “siga em frente” n�o funciona.

Segundo ela, a nega��o do sofrimento, das ang�stias alheias s� nos afasta uns dos outros. Fala-se muito em empatia, mas se nega a todo tempo as nossas vulnerabilidades. “De fato, h� uma tend�ncia em depositar apenas nos consult�rios de psicologia a permiss�o para falarmos das nossas dores.”

Al�m da generosidade da escuta de quem � pr�ximo e dos profissionais da sa�de mental em seus div�s, Daniela Queiroz lembra ainda da hipnoterapia ericksoniana, que prop�e um modelo de terapia sob medida para cada paciente. “A singularidade de cada um � respeitada, n�o tem algo que serve para todos. Logo, o foco ser� sempre uma transforma��o de dentro para fora, e n�o o contr�rio.”


COMO ACEITAR A TRISTEZA E PEDIR AJUDA


Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva, alerta que a tristeza revela que a natureza humana é coletiva e que precisamos uns dos outros
Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva, alerta que a tristeza revela que a natureza humana � coletiva e que precisamos uns dos outros (foto: J. Mantovani/Divulga��o)
As emo��es humanas s�o universais, determinadas geneticamente e selecionadas pela evolu��o da esp�cie. A tristeza, por exemplo, sinaliza que precisamos de ajuda – seja para lidar com os sentimentos ou para substituir e reparar aquilo que foi perdido. Pesquisa da Universidade de Yale identificou que a quantidade de ajuda que os volunt�rios recebiam das outras pessoas aumentava quando os volunt�rios expressavam a tristeza. A fun��o da tristeza revela que a natureza humana � coletiva, precisamos uns dos outros. Portanto, quando estiver triste, lembre-se de que � um sinal de que precisa de apoio. O apoio que vem do outro, mas tamb�m do apoio que vem de si mesmo.

1 – Pratique a pausa da autocompaix�o 
Kristin Neff, pesquisadora refer�ncia no tema, operacionalizou autocompaix�o com tr�s elementos: mindfulness, humanidade comum e autogentileza. Nos momentos dif�ceis, fa�a uma pausa e primeiro investigue sua experi�ncia com mindfulness, ou seja, com curiosidade e abertura, em vez de negar o sofrimento ou lamentar excessivamente. Segundo, lembre-se da humanidade comum, que � o entendimento de que o sofrimento � inerente � condi��o humana. Quando voc� entende que as suas dificuldades s�o parte da experi�ncia humana, e n�o provas de incompet�ncia ou fraqueza, fica mais f�cil acolher o que voc� sente com o terceiro elemento da autocompaix�o, a autogentileza.

2 – Acalme-se com toque e respira��o 
Os pensamentos s�o capazes de afetar o corpo, por exemplo, produzindo taquicardia quando se est� ansioso. Da mesma forma, o estado corporal afeta o funcionamento da mente. Quando se sente amea�ado, os pensamentos s�o capturados pela ideia que o assombra. Portanto, em vez de usar os pensamentos para ficar mais calmo, use o corpo para acalmar a mente. Respire profundamente por tr�s minutos algumas vezes durante o dia. Lembre-se de fazer expira��es t�o ou mais longas que a inspira��o, isso � importante para ativar o sistema nervoso parassimp�tico. Enquanto respira, voc� pode tamb�m usar o toque, colocando as m�os sobre o cora��o ou outra parte do seu corpo que te comunique seguran�a.

3 – Fale com voc� mesmo como voc� falaria com um amigo 
� mais f�cil termos clareza, gentileza e sabedoria quando apoiamos o outro do que quando refletimos sobre os nossos pr�prios problemas. Portanto, pense sobre como voc� encorajaria ou apoiaria um amigo na mesma situa��o, e fale com voc� da mesma forma. Evid�ncias cient�ficas demonstram que, quando falamos com n�s mesmos como se f�ssemos outra pessoa, somos mais capazes de lidar com situa��es emocionalmente desafiadoras e agir com mais sabedoria.

4 – Limite o consumo de not�cias e repense quem voc� segue nas redes sociais 
Lembre-se de que quando estamos no sistema de alarme, tendemos a consumir informa��es que alimentam o nosso medo, raiva e tristeza e nos mant�m no sistema de alarme. Portanto, planeje a frequ�ncia que voc� pretende se engajar com not�cias e com as redes sociais. Se poss�vel, deixe de seguir conte�dos que prejudiquem seu estado emocional.

5 – Construa um kit autocompassivo 
Experi�ncias sensoriais s�o poderosos ativadores emocionais que podem ajudar a estimular o sistema afiliativo. Podem fazer parte do seu kit objetos que lembrem a experi�ncia de ser cuidado, como por exemplo um �leo essencial com cheiro tranquilizador ou uma m�sica calma e tranquila.

*Fonte: Adriana Drulla, mestre em psicologia positiva pela Universidade da Pennsylvania (EUA)


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