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Estado de Minas EMO��O NAS AULAS

O premiado professor de matem�tica que inspira alunos com m�sica

Colombiano Federico Ardila tem se destacado nos Estados Unidos pela capacidade de inspirar alunos "dentro e fora da sala de aula", o que lhe rendeu diversos pr�mios.


15/06/2021 20:29 - atualizado 16/06/2021 12:11


Federico Ardila foi premiado pela capacidade de inspirar alunos no aprendizado da matemática
Federico Ardila foi premiado pela capacidade de inspirar alunos no aprendizado da matem�tica (foto: Federico Ardila)

Federico Ardila tem alma de m�sico, mas, ao mesmo tempo, � um matem�tico consagrado.

Nascido em Bogot� h� 43 anos, formado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, por sua sigla em ingl�s) e com uma ampla carreira como professor universit�rio nos Estados Unidos, Ardila conseguiu usar a emo��o da m�sica para otimizar o aprendizado de uma disciplina execrada por muitos: a matem�tica.

Por conta disso, recebeu diversos pr�mios, como o que lhe foi concedido em 2020 pela Associa��o Americana de Matem�tica (MAA, por sua sigla em ingl�s) "por inspirar alunos dentro e fora das salas de aula da San Francisco State University".

Mas, al�m da voca��o como professor, ele tamb�m canalizou sua paix�o musical e fundou um coletivo de DJs na cidade de Oakland, onde a m�sica latina brilha com luz quase natural.

A BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC, conversou com Ardila sobre matem�tica, inclus�o social, m�sica e emo��es.


Ardila deu várias palestras sobre o ensino da matemática
Ardila deu v�rias palestras sobre o ensino da matem�tica (foto: Federico Ardila. )

BBC - Voc� chegou � matem�tica por meio de uma combina��o de v�rios fatores, incluindo sua fam�lia e, especialmente, suas irm�s. Por que voc� se interessou pelos n�meros?

Federico Ardila - Sou filho de pais que seguiram duas dire��es muito diferentes. Meu pai � engenheiro e gostava muito de matem�tica e minha m�e era soci�loga e sua grande paix�o era ajudar os outros.

Portanto, essas duas mensagens estiveram sempre presentes desde muito cedo: por um lado, o gosto pela ci�ncia e, por outro, uma certa responsabilidade social.

N�o acredito na ideia de que se nasce matem�tico, mas � verdade que desde pequeno fui instigado a gostar de n�meros.

E quando eu tinha uns 9 anos descobri o programa das Olimp�adas de Matem�tica da Col�mbia. E me inscrevi porque minha irm� e meu primo eram muito bons com os n�meros.

Gosto muito de falar sobre isso porque me parece importante: a minha irm� tamb�m era muito boa em matem�tica, mas a nossa sociedade manda as mulheres para o outro lado, certo?

BBC - E sua irm�, n�s a perdemos na ci�ncia?

Ardila - Ela � m�sica hoje. E vamos dizer que para ela n�o � uma perda. Quem perdeu foi a ci�ncia.

BBC - Um dos seus grandes focos hoje � usar a matem�tica como uma ferramenta de inclus�o social. Como isso funciona?

Ardila - A ci�ncia em geral, e a matem�tica em particular, t�m um poder muito importante dentro de nossa sociedade.

Em outras palavras, matem�tica e ci�ncias foram usadas muitas vezes por governos para causar danos. Os militares dependem muito da matem�tica. Muitos dos modelos de capitalismo s�o baseados na matem�tica, a matem�tica tem muito poder na sociedade.

Por isso, � fundamental que todos os setores de uma sociedade tenham acesso a essa ferramenta, pois dependendo de quem a possui e de quem a utiliza, ela pode ser uma ferramenta de opress�o ou de igualdade.

E n�s, cientistas, n�o gostamos de dizer isso, mas a ci�ncia tamb�m tem sido uma grande ferramenta para construir a desigualdade. Mas n�o porque seja ruim, mas porque as pessoas que tiveram acesso a usaram para isso.

Pois � por isso que para mim � fundamental, numa sociedade que procura ser mais igualit�ria, que esta ferramenta seja reinventada por diferentes comunidades. Que se possa decidir, em meio � ideia de construir uma sociedade mais igualit�ria, que papel a ci�ncia pode desempenhar.

BBC - E como voc� a aplica em uma sala de aula?

Ardila - Todo esse pensamento me levou a me perguntar: como posso contribuir? Eu trabalho em uma universidade p�blica em San Francisco. � uma universidade de acesso muito aberto e muitos dos meus alunos v�m de comunidades que n�o tiveram acesso a ci�ncias e matem�tica.

Em outras palavras, muitos deles s�o imigrantes cujos pais n�o se formaram na escola. Quero construir espa�os onde os alunos se sintam confort�veis.

Mas n�o � t�o f�cil, porque � um pouco o que eu estava contando sobre a minha irm� quando ela entrou num curso de matem�tica. Ela n�o se sentia confort�vel por causa do ambiente masculino e competitivo.

O que tento fazer � construir um ambiente dentro da minha sala de aula onde qualquer pessoa que chegue possa se sentir confort�vel, c�moda e possa encontrar na matem�tica uma forma de desenvolver suas habilidades e ter alguma influ�ncia.

Como eu fa�o? Eu sou bastante experimental. Ent�o, por exemplo, para deixar os alunos confort�veis, eu coloco uma m�sica. Eu tamb�m sou DJ. E eu penso muito na m�sica como um elemento que pode ter um efeito forte. �s vezes, quando eu chego na sala de aula, eu digo: "pessoal, escolham uma m�sica".

E todos os dias um aluno tem a oportunidade de colocar uma m�sica que significa muito para ele.

Isso come�ou como uma experi�ncia divertida, mas o que me impressionou � que os jovens tocam m�sicas que t�m muito significado e contam hist�rias muito pessoais.

Quanto mais fa�o essas coisas, mais percebo que os jovens tamb�m querem aprender matem�tica, mas acima de tudo querem ser tratados como pessoas.

Lembro-me do caso de uma menina que queria nos mostrar a m�sica que cantou no funeral da m�e porque queria agradecer a ela por ter aberto a porta da educa��o.

Esse tipo de coisa � o que chamo de inclus�o social em sala de aula.

BBC - Existe uma express�o que voc� usa muito quando fala em educa��o, quase como um lema: "Ningu�m tira o que voc� dan�ou".

Ardila - Porque sinto que a educa��o sempre funcionou como forma de classificar as pessoas. Isso acontece muito nas aulas de matem�tica, onde muitas vezes o que fazem � classificar quem s�o os mocinhos e quem s�o os malvados.

E isso me parece muito prejudicial. Se voc� der a algu�m uma prova de uma hora, n�o poder� saber nessa hora o que essa pessoa pode fazer.

Falo muito sobre isso com meus alunos, que � importante que eles saiam bem em uma prova, mas me parece que isso � secund�rio e que � muito mais importante que eles saibam e sintam que est�o aprendendo, construindo e se divertindo com a matem�tica.

E quando eles sentem isso, dentro de seus cora��es, ningu�m tira isso deles. As pessoas ficam surpresas quando falo com o cora��o em uma aula de matem�tica, mas sinto que a educa��o faz isso. Quando voc� aprende algo novo e entende algo novo, isso pode preencher voc� muito como pessoa. Seu c�rebro entendeu algo que n�o entendia e ningu�m vai tirar isso de voc�.

E um professor pode dar uma nota ruim, mas isso n�o significa nada se voc� sabe que aprendeu alguma coisa. Em outras palavras, ningu�m tira o que voc� dan�ou.

Ele tamb�m j� disse muitas vezes que seu convite � criar espa�os com a matem�tica.

Isso vem muito da rela��o com a m�sica. Quando eu fa�o festas como DJ ou eventos art�sticos, quando voc� entra em um espa�o, se sente de uma certa maneira, E isso influencia muito como voc� interage com o espa�o.

Acho que isso tamb�m acontece no processo de ensino. Como reinventamos os espa�os e como fazemos as pessoas se relacionarem com esses espa�os de maneira diferente?

N�o vejo a sala de aula apenas como sala de aula, mas � um espa�o que a gente est� construindo, que tem um ambiente e que a ideia � que as pessoas se sintam bem naquele ambiente e que haja um certo fluxo de conhecimento e energia.

Que a sala de aula seja um espa�o de boas-vindas, que voc� chega e fala "aqui � bom e eu quero aprender"

BBC - Voc� tamb�m j� disse muitas vezes que seu atrativo � criar espa�os com a matem�tica.

Ardila - Isso vem muito da rela��o com a m�sica. Quando eu fa�o festas como DJ ou eventos art�sticos, quando voc� entra em um espa�o, se sente de uma certa maneira, E isso influencia muito como voc� interage com o espa�o.

Acho que isso tamb�m acontece no processo de ensino. Como reinventamos os espa�os e como fazemos as pessoas se relacionarem com esses espa�os de maneira diferente?


Ardila é natural de Bogotá, onde cultivou uma paixão lúdica pela matemática
Ardila � natural de Bogot�, onde cultivou uma paix�o l�dica pela matem�tica (foto: Federrico Ardila)

N�o vejo a sala de aula apenas como sala de aula, mas � um espa�o que a gente est� construindo, que tem um ambiente e que a ideia � que as pessoas se sintam bem naquele ambiente e que haja um certo fluxo de conhecimento e energia.

Que a sala de aula seja um espa�o de boas-vindas, que voc� chega e fala "aqui � bom e eu quero aprender".

BBC - Essa combina��o de emo��es e ci�ncia na aprendizagem tem muito a ver com a vinda para os Estados Unidos para estudar no MIT, certo?

Ardila - Sim, um amigo me incentivou e ent�o me candidatei ao MIT e entrei, tamb�m consegui resolver a quest�o financeira porque minha fam�lia n�o tinha como me mandar para estudar no exterior.

A quest�o � que quando cheguei, embora percebesse que ainda era bom em matem�tica, n�o me sentia confort�vel com o ambiente.

Foi como um choque cultural, porque para mim na Col�mbia a matem�tica era algo mais divertida ou l�dica. Uma coisa mais comunit�ria com os amigos e pais. Digamos que cheguei a um lugar onde muitas vezes era o �nico latino e culturalmente parecia muito estrangeiro.

Comecei a sentir talvez o que minha irm� sentiu quando foi para as Olimp�adas, aquele isolamento. E foi uma coisa complicada, como se voc� realmente gostasse cientificamente de onde est�, mas n�o se sinta muito confort�vel.

E acho que tamb�m foi isso que me influenciou a fazer um grande esfor�o para construir espa�os onde realmente se d� aten��o a isso. Porque na matem�tica tendemos a ser t�o intelectuais que �s vezes esquecemos que somos pessoas e temos sentimentos, e que �s vezes ficamos desconfort�veis %u200B%u200Be n�o percebemos.

Talvez, por causa disso, de me sentir muito desconfort�vel naquele lugar, comecei a perceber que essa ci�ncia tem uma parte emocional muito forte. E se voc� n�o est� bem emocionalmente, � dif�cil para voc� ter um bom desempenho acad�mico.

Eu sinto que esse � um obst�culo muito grande que a educa��o tem, que se voc� est� em uma sociedade muito desigual e as pessoas pobres t�m situa��es muito complicadas em seu dia a dia, � muito dif�cil para elas terem espa�o para aprender matem�tica.

E n�o � porque eles n�o t�m capacidade, mas h� tantas coisas emocionais que n�o permitem que voc� pense.

BBC - Sua �rea de estudo � 'combinatronics', o que � estudado nela?

Ardila - O que eu fa�o � chamado de combinat�ria e � uma �rea sobre a qual as pessoas n�o sabem muito porque � um ramo mais ou menos novo da matem�tica.

Mas digamos que todo mundo fa�a combinat�ria no dia a dia, de uma certa maneira.

Por que? Porque combinat�ria � o estudo de possibilidades. O que isso que significa? Eu dou um exemplo. Se voc� quiser fazer um torneio de futebol, deve decidir em que ordem as partidas ser�o disputadas. E quem desenhou um calend�rio deve considerar quais s�o as diferentes possibilidades e escolher qual � a melhor. Ou o que pode ser o mais r�pido. Coisas assim.

Sudoku � outro exemplo de combinat�ria. Isso � pura combina��o.

Mas a raz�o pela qual esse ramo se tornou muito importante � porque agora a computa��o cuida de muitas coisas e a combinat�ria � como a matem�tica da computa��o.

Agora tudo � com algoritmos e programas, ent�o a combinat�ria se tornou um ramo muito central da matem�tica.

� semelhante a quando eles disseram que o c�lculo era como o ramo da matem�tica que poderia fazer avi�es. Combinat�ria � o ramo da matem�tica que permite que um computador funcione.

E muitas vezes essas combina��es t�m a ver com a combina��o de �lgebra e geometria, por exemplo.


Ardila (à direita) fundou um coletivo de música latina em Oakland, na Califórnia
Ardila (� direita) fundou um coletivo de m�sica latina em Oakland, na Calif�rnia (foto: Federico Ardila)

BBC - Existe algum projeto espec�fico onde voc� o est� colocando em pr�tica?

Ardila - Algo muito interessante aconteceu comigo. Embora muitos trabalhos levem anos para serem aplicados na matem�tica, tive a sorte de alguns projetos terem sido executados.

Por exemplo, tenho um projeto de filogen�tica.

A ideia � que queremos conhecer a �rvore evolutiva das esp�cies. Para dar um exemplo, vamos come�ar com cinco esp�cies: o macaco, o homem, a vaca, o cachorro e o cavalo.

Queremos saber de onde eles come�aram e como evolu�ram para se tornar a esp�cie atual.

E certamente imaginamos que o cavalo e a vaca s�o mais parecidos, ent�o com certeza eles est�o mais pr�ximos naquela �rvore da evolu��o. E com certeza os macacos e n�s estamos mais pr�ximos e o cachorro vai para o outro lado.

Ent�o o que fazemos � tentar entender o que foi a evolu��o. � fazer a pergunta, como sabemos? Bem, s� podemos medir o que vemos hoje e n�o temos como voltar a hist�ria para tr�s, para ver o que foi a �rvore dessa evolu��o.

Bem, esse � um problema combinat�rio, porque existem muitas possibilidades. Em outras palavras, quais foram todas as hist�rias poss�veis que poderiam vir a construir a realidade de hoje e qual de todas essas hist�rias � a mais prov�vel?


Para Ardila, o trabalho da Escola de Robótica Chocó é um grande exemplo de processos educacionais na América Latina
Para Ardila, o trabalho da Escola de Rob�tica Choc� � um grande exemplo de processos educacionais na Am�rica Latina (foto: Robotica)

Ent�o, come�a-se a procurar linhas, mesmo aquelas que n�o s�o evidentes, e a analisar, com matem�tica, todas as �rvores gen�ticas poss�veis.

E com os resultados, podemos fornecer algoritmos que informam se voc� tem, n�o sei, dez esp�cies de peixes. O que � muito mais dif�cil de saber evolutivamente qual foi a ordem em que eles se separaram. Ent�o fa�a medi��es com esses peixe e use m�todos combinat�rios para prever qual era a �rvore evolucion�ria mais prov�vel.

BBC - Agora, voltando ao ensino, como essa cria��o de espa�os e modelos de inclus�o pode ser transferida para as salas de aula da Am�rica Latina?

Ardila - � uma pergunta muito interessante. Sempre penso que na Am�rica Latina glorificamos muito o que se faz nos Estados Unidos ou na Europa. E aqui (nos EUA) muitos erros foram cometidos, e sinto que na Am�rica Latina podemos realmente aprender com esses erros e pensar em maneiras muito diferentes.

Tem um exemplo que para mim tem sido muito significativo no meu trabalho como educador e cientista, que � a Escola de Rob�tica do Choc�.

Para mim, esse � um dos modelos mais interessantes de educa��o que j� vi. Em Choc� (no extremo noroeste da Col�mbia), houve um abandono muito forte do Estado. E existe uma ideia de que os problemas t�m que ser resolvidos dentro da comunidade, porque ningu�m mais vai resolver por eles.

Fui dar um workshop l� e algumas coisas me tocaram muito. Primeiro, que a Escola � um espa�o muito interativo onde os alunos t�m, n�o sei, entre 10 e 18 anos e s�o tratados como os intelectuais que s�o. E ent�o perguntam a eles: o que voc� quer fazer? O que voc� quer construir?

E eles, como qualquer jovem, t�m muitas ideias muito valiosas. E eles trabalham para ajud�-los a entender algo muito direto: como a rob�tica pode ajud�-lo a resolver os problemas que voc� v� em sua comunidade?

Enquanto eu estou aqui nos EUA quando falo sobre rob�tica, a cabe�a das pessoas sempre vai imaginar um rob�. Um Robocop ou um rob� da ind�stria automobil�stica ou algo assim.

Por�m, quando se fala em rob�s na Escola, eles est�o pensando que em Quibd� (capital do Choc�) h� muitos inc�ndios, porque a maioria das casas � de madeira. E os bombeiros n�o conseguem chegar porque n�o h� infraestrutura. Ent�o, o que eles pensam � "como fazemos um rob� bombeiro?"

E os alunos de 15 anos est�o nesse foco. E eles dizem que agora est�o aprendendo ferramentas que s�o t�cnicas e que realmente respondem �s necessidades deles.

E bem, tamb�m � uma coisa muito bonita que seja um programa muito integral, que trabalha com os jovens e faz parte da vida deles. E chegam os pais, e chegam as fam�lias... S�o processos muito comunit�rios que s�o muito inspiradores para mim.

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