
Todos n�s sabemos que, em um aplicativo de encontros, as pessoas est�o procurando conhecer algu�m. Mas elas est�o buscando exatamente o qu�?
Essa pergunta pode ter respostas muito diferentes: um parceiro futuro para estabelecer fam�lia, um romance de conto de fadas ou simplesmente uma aventura.
Uma nova tend�ncia entre os jovens surgiu com o objetivo de desfazer a confus�o e os mal-entendidos que costumam acompanhar a busca de encontros. Seu nome em ingl�s � hardballing ("jogar pesado", em portugu�s) e designa um enfoque mais sensato sobre os encontros amorosos.
A ideia principal �: seja sincero e explique logo de cara suas inten��es e expectativas - antes at� do primeiro encontro.Lakshmi Rengarajan, criadora do podcast Paired by the People ("Unidos pelas pessoas", em tradu��o livre), afirma que a pandemia criou o ambiente perfeito para essa nova tend�ncia. Para ela, "n�s reduzimos a velocidade para recome�ar e pensar em tudo o que d� sentido �s nossas vidas".
A vida � curta e preciosa - e as pessoas s�o exigentes, de forma que n�o h� tempo a perder com rela��es rom�nticas indefinidas.
Por isso, enquanto a maioria dos pa�ses comemorava o segundo Dia de S�o Valentim da pandemia, dois solteiros nos contaram por que os encontros amorosos nunca mais ser�o os mesmos para eles.

'Quatro requisitos b�sicos'
Para Mary (nome fict�cio), com 25 anos de idade, o mundo dos encontros na capital do Qu�nia, Nair�bi, � "dif�cil".
"Passei por muitas situa��es em que meu sucesso profissional n�o agradou � outra pessoa e ele quis que eu me encolhesse", conta ela � BBC. "Se precisasse escolher entre um homem e meu trabalho, com certeza escolheria minha seguran�a."
Isso n�o foi sempre assim para Mary, que agora trabalha como gerente de produtos em uma empresa de tecnologia. Por dois anos, ela saiu com um empres�rio que havia conhecido durante seus estudos. Ela disse que estava disposta a largar tudo e at� desarranjar sua vida por ele.
Mas Mary conta que agora n�o � "a �nica que deve fazer os maiores sacrif�cios em uma rela��o". Naquela �poca, ela n�o tinha emprego est�vel e sua renda era muito irregular.
"Digamos que nunca mais voltarei a sair com um empres�rio", afirma ela, "porque n�o existe seguran�a para o trabalho. Cresci na pobreza e n�o quero nunca estar em uma rela��o em que o meu parceiro n�o possa desenvolver seu lado profissional e contribuir financeiramente como eu", explica ela.
Ter crescido como filha �nica de uma m�e solteira fez com que a seguran�a financeira ficasse agora � frente da tomada de decis�es de Mary.
Ela afirma que seu parceiro deve atender a "quatro requisitos b�sicos": al�m de um trabalho seguro, sua f�, seus valores fundamentais e a import�ncia da fam�lia tornaram-se fatores decisivos.
"Agora, quando chego a conhecer pessoas no primeiro encontro, j� apresentei meus conceitos b�sicos e sei se estou ou n�o disposta a continuar", afirma ela.

'Seja honesto'
A milhares de quil�metros de dist�ncia de Mary, Owen Moore descobriu que os encontros em Washington, nos Estados Unidos, apresentam os mesmos desafios.
"Acredito que, devido � natureza transit�ria da cidade, realmente tem sido dif�cil encontrar pessoas que desejem criar ra�zes", comentou ele � BBC.
At� a pandemia, Moore havia evitado os encontros via internet. Isso agora mudou, mas seu objetivo continua sendo idealmente "sair do aplicativo o quanto antes".
"Realmente acredito nos encontros onde h� honestidade e boa inten��o", afirma ele, que � consultor e tem 27 anos de idade. "Mas realmente estou enfrentando dificuldades para fazer com que eles n�o sejam necessariamente inc�modos."
Mas quem disse que os encontros modernos s�o f�ceis? A especialista em relacionamentos Lakshmi Rengarajan afirma que existem muitos desafios no mundo atual na procura pelo amor.
Talvez a experi�ncia mais temida seja a conhecida em ingl�s como ghosting, que ocorre quando a pessoa corta repentinamente todas as comunica��es, sem dar explica��es. "Isso � impulsionado pela cultura das rela��es descart�veis da era digital", segundo Rengarajan.
Ela argumenta que a cultura atual dos encontros converteu-se em um jogo de quem consegue mais e isso se tornou mais importante que conhecer lentamente a outra pessoa. "Mas, depois de finalmente ver o impacto coletivo da cultura dos encontros descart�veis, as pessoas est�o tentando descobrir como neutralizar essa situa��o", afirma Rengarajan.
E � aqui que entra em jogo o hardballing: um enfoque mais honesto para eliminar a tens�o e a ansiedade dos encontros modernos.

Quest�o de controle
"Fazer encontros em um espa�o digital tornou mais f�cil para as pessoas simplesmente ignorar ou bloquear algu�m, em vez de ter uma conversa inc�moda", afirma Moore. Para ele, "existe um medo real de ficar para tr�s porque pode surgir algu�m mais emocionante ou interessante a qualquer momento".
Moore afirma que a ideia dos encontros � construir conex�es e verificar se pode surgir um relacionamento. "Acredito totalmente que nem tudo precisa necessariamente ser branco ou negro e que existe muito cinza no mundo", segundo ele.
Ele conta que tem expectativas sobre uma poss�vel parceira, mas tamb�m acredita que o hardballing deveria vir acompanhado de alguma flexibilidade. "N�o acredito que as pessoas devam ir a um encontro com a mentalidade de que, se essa pessoa n�o se encaixar em cada uma das minhas exig�ncias, n�o ter� um segundo encontro", segundo ele.
Para Lakshmi Rengarajan, a tend�ncia do hardballing resume-se em ter uma sensa��o de controle, depois desses dois anos turbulentos para muitas pessoas.
"� uma forma de proteger-nos", afirma ela, "o que faz muito sentido."
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