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Estado de Minas BBC

Os riscos para a sa�de de tomar 'f�rmulas emagrecedoras'

'�s vezes na pressa, na busca por um milagre, muitas pessoas procuram essas op��es, acham que parece mais saud�vel', afirma endocrinologista Maria Edna de Melo


13/03/2022 08:50 - atualizado 13/03/2022 08:50

Mulher medindo a barriga com fita métrica
Tratamento para a obesidade com rem�dios precisa ter acompanhamento m�dico (foto: Getty Images)
As not�cias recentes da morte de duas mulheres com danos no f�gado ap�s tomar f�rmulas emagrecedoras chamou a aten��o para o consumo desse tipo de mistura.

 

A enfermeira Mara Abreu morreu em fevereiro com uma hepatite fulminante que os m�dicos suspeitam ter sido causada pela ingest�o do ch� "50 ervas Emagrecedor", cuja venda � proibida pela Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria).

 

A cantora Paulinha Abelha morreu no mesmo m�s de meningoencefalite, hipertens�o craniana, insufici�ncia renal aguda e hepatite. Ela tomava diversas f�rmulas (com 18 subst�ncias ao todo) e laudos m�dicos mostraram que ela tinha anfetamina no sangue e que as les�es que teve no f�gado s�o compat�veis com as causadas por efeitos de medicamentos.

 

M�dicos especialistas — endocrinologistas, gastroenterologistas e hepatologistas — alertam sobre os riscos de consumo de f�rmulas para perder peso, que misturam diversas subst�ncias, entre elas suplementos, ervas ou rem�dios.

 

Elas podem causar danos ao f�gado, ao rim e outros efeitos colaterais graves. Podem tamb�m ter efeitos adversos desconhecidos, j� que a composi��o das f�rmulas e misturas varia muito e a intera��o entre as subst�ncias pode gerar problemas imprevistos.

 

Quem precisa fazer tratamento da obesidade pode ter se assustado com as not�cias e com o alerta ou acabar acreditando que qualquer tratamento tem os mesmos riscos.

 

Mas os m�dicos apontam que existem sim rem�dios para o tratamento de obesidade que s�o eficazes, seguros e que podem ser prescritos por m�dicos a pacientes que precisam perder peso.

 

"� preciso separar o joio do trigo", diz a endocrinologista e pesquisadora Maria Edna de Melo, m�dica do Grupo de Obesidade e S�ndrome Metab�lica do Hospital das Cl�nicas da Faculdade de Medicina da USP.

 

"Existem tratamentos modernos, que foram objeto de muitos estudos e pesquisas cl�nicas, e cuja seguran�a e efic�cia foram comprovados", diz Melo.

Um deles, por exemplo, � a liraglutida, que tem poucos efeitos adversos e n�o tem muitas contraindica��es.

 

Mesmo assim, explica Melo, � um tratamento que precisa ser indicado por um m�dico e acompanhado por outras mudan�as, como uma melhora na alimenta��o e acompanhamentos do estado de sa�de do paciente. Al�m disso, � um tratamento recente e ainda muito caro.

 

Por outro lado, acrescenta, "n�o existe erva, fitoter�pico ou suplemento para emagrecer com efic�cia e seguran�a comprovados. �s vezes na pressa, na busca por um milagre, ou porque � mais barato, muitas pessoas procuram essas op��es, acham que parece mais saud�vel, mas acabam em situa��es que colocam sua vida em risco".

 

A m�dica que havia receitado f�rmulas para emagrecer para a cantora Paulinha Abelha emitiu uma nota afirmando que "todos os medicamentos prescritos para a paciente foram dentro de todos os protocolos m�dicos previstos para o quadro cl�nico que ela apresentava".


Balança
Busca por solu��es r�pidas geram enorme risco � sa�de (foto: BBC)

Perigo para o f�gado

A gastroenterologista e hepatologista Monica Valverde Viana, diretora da Associa��o Paulista para Estudos do F�gado, diz que � extremamente comum receber pacientes com danos no f�gado causados pelo consumo de f�rmulas e compostos para emagrecer. "N�o tem um dia que n�o chegue algu�m com esse problema", diz ela.

 

"� cada vez mais comum ver pessoas consumindo essas misturas. (Pegam do) personal (trainer) que vendeu a f�rmula na academia, de farm�cias de manipula��o que vendem suas pr�prias f�rmulas e muitas vezes at� mesmo de nutricionistas e m�dicos nutr�logos", diz Viana.

 

O principal problema das f�rmulas e misturas emagrecedoras, diz ela, � que elas misturam muitas subst�ncias diferentes que individualmente podem n�o ser danosas, mas cuja a��o conjunta pode ser prejudicial.

 

"Como as f�rmulas variam muito, n�o tem como ter estudos de seguran�a ou intera��o medicamentosa", explica.

 

"� muito comum que as f�rmulas prescritas misturem rem�dios alop�ticos com ervas e suplementos. O problema � que as f�rmulas acabam tendo absolutamente tudo em excesso, o que pode causar uma hepatite medicamentosa", afirma Viana.

 

"Elas s�o prescritas em uma quantidade que acaba sendo uma overdose."

 

A hematologista explica que muitas das subst�ncias misturadas s�o metabolizadas no corpo pela mesma enzima. Ingeridas ao mesmo tempo nesses compostos, elas acabam sobrecarregando o f�gado — ele precisa produzir mais daquela enzima, n�o d� conta e acaba intoxicado.

 

"Se � algo pontual, o corpo at� consegue dar conta, o f�gado consegue depurar. Mas com o uso cr�nico, fica mais dif�cil e gera les�es", afirma Viana.

 

H� dois tipos muito comuns de les�es no f�gado geradas por subst�ncias ingeridas: as causadas por rem�dios (dili — drug induced liver injury, em ingl�s) e as causadas por ervas (hili — herbal induced liver injury). Ambas podem ser graves e at� mesmo levar � morte, diz Viana, que indica os recursos online do Instituto Brasileiro do F�gado (Ibrafig) para quem quiser saber mais.

 

H� ainda uma s�rie de outros riscos n�o associados ao f�gado — dependendo de quais subst�ncias est�o presentes nas f�rmulas emagrecedoras.

 

"�s vezes h� um excesso de diur�ticos ou suplementos proteicos que podem causar problemas nos rins. [O composto pode dar] gastrite, colite, alergias, gases. �s vezes o paciente chega com uma alergia que ele n�o sabe nem do que — e tem tanta coisa na f�rmula que ele toma que � dif�cil identificar", afirma Viana.

 

Al�m disso, a intera��o entre as diversas subst�ncias — quer sejam entre rem�dios, ervas ou suplementos — e o seu excesso podem gerar outros efeitos adversos dif�ceis de prever.


Prato de salada com peito de frango grelhado
Uso de rem�dios precisa ser acompanhado por mudan�a na alimenta��o (foto: Getty Images)

Alto risco

Viana e Melo afirmam que o fato de que muitas vezes profissionais de sa�de prescrevem esse tipo de f�rmula para emagrecer dificulta a conscientiza��o.

Segundo as regras do CRM (Conselho Federal de Medicina), os m�dicos t�m a liberdade de receitar f�rmulas do tipo de acordo com sua avalia��o individual sobre o paciente.

 

Viana e Melo explicam, no entanto, que o entendimento majorit�rio nas sociedades de endocrinologia e hepatologia � de que os riscos s�o muito altos. "S�o muitas subst�ncias ao mesmo tempo e sem estudos n�o tem como saber os limites di�rios de metaboliza��o", afirma Viana.

 

As f�rmulas n�o devem ser prescritas por personal trainers, coaches, farm�cias de manipula��o ou tomadas por conta pr�pria, afirmam os especialistas. Mas e no caso de indica��o por um m�dico ou nutricionista?

 

O m�dico Nelson Vinicius Gonfinetti, endocrinologista do Instituto Castro, explica que qualquer tipo de tratamento para perda de peso ser feito simultaneamente com o acompanhamento do estado de sa�de do paciente — o monitoramento da sa�de dos rins, do f�gado, do sistema cardiovascular.

 

Se o m�dico n�o estiver fazendo esse acompanhamento ou se n�o fizer perguntas sobre o hist�rico de sa�de do paciente, � um sinal vermelho, diz Viana.

 

Outros sinais para ficar atento, acrescenta Melo, s�o promessas de emagrecimento r�pido, uso de imagens de pessoas muito magras e musculosas para vender tratamentos e associa��o de um n�mero muito grande de subst�ncias.

 

"Na d�vida, melhor buscar uma segunda opini�o (de outro profissional)", diz a endocrinologista e pesquisadora.

 

O principal, afirmam os m�dicos, � entender que "n�o existe f�rmula m�gica" para a perda de peso.

 

"Para os tratamentos que s�o seguros, a gente nem usa o termo emagrecedor, porque d� a ideia para a pessoa de que ela vai tomar a automaticamente vai ficar magra, vai secar, e essa ilus�o � muito danosa para o paciente", assinala Melo. "Chamamos de tratamento para a obesidade."

 

"A obesidade � uma condi��o, uma doen�a cr�nica que pode ser muito estigmatizante, ter um impacto muito grande na sa�de mental. E com a press�o muitas vezes as pessoas acabam procurando um atalho, procurando o que parece uma solu��o mais r�pida, mas que acaba sendo perigosa", conclui a m�dica.

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