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Estado de Minas ADOLESC�NCIA

O que esperar do primeiro ano de menstrua��o?

Apesar de ser algo natural que acontece com metade da popula��o do planeta, a menstrua��o muitas vezes ainda � um tabu


19/03/2022 21:02 - atualizado 19/03/2022 21:55

Calcinha manchada de sangue
A educa��o das crian�as sobre a menstrua��o � uma preocupa��o dos ativistas e especialistas. (foto: Getty Images)

Apesar de ser algo natural que acontece com metade da popula��o do planeta, a menstrua��o muitas vezes ainda � um tabu - especialmente para garotas na adolesc�ncia, que est�o passando por seus primeiros ciclos.

 

 


� por isso que o novo filme de anima��o da Pixar, Red, est� sendo considerado inovador ao falar do tema sem tabu, atrav�s de uma met�fora.

O lan�amento do filme trouxe o assunto � tona - e v�-lo apresentado em um filme familiar pode ser uma oportunidade para pais e adolescentes conversarem sobre ele.

Mas afinal, o que as garotas (e suas fam�lias) devem esperar do primeiro ano de menstrua��o?


Propagando de absorvente com tinha vermelha representando sangue
O uso de l�quido vermelho (no lugar do azul) em comerciais de absorventes na Su�cia atende aos anseios por representa��es mais honestas nos an�ncios (foto: Bodyform)

O que est� acontecendo com o corpo?

A menstrua��o � um dos eventos da puberdade nas meninas, ou seja, � uma das etapas do amadurecimento do corpo para que a pessoa possa ter filhos.

Antes da primeira menstrua��o, o corpo da menina vai apresentar os primeiros sinais da puberdade conforme o seu eixo hormonal passa a ser ativado, explica a ginecologista Marta Francis Benevides Rehme, presidente da Comiss�o Nacional de Ginecologia Infanto Puberal da Febrasgo (Federa��o Brasileira das Associa��es de Ginecologia e Obstetr�cia).

Os horm�nios come�am a aumentar no corpo a partir de 8 anos de idade e, por volta dos 10 anos, as meninas v�o passar pelo aparecimento das mamas - a chamada telarca. Depois come�am a aparecer os pelos e, entre 11 e 14 anos, elas passam pela menarca - a primeira menstrua��o.

"Nada mais � do que o amadurecimento biol�gico do corpo, que � controlado por uma regi�o do c�rebro chamado hipot�lamo, que produz os horm�nios respons�veis por essas mudan�as no corpo e pela menstrua��o", explica o ginecologista Carlos Moraes, especialista em perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

A menstrua��o acontece depois que o corpo come�a a ovular. Com os �vulos maduros, as paredes do �tero se tornam mais espessas para receber um �vulo fertilizado. Quando a fertiliza��o n�o acontece, essa camada de c�lulas � liberada pelo corpo: � o sangue da menstrua��o.

A idade em que a menarca acontece vem caindo com as d�cadas - e de maneira geral � bem mais cedo hoje do que no in�cio do s�culo passado, explicam os ginecologistas. "N�o temos uma explica��o exata do porqu�, mas existem v�rias hip�teses, como a mudan�a na alimenta��o", afirma Moraes.


Duas meninas pardas seguram um absorvente interno e conversam
� poss�vel que meninas usem absorvente interno mesmo sem ter iniciado a vida sexual; s� � preciso passar por um m�dico antes (foto: Getty Images)

Meu fluxo � normal?

Nos primeiros dois anos ap�s a primeira menstrua��o, explica Marta Rehme, � comum que a menstrua��o n�o seja regular - a intensidade do fluxo de sangue e a sua frequ�ncia podem variar. Ou seja, o sangramento pode ser intenso ou mais fraco, acontecer todo m�s, mais de uma vez por m�s ou n�o acontecer por um per�odo de tempo maior.

"Isso acontece porque a ovula��o se d� quando o corpo produz estrog�nio, na primeira fase do ciclo menstrual. A menstrua��o acontece quando o corpo produz progesterona, na segunda fase do ciclo. Quando as meninas s�o jovens, o corpo ainda n�o est� totalmente regulado e essa produ��o hormonal pode variar, o que causa a irregularidade no ciclo e a varia��o do fluxo", afirma Moraes.

Depois desses dois anos, o ciclo tende a regularizar e a menstrua��o acontece a cada 28 dias, podendo variar para 29 ou 30 dependendo da mulher.

No in�cio da menstrua��o - na menarca e depois nos primeiros dias da menstrua��o - � normal que a cor do sangue seja mais amarronzada. O fluxo pode aumentar no segundo ou terceiro dia e � normal que dure at� 8 dias.

"A quantidade de sangue � algo que pode ser observada pela troca de absorventes. A troca est� sendo necess�ria com muita frequ�ncia? Est� ficando t�o cheio que est� vazando? � normal que o absorvente fique cheio no primeiro ou segundo dia e depois v� diminuindo", explica Rehme.

A irregularidade no fluxo e no ciclo nesses dois primeiros anos, explica a m�dica, � normal e normalmente n�o precisa ser investigada. "O excesso de exames pode levar a diagn�sticos prematuros", diz ela. Mas � preciso fazer uma investiga��o m�dica caso o sangramento dure mais do que 8 dias ou que a quantidade de sangue seja t�o grande a ponto de causar problemas de sa�de, como uma anemia.


Garota sentada na cama segura um absorvente
� importante que a menina receba orienta��es sobre higiene �ntima nesta fase (foto: Getty Images)

As c�licas

Ap�s a primeira menstrua��o, � normal que as meninas passem a sentir as c�licas menstruais - dores no abd�men que podem irradiar para as costas ou as penas e s�o chamadas nessa fase de "dismenorreias prim�rias".

"A c�lica est� ligada � bioqu�mica das subst�ncias que atuam na menstrua��o, como as prostaglandinas, que promovem a contra��o da musculatura do �tero e causam inflama��o", explica Rehme.

"Essa dor pode ser desde um mal estar leve a algo intenso que a menina n�o consegue ir para a escola", explica Rehme. O tratamento dessa dor normalmente � feito com um anti-inflamat�rio.

Caso a dor seja muito intensa, o m�dico pode investigar se h� alguma outra causa para ela, explica Rehme.

A visita ao ginecologista

� muito importante que a menina fa�a uma visita (que muitas vezes � a primeira) ao ginecologista ap�s a primeira menstrua��o. Nessa consulta, o m�dico vai verificar que tudo est� acontecendo dentro do esperado, vai orientar a garota sobre o funcionamento do ciclo menstrual, tirar d�vidas e falar sobre preven��o de doen�as.

"� importante que a menina entenda que a menstrua��o � um evento natural da mulher, que significa que ela tem um eixo hormonal funcionante", afirma Rehme. "Ela precisa ser entendida como uma coisa positiva, natural, n�o algo inc�modo, que causa vergonha."

A ginecologista explica ainda que nessa visita ao m�dico a menina pode aprender tamb�m formas de lidar com essa mudan�a na vida, no corpo e at� mesmo no humor.

"Por exemplo, se ela est� perdendo aulas de nata��o ou idas � piscina, o m�dico pode verificar se ela pode usar um absorvente interno, mesmo que ela ainda n�o tenha iniciado sua vida sexual", explica Rehme. "Dependendo do tipo de h�men (uma pele na entrada da vagina), ela pode usar o absorvente interno sem problemas."

Sexualidade, preven��o de gravidez e ISTs

A visita ao ginecologista tamb�m � importante para que a menina aprenda sobre preven��o de gravidez (m�todos contraceptivos) e preven��o de infec��es sexualmente transmiss�veis.

"� um aprendizado muito importante mesmo que ela n�o tenha iniciado sua vida sexual e n�o v� faz�-lo t�o cedo", explica Rehme.

A ginecologista afirma que n�o � preciso ter medo que a explica��o v� incentivar o in�cio da vida sexual.

"� preciso que a menina entenda o que est� acontecendo com o corpo: agora ela tem um corpo apto a reproduzir. N�o � para incentivar a atividade sexual ou para fazer com que ela use anticoncepcional, mas para ela estar preparada para as mudan�as em seu corpo e para que entenda os riscos que corre", afirma a m�dica.

"Orientar n�o significa que voc� esteja incentivando. � como o cinto de seguran�a - quando voc� orienta o uso, n�o significa que est� incentivando a pessoa a correr e causar um acidente", explica Rheme.

"� importante ela ter orienta��o do m�dico, da escola, dos pais, porque sen�o vai buscar essa informa��o em outro lugar - e geralmente um lugar onde a informa��o vai estar errada", afirma Carlos Moraes. "Hoje em dia h� um excesso de informa��es dispon�veis na internet, ou mesmo com amigas - e muitas vezes s�o informa��es incorretas e perigosas."

� justamente a falta de orienta��o adequada que leva a problemas como o alto �ndice de gravidez na adolesc�ncia que temos no Brasil, afirma Marta Rheme.

Higiene �ntima

A primeira menstrua��o tamb�m � um momento em que a garota precisa receber novas orienta��es sobre higiene da �rea �ntima.

Os absorventes, por exemplo, devem ser trocados v�rias vezes por dia, mesmo que o fluxo n�o seja intenso, para evitar a prolifera��o de bact�rias.

� normal que ap�s a menstrua��o a menina passe a ter mais corrimento - que deve ser transparente ou leitoso, sem cheiro ou cor amarelada (que podem indicar presen�a de microrganismos nocivos).

O uso de calcinhas de algod�o � indicado para a correta ventila��o da �rea e ela deve evitar ficar de biqu�ni molhado por muito tempo - o que pode causar candid�ase.

Para entender como se higienizar, � importante que a menina entenda a diferen�a entre a vagina (o canal interno que leva ao �tero) e a vulva (a �rea externa, onde est�o os pequenos e grandes l�bios, o clit�ris, os pelos pubianos).

Muitas mulheres adultas at� hoje n�o se atentam para essa diferen�a, explicam os ginecologistas, mas ela � importante porque a vagina n�o precisa de qualquer t�po de higieniza��o - ela se limpa sozinha, e inserir �gua ou sab�o nessa �rea interna pode afetar a flora vaginal (as bact�rias benignas que vivem ali) e causar doen�as.

J� a vulva, explicam os m�dicos, precisa de higieniza��o com �gua e sabonete neutro - ou sabonetes �ntimos espec�ficos para isso.

� importante que a menina saiba tamb�m que a higieniza��o ap�s a ida ao banheiro deve ser feita de frente para tr�s, de forma a evitar contaminar a vulva com bact�rias da evacua��o.

Pelos e cheiros

A menina que passa pela primeira menstrua��o pode esperar tamb�m uma s�rie de mudan�as no corpo - muitas que come�am at� dois anos antes da menstrua��o.

� o caso do crescimento dos seios e do surgimento de pelos no corpo.

O aumento dos n�veis de estrog�nio causa uma s�rie de outras mudan�as - ele afeta o crescimento dos ossos longos, por exemplo, ent�o o estir�o de crescimento da puberdade costuma ser interrompido pela primeira menstrua��o.

"� por isso que, se a menina menstrua muito cedo, antes dos 8 anos, � um processo que normalmente precisa ser medicamente interrompido", explica Carlos Moraes.

Com o estrog�nio tamb�m h� um ac�mulo de tecido adiposo nos quadris, que se alargam para que o corpo esteja preparado para a gesta��o e o nascimento de um beb�.

Pode tamb�m haver mudan�as de cheiro no corpo trazidas pelos horm�nios, explica Rheme. Essa � a fase em que muitas mulheres passam a usar desodorante nas axilas - que n�o faz mal, mas cujo uso � opcional, explica a m�dica.


Mulher branca de óculos mostra absorvente para a filha, uma menina branca de cabelo comprido
� importante que o assunto n�o seja uma tabu (foto: Getty Images)

Mudan�a de comportamento

A menstrua��o acontece na adolesc�ncia (definida pela OMS como idade entre 9 e 19 anos) um per�odo onde o c�rebro ainda est� passando por um amadurecimento.

"Locais do c�rebro que s�o as sedes das emo��es amadurecem mais cedo do que o lobo frontal, que � respons�vel pelo racioc�nio, o autocontrole, etc", explica Marta Rehme.

Ou seja, � normal que adolescentes - tanto meninos quanto meninas - tenham um comportamento mais impulsivo, menos cauteloso. Os horm�nios produzidos pelo corpo nessa fase de puberdade tamb�m podem afetar o humor.

"Eles acham que s�o invulner�veis, que o perigo n�o vai atingi-los. E quando t�m que pesar entre o risco e benef�cio, tendem a escolher o maior benef�cio, independentemente do risco. Muitas vezes elas ainda n�o sabem o que querem, n�o t�m uma meta vocacional, e sentem tudo de forma mais intensa", afirma a ginecologista.

"� normal que as meninas passam por mudan�as de humor na mesma �poca em que est�o passando pela menstrua��o", explica Rehme.

"E com o estrog�nio atuando no c�rebro, as meninas come�am a ter um despertar da sexualidade - que j� estava l�, mas atinge novos contornos. Muitas vezes a adolescente come�a a querer iniciar a vida sexual, e nesse sentido pode entrar em confronto com os pais", afirma. "As meninas tamb�m passam a ter uma maior preocupa��o com a imagem, uma necessidade maior de privacidade, e � uma fase em que o grupo social passa a ter uma maior import�ncia."

A especialista diz que essa mudan�a de comportamento pode assustar muitos pais. "Eles estranham esse comportamento, porque at� ent�o os pa�s eram os �dolos", afirma Rehme.

A psic�loga Paula Peron, professora da PUC/SP, explica que essas mudan�as da subjetividade, no entanto, s�o muito diferentes de menina para menina.

"A viv�ncia desse processo vai ser muito singular. Claro que existem marcas t�picas da cultura contempor�nea ocidental, mas essas mudan�as biol�gicas n�o s�o vividas da mesma maneira por cada pessoa", explica.

Nessa fase, diz Peron, existem muitas expectativas sociais sobre como os pais e como as meninas deveriam se comportar. "� preciso que os envolvidos decidam se v�o querer fazer valer ou n�o essas expectativas", afirma a psic�loga.

Segundo ela, a tend�ncia � que a rela��o entre pais e filhos mude nessa fase, mas isso pode n�o acontecer. "O fato menstrual n�o necessariamente vai mudar a subjetividade", diz ela.

"Alguns pais v�o ter mais dificuldades em lidar com uma fase em que os filhos querem mais autonomia, outros v�o achar mais f�cil. N�o h� como prever para que dire��o isso vai", afirma.

O importante, em todos os casos, diz ela, � reconhecer que existem expectativas, que nem sempre elas ser�o cumpridas e estar preparado para lidar com uma certa decep��o. Al�m disso, diz ela, a constru��o de uma boa comunica��o e o di�logo s�o essenciais em qualquer cen�rio. "E isso � algo que se constr�i, n�o � de uma hora para a outra."

Um bom indicador para os pais e para a pr�pria adolescente de que � preciso ou n�o se preocupar � o n�vel de sofrimento. "� importante buscar ajuda caso haja um sofrimento muito grande ou caso a adolescente esteja causando muito sofrimento em outras pessoas", diz ela.

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