
Qualquer pessoa, quando faz dieta para perder peso, sofre uma "sabotagem" do organismo: ela passa a gastar menos energia e, ao se exercitar, tem os movimentos limitados. Essa � uma estrat�gia de defesa: com menos ingest�o cal�rica e mais mobilidade, o corpo imagina que est� passando fome e tenta estocar a gordura. No futuro, um medicamento poder� reverter o mecanismo, garantindo que, al�m de menos vontade de comer, o indiv�duo queime o tecido adiposo quando faz atividade f�sica.
Em um estudo pr�-cl�nico, realizado com camundongos, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Stanford e do Col�gio de Medicina Bayler, nos Estados Unidos, identificaram uma mol�cula na corrente sangu�nea, produzida durante o exerc�cio f�sico, que foi capaz de reduzir a ingest�o de alimentos e a obesidade nos animais. Segundo os autores do artigo, publicado na revista Nature, a descoberta ajuda a compreender melhor os mecanismos fisiol�gicos envolvidos no bin�mio atividade f�sica e fome.
"Foi comprovado que o exerc�cio regular ajuda na perda de peso, regula o apetite e melhora o perfil metab�lico, especialmente para pessoas com sobrepeso e obesidade", afirmou, em nota, Yong Xu, coautor do estudo e professor de nutri��o e biologia molecular e celular de Baylor. "Se pudermos entender o mecanismo pelo qual o exerc�cio desencadeia esses benef�cios, estaremos mais perto de ajudar muitas pessoas a melhorar sua sa�de." Em um mundo cada vez mais pesado, a estimativa da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) � que, daqui a tr�s anos, 2,3 bilh�es de adultos estejam acima do peso, sendo que 700 milh�es deles ter�o obesidade m�rbida.
Metabolismo
Na pesquisa, os cientistas analisaram compostos no sangue dos camundongos depois de os animais correrem em uma esteira. Nas amostras, uma mol�cula se destacou: a Lac-Phe, um amino�cido sintetizado a partir do lactato, aquele composto que d� sensa��o de queima��o no m�sculo durante a atividade f�sica, e da fenilalanina, um dos blocos construtores das prote�nas.
Os animais foram divididos em grupos, sendo parte deles alimentada com uma dieta rica em gordura para a indu��o da obesidade. Eles tamb�m receberam uma dosagem alta de Lac-Phe. O resultado � que, em compara��o aos camundongos de controle, a mol�cula suprimiu a ingest�o de alimentos por 12 horas em 50%. "O interessante � que a administra��o do produto diminuiu a adiposidade sem afetar o metabolismo", avaliou Jo�o Lindolfo Borges, membro Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e presidente da se��o DF da institui��o, referindo-se � "sabotagem" do organismo quando se tenta emagrecer com atividades f�sicas.
Segundo os pesquisadores, a Lac-Phe tamb�m foi detectada pela equipe em n�veis elevados no sangue de humanos e cavalos de corrida, ap�s a pr�tica de atividade f�sica. No caso dos primeiros, exerc�cios de resist�ncia foram os que mais induziram a eleva��o da enzima. "Nossos pr�ximos passos incluem encontrar mais detalhes sobre como a Lac-Phe medeia seus efeitos no corpo, incluindo o c�rebro, para interven��es terap�ucias", ressaltou Xu.
O endocrinologista Jo�o Lindolfo Borges lembra, por�m, que o caminho at� l� ser� longo. "� um estudo muito promissor, mas feito em animais. N�o se sabe se os resultados ser�o extrapolados para seres humanos", disse. "Mas, considerando que passe pelas fases de pesquisa, at� chegar �s prateleiras das farm�cias ser�o de oito a 10 anos", estimou. Segundo o m�dico, � preciso investir em mais pesquisas que resultem em novos medicamentos para tratar um mal que, de acordo com a OMS, pode ser considerado uma pandemia.