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Estado de Minas REDES CEREBRAIS

Como drogas psicod�licas podem tratar depress�o

Psilocibina � um alucin�geno que altera a rea��o do c�rebro a serotonina, e, quando decomposta pelo f�gado, causa um estado alterado nos usu�rios


27/06/2022 07:12 - atualizado 27/06/2022 07:50

Cogumelo mágico
Pesquisadores, incluindo brasileiros, v�m investigando como tratar depress�o e depend�ncia qu�mica com drogas alucin�genas (foto: Science Photo Library)

Os cogumelos alucin�genos s�o uma promessa de benef�cios para a medicina, mas s� agora estamos come�ando a entender como eles poder�o ajudar no tratamento da depress�o.

At� 30% das pessoas com depress�o n�o reagem ao tratamento com antidepressivos. Isso pode ocorrer devido a diferen�as biol�gicas entre os pacientes e porque, muitas vezes, a rea��o �s drogas demora muito tempo — o que leva algumas pessoas a desistir do tratamento.

Por isso, � urgente a necessidade de ampliar o conjunto de drogas dispon�veis para tratar as pessoas com depress�o.




Nos �ltimos anos, a aten��o voltou-se aos psicod�licos, como a psilocibina — composto ativo dos "cogumelos m�gicos".

Apesar de uma s�rie de exames cl�nicos ter demonstrado que a psilocibina pode tratar rapidamente a depress�o, incluindo em pacientes com c�ncer, pouco se sabe sobre como essa subst�ncia age diretamente no c�rebro.

Mas dois estudos recentes, publicados nas revistas cient�ficas The New England Journal of Medicine e na Nature Medicine, esclareceram um pouco sobre esse misterioso processo.

A psilocibina � um alucin�geno que altera a rea��o do c�rebro a uma subst�ncia chamada serotonina. Quando decomposta pelo f�gado (em "psilocina"), ela causa um estado alterado de consci�ncia e percep��o nos usu�rios.

 

Estudos anteriores, usando imagens por resson�ncia magn�tica funcional (RMF) do c�rebro, demonstraram que a psilocibina aparentemente reduz a atividade do c�rtex pr�-frontal medial, uma �rea do c�rebro que ajuda a regular uma s�rie de fun��es cognitivas, incluindo a aten��o, o controle da inibi��o, os h�bitos e a mem�ria. O composto tamb�m reduz as conex�es entre essa regi�o e o c�rtex cingulado posterior, que pode participar da regulagem da mem�ria e das emo��es.

A conex�o ativa entre essas duas regi�es do c�rebro normalmente � uma caracter�stica da "rede de modo padr�o" do c�rebro. Essa rede fica ativa quando repousamos e nos concentramos internamente, talvez relembrando o passado, idealizando o futuro ou pensando sobre n�s mesmos ou sobre outras pessoas.

Ao reduzir a atividade da rede, a psilocibina pode muito bem estar removendo as restri��es do "eu" interno. Existem usu�rios que relatam terem ficado com a "mente aberta", com maior percep��o do mundo � sua volta.

� interessante observar que a rumina��o mental — o estado de ficar "preso" em pensamentos negativos, especialmente sobre si pr�prio — � um marco caracter�stico da depress�o. E sabemos que pacientes com n�veis mais altos de rumina��o negativa tendem a exibir maior atividade da rede de modo padr�o (RMP, do ingl�s Default Mode Network), em compara��o com outras redes em repouso. Eles passam literalmente a reagir menos ao mundo � sua volta.

Mas ainda � preciso observar se s�o os sintomas da depress�o que causam essa altera��o da atividade ou se as pessoas com rede de modo padr�o mais ativa s�o mais propensas � depress�o.

A evid�ncia mais convincente de como funciona a psilocibina vem de um estudo aleatorizado duplo-cego (o padr�o-ouro dos estudos cl�nicos), que comparou um grupo de pessoas com depress�o tratadas com psilocibina com outro que recebeu o antidepressivo existente escitalopram — algo que nunca havia sido tentado antes.

O exame foi ainda analisado utilizando imagens de RMF do c�rebro e os resultados foram comparados com as conclus�es de RMF de outro exame cl�nico recente.


Conectividade cerebral
Conex�es entre diferentes regi�es do c�rebro aumentaram em pacientes com depress�o que tomaram psilocibina (foto: Getty Images)

Apenas um dia depois da primeira dose de psilocibina, as medi��es de RMF revelaram um aumento geral da conectividade entre as diversas redes cerebrais, que s�o tipicamente reduzidas nas pessoas com depress�o profunda. E a rede de modo padr�o foi simultaneamente reduzida, enquanto a conectividade entre ela e as outras redes aumentou, confirmando estudos menores anteriores.

A subst�ncia causou maior aumento da conectividade em algumas pessoas do que em outras. Mas os estudos demonstraram que as pessoas com maior aumento da conex�o entre as redes tamb�m apresentaram uma melhoria significativa dos sintomas seis meses depois.

J� o c�rebro das pessoas que tomaram escitalopram n�o exibiu altera��o da conectividade entre o modo padr�o e as outras redes cerebrais seis semanas ap�s o in�cio do tratamento. � poss�vel que esse medicamento possa trazer altera��es mais tarde, mas o r�pido in�cio dos efeitos antidepressivos da psilocibina significa que ela pode ser ideal para as pessoas que n�o reagem aos antidepressivos existentes.

O estudo prop�e que o efeito observado possa ocorrer porque a psilocibina apresenta a��o mais concentrada que escitalopram sobre os receptores do c�rebro conhecidos como "receptores de 5-HT2A seroton�rgicos". Esses receptores s�o ativados pela serotonina e s�o ativos ao longo de todas as regi�es cerebrais em rede, incluindo a rede de modo padr�o.

J� sabemos que o n�vel de liga��o desses receptores � psilocibina causa efeitos psicod�licos, mas a forma exata em que essa ativa��o gera mudan�as da conectividade de rede ainda aguarda ser explorada.

O fim dos antidepressivos tradicionais?

Essas conclus�es levantam a quest�o se a altera��o da atividade das redes cerebrais � necess�ria para o tratamento da depress�o.

Muitas pessoas que tomam antidepressivos tradicionais ainda relatam melhora dos seus sintomas sem ela. E, de fato, o estudo demonstrou que, seis semanas ap�s o in�cio do tratamento, os dois grupos manifestaram redu��o dos sintomas.

Segundo algumas escalas de avalia��o da depress�o, a psilocibina apresentou maior efeito sobre o bem-estar mental geral. E uma maior parcela dos pacientes tratados com psilocibina exibiu rea��o cl�nica, em compara��o com os tratados com escitalopram (70% contra 48%).

Al�m disso, mais pacientes no grupo de psilocibina ainda apresentaram redu��o dos sintomas ap�s seis semanas (57% contra 28%). O fato de alguns pacientes n�o responderam � psilocibina ou terem tido reca�da ap�s o tratamento apenas demonstra como pode ser dif�cil o tratamento da depress�o.


Cogumelos alucinógenos colombianos
Psilocibina � um composto presente em cogumelos alucin�genos (foto: Getty Images)

Outro ponto importante � que profissionais de sa�de mental assistiram os dois grupos de tratamento durante e ap�s o estudo. O sucesso da psilocibina depende muito do ambiente em que ela � administrada. Ou seja, us�-la para automedica��o � uma m� ideia.

Al�m disso, os pacientes para a terapia assistida por psilocibina foram cuidadosamente selecionados com base no seu hist�rico, para evitar o risco de psicose e outros efeitos prejudiciais.

Independentemente das ressalvas, esses estudos s�o incrivelmente promissores e podem ampliar as op��es de tratamento dispon�veis para pacientes com depress�o. E os processos de pensamento negativo internalizados n�o s�o espec�ficos da depress�o. No devido tempo, outros dist�rbios, como o v�cio e a ansiedade, podem tamb�m beneficiar-se da terapia assistida por psilocibina.

*Clare Tweedy � professora de neuroci�ncias da Universidade de Leeds, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado sob licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original (em ingl�s).

'Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-61760572'

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