
Quatro vezes diagnosticada com c�ncer em um intervalo de oito anos. Diante de tantas prova��es, indagada sobre o que � a vida, a artes� Joana D’arc Thibau n�o titubeia: “A vida � agradecer a Deus por mais um dia que se inicia, pelo meu respirar, pelo marido que Ele me presenteou e pela oportunidade de renovar minhas for�as”.
�s vezes, diante de um diagn�stico t�o terr�vel, no af� de ajudar, as pessoas usam frases de efeito que, �s vezes, podem se tornar uma press�o, de ter que lutar e vencer a doen�a. Mas em cada diagn�stico, cada consulta, cada sess�o do tratamento, Joana enfatiza que n�o vivenciou nenhuma press�o. “Dentro de mim, j� busco a convic��o pela f� de que tudo vai passar. Embora sempre deixe claro que, se em algum momento me sentir triste, desanimada, tenho esse direito, mas nunca aconteceu.”
Leia tamb�m: Sobreviventes do c�ncer: H� muito o que comemorar
Ap�s cada obst�culo superado, a artes� revela que seguir em frente � sonhar e vislumbrar o futuro, sem trazer para o presente qualquer pensamento negativo. “De cada momento em que precisei travar batalhas, procurei encontrar algo de positivo. E, sim, sempre sa�mos mais fortes e unidos, tanto o J�lio quanto eu.”
E como � ser um sobrevivente? O que � preciso ter para encarar tudo que ela passou? “Em primeiro lugar, � manter a f� em Deus elevada, sem olhar para as circunst�ncias. Imaginar-se j� curada e n�o ficar buscando informa��es no ‘dr. Google’, porque nem todas conv�m, mesmo porque cada pessoa tem experi�ncias diferentes durante o tratamento”, recomenda.
AMOR Um dos respons�veis por acompanhar a trajet�ria de Joana, o oncologista Charles P�dua, do corpo cl�nico da Cetus Oncologia, afirma que, apesar de ainda n�o existirem trabalhos cient�ficos que relacionem o amor como uma das causas da cura de um c�ncer, ele traz impactos positivos no caminho at� um bom progn�stico. “O amor verdadeiro � um sentimento forte, inexplic�vel e universal. Quando uma pessoa � acolhida pelo parceiro, pelos amigos ou entes queridos, ela se sente determinada a enfrentar uma doen�a como o c�ncer, por exemplo.”
Mas Charles P�dua ressalta que o tema n�o pode ser excessivamente romantizado. “A caminhada rumo � cura de um c�ncer envolve n�o s� as trocas positivas como tamb�m as negativas: compartilham-se medos, ang�stias e sofrimentos. Quando os envolvidos est�o alinhados nesse processo e servindo de apoio um para o outro, os dias dif�ceis ficam menos penosos.”
Vontade de viver

"A ficha caiu quando me deparei com meu oncologista"
D�bora Penido Correa, rela��es-p�blicas e concierge
A medicina paliativa tem um papel fundamental no tratamento de pacientes com c�ncer. Ela n�o � empregada apenas durante a terminalidade da vida, vai al�m disso, auxiliando tamb�m em doen�as curativas. E � primordial na experi�ncia dos pacientes durante essa jornada, que segue ao longo da vida, mesmo curado. Um cuidado que envolve n�o s� a aten��o multidisciplinar, mas o acolhimento da fam�lia.
A rela��es-p�blicas e concierge D�bora Penido Correa, de 42 anos, revela que recebeu o diagn�stico de c�ncer de mama em maio de 2019. “Devido ao hist�rico familiar de c�ncer de mama (irm� e tia), voc� acaba conhecendo alguns c�digos. Quando peguei a mamografia e vi n�vel 5, pensei: ‘N�o pode ser verdade, isso deve ser um pesadelo’. Mas a ficha caiu, quando me deparei com meu oncologista e diante do t�o terr�vel tratamento, s� pensava: ‘N�o quero morrer, perder a minha mama, meu cabelo, minha vida.”
Medo, apreens�o, ang�stia e lembran�as dolorosas tomaram conta de D�bora: “Eu me vi diante da mesma hist�ria vivida pela minha irm�, que morreu em 2020, em decorr�ncia do c�ncer de mama, met�stase �ssea, uma perda imensur�vel. E minha tia. Muito sofrimento: minha irm� descobriu em 2017, minha tia em 2018, e eu em 2019, surreal. Pensei: ‘Como vou falar para todos da minha fam�lia’... uma dura verdade que eu n�o queria aceitar”.
Diante do desafio, da incerteza e da realidade que a vida lhe apresentava, D�bora comenta que tinha duas op��es: se entregar � doen�a ou querer viver. “E confesso que eu queria muito viver pela minha fam�lia, minha filha, meu marido, minha m�e. Eles foram a minha maior for�a durante as duras quimioterapias, enjoos, implanta��o de cateter, cirurgias, radioterapia. N�o parei de trabalhar, tentei continuar de forma normal minha vida, mesmo com algumas limita��es que os efeitos colaterais causavam. Tenho enorme gratid�o pelo oncologista e toda a equipe, que fazem toda a diferen�a no tratamento. Chegamos t�o abalados, com medo do que vai acontecer, e eles conseguem nos acalmar mesmo diante de tanta dor.”
Vencida a luta, o medo e o sofrimento, D�bora continua se agarrando � vida, ao desejo de n�o desperdi�ar nenhum instante e, fundamentalmente, seguir em frente. E como se faz isso? “Olhar para tr�s e pensar: ‘Eu consegui’. � a melhor sensa��o da vida, costumo dizer que das minhas cicatrizes nasceram asas e s� quero ser feliz, viver cada instante. Mesmo tendo que repetir exames de tr�s em tr�s meses, medica��o oral por 10 anos, � como se um fantasminha rondasse nesse per�odo. Volta tudo na minha cabe�a. F�cil n�o foi, mas sobrevivi e sigo com as marcas da minha vit�ria.”
Fique por dentro
>> A publica��o “Estimativa 2020: incid�ncia de c�ncer no Brasil”, do Instituto Nacional de C�ncer Jos� Alencar Gomes da Silva (INCA), apresenta a estimativa de novos casos de c�ncer para o tri�nio 2020-2022 e oferece uma an�lise global sobre a magnitude e a distribui��o dos principais tipos de c�ncer por sexo, para o Brasil, regi�es geogr�ficas, estados, capitais e o Distrito Federal.
>> Essas informa��es fornecem subs�dios para monitorar e avaliar as a��es de controle da doen�a. O c�ncer � o principal problema de sa�de p�blica no mundo e j� est� entre as quatro principais causas de morte prematura (antes dos 70 anos) na maioria dos pa�ses.
>> A mais recente estimativa mundial, ano 2018, aponta que ocorreram no mundo 18 milh�es de casos novos de c�ncer (17 milh�es sem contar os casos de c�ncer de pele n�o melanoma) e 9,6 milh�es de �bitos (9,5 milh�es excluindo os c�nceres de pele n�o melanoma). O c�ncer de pulm�o � o mais incidente no mundo (2,1 milh�es) seguido pelo c�ncer de mama (2 milh�es), c�lon e reto (1,8 milh�o) e pr�stata (1,3 milh�o). Para o Brasil, a estimativa para cada ano do tri�nio 2020-2022 aponta que ocorrer�o 625 mil novos casos de c�ncer (450 mil, excluindo os casos de c�ncer de pele n�o melanoma).
>> O c�ncer de pele n�o melanoma ser� o mais incidente (177 mil), seguido pelos c�nceres de mama e pr�stata (66 mil cada), c�lon e reto (41 mil), pulm�o (30 mil) e est�mago (21 mil).
Os tipos de c�ncer mais frequentes de 2020-2022*
Em homens... exceto o c�ncer de pele n�o melanoma
1 – Pr�stata (29,2%)
2 – C�lon e reto (9,1%)
3 – Pulm�o (7,9%)
4 – Est�mago (5,9%)
5 – Cavidade oral (5%)
Em mulheres... exceto o c�ncer de pele n�o melanoma
1 – Mama (29,7%)
2 – C�lon e reto (9,2%)
3 – Colo do �tero (7,4%)
4 – Pulm�o (5,6%)
5 – Tireoide (5,4%)