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Estado de Minas COVID

Brasil participa de estudo global que busca tratamento barato para covid

Pesquisadores e pacientes brasileiros far�o parte de pesquisa cl�nica internacional do cons�rcio Anticov em pa�ses pobres


05/07/2022 14:00 - atualizado 05/07/2022 14:00

Foto colorida mostra pessoas paramentadas com itens de segurança entrevistando uma mulher sentada
Plataforma brasileira Together Trial recrutou pacientes para pesquisa em 21 locais de Minas Gerais (foto: CardResearch)
O primeiro rem�dio para tratamento da COVID-19 foi aprovado pela Anvisa (Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria) em mar�o de 2021, cerca de um ano depois do in�cio da pandemia — um tempo recorde em termos de pesquisa, produ��o e aprova��o de medicamentos.

Esse primeiro medicamento foi o Rendesivir, da farmac�utica Gilead, um tipo de antiviral (que dificulta a replica��o de v�rus dentro do corpo) de uso hospitalar. Hoje, j� s�o seis rem�dios contra o coronav�rus ou seus efeitos aprovados pela ag�ncia para pacientes e situa��es espec�ficas (veja na lista abaixo) — e nenhum deles deve ser tomado sem indica��o m�dica.

A OMS (Organiza��o Mundial de Sa�de) tamb�m tem quatro medicamentos pr�-aprovados para o tratamento de covid.

No entanto, os medicamentos que tiveram resultados positivos nas pesquisas e foram recomendados pela OMS t�m pre�os elevados e n�o est�o amplamente dispon�veis no mundo todo. O mesmo vale para rem�dios aprovados pela Anvisa — medicamentos como o Sotrovimabe e o Paxlovid s�o caros e pouco acess�veis.

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Pensando nisso, 27 organiza��es de sa�de internacionais e institui��es de pesquisa renomadas se uniram para fazer um grande estudo cl�nico, o ANTICOV, cujo objetivo � identificar tratamentos baratos e acess�veis, que possam ser usados no mundo todo — incluindo em pa�ses e regi�es com recursos limitados.

"� uma coaliza��o internacional de pesquisa, uma plataforma de pesquisa pr�-cl�nica e cl�nica para pa�ses de baixa renda e meia renda. Iniciamos na �frica e agora temos tamb�m a colabora��o do Brasil", afirma Sergio Sosa, diretor da DNDI (Drugs for Neglected Diseases Initiative, em ingl�s), iniciativa que ajudou a criar e coordena o cons�rcio ANTICOV.

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O estudo tem diversas fases — cada uma testando medicamentos diferentes — e acontece simultaneamente em 13 pa�ses africanos. A nova fase do estudo ter� participa��o do Brasil atrav�s do Together Trial, plataforma brasileira que se une ao ANTICOV e vai coordenar a pesquisa cl�nica no pa�s. At� 600 pacientes brasileiros devem participar da pesquisa, que ser� realizada em 21 locais diferentes — majoritariamente no SUS (Sistema �nico de Sa�de) — e ter� a participa��o de dezenas de pesquisadores e m�dicos.

Sosa afirma ser extremamente importante que as pesquisas de medicamentos sejam realizadas nos pa�ses em desenvolvimento, pois isso agiliza a disponibiliza��o dos rem�dios para a popula��o.

"At� pouco tempo atr�s, 90% das pesquisas eram no norte global (pa�ses ricos como EUA ou pa�ses da Europa). Agora temos a colabora��o entre os pa�ses do sul global que, al�m de adequar as pesquisas para essas popula��es, reduz o tempo para o acesso ao medicamento", diz o diretor da DNDI.

Isso porque quando uma pesquisa cl�nica � autorizada e acompanhada pelo comit� �tico e pela ag�ncia reguladora de um pa�s, todos os processos s�o mais r�pidos: a apresenta��o dos resultados, sua an�lise, a discuss�o com o Minist�rio da Sa�de, a recomenda��o.

"Quando a pesquisa vem de fora, por mais que tenha sido aprovada pela OMS ou pelas ag�ncias americanas e europeias, a ag�ncia reguladora vai precisar fazer sua pr�pria an�lise — que vai come�ar do come�o e demorar mais", afirma Sosa.


Fotografia colorida mostra mulher branca de cabelo castanho, de máscara, em cama de hospital
V�rios dos tratamentos dispon�veis hoje t�m uso restrito a hospitais (foto: Getty Images)

Plataforma de pesquisa brasileira

O grupo brasileiro que participa do cons�rcio ANTICOV � o Together Trial, uma iniciativa de pesquisadores de Minas Gerais que come�ou em junho de 2020, inicialmente para testar rem�dios em pacientes em hospitais e que depois evoluiu para testes em pacientes ambulatoriais. Sem conseguir recursos no Brasil, os pesquisadores conseguiram financiamento atrav�s de uma parceria com a McMaster University, no Canad�, e de uma bolsa Universidade de Washington, nos EUA.


O grupo foi respons�vel pela cria��o de um protocolo para pesquisa cl�nica contra covid-19 e pelo estudo brasileiro que demonstrou em outubro de 2020 que a hidroxicloroquina n�o funcionava no tratamento da COVID. O estudo foi publicado em abril de 2021.

"O estudo foi um sucesso e fomos demandados por diversas institui��es internacionais, ent�o criamos uma nova plataforma, que passou a se chamar Together Trial, para um estudo adaptativo de medicamentos para tratamento da fase inicial de covid", explica o pesquisador Gilmar Reis, l�der da pesquisa e professor de medicina da PUC-Minas.

"Em vez de diversos estudos, temos uma plataforma que � um �nico estudo, com o mesmo protocolo, onde entram e saem medicamentos", afirma Reais. O teste de um desses medicamentos resultou na publica��o de um paper na renomada revista Lancet, em outubro de 2021.

A plataforma j� fez triagem de 25 mil pessoas e teve a participa��o de mais de 6 mil pacientes. Seus estudos mostraram tamb�m a inefic�cia do uso da metformina e da ivermectina contra covid.

Ao se unir ao ANTICOV, o Together Trial ser� respons�vel pela realiza��o da pesquisa de um dos bra�os do cons�rcio no Brasil. Essa nova fase vai come�ar testando a efic�cia contra a COVID-19 de uma nova combina��o de medicamentos com a��o antiinflamat�ria — ambos amplamente dispon�veis, seguros e j� usados no Brasil.

Uma dessas subst�ncias que ser� testada � da mesma classe da fluvoxamina, um dos medicamentos j� testados pelo Together e cuja pesquisa teve resultados positivos — mas que ainda n�o foi aprovado pela Anvisa e n�o � indicado para uso nos pacientes.

"A fluvoxamina � um rem�dio antidepressivo que tamb�m tem um mecanismo de a��o que bloqueia o processo inflamat�rio do corpo", explica Reis.

Em muitos dos casos de COVID, o agravamento do quadro � resultado de rea��o imunol�gica exagerada do corpo — e essa subst�ncia atua no in�cio desse processo. A expectativa � que os dois medicamentos que ser�o testados em conjunto tamb�m sejam capazes de interromper esse processo inflamat�rio.

"Hoje, em julho de 2022, sabemos que o efeito redutor de eventos graves da fluvoxamina � o mesmo do antiviral Molnupiravir, mas nenhuma farmac�utica requisitou � Anvisa sua aprova��o. E n�s pesquisadores n�o vamos submeter isso � Anvisa, nosso interesse n�o � comercial."

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A nova combina��o que ser� pesquisada pelo ANTICOV no Brasil ser� testada em pacientes no in�cio da doen�a, que n�o estejam hospitalizadas. Espera-se que os medicamentos diminuam os casos de agravamento e hospitaliza��o, explica Reis. Se o resultado for positivo, a grande vantagem dos rem�dios � seu pre�o e sua disponibilidade.

Ainda n�o se sabe se a combina��o tamb�m pode ter o efeito de diminuir a incid�ncia da chamada "covid longa", ou seja, quando sintomas da doen�a perduram por meses em alguns pacientes.

"Essa � uma quest�o central que ainda precisa ser estudada mais a fundo."

Para Sergio Sosa, da DNDI, a inclus�o dos brasileiros na pesquisa agrega conhecimento e tecnologia e permite dar consist�ncia aos resultados.

"O conhecimento isolado em ci�ncia n�o � suficiente. � importante, mas n�o � suficiente. Procuramos demonstrar consist�ncia, que � a repeti��o de resultado similar por grupos independentes em diferentes contextos", explica.


Homem sendo vacinado no Sudão
Al�m do Brasil, cons�rcio ANTICOV faz pesquisa em 13 pa�ses da �frica (foto: Getty Images)

Tratamento e vacina

Diferentemente da vacina��o, que � um medicamento preventivo e tem objetivo de preparar o sistema imunol�gico do corpo para evitar a contamina��o, os tratamentos com medicamentos s�o administrados durante o desenvolvimento da doen�a, ap�s a contamina��o. O objetivo � combater o v�rus e evitar o agravamento da doen�a.

Os tratamentos n�o substituem a vacina��o — segundo a Anvisa, a vacina��o continua sendo a melhor forma de evitar a covid-19 grave, hospitaliza��es e �bitos. Iniciada no Brasil no come�o do ano passado, mudou decisivamente a evolu��o da pandemia, com uma enorme diminui��o na transmiss�o, nos casos graves e na mortalidade da doen�a.

No entanto, tratamentos ainda s�o necess�rios, explica Reis, porque "ainda temos um contingente importante de pessoas que ao adquirir o covid-19, mesmo vacinados, desenvolvem a resposta inflamat�ria grave, muitas vezes interferem e muitas vezes acabam perdendo a vida."

"Mesmo na popula��o vacinada, a taxa de mortalidade ainda � cinco ou seis vezes a mortalidade da Influenza (o v�rus da gripe). Ainda � uma doen�a muito grave", afirma.

Al�m disso, o coronav�rus t�m grande capacidade de muta��o, e regi�es do mundo onde n�o h� vacina��o da maior parte da popula��o funcionam como local de surgimento de novas cepas.

Reis explica tamb�m que os pacientes n�o devem se automedicar com nenhum dos medicamentos testados contra a covid — e nem mesmo os aprovados pela Anvisa, que devem ser indicados pelos m�dicos.

"Cada medicamento � testado em um cen�rio diferente, funciona para certos p�blicos, e em momentos diferentes do desenvolvimento da doen�a. A indica��o pelo m�dico � necess�ria, pois eles avaliam se o paciente se encaixa em alguma dessas situa��es", destaca o pesquisador.

Tratamentos dispon�veis contra COVID-19 no Brasil

Na maioria dos casos, o tratamento contra o covid, explica a OMS, � feito atrav�s do cuidado paliativo dos sintomas — e o pr�prio corpo combate o v�rus e se recupera da doen�a. Em casos de pacientes com riscos, no entanto, podem ser indicados tratamentos contra a covid-19 que ajudam a evitar o agravamento dos casos.

H� tr�s tipos de medicamentos dispon�veis hoje para tratamento de covid: os antivirais, que dificultam a reprodu��o do v�rus dentro do corpo; os anti-inflamat�rios, que cont�m rea��es exageradas e potencialmente letais do nosso sistema imunol�gico e terapias de anticorpos monoclonais, que imitam o sistema imunol�gico para atacar o v�rus.

No momento, h� seis* rem�dios para tratamento contra covid-19 aprovados pela Anvisa:

  • Rendesivir - produzido pela farmac�utica Gilead, � um antiviral injet�vel e de uso hospitalar. � destinado no Brasil a pacientes com pneumonia que precisam de suplementa��o de oxig�nio, mas que n�o est�o sob ventila��o artificial.
  • Paxlovid (nirmatrelvir + ritonavir) - antiviral oral da Wyeth/Pfizer, indicado como tratamento precoce para pessoas com maior risco de ter covid-19 grave. Deve ser tomado assim que poss�vel dentro de cinco dias de in�cio dos sintomas. A pesquisa que mostrou alta redu��o na taxa de hospitaliza��o foi feita com pessoas n�o vacinadas, por isso o paciente deve discutir com seu m�dico se h� vantagem para o seu caso.
  • Molnupiravir - antiviral da farmac�utica MSD (Merck Sharp & Dohme), foi o rem�dio aprovado mais recentemente. Deve ser indicado por um m�dico e � destinado principalmente a pacientes com quadros leves e moderados e com risco de agravamento. Tamb�m deve ser tomado via oral dentro de cinco dias do in�cio dos sintomas.
  • Sotrovimabe - anticorpos monoclonais da GSK de uso restrito a hospitais. Indicado pela anvisa para pessoas com covid-19 leve a moderada, mas que est�o em risco de progress�o para o est�gio grave da doen�a. No servi�o de sa�de brit�nico, costuma ser administrado como transfus�o para receptores de transplantes, pacientes com c�ncer e outros grupos de alto risco.
  • Baricitinibe - anti-inflamat�rio recomendado pela OMS para pacientes graves; e autorizado pela Anvisa para uso em pacientes adultos hospitalizados que "necessitam de oxig�nio por m�scara ou cateter nasal, ou que necessitam de alto fluxo de oxig�nio ou ventila��o n�o invasiva".
  • Evusheld (cilgavimabe + tixagevimabe) - tratamento injet�vel da AstraZeneca com anticorpos monoclonais indicado como profilaxia (ou seja, deve ser tomado antes da exposi��o � covid-19) para pessoas com comprometimento imunol�gico moderado a grave ou em tratamento com imunossupressores. A Anvisa destaca que a profilaxia com Evulshed n�o substitui a vacina��o para indiv�duos em que a vacina��o � recomendada.

*outros tr�s rem�dios chegaram a ser aprovados, mas tiveram uso suspenso ou revogado.

Fontes: Anvisa, OMS, NHS, GSK, MSD, Pfizer, Gilead, AstraZeneca.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62047495

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