Mais de 80% dos eventos que afetam cora��o e c�rebro podem ser evitados com um estilo de vida saud�vel (foto: pixi.org/reprodu��o)
Dormir bem � t�o importante para o cora��o e o c�rebro quanto n�o fumar, fazer exerc�cios f�sicos, controlar o colesterol e a press�o arterial, entre outros. Uma nova diretriz da Associa��o Norte-Americana do Cora��o (AHA) incluiu os padr�es de sono entre os fatores de risco para enfermidades como infarto e acidente vascular cerebral. Em um artigo publicado na revista Circulation, a diretoria do colegiado, que influencia sociedades m�dicas de todo o mundo, considera que, ap�s 12 anos de avalia��es e 2,4 mil pesquisas cient�ficas sobre o tema, a rela��o entre a qualidade do descanso noturno e a sa�de cardiovascular est� bem estabelecida.
H� 12 anos, a AHA elaborou uma lista de medidas essenciais para evitar doen�as cardiovasculares que, at� ent�o, se chamava Life's Simple 7 . Com a atualiza��o, as estrat�gias sobem para oito. (Veja arte.) De acordo com a associa��o, nas duas �ltimas d�cadas, estudos determinaram que mais de 80% dos eventos que afetam cora��o e c�rebro podem ser evitados por um estilo de vida saud�vel. Isso inclui dormir o suficiente e com regularidade.
"Cada pessoa tem seu tempo e padr�o de sono, mas dormir menos de sete horas por noite, se deitar depois de 0h e acordar antes das 4h ou depois das 9h j� � considerado patol�gico", aponta o otorrinolaringologista Jos� Netto, especialista em medicina do sono. "A nova m�trica da dura��o do sono (de sete a nove horas) reflete as �ltimas descobertas cient�ficas: o sono afeta a sa�de geral, e as pessoas que t�m padr�es mais saud�veis gerenciam indicadores de sa�de, como peso, press�o arterial ou risco de diabetes tipo 2, de forma mais eficaz", disse, em nota, o presidente da AHA, Donald M. Lloyd-Jones.
As doen�as cardiovasculares s�o as que mais matam no Brasil e no mundo e est�o associadas a uma s�rie de fatores de risco. Excetuando o hist�rico familiar, os agentes que influenciam a sa�de do cora��o e do c�rebro s�o relacionados a estilo de vida e, portanto, modific�veis. Por isso, m�dicos insistem na import�ncia da higiene do sono: medidas como se deitar e levantar nos mesmos hor�rios, evitar bebidas alco�licas e refei��es pesadas � noite, desligar o celular e n�o assistir � TV na cama.
Mesmo no caso de ronco e apneia do sono — quando h� uma interrup��o da respira��o por mais de 10 segundos —, � poss�vel reverter os sintomas com algumas interven��es simples. Segundo Jos� Netto, a apneia aumenta em 12 vezes o risco de evento cardiovascular e pode ser evitada combatendo tabagismo e obesidade, que tamb�m s�o fatores de risco para infarto e derrame cerebral. Em casos que envolvem disfun��es anat�micas, cirurgias ou uso de aparelhos podem fazer a corre��o. "O importante � n�o ignorar a apneia nem o ronco. O impacto na sa�de � muito grande", destaca.
OLHAR INTEGRAL Exaustivamente estudada, a rela��o entre qualidade do sono e risco de enfermidades — n�o s� cardiovasculares — tem m�ltiplas explica��es. As pesquisas que encontraram a associa��o s�o observacionais, ou seja, n�o estabelecem causa e efeito. Por�m, Antonio Carlos Chagas, cardiologista do Hcor, em S�o Paulo, explica que processos fisiol�gicos desencadeados pela falta do repouso adequado podem comprometer a sa�de do cora��o e do c�rebro. "Por exemplo, pessoas com apneia, especialmente obesos e hipertensos, t�m n�veis de oxig�nio alterados. Sem dormir, acorda-se cansado e irritado, o que pode produzir arritmias", diz.
Chagas explica que a inclus�o do padr�o de sono nas diretrizes da AHA indica que, sozinho, esse fator j� aumenta o risco de doen�as cardiovasculares. Por�m, o cardiologista lembra que um ac�mulo de vulnerabilidades, como tamb�m fumar, ter excesso de peso, diabetes 2, colesterol elevado ou hipertens�o, � ainda mais perigoso. "O conjunto � muito importante. Mas, sozinha, a qualidade do sono tamb�m fornece uma pista importante para que se possa pensar em preven��o", diz o m�dico, destacando que a publica��o norte-americana tem um car�ter especialmente educativo.
Para Luciano Drager, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o principal m�rito da publica��o da AHA � olhar para o paciente como um todo, apontando que diferentes aspectos da rotina, como h�bitos alimentares, atividade f�sica e padr�o de sono, influenciam a sa�de cardiovascular. "Quando se controlam os v�rios fatores de risco, maior a longevidade", afirma. Drager, que preside a Associa��o Brasileira do Sono (ABS), diz que a amplia��o das medidas protetivas proposta pelo colegiado norte-americano valoriza a import�ncia do dormir bem.
Em 2018, o m�dico foi o primeiro autor de um artigo publicado na revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia defendendo a import�ncia da qualidade do sono na sa�de cardiovascular. "Muitas pessoas, especialmente as mais jovens, pensam que dormir � perda de tempo. Na verdade, a priva��o do sono influencia na qualidade e na quantidade de vida", ressalta Drager.
palavra de especialista
Carlos Rassi
Professor de cardiologia na Unb e chefe do Pa do S�rio-Liban�s, em BSB
Sono deve fazer parte do checape
"O que os estudos t�m observado � que infartos e acidentes vasculares cerebrais s�o mais comuns em pessoas com sono irregular e n�o restaurador. J� se sabe que a incid�ncia dessas duas condi��es � maior no per�odo matutino, e isso tem a ver com o ciclo circadiano. De manh�, h� maior libera��o de cortisol, com aumento da press�o arterial. O sono irregular altera o ciclo circadiano. N�o se sabe ainda se tem uma rela��o de causa e efeito, mas h�, sim, uma eleva��o do risco card�aco. Nos consult�rios, a an�lise do sono tem de ser feita rotineiramente. Os m�dicos precisam tocar no assunto, entender a rotina de sono do paciente e orient�-lo a fazer uma higiene do sono: dormir e acordar nos mesmos hor�rios e, quando for dormir, n�o ficar olhando celular, televis�o etc."
O risco ligado ao uso de cigarros eletr�nicos entrou na nova lista (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press )
Diretriz ajustada a novos h�bitos
A publica��o da Associa��o Americana do Cora��o (AHA) tamb�m atualizou diretrizes preexistentes, al�m de incluir o padr�o de sono como m�trica de vida saud�vel. Entre elas est� a inclus�o dos cigarros eletr�nicos como fator de risco cardiovascular. "Em 2010, quando foi feita a primeira publica��o, s� se falava na nicotina, porque o cigarro eletr�nico n�o existia. Mas os estudos mostram que esse dispositivo n�o � t�o inocente como se pensava: � altamente viciante e traz in�meros malef�cios", destaca Luciano Drager, cardiologista da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). A AHA considera, agora, que o fumo passivo (n�o fumantes expostos ao cigarro) pode afetar o cora��o e o c�rebro.
Tamb�m recebeu atualiza��o a m�trica dos lip�dios no sangue que passou a apontar o colesterol n�o HDL (o "mau colesterol"), em vez do total, como preferencial. Isso porque, al�m de n�o ser necess�rio o jejum para a coleta de sangue, ele � mais f�cil de calcular. A AHA sugere, al�m disso, altera��es na leitura da glicemia. "Uma quest�o interessante � que a AHA considera que esses par�metros j� valem para crian�as a partir de 2 anos", destaca Drager. "Hoje, muitas crian�as est�o com taxas de colesterol alto."
Cada componente da lista elaborada pelo colegiado norte-americano, chamada Life’s Essential 8, � avaliado por uma ferramenta, dispon�vel, em ingl�s, no site da Associa��o (https://mlc.heart.org). H� um sistema de pontua��o de zero a 100, sendo que escores abaixo de 50 indicam sa�de cardiovascular ruim; 50-79 moderada, e acima de 80, alta.
"O Life's Essential 8 � um grande passo � frente em nossa capacidade de identificar quando a sa�de cardiovascular pode ser preservada e quando est� abaixo do ideal", explicou, em nota, o presidente da AHA, Donald M. Lloyd-Jones. "Devemos concentrar os esfor�os para melhorar a sa�de cardiovascular de todas as pessoas e em todas as fases da vida", concluiu.
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