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Estado de Minas PANDEMIA

COVID: quanto tempo dura imunidade ap�s infec��o

Com espalhamento das subvariantes da �micron, epis�dios de reinfec��o se tornaram ainda mais comuns. Entenda por que eles acontecem e como ficar mais protegido


11/07/2022 08:52 - atualizado 11/07/2022 10:06

Mulher deitada com sintomas gripais
Muitas pessoas est�o pegando covid pela segunda ou at� pela terceira vez, o que est� relacionado � circula��o das variantes do v�rus e ao relaxamento total das medidas preventivas (foto: Getty Images)

Foi-se o tempo em que os cientistas pensavam que pegar COVID era uma experi�ncia que cada um de n�s s� teria uma vez na vida. Atualmente, se sabe que a reinfec��o est� se tornando cada vez mais comum e, em casos mais raros, pode at� acontecer com uma janela de intervalo de poucos dias entre o primeiro e o segundo quadro.

 

Por�m, a janela de imunidade p�s-COVID mais aceita entre os especialistas nos dias de hoje varia entre tr�s meses a cinco anos.




Com o espalhamento das novas variantes, especialmente as sublinhagens derivadas da �micron, como a BA.2 e a BA.5, os casos de reinfec��o se tornaram muito mais comuns — como mencionado mais acima, em alguns indiv�duos o segundo epis�dio da doen�a acontece num intervalo bem curto, de poucas semanas ap�s o primeiro quadro.

E, embora a janela de imunidade possa variar entre poucas semanas a at� alguns anos de pessoa para pessoa, as evid�ncias cient�ficas mais recentes permitem entender um pouco melhor como nossas c�lulas de defesa atuam, quanto tempo essa prote��o costuma durar e quais s�o os fatores que facilitam o contato com o coronav�rus seguidas vezes.

Contra-ataque coordenado

Mas, antes de mais nada, como funciona nosso sistema imunol�gico durante uma infec��o viral?

Tudo come�a quando um v�rus invade o corpo e come�a a usar nossas pr�prias c�lulas para criar novas c�pias de si mesmo.

Uma hora ou outra, esse processo anormal chama a aten��o das unidades de defesa, que iniciam um contra-ataque para conter a expans�o do pat�geno.

 

Esse trabalho envolve um verdadeiro batalh�o de c�lulas, das quais � poss�vel destacar duas entre as mais importantes: os linf�citos T e B.

 

Os linf�citos T t�m a fun��o de coordenar a resposta imune. Eles identificam as c�lulas infectadas e as matam.

 

J� os linf�citos B s�o os respons�veis por produzir os anticorpos espec�ficos, uma esp�cie de "ant�doto personalizado" que gruda e inativa os v�rus.

 

 

"� como se o linf�cito T disparasse um m�ssil que destr�i a estrutura doente. Da�, os v�rus que sobram s�o neutralizados pelos anticorpos dos linf�citos B", resume Antonio Condino Neto, professor s�nior de imunologia do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas da Universidade de S�o Paulo (USP).


Ilustração de um linfócito T em ação
Os linf�citos T (em laranja na ilustra��o) coordenam parte da resposta imune e destroem as c�lulas doentes (em azul) (foto: Getty Images)

Se todo esse trabalho for bem sucedido, eventualmente a infec��o � controlada e os v�rus s�o completamente eliminados do organismo.

Isso, por sua vez, gera um tipo de aprendizado ao sistema imunol�gico. Por um tempo, as c�lulas de defesa em circula��o sabem como agir caso o v�rus em quest�o resolva tentar uma nova invas�o.

Um mecanismo de prote��o parecido acontece durante a vacina��o — com a vantagem de as unidades imunes serem "treinadas" sem que o corpo pade�a pela a��o de um pat�geno de verdade.

Mas da� vem uma quest�o importante: por quanto tempo essa imunidade se mant�m?

A resposta para essa pergunta varia consideravelmente de acordo com o v�rus e as caracter�sticas de cada um.

"De um lado, h� doen�as como sarampo ou rub�ola, que geralmente s� temos no m�ximo uma vez na vida e acabou", diz Condino Neto.

"Do outro, temos gripe, COVID e resfriados, que podemos pegar por diversas vezes", compara.

Mas o que diferencia um grupo do outro?

Um drible muito efetivo

H� diversos motivos que ajudam a entender por que em alguns casos a imunidade dura muitos anos (ou at� para sempre) e, em outros, ela vai embora rapidinho.

Um dos principais fatores tem a ver com as pr�prias caracter�sticas do v�rus e a intera��o que ele tem com nosso organismo.

Vamos come�ar com a parcela desses pat�genos que � est�vel e permanece praticamente igual ao longo de d�cadas ou s�culos.

Essa caracter�stica representa uma boa not�cia para o sistema imune, que consegue reconhecer o agente infeccioso e resgata as instru��es de como combat�-lo, gra�as � infec��o pr�via ou � vacina��o.

Agora, imagine o cen�rio oposto, que acontece quando os v�rus circulam com muita rapidez e s�o uma verdadeira metamorfose ambulante?

Esse � o caso do Sars-CoV-2, o coronav�rus respons�vel pela pandemia atual: ele sofre muta��es gen�ticas a todo o momento conforme � transmitido de pessoa para pessoa.

Se essas altera��es trouxerem vantagens ao pat�geno — como uma maior facilidade para infectar as c�lulas ou a capacidade de driblar a resposta imune, por exemplo — elas v�o prosperar.

� assim que surgem as variantes de preocupa��o. Essas novas vers�es do v�rus ganham terreno e est�o por tr�s de reedi��es nas ondas de casos, hospitaliza��es e mortes.

Ao longo dos �ltimos dois anos e meio, vimos esse fen�meno acontecer ao menos cinco vezes, com a chegada das variantes alfa, beta, gama, delta e �micron.

Mais recentemente, o aparecimento de subvariantes derivadas da �micron, como a BA.2 e a BA.5, acelerou e aprofundou ainda mais esse processo.

Em suma, todas essas linhagens carregam mudan�as nos genes que apareciam no v�rus "original", detectado pela primeira vez em janeiro de 2020 em Wuhan, na China.

Do ponto de vista das nossas defesas, esse fato representa uma p�ssima not�cia. Isso porque a resposta imune obtida atrav�s de uma infec��o pr�via ou da vacina��o se torna cada vez mais desatualizada.

Com o passar do tempo — e o surgimento de novas variantes com muta��es gen�ticas mais diversas — o resultado do trabalho dos linf�citos B torna-se cada vez menos efetivo.

Isso porque os anticorpos que eles fabricam s�o montados especificamente para neutralizar o causador da primeira infec��o — ou, de prefer�ncia, est�o alinhados � formula��o original da vacina, que carrega instru��es para combater as vers�es mais antigas do v�rus.

Ou seja: se uma variante que tenta invadir o corpo apresenta mudan�as significativas na estrutura, os tais anticorpos n�o conseguem mais agir como se esperava.


Linfócito B e anticorpos
Os linf�citos B (em laranja e amarelo na ilustra��o) fabricam anticorpos espec�ficos (em verde) para neutralizar diferentes amea�as (foto: Getty Images)

O que est� acontecendo agora?

Esse processo de aprimoramento viral parece estar longe de terminar: desde o final de 2021 e o in�cio de 2022, v�rias subvariantes da �micron foram detectadas.

Linhagens como a BA.2 e a BA.5 apresentam uma capacidade ainda maior de infectar nossas c�lulas e de escapar da imunidade pr�via.

E isso, por sua vez, torna os quadros de reinfec��o cada vez mais frequentes e com janelas curtas em rela��o ao primeiro epis�dio de COVID — afinal, h� uma incompatibilidade entre o v�rus que nosso sistema imune reconhece e as vers�es dele que est�o circulando atualmente.

"O v�rus d� um jeitinho de furar nossas defesas", observa Condino Neto.

Uma pesquisa feita pelo Instituto de Sorologia da Dinamarca, que n�o foi publicada em nenhum jornal especializado, se tornou uma das primeiras a chamar a aten��o para o fato que uma reinfec��o com a variante BA.2 poderia acontecer pouco tempo depois de a pessoa ter sido afetada pela BA.1 (a �micron "original").

No artigo, os pesquisadores descrevem casos raros de pessoas que tiveram um segundo quadro de COVID pela BA.2 cerca de 20 dias depois de testarem positivo pela primeira vez com a BA.1.

Que fique claro: pelo que se sabe at� o momento, casos como esses, em que a COVID se repete em poucos dias, s�o at�picos e a tend�ncia � que a imunidade dure ao menos alguns meses.

Uma pesquisa feita nas universidades Yale e Temple, ambas nos Estados Unidos, e publicada em dezembro de 2021 no The Lancet estimou que, numa situa��o de endemia, a reinfec��o pode ocorrer numa janela de tempo que varia de tr�s meses a at� cinco anos.

Vale destacar que o estudo foi feito antes do espalhamento da �micron e suas subvariantes, que podem ter interferido nessa janela de imunidade.

"Al�m disso, em situa��es que a pessoa tem a mesma doen�a duas vezes em menos de 45 dias, precisamos avaliar se o v�rus n�o ficou 'escondido' por um tempo e a infec��o foi reativada depois", diferencia o imunologista Luiz Vicente Rizzo, diretor-superintendente de pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, em S�o Paulo.

"Temos evid�ncias de que o coronav�rus � capaz de se esconder no sistema nervoso central e nos test�culos por um per�odo, locais em que a a��o do sistema imune � limitada", complementa.

Enquanto a ci�ncia ainda tenta encaixar todas as pe�as desse quebra-cabe�as, h� um consenso maior de que o coronav�rus est� sempre se modificando de modo a passar despercebido pelo sistema imunol�gico.

Um estudo divulgado em junho de 2022 pelo Imperial College de Londres, no Reino Unido, revelou que pessoas infectadas com a �micron t�m uma resposta imune mais fraca e com pouca capacidade de evitar novos quadros de COVID, mesmo entre aquelas que j� tinham pegado COVID no passado e estavam vacinadas com tr�s doses.

Os especialistas chegaram a classificar as subvariantes que est�o em circula��o como "furtivas", pela capacidade delas de agir �s escondidas das c�lulas de defesa.

A investiga��o mostrou que essas novas vers�es virais n�o deixam uma "marca" nas c�lulas de defesa, de modo que elas n�o se lembram muito bem como combater o v�rus dali em diante.


SARS-CoV-2
As subvariantes da �micron est�o se tornando cada vez mais 'furtivas', alertam pesquisadores (foto: Getty Images)

"Ser infectado com a �micron n�o representa um refor�o potente na imunidade contra reinfec��es no futuro", explica a professora Rosemary Boyton, autora principal do trabalho em comunicado � imprensa.

�tima not�cia com prazo de validade?

Apesar de tantas mudan�as nas rela��es entre o coronav�rus e a nossa imunidade, ao menos uma coisa continua a funcionar relativamente bem na maioria das vezes: a prote��o das vacinas contra complica��es, hospitaliza��es e mortes relacionadas � COVID.

Esse resguardo acontece por meio da ativa��o da mem�ria do sistema imunol�gico e a a��o de c�lulas como os linf�citos T.

Em termos pr�ticos, o coronav�rus at� consegue entrar no organismo e driblar os anticorpos num primeiro est�gio.

Mas logo entra em cena o batalh�o de c�lulas imunes comandadas pelos linf�citos T, que controlam a situa��o e impedem que o v�rus ganhe terreno e cause sintomas mais graves.

"O v�rus at� entra e causa inc�modo, mas, gra�as � mem�ria imune, ele logo toma 'umas invertidas' e cai fora", conta Condino Neto.

� exatamente isso que testemunhamos ao longo dos �ltimos meses: ainda que a �micron esteja por tr�s de recordes de casos de COVID, as hospitaliza��es e as mortes n�o subiram na mesma propor��o.

E mesmo naquelas pessoas que est�o testando positivo pela segunda ou at� pela terceira vez, a tend�ncia � que o quadro seja bem mais leve, marcado por sintomas que costumam lembrar um resfriado comum, como coriza, tosse e dor de garganta.

"Por isso, � muito importante que as pessoas estejam com o esquema vacinal em dia. Quem est� com as doses atrasadas deve ir correndo tomar as suas", sugere Condino Neto.

Segundo o portal CoronavirusBra1, apenas 51% da popula��o brasileira tomou a terceira dose de vacina, que � considerada primordial para ampliar a prote��o contra as formas mais graves da COVID.


Jovem sendo vacinado
Quase metade da popula��o brasileira ainda n�o tomou a terceira dose da vacina que protege contra as formas mais graves da covid (foto: Getty Images)

O pesquisador da USP refor�a que o imunizante ajuda a "acordar" o sistema imune e "aumenta as chances de, se voc� pegar COVID de novo, ter uma forma mais branda da doen�a".

Rizzo acrescenta que, al�m de estar com a vacina��o em dia, n�o podemos "baixar a guarda" com as outras medidas preventivas.

"O coronav�rus n�o veio de outro planeta. � s� a gente usar m�scara e tomar alguns cuidados que ele n�o passa", esclarece.

"N�o temos que esperar o governo dizer que precisamos nos cuidar. Cada um deveria pensar em sua pr�pria responsabilidade nessa hist�ria."

O imunologista alerta que, dada a recente hist�ria de muta��es e variantes, n�o est� descartada a hip�tese de que apare�a uma vers�o agressiva do v�rus, que consiga escapar completamente da prote��o conferida pelos imunizantes dispon�veis.

"Toda vez que algu�m se infectar, entramos numa esp�cie de loteria. Ser� que dali vai sair um coronav�rus cheio de muta��es que escape das vacinas?", questiona.

De acordo com o painel de informa��es do Conselho Nacional de Secret�rios da Sa�de (Conass), a m�dia m�vel di�ria de novos casos de COVID-19 no Brasil supera os 57 mil.

"Nosso comportamento atual s� est� incentivando que esse cen�rio vire realidade", lamenta.

Boyton, do Imperial College, concorda com o ponto de vista do colega brasileiro. "A preocupa��o � que a �micron pode potencialmente sofrer outras muta��es e se tornar uma variante ainda mais patog�nica, ou com capacidade de superar a prote��o das vacinas."

"Nesse cen�rio, pessoas que pegaram essa variante anteriormente estariam menos protegidas contra a �micron, a depender do perfil imunol�gico delas", conclui.

- O texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-62098817

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