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Estado de Minas ALERTA

Testes para COVID: o que explica teste negativo em tantos infectados?

Chegada de novas variantes, como linhagens da �micron, parece ter antecipado aparecimento dos sintomas da infec��o antes de carga viral atingir seu pico


01/07/2022 09:42 - atualizado 01/07/2022 09:48

Três testes de antígeno
Resultado negativo de um teste feito no primeiro dia de sintomas deve ser interpretado com muita cautela, alertam especialistas (foto: Getty Images)

Nos �ltimos meses, uma cena tem se tornado cada vez mais comum no Brasil e no mundo: a pessoa come�a a apresentar sintomas t�picos de covid (tosse, coriza, febre…), faz o teste r�pido de ant�geno e o resultado d� negativo.

Ela continua a ter os inc�modos e, um ou dois dias depois, repete o exame que, a� sim, confirma a infec��o pelo coronav�rus.

O grande perigo � que, nesse meio tempo sem o diagn�stico adequado, n�o s�o adotadas as medidas necess�rias para reduzir o risco de passar o v�rus adiante — como o isolamento e o uso de m�scaras.

 

 

 

Isso, por sua vez, cria novas cadeias de transmiss�o e faz o n�mero de casos da doen�a crescer.

Mas o que explica esse fen�meno da "positividade atrasada"? Embora n�o existam respostas claras, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil citam as hip�teses que ajudam a entender esse cen�rio. Eles tamb�m apontam o que fazer para proteger a si e todo mundo ao redor.

 

Leia tamb�m: 'Pandem�nio de viroses': como a COVID-19 mudou padr�es de v�rus conhecidos  


Em resumo, apesar de o assunto estar envolvido em muitos mist�rios, a recomenda��o � simples: se voc� apresentar sintomas t�picos de covid, fique em isolamento e evite o contato com algumas pessoas, mesmo se o teste r�pido de ant�geno feito no primeiro ou no segundo dia der um resultado negativo. E, se poss�vel, tente repetir o exame entre o terceiro e o quinto dia para ter mais certeza sobre o diagn�stico.

O v�rus ficou mais veloz?

O primeiro fator que permite explicar esse cen�rio � a chegada das novas variantes do coronav�rus, especialmente aquelas que surgiram a partir da �micron, como a BA.2 e a BA.5.

O espalhamento delas mundo afora veio seguida de uma mudan�a importante na incuba��o, que � o tempo entre o v�rus come�ar a invadir as c�lulas do nosso corpo e o in�cio dos sintomas.

"O v�rus entra nas c�lulas e faz ali dentro entre cem e mil novas c�pias de si mesmo, que v�o sair para infectar outras c�lulas e continuar esse processo, at� que o sistema imunol�gico reaja e cause os sintomas, como nariz escorrendo, espirros, febres…", explica o virologista Jos� Eduardo Levi, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Dasa.


A t�tulo de compara��o, de acordo com um relat�rio da Ag�ncia de Seguran�a em Sa�de do Reino Unido, a incuba��o da variante alfa durava, em m�dia, de cinco a seis dias.


Durante a onda da delta, essa janela caiu para quatro dias.


J� na �micron, o per�odo entre a invas�o viral e o in�cio dos sintomas sofreu uma nova redu��o e fica em apenas tr�s dias.


Coronavirus SARS-CoV-2
Linhagens da �micron diminu�ram tempo de incuba��o e in�cio dos sintomas (foto: Getty Images)

Ou seja: se antes a pessoa tinha contato com algu�m infectado e levava quase uma semana para manifestar os sinais t�picos da covid, atualmente esse processo � bem mais r�pido e pode acontecer quase de um dia para o outro.

"O que mais vemos em nossos consult�rios s�o pacientes que dizem ter passeado no domingo e j� apresentam os sintomas da doen�a na ter�a ou na quarta-feira", conta a infectologista e virologista Nancy Bellei, professora da Universidade Federal de S�o Paulo (Unifesp).


Mas por que isso est� acontecendo?

V�rus diferente, defesas atualizadas

Entre as poss�veis teorias que ajudam a entender essa a��o mais ligeira da �micron, alguns especialistas apontam que as pr�prias muta��es gen�ticas que essa variante carrega encurtaram o tempo de incuba��o.

Outros tamb�m chamam a aten��o para o papel do sistema imunol�gico nesse processo.

Numa s�rie de postagens no Twitter, o imunologista e epidemiologista Michael Mina, que trabalhava na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e atualmente � o diretor cient�fico de uma empresa de testagem, defende que a vacina��o "mudou de forma fundamental a rela��o entre os sintomas de covid e a carga viral".

Anteriormente, os sintomas da covid costumavam aparecer justamente no momento em que a quantidade de v�rus no organismo atingia o pico.

"Por que as pessoas agora est�o apresentando sintomas, mas o resultado do teste r�pido d� negativo?", questionou.

"Os sintomas que sentimos s�o geralmente o resultado da resposta imune. As vacinas fazem o nosso sistema de defesa detectar o v�rus mais r�pido, antes que a quantidade de c�pias dele atinja o pico. Esse � literalmente o prop�sito da vacina��o", escreveu ele na rede social.


Mulher limpando o nariz com lenço
Com o passar da pandemia e o avan�o da vacina��o, sintomas mais comuns de covid ficaram menos graves (foto: Getty Images)

Seguindo na explica��o, Mina aponta que a resposta imune r�pida ajuda a suprimir o v�rus por um tempo, at� que o pat�geno seja eliminado do organismo ou eventualmente consiga vencer essa batalha e comece a se replicar com mais for�a.

"Com isso, um teste criado para detectar uma certa quantidade de v�rus ser� negativo nos primeiros dias, antes que a carga viral aumente", argumentou o cientista.

Em outras palavras, uma das teorias aventadas aponta que, com a �micron, o tempo de incuba��o curto e o aparecimento de sintomas mais cedo faz com que a carga viral (a quantidade de coronav�rus em a��o) logo nos primeiros dias de infec��o n�o seja alta o suficiente para ser detectada pelos testes r�pidos de ant�geno.

Mas vale ressaltar que essa � apenas uma das poss�veis explica��es para esse fen�meno e a ideia est� longe de estar comprovada ou ser consenso entre os especialistas.

"O sistema imune tamb�m depende de uma certa quantidade de part�culas virais para ser ativado e iniciar uma resposta. Ent�o, me parece que a imunidade criada a partir da vacina��o ou de quadros pr�vios de covid vai contribuir mais para terminar rapidamente a infec��o do que para o in�cio do quadro", avalia Levi, que tamb�m faz pesquisas no Instituto de Medicina Tropical da Universidade de S�o Paulo (USP).

Em todo caso, existem evid�ncias de que a quantidade de prote�nas virais nesses primeiros dias de infec��o realmente pode ser mais baixa nas ondas da �micron.

"Com isso, h� um risco de os testes de ant�geno falharem na detec��o desses casos, j� que n�o existem part�culas suficientes para obter um resultado positivo", resume o virologista Anderson F. Brito, pesquisador cient�fico do Instituto Todos pela Sa�de.

"Portanto, temos que tomar cuidado na interpreta��o desses resultados iniciais, at� para n�o criarmos uma falsa sensa��o de seguran�a", adverte.

Falha humana e interpreta��o dos testes

Ainda dentro dessa discuss�o, n�o d� pra ignorar o fator humano por tr�s de erros nos resultados.

O teste de ant�geno, que pode ser feito em casa pela pr�xima pessoa, tem uma s�rie de procedimentos bem espec�ficos — separar os materiais, lavar as m�os, passar a haste no fundo do nariz e da garganta por um tempo m�nimo, misturar com soro, esperar alguns minutos, pingar a quantidade exata no dispositivo…

Se uma dessas etapas n�o � feita da maneira adequada, o resultado pode ser um falso negativo.

"N�o d� pra confiar na conclus�o de um teste mal feito", diz Bellei, que tamb�m integra a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A m�dica destaca a varia��o da qualidade dos exames dispon�veis nas farm�cias.

"H� muita diferen�a na sensibilidade e na especificidade dos testes r�pidos. Alguns conseguem detectar 80% dos casos, enquanto em outros essa taxa cai para 70% ou 50%", compara.

Embora n�o exista uma maneira f�cil e acess�vel de saber quais s�o os produtos mais confi�veis, Bellei orienta que as pessoas deem prefer�ncia, se poss�vel, �s marcas mais conhecidas, de empresas que trabalham com diagn�sticos h� d�cadas.

Uma segunda dica importante � ler atentamente as instru��es que v�m com o kit e obedecer cada etapa � risca para diminuir a probabilidade de erros e resultados distorcidos.

Nesse sentido, tamb�m foram levantadas muitas d�vidas se os testes de ant�geno seriam capazes de detectar as linhagens da �micron, que trazem muitas muta��es em compara��o com as variantes anteriores.

Essa hip�tese, por�m, mostrou-se falsa. "O teste de ant�geno detecta principalmente a prote�na N do coronav�rus", explica Levi.

"E sabemos que a �micron apresenta mais muta��es na prote�na S, que n�o costuma ser o alvo principal desses exames", complementa.

Ou seja: os testes r�pidos continuam a funcionar relativamente bem para flagrar as novas variantes.

Talvez o cerne da quest�o esteja em entender o momento certo de fazer esse exame — e, a partir da�, como interpretar os resultados e tomar as medidas necess�rias.


Mulher coloca haste flexível no nariz
Seguir � risca orienta��es para fazer teste � primeiro passo para evitar distor��es nos resultados (foto: Getty Images)

O que muda no diagn�stico?

Diante de todas essas altera��es observadas no comportamento do v�rus e no nosso sistema imune, a principal mensagem � relativamente simples: se voc� estiver com sintomas t�picos de covid, como dor de garganta, tosse, espirros e febre, evite o m�ximo poss�vel o contato com outras pessoas para n�o transmitir o agente infeccioso para elas.

Voc� confere a lista completa dos sinais da doen�a nesta reportagem da BBC News Brasil:

Essa orienta��o vale mesmo para as pessoas que fizeram um teste logo nos primeiros dias e o resultado foi negativo — como explicado mais acima, ainda n�o � poss�vel ter 100% de certeza e pode ser que a carga viral ainda n�o esteja suficientemente alta para ser detectada pelo exame.

O tempo de quarentena varia de acordo com uma s�rie de condi��es, mas um per�odo de cinco a sete dias costuma ser o suficiente para a maioria das pessoas.

Veja quantos dias de isolamento s�o necess�rios para cada situa��o no link a seguir:

Se voc� fez o teste no primeiro ou no segundo dia de sintomas e o resultado foi negativo, vale repetir o exame no terceiro, no quarto ou no quinto dia, se poss�vel.

Uma pesquisa ainda n�o publicada da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido, mostrou que o pico de carga viral costuma acontecer justamente at� tr�s dias ap�s o in�cio dos sintomas.

Com isso, caso voc� esteja realmente com covid, ser� mais prov�vel pegar esse pico da carga viral, quando a quantidade de v�rus estar� alta o suficiente para o teste dar positivo.

"E � importante notificar o resultado para a unidade de sa�de mais pr�xima de sua casa, para eventualmente confirmar o diagn�stico por meio de outros m�todos mais precisos, como o RT-PCR, e para que o caso seja contabilizado nas estat�sticas oficiais", ressalta Brito.

Vale, claro, manter o isolamento e evitar o contato com outras pessoas, especialmente aquelas mais vulner�veis � covid, como idosos e imunossuprimidos, durante esse per�odo de incerteza entre um teste e outro.

Outro ponto fundamental � manter a vacina��o atualizada.

"As variantes at� 'aparecem' mais cedo, mas quem est� com todas as doses em dia transmite menos coronav�rus em compara��o com quem n�o possui o esquema vacinal completo", informa a imunologista Cristina Bonorino, professora da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre (UFCSPA).

Um estudo feito na Universidade de Seul, na Coreia do Sul, mostra justamente isso. Indiv�duos vacinados que pegam covid podem transmitir o coronav�rus por quatro dias, em m�dia. J� quem est� parcialmente imunizado "repassa" o pat�geno por at� oito dias.

"Fora que a vacina � o que permite a infec��o n�o evoluir para casos mais graves e preocupantes na maioria das vezes", completa a especialista, que tamb�m integra a SBI.

Por ora, o Minist�rio da Sa�de recomenda uma quarta dose de vacina para toda a popula��o com mais de 40 anos. Entre os 12 e os 39, s�o indicados tr�s doses. J� para crian�as de 5 a 11 anos, duas doses.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61986889

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