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Estado de Minas INSEGURAN�A ALIMENTAR

Fome no Brasil: como desnutri��o atrasa desenvolvimento infantil em cada etapa da vida

Em todo o Brasil, 15,5% da popula��o sofre com inseguran�a alimentar grave. Especialistas apontam que crian�as podem ser as mais atingidas pelo cen�rio de fome crescente.


19/07/2022 08:12 - atualizado 19/07/2022 09:24


Maria Luiza segura doações de alimentos
Maria Luiza segura doa��es de alimentos (foto: Mariana Guerreiro - Vis�o Mundial)

Na casa da amazonense Maria Luiza, de 23 anos, a alimenta��o � escassa. A dona de casa est� desempregada h� tr�s anos e seu marido disputa bicos ocasionais escamando peixes, uma atividade comum na cidade de Manacapuru, — distante 98 km da capital do Amazonas — onde vivem.

O casal tem dois filhos: um beb� de 7 meses e outro de 3 anos. A fam�lia convive diariamente com a incerteza em rela��o � alimenta��o.

"Tem dias que n�o temos o que comer. J� cheguei a chorar depois que meu filho me pediu comida e n�o tinha nada para dar", conta Maria Luiza.

A regi�o Norte do Brasil, onde est� localizado o Estado do Amazonas, � a mais atingida pela m� distribui��o de alimentos no Brasil atualmente: 71,6% sofrem com a inseguran�a alimentar, enquanto a fome extrema faz parte do cotidiano de 25,7% das fam�lias — o equivalente a algo em torno de 4,6 milh�es de pessoas.

Os �ndices s�o superiores aos das m�dias nacionais: em todo o Brasil, aproximadamente 43,2% da popula��o sofre com inseguran�a alimentar leve ou moderada e 15,5% com a forma mais grave.

Os dados s�o do 2º Inqu�rito Nacional sobre Inseguran�a Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede PENSSAN e divulgado no in�cio de junho.

J� segundo a Organiza��o das Na��es Unidas para Alimenta��o e Agricultura (FAO), 28,9% da popula��o enfrenta a inseguran�a alimentar moderada ou grave.

Diante do cen�rio de fome crescente no pa�s, especialistas consultados pela BBC News Brasil apontam que as crian�as podem ser as mais atingidas.

Durante os primeiros anos de vida, a evolu��o do c�rebro acontece a uma velocidade incr�vel — a 1 milh�o de conex�es entre neur�nios por segundo. E a desnutri��o pode impactar diretamente no fornecimento de nutrientes necess�rios para esse desenvolvimento.

H� duas formas de desnutri��o prim�ria: a subnutri��o e a obesidade. A primeira pode se apresentar em todos os n�veis de inseguran�a alimentar, mas tem maior incid�ncia nas fases moderada ou grave.

Os m�dicos alertam ainda para um fen�meno conhecido como desnutri��o silenciosa, quando geralmente o diagn�stico s� acontece quando j� h� uma doen�a estabelecida.


Prato vazio
Pesquisa de maio de 2021 revelou que inseguran�a alimentar afetava um a cada tr�s lares com crian�as de at� 6 anos no Brasil (foto: Getty Images)

"O c�rebro de uma crian�a se desenvolve de uma forma muito intensa no per�odo que vai da gesta��o at� os 5 anos de idade e a desnutri��o pode ter impactos profundos nesse processo, em casos mais graves ou de priva��o longa at� irrevers�veis", diz M�rcia Machado, professora do departamento de Sa�de P�blica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Cear� (UFC) e membro do Comit� Cient�fico do NCPI - N�cleo Ci�ncia Pela Inf�ncia.

Segundo o banco de dados DataSUS, do Minist�rio da Sa�de, 13,78% das crian�as de at� 5 anos atendidas pelo SUS de janeiro a setembro de 2021 apresentavam peso inadequado.

Uma pesquisa do instituto Datafolha, de maio de 2021, revelou ainda que a inseguran�a alimentar afetava um a cada tr�s lares com crian�as de at� 6 anos no Brasil, elevando as chances de ocorr�ncia de desnutri��o infantil.

Falta de nutrientes na gravidez

Segundo especialistas, o comprometimento do desenvolvimento pela m� nutri��o pode come�ar ainda na gesta��o.

Os m�dicos consideram justamente os primeiros mil dias de vida — per�odo que vai do in�cio da gravidez at� os 2 anos — como a fase mais importante para o desenvolvimento f�sico e mental do ser humano.

"Muitos estudos mostram que a priva��o de alimentos enfrentada pela m�e pode repercutir tanto no crescimento como no desenvolvimento da crian�a, pois o sistema neuronal necessita de eletr�litos, prote�nas, vitaminas e outras subst�ncias para ser ativado", diz M�rcia Machado.


Gávida
Zinco, o ferro, a vitamina C e o �cido f�lico s�o importantes na gravidez (foto: Getty Images)

Diversas vitaminas e minerais s�o importantes nesse per�odo, entre eles o zinco, o ferro, a vitamina C e o �cido f�lico.

Esse �ltimo, por exemplo, previne malforma��es fetais e pode reduzir em at� 93% a incid�ncia de defeitos do tubo neural, que mais tarde torna-se a medula espinhal, o c�rebro e as estrutu­ras protetoras vizinhas.

Os m�dicos apontam tamb�m um menor peso e comprimento ao nascer, altera��es do desenvolvimento motor e visual, o aumento da incid�ncia de diabetes, doen�as respirat�rias e doen�as cardiovasculares e at� risco maior de doen�as como esquizofrenia e dist�rbios da personalidade como poss�veis consequ�ncias da falta de nutrientes na gesta��o.

Uma pesquisa realizada na Pontif�cia Universidade Cat�lica do Paran� (PUC-PR) mostrou ainda que desnutri��o materna durante a gesta��o pode levar � m�-forma��o de �rg�os linf�ticos, f�gado, intestino e c�rebro.

Tamb�m � preciso cautela em rela��o � ingest�o do iodo durante a gravidez, segundo a pediatra M�nica Moretzsohn, do departamento cient�fico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

"Beb�s de m�es que consomem baixas quantidades de iodo podem passar por crescimento inadequado e hipodesenvolvimento cerebral", diz.

Segundo a m�dica, no Brasil � bastante comum o consumo de sal iodado, que geralmente supre as demandas pelo nutriente. "Mas em casos espec�ficos, a Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) recomenda a suplementa��o na gesta��o."

Nos primeiros anos de vida

A evolu��o do c�rebro e do sistema cognitivo continua de forma intensa mesmo ap�s a gravidez, de maneira especial at� os 5 anos de idade.

Os m�dicos chamam a aten��o, por�m, para o per�odo que vai at� os 2 anos e que ainda compreende os primeiros mil dias de vida.

Segundo os especialistas consultados pela BBC News Brasil, a subnutri��o pode levar a consequ�ncias danosas para o desenvolvimento cognitivo e motor nesse intervalo da vida, al�m de problemas nos sistemas neurol�gico e imunol�gico, na vis�o e at� retardo na curva de crescimento.

"As defici�ncias nutricionais mais comumente observadas em todo o mundo est�o associadas � falta de ferro, vitamina A, iodo e zinco", afirma M�nica Moretzsohn.

De acordo com a m�dica, a car�ncia de ferro, que em sua forma mais grave � conhecida como anemia ferropriva, pode causar impactos grandes no desenvolvimento cognitivo das crian�as, levando � dificuldade de aprendizado e at� menor capacidade de trabalho na idade adulta.


Bebê
Defici�ncia de vitamina A est� entre as principais causas de cegueira evit�vel em crian�as menores de 5 anos (foto: Getty Images)

Os sintomas mais frequentes associados � falta desse nutriente s�o irritabilidade, apatia, fadiga, diminui��o da capacidade f�sica e dor de cabe�a.

A defici�ncia de vitamina A, presente em alimentos como a gema do ovo, o leite e frutas e legumes de cores vivas, por exemplo, est� entre as principais causas de cegueira evit�vel em crian�as menores de 5 anos, segundo Moretzsohn.

A maior parte da vis�o se desenvolve at� os 2 anos de idade, mas apenas por volta dos 7 anos a capacidade total de enxergar estar� completamente formada. Por isso, os m�dicos alertam para a aten��o dos pais aos menores sinais de irregularidades.

Nas crian�as menores de 2 anos, o iodo tamb�m � essencial para o desenvolvimento do sistema nervoso central e dos horm�nios da tireoide.

Sua defici�ncia pode causar cretinismo nas crian�as (retardo mental grave e irrevers�vel), surdo-mudez, anomalias cong�nitas, bem como a manifesta��o cl�nica mais vis�vel: o b�cio (crescimento da gl�ndula tireoide).

O zinco, por sua vez, est� envolvido em mais rea��es enzim�ticas dentro do organismo do que qualquer outro mineral.

O baixo consumo do nutriente afeta drasticamente o crescimento das crian�as, levando � falta de apetite, redu��o do olfato e paladar, altera��es no sistema imunol�gico e deixando o organismo mais exposto a infec��es.

"A falta de zinco pode levar � defici�ncia de outros nutrientes secund�rios. A vitamina A, por exemplo, pode n�o ser aproveitada pelo organismo quando h� uma car�ncia desse mineral", afirma M�nica Moretzsohn.

A nutr�loga explica que crian�as que s�o privadas desses e outros nutrientes podem desenvolver inicialmente um quadro de desnutri��o aguda e posteriormente de desnutri��o cr�nica.

"Em um primeiro momento, a crian�a desnutrida continua com o crescimento normal, mas logo ela come�a a parar de ganhar peso e depois a emagrecer. A partir de tr�s meses, pode haver comprometimento do crescimento", diz.

"Se n�o houver uma interven��o e a crian�a continuar nesse processo, ela pode n�o atingir sua altura ideal. Mesmo que o crescimento seja recuperado alguns anos depois, isso certamente ter� impacto na estatura final."


Maria Luiza em sua casa
Fam�lia de Maria Luiza diz n�o saber mais o que � comer carne (foto: Mariana Guerreiro - Vis�o Mundial)

Os filhos de Maria Luiza provavelmente fazem parte das estat�sticas de desnutri��o no Brasil. O mais novo j� est� em idade de introdu��o alimentar, mas passa muitos dias apenas com o leite materno.

"Ele j� come, mas nesses dias sem ter o que comer, ele fica s� no peito. Mesmo que eu fique fraca, por n�o ter me alimentado, consigo amamentar", diz a amazonense.

J� seu filho mais velho, de 3 anos, est� abaixo do peso ideal para a idade. "�s vezes ele v� algu�m comendo na rua e chora de vontade, mas eu tenho que dizer que n�o tenho dinheiro para comprar o que ele quer", lamenta a dona de casa.

A fam�lia recebe o Aux�lio Brasil, programa de benef�cio do Minist�rio da Cidadania que sucedeu o Bolsa Fam�lia, al�m de cart�o alimenta��o doado por uma organiza��o n�o-governamental, a ONG Vis�o Mundial.

Com o or�amento apertado, a fam�lia diz n�o saber mais o que � comer carne. O que eles conseguem comprar s�o peles de frango, que pegam no ponto de abate. Antes, de maneira gratuita, agora ao custo de R$ 5 por saco.

"Se comemos no almo�o, n�o tem para a janta. Ou se comemos na janta, falta para o almo�o do dia seguinte", lamenta Maria Luiza, que relata ter perdido 17 quilos nos �ltimos tr�s anos. "�s vezes me sinto fraca, fico com tontura e a vista escurecida."

Impactos na vida adulta

Os problemas decorrentes da falta de uma nutri��o adequada nos primeiros anos de vida podem marcar tamb�m a trajet�ria estudantil e adulta de crian�as mal-nutridas ao produzirem efeitos no desenvolvimento do c�rebro e da cogni��o.

Diversos estudos j� mostraram que o processo de desenvolvimento obedece a um programa gen�tico influenciado por diversos fatores ambientais, incluindo os nutricionais.

Al�m disso, segue uma sequ�ncia temporal de amadurecimento gradativo de circuitos neurais, iniciando pelos sistemas sensoriais, seguidos dos sistemas motores e depois dos mais complexos: cognitivos, emocionais e outros

Segundo os m�dicos, as consequ�ncias da subnutri��o nesse setor s�o numerosas, incluindo retardo mental, atraso do neurodesenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e baixa capacidade para resolu��o de problemas — durante a inf�ncia e tamb�m no futuro.

Uma pesquisa mostrou que crian�as em situa��o de inseguran�a alimentar t�m o dobro de chance de apresentar hiperatividade e problemas de aten��o no futuro quando comparadas �quelas que viveram em situa��o de seguran�a alimentar.

Al�m disso, essas crian�as podem apresentar menor desempenho em testes de compreens�o da linguagem e atrasos no desenvolvimento emocional, motor e cognitivo, que podem perdurar.


Armazém com alimentos para doação em campanha de Natal no Rio de Janeiro
Armaz�m com alimentos para doa��o em campanha de Natal no Rio de Janeiro (foto: Getty Images)

O m�dico neurologista Claudio Serfaty, professor da Universidade Federal Fluminense, coordena na institui��o pesquisas que analisam o impacto da car�ncia de dois nutrientes espec�ficos no desenvolvimento e plasticidade do c�rebro: o amino�cido triptofano e �cidos graxos �mega-3.

Ambos dependem integralmente da ingesta alimentar e, enquanto o triptofano est� presente principalmente em prote�nas de alto valor biol�gico, como carnes, sementes, nozes, castanhas e amendoins, os �cidos graxos �mega-3 s�o encontrados principalmente em peixes oce�nicos, e, em menor quantidade, em vegetais escuros.

"As fontes de triptofano e �cidos graxos �mega-3 s�o alimentos mais caros. E com o quadro de fome que vivemos no momento, podemos ter toda uma gera��o de crian�as cronicamente mal nutridas em uma fase do desenvolvimento super importante", diz ele.

Segundo Serfaty, a falta do triptofano reduz drasticamente os n�veis de serotonina no c�rebro, atrasa a forma��o de conex�es e a capacidade pl�stica dos circuitos neurais em desenvolvimento.

"O c�rebro em desenvolvimento s� adquire as plenas capacidades sensoriais, motoras e cognitivas mediante a exist�ncia de plasticidade", explica.

No caso dos �cidos graxos �mega-3, os estudos com animais de experimenta��o mostraram que a car�ncia nutricional tamb�m pode resultar em danos permanentes ao refinamento de circuitos neurais e altera��es na plasticidade cerebral, principalmente quando ocorre nos primeiros anos de vida.

"Notamos um grande atraso na matura��o dos sistemas sensoriais e a indu��o de um processo de neuroinflama��o causados pela restri��o nutricional", explica Claudio Serfaty.

"A pr�pria neuroinflama��o atrapalha muito o desenvolvimento do c�rebro."

Portanto, esses estudos sugerem que a m� nutri��o durante a inf�ncia, entre outros aspectos, pode alterar o curso temporal e os par�metros de conectividade, impactando a capacidade de aprendizado.

Segundo o m�dico, as sequelas deixadas pela defici�ncia nutricional tendem a ser permanentes quando a desnutri��o progride de forma cont�nua durante os 5 primeiros anos de vida.

"Os nutrientes pesquisados s�o importantes durante a vida toda, mas sua falta na inf�ncia pode induzir quadros permanentes", diz.

"Nossos modelos experimentais dizem que se a crian�a tiver o restabelecimento de uma dieta saud�vel dentro dos primeiros anos de vida � muito poss�vel que esses d�ficits sejam transit�rios, mas em caso contr�rio corre-se o risco de produzir danos permanentes."

Estudos apontam ainda que independentemente de ter ocorrido uma les�o cerebral, uma crian�a que tem a fome n�o saciada pode perder a motiva��o para explorar o ambiente e, assim, ter um atraso na aquisi��o de certas habilidades cognitivas.

A fome ainda pode ser uma barreira a mais para que as crian�as de baixa renda consigam quebrar o ciclo de pobreza em que vivem.

"A m� alimenta��o tem impactos que v�o al�m da sa�de f�sica tamb�m. Um adolescente que cresceu em meio a um ambiente de inseguran�a pode perder a oportunidade de estudar e mudar de vida, por exemplo", diz M�rcia Machado.

A professora ressalta ainda que a priva��o de alimentos pode impactar na sa�de mental das crian�as, durante a inf�ncia e no futuro.

"A fome causa uma sensa��o de estresse permanente, que chamamos de estresse t�xico. Uma crian�a que vive nessa situa��o tende a apresentar sinais de irritabilidade e depress�o no futuro, especialmente na adolesc�ncia", diz a professora da Universidade Federal do Cear�.

"Quando isso est� associado a um comportamento tamb�m mais estressado dos pais, que est�o preocupados e por vezes mais agressivos, as consequ�ncias s�o ainda maiores."

Um estudo desenvolvido por uma professora brit�nica e publicado em 2013 no peri�dico cient�fico Journal of Affective Disorders indicou que a fome na inf�ncia pode ser um fator preditor da depress�o e do aparecimento de ideias suicidas na adolesc�ncia e no in�cio da idade adulta.

"O poder p�blico precisa dar aten��o n�o somente para as crian�as em situa��o de fome, mas para a fam�lia toda", diz M�rcia Machado.

"O c�rebro na inf�ncia � como uma esponja e as crian�as s�o muito influenciadas pelo ambiente em que vivem, al�m de pelos componentes gen�ticos."

'Dou ch� e farinha para encher a barriga'

Tamb�m moradora do Amazonas, mas do munic�pio de Careiro Castanho, a 124 km de Manaus, Eriane, de 34 anos, se emociona ao falar da situa��o de escassez que sua fam�lia enfrenta atualmente.

Ela e o marido Josenias, 49, criam os seis filhos pequenos, entre crian�as e adolescentes, com dificuldade. A fam�lia � afetada pela crise econ�mica, mas tamb�m pelo per�odo da cheia dos rios da regi�o.

Josenias trabalha com pesca, mas a cheia prejudica muito a oferta de peixes. "O que ele pega n�o d� para nada, nem para a fam�lia toda comer", diz Eriane.

"Quando n�o tem nada para comer e as crian�as reclamam de fome, dou ch� e farinha para encher a barriga."

"�s vezes, a gente dorme com fome, eu e ele [marido], porque eu n�o gosto de ver meus filhos passarem fome. A gente deixa de comer pra dar para eles."

A fam�lia precisa contar com a solidariedade dos vizinhos, dos parentes e at� da igreja que frequenta para sobreviver. "Meu benef�cio do Bolsa Fam�lia est� bloqueado e ainda estou tentando resolver", diz Eriane.

Assim como Maria Luiza, eles tamb�m recebem aux�lio da ONG Vis�o Mundial, mas na forma de cestas b�sicas. A organiza��o comanda um projeto de combate � fome, com foco em crian�as e adolescentes, em todos os estados e no Distrito Federal.

"A fome est� impactando profundamente a vida de muitas pessoas na regi�o Norte do pa�s. Observamos essa realidade nas pesquisas mais recentes sobre inseguran�a alimentar, mas tamb�m diariamente nos atendimentos feitos pela ONG", diz Daiane Lacerda, gerente de projeto da ONG Vis�o Mundial.

"No Amazonas em especial, al�m da pandemia e da crise econ�mica, as fam�lias t�m sentido muito o impacto da �poca de cheias. Al�m da dificuldade na pesca, a alta dos rios tamb�m prejudica a agricultura familiar", completa Lacerda.

A professora M�rcia Machado atribui o crescimento dos �ndices de inseguran�a alimentar em todo o pa�s, mas especialmente nas regi�es Norte e Nordeste, n�o apenas � pandemia e crise econ�mica, mas a uma "desorganiza��o nas pol�ticas de acompanhamento nacionais".

"Houve uma certa desorganiza��o nas pol�ticas de acompanhamento e aten��o prim�ria. N�o houve um modelo nacional ou um protocolo �nico de medidas que poderia ter mitigado os impactos da pandemia na situa��o econ�mica e alimenta��o da popula��o em todo o pa�s", diz.

- Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62187414

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