
Novos termos v�m sendo usados para designar os idosos. Pessoas com mais de 80 anos, mem�ria de 50 (sem d�ficit cognitivo) e sem doen�as cr�nicas j� s�o considerados ‘superidosos’ ou ‘a quarta idade’; aqueles que ultrapassam 110 anos s�o denominados de ‘supercenten�rios’.
"Ter uma alimenta��o saud�vel, ter amizade com todo mundo, ficar com a fam�lia, gostar da profiss�o, n�o falar mentira e n�o fazer fofoca. Fazendo isso, o mundo fica f�cil de entender"
Oleg�rio Vieira Tavares, nascido em 1917, sobre sua receita para a longevidade
No Brasil, a expectativa de vida do brasileiro era de 76,6 anos em 2019, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Mais de dois anos depois, em meio � pandemia de coronav�rus, esse n�mero caiu para 72,2 anos – estat�stica que sofreu o impacto nefasto da COVID-19, com o registro de mais de 677 mil mortos.
Por outro lado, nunca na hist�ria da humanidade chegou-se a um grupo t�o significativo na faixa dos 100 anos. Em 2020, os centen�rios somavam 573.423 pessoas e a tend�ncia � de crescimento ao longo dos pr�ximos anos.
Esse � o caso de seu Oleg�rio Vieira Tavares. Aos 105 anos, comemorados no �ltimo s�bado (23/7), ele esbanja simpatia. Mineiro de S�o Pedro dos Ferros, a maior parte da vida dele foi na fazenda. Oleg�rio se lembra com carinho da �poca em que ele e os sete irm�os ajudavam o pai a cuidar dos animais (especialmente dos bezerrinhos) e a tirar leite das vacas. “Naquela �poca, a gente estudava s� at� o terceiro ano prim�rio”, comenta.
Aos 10 anos, o idoso conta que perdeu o pai, ap�s um quadro de pneumonia. “Ele estava andando a cavalo debaixo de chuva e acabou n�o resistindo.” Casado desde os 21, Oleg�rio teve oito filhos, dos quais seis homens e duas mulheres. “Para casar, eu n�o peguei dinheiro de ningu�m”, destacou mais de uma vez.
COMPANHEIRA
Ele diz que gra�as a Deus conseguiu criar os filhos, sempre com o apoio da mulher, Maria da Gl�ria, e com o trabalho no interior. “Vivi com minha esposa por mais de 60 anos, at� ela morrer. Era uma companheirona”, comenta seu Oleg�rio. “Sempre nos demos muito bem, porque homem que trata mulher mal � um ignorante.”
Depois que ficou vi�vo, ele se mudou para Belo Horizonte e hoje mora com a filha Maria de Lourdes. Vaidoso, o barbeiro vai at� a casa deles para cortar o cabelo. Maria de Lourdes diz que toda a fam�lia tem o maior carinho com ele. “Sempre o levamos para passear. Ele tamb�m vai ao m�dico sempre, faz exames a cada dois meses.” Nas horas vagas, gosta de ler, fazer Sudoku e palavras-cruzadas.
Seu Oleg�rio assume que ama comer doces. “Minha m�e fazia uma goiabada daquelas. E t�nhamos 20 bananeiras na fazenda. Hoje, eu como arroz doce e gosto muito de chocolate tamb�m.”
Embora cite as guloseimas primeiro, ele diz que se alimenta de forma saud�vel no dia a dia. “Como fruta, salada, carne e verdura”, diz. “Mas ele dorme cedo: �s 20h j� est� na cama”, acrescenta Maria de Lourdes.
Atualmente, seu Oleg�rio toma apenas dois rem�dios: um para evitar ‘confus�o mental’ e outro para a fluidez do sangue. “Eu nunca adoeci, nem bebi ou fumei. Agora, depois de velho, � que tomo um pouquinho de vinho, porque um dos meus filhos ama.”
Como receita de longevidade, ele recomenda: “� ter uma alimenta��o saud�vel, ter amizade com todo mundo, ficar com a fam�lia, gostar da profiss�o, n�o falar mentira e n�o fazer fofoca. Fazendo isso, o mundo fica f�cil de entender”.
Heran�a gen�tica � um fator relevante

"Ao inv�s de esperar medica��es milagrosas, devemos somar atividade f�sica com uma alimenta��o balanceada. Sucesso garantido"
Simone de Paula Pessoa Lima, geriatra
“N�s sabemos que os fatores respons�veis pela longevidade s�o, na verdade, uma associa��o entre gen�tica e estilo de vida”, explica Simone de Paula Pessoa Lima, geriatra da empresa especializada em home care, Sa�de no Lar.
Segundo a m�dica, v�rios fatores associados � quest�o gen�tica est�o sendo estudados e/ou descobertos, levando o paciente a uma longevidade cada vez maior. “S�o aqueles pacientes que passam pela fase dos 60, 70 e 80 anos sem doen�as muito significativas que levam a �bito, e acabam estendendo a idade”, ressalta Simone.
Pode-se dizer, portanto, que a longevidade de algu�m est� praticamente ligada � quest�o gen�tica, ou seja, � propens�o ou n�o de se ter algum tipo de comorbidade. A geriatra afirma que “o ser humano � como um mosaico, no qual temos a carga gen�tica somada ao ambiente em que vivemos”.
No entanto, � poss�vel ajustar o estilo de vida para que ele influencie positivamente na longevidade e na qualidade de vida. Mas, por outro lado, essa mudan�a n�o pode ser feita com a carga gen�tica. O que ocorre, na verdade, � que esses dois fatores est�o conectados, ou seja, a forma como um indiv�duo vive impacta diretamente e potencializa a gen�tica, seja ela negativa ou positiva.
“Um exemplo para entendermos � sobre pessoas com 'heran�a' de doen�a cardiovascular: se elas tiverem uma vida saud�vel, o problema card�aco poder� aparecer mais tarde, l� pelos 75, 80 anos. Nessas mesmas pessoas com carga gen�tica para problemas card�acos e que n�o tenham h�bitos de vida saud�veis, os problemas aparecem mais cedo aos 30, 40 anos”, destaca Simone.
A expectativa de vida global, segundo relat�rios da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), estava em um crescente progressivo h� cinco d�cadas, mas foi interrompido devido � pandemia.
De acordo com a geriatra, a expectativa de vida aumentou se comparada a outros s�culos como consequ�ncia de v�rios fatores, como a maior preven��o de doen�as, vacina��o, tratamentos precoces e promo��o � sa�de. Tudo isso impacta em menos mortes e reflete no envelhecimento populacional.
RECEITA
A receita perfeita para isso n�o foge em nada do que j� sabemos, mas � dif�cil aplicar. A partir do momento em que se sabe o que pode acontecer no processo de envelhecimento, � preciso adotar atitudes para limit�-lo ou mesmo retard�-lo.
Para que isso ocorra, o ideal � ter uma boa alimenta��o e consumir prote�nas nas tr�s principais refei��es, j� que h� perda muscular com o processo de envelhecimento. “� importante manter exerc�cios f�sicos para compensar essa perda muscular. Ao inv�s de esperar medica��es milagrosas, devemos somar atividade f�sica com uma alimenta��o balanceada. Sucesso garantido”, enfatiza a m�dica.
Um estudo da Boston University School of Medicine mostrou que os supercenten�rios variam muito em aspectos como educa��o, renda, religi�o, etnia e at� nos padr�es de dieta – h� desde vegetarianos longevos at� anci�es do churrasco. Mas eles tamb�m t�m muita coisa em comum: poucos s�o obesos, nenhum � ou foi fumante e a maioria lida bem com situa��es estressantes.
“Os bons h�bitos s�o t�o determinantes que, quando adotados por todos, criam-se bols�es de longevidade”, completa.
Simone enfatiza que � preciso entender que o envelhecimento n�o necessariamente est� ligado � perda funcional, que � a capacidade de ir e vir e de decidir as coisas, mesmo quando existem doen�as incapacitantes ou que n�o s�o bem cuidadas.
“Envelhecer faz parte da vida. S� n�o envelhece quem morre novo! Mais uma vez: manter bons h�bitos alimentares e exerc�cios f�sicos � o segredo para viver bem e melhor por muito mais tempo, evitando que a velhice se torne um peso, mas um privil�gio”, finaliza a geriatra.