Casal se diverte em rio
J� se foi o tempo em que assistir a um filme ou tomar um sorvete era tudo o que um casal precisava para se firmar como casal. O namoro moderno mudou ao longo do tempo, at� tornar-se uma s�rie delicada (e, �s vezes, complicada) de "primeiros passos" para pessoas jovens.
Pesquisas demonstram que a postura da gera��o Z (os nascidos entre 1995 e 2010; os anos s�o aproximados, porque n�o h� um consenso claro desta classifica��o) frente ao namoro e ao sexo evoluiu com rela��o �s gera��es anteriores. Eles adotam uma abordagem bastante pragm�tica sobre amor e sexo e, por isso, n�o priorizam compromissos rom�nticos da mesma forma que as gera��es anteriores.
Mas isso n�o quer dizer que eles n�o tenham interesse em romance e relacionamentos �ntimos. Na verdade, eles est�o descobrindo novas formas de satisfazer esses desejos e necessidades com formas que se encaixem melhor nas suas vidas.
Esta mudan�a gerou um novo termo em ingl�s - situationship (algo como "estar em uma situa��o"), que descreve exatamente a �rea cinzenta entre a amizade e o relacionamento amoroso.
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E os especialistas afirmam que a popularidade deste est�gio do namoro, que � dif�cil de definir e acabou designado pelo termo "situa��o", disparou entre a gera��o Z.
"Atualmente, esses acordos resolvem algum tipo de necessidade de sexo, intimidade, companheirismo - o que seja - mas n�o t�m necessariamente um horizonte de longo prazo", segundo Elizabeth Armstrong, professora de Sociologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Suas pesquisas concentram-se especificamente na sexualidade e nas "situa��es".
E as pessoas v�m adotando cada vez mais esta nova classifica��o de relacionamento. O termo situationship come�ou a ganhar for�a em ingl�s no final de 2020, at� atingir recorde de pesquisas no Google em 2022.
Segundo Armstrong, o interesse pelas "situa��es" � mundial e independe de etnias, g�neros e orienta��es sexuais. A cria��o e o crescimento cont�nuo dessa express�o, especialmente entre os jovens, revelam muito sobre como a gera��o Z est� redefinindo o significado do amor e do sexo, de forma diferente das gera��es que a antecederam.

O conceito de 'situa��o' contraria 'essa no��o de que estar com algu�m em algo que n�o dar� em nada � perda de tempo', segundo a professora Elizabeth Armstrong
Getty ImagesSem necessidade de 'dar em alguma coisa'
Uma "situa��o" � um acordo informal, tipicamente entre duas pessoas que compartilham conex�es f�sicas e emocionais, fora da ideia convencional de um relacionamento comprometido e exclusivo.
Em alguns casos, as "situa��es" s�o restritas a um certo tempo e pela ideia de que um acordo casual � a melhor op��o naquele momento. Pode ser o caso de dois universit�rios cursando o �ltimo ano, por exemplo, que n�o querem progredir para um relacionamento comprometido, j� que novos empregos podem lev�-los para cidades diferentes ap�s a formatura.
Armstrong defende que as "situa��es" s�o populares porque elas desafiam o "elevador do relacionamento": a ideia de que as parcerias �ntimas precisam ter uma estrutura linear com o objetivo de atingir marcos convencionais, como morar juntos, o noivado e o casamento.
O conceito da "situa��o" contraria "essa no��o de que estar com algu�m em algo que n�o dar� em nada � 'perda de tempo'", afirma a professora - um sentimento que, segundo ela, a gera��o Z vem abra�ando cada vez mais.
As pessoas que adotam esses acordos decidem voluntariamente entrar na �rea cinzenta dos relacionamentos indefinidos. Segundo Armstrong, eles acreditam que "a 'situa��o', por alguma raz�o, funciona no momento. E, no momento, n�o vou me preocupar em ter algo que 'd� em alguma coisa'."
Pesquisas confirmam essas observa��es. Em entrevistas com 150 estudantes de gradua��o, a professora de Sociologia Lisa Wade, da Universidade Tulane, nos Estados Unidos, observou que a gera��o Z � mais relutante a definir o relacionamento ou mesmo admitir que deseja seu progresso.
Wade afirma que sua pesquisa demonstrou que "esconder as cartas n�o � algo exclusivo dos jovens de hoje em dia", mas a gera��o Z est� mais disposta a ocultar seus sentimentos.
Nas redes sociais TikTok e Twitter, os participantes - especialmente os da gera��o Z - compartilham muitas hist�rias de "situa��es".
No TikTok, v�deos com a hashtag #situationship foram vistos mais de 839 milh�es de vezes. Existem tamb�m muitas refer�ncias na cultura pop. O termo "situationship" aparece em programas populares de namoro na TV como o brit�nico Love Island UK e em m�sicas como Situationship, da cantora millennial sueca Snoh Aalegra.
"N�s brincamos, eu e meus amigos, que estamos todos vivendo a mesma vida", afirma Amanda Huhman, do Texas, nos Estados Unidos, sempre que ela e seus amigos comparam as observa��es sobre suas "situa��es".
Com 26 anos de idade, Huhman documentou no TikTok sua experi�ncia em uma "situa��o". Pelas suas pr�prias intera��es e pelo engajamento que vem observando, ela acredita que esse tipo de acordo seja comum. "Acho que est� se tornando uma parte muito popular da cultura do namoro, pelo menos para a gera��o Z e para os millennials (nascidos entre 1981 e 1995) mais jovens."
Huhman est� h� mais de um ano no que ela descreve como uma "situa��o". E, quando postou sua experi�ncia no TikTok, ela conseguiu cerca de 8 milh�es de visualiza��es e dezenas de milhares de coment�rios - muitos deles, de pessoas compartilhando suas pr�prias situa��es.
Huhman � consultora de sa�de e seu trabalho � remoto. Ela viaja muito e se muda para novas cidades onde mora por alguns meses de cada vez. Ela afirma que estar em uma "situa��o" oferece mais liberdade e autonomia.
"Nossa cultura de namoro hoje em dia � muito ca�tica e confusa", acredita Huhman. "[A gera��o Z] vive este... estilo de vida atribulado e acho que meio que adaptamos o namoro a isso."

Com 26 anos de idade, Amanda Huhman est� em uma 'situa��o', que ela acredita ser mais adequada � sua vida no momento
Cortesia de Amanda HuhmanPrioridade � a trajet�ria pessoal
Encontrar o amor nos tempos atuais traz uma s�rie de desafios. A pandemia, por exemplo, mudou completamente a forma como as pessoas conhecem parceiros e namoram. E a mudan�a em larga escala para o namoro online tamb�m traz suas pr�prias dificuldades.
Al�m disso, muitos jovens simplesmente n�o est�o enfatizando intencionalmente o namoro como no passado. A crise clim�tica, a economia inst�vel com infla��o crescente e a atual convuls�o pol�tica e social fizeram com que os jovens ficassem mais envolvidos com o ativismo e buscassem sua estabilidade pessoal, profissional e financeira em primeiro lugar.
"Os jovens diriam que os relacionamentos os distraem dos seus objetivos educacionais e profissionais - e que � melhor n�o se comprometerem demais, para n�o sacrificar sua pr�pria trajet�ria de vida por outra pessoa", afirma Wade.
Por isso, as "situa��es" podem ser a melhor op��o para os jovens da gera��o Z que desejam explorar suas identidades rom�nticas e sexuais sem prejudicar outros compromissos. Este fen�meno "diversifica as op��es dispon�veis para uma pessoa", segundo Armstrong, e tornou cada vez mais normal optar por essa �rea cinzenta, em vez de evit�-la.
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Mas � claro que este acordo - obscuro, por defini��o - traz certa precariedade e at� algum grau de risco.
Teoricamente, as "situa��es" podem funcionar como um abrigo de "honestidade radical", segundo Wade, quando duas pessoas se abrem sobre o que realmente querem e concordam com os termos de uma situa��o transparente.
Mas, na pr�tica, pode ser dif�cil alinhar as prioridades das duas pessoas e as "situa��es" podem acabar mal quando as duas partes est�o fora de sintonia sobre o que querem da situa��o. O mais comum, segundo ela, � que isso aconte�a quando uma pessoa est� pronta para progredir para um compromisso, mas o medo da mudan�a pode impedir que os dois cheguem at� mesmo a discutir esta possibilidade.
De qualquer forma, no mundo atual do namoro, o interesse crescente pelas "situa��es" indica uma mudan�a da forma em que os jovens podem redefinir o progresso do amor e do sexo - aceitando que o seu sentimento � um campo intermedi�rio satisfat�rio que muitas pessoas das gera��es anteriores costumavam evitar.
Com rela��o a Huhman, ela est� perfeitamente satisfeita em viver na zona cinzenta.
"A escolha � minha, � uma decis�o que tomei e estou feliz. Est� funcionando para mim", ela conta. "Se as pessoas estiverem confort�veis e se para elas parecer certo, n�o se preocupem com as expectativas."
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) na se��o Lovelife do site BBC Worklife.
- Texto originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-62844504
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