
Estabelecer metas para o “Projeto Ver�o”, per�odo em que muitos querem desfilar um corpo mais bonito e torneado, significa seguir uma rotina saud�vel, n�o s� de exerc�cios f�sicos, mas de alimenta��o, treinando de forma correta e selecionando o que vai no prato. E tudo com disciplina, j� que ningu�m perde peso do dia para a noite.
A nutricionista esportiva e comportamental Ruth Egg explica que h� uma diferen�a entre emagrecer e perder peso - que a maioria das pessoas desconhece. Emagrecer significa perder gordura. A massa gorda � o que pode prejudicar a sa�de quando em n�veis altos. J� a perda de peso implica perda de massa magra, massa gorda e �gua. Ou seja, uma pessoa que perdeu muito peso n�o necessariamente emagreceu.

“E � a� que come�am os problemas em rela��o �s dietas da moda com muitas restri��es: a perda de massa magra � maior que a perda de gordura, devido � velocidade que essa perda de peso ocorre, o que causa redu��o direta na taxa do metabolismo corporal, dificultando ainda mais a perda de gordura e mau funcionamento dos m�sculos, inclusive, intestino e cora��o. Al�m disso, grande parte das pessoas que adotam esse tipo de alimenta��o n�o conseguem mant�-la por longo prazo e retomam o peso anterior ou at� maior, por um mecanismo de prote��o do pr�prio corpo.”

Portanto, esse tipo de dieta n�o promove a reeduca��o alimentar essencial para a manuten��o de peso e da sa�de e, inclusive, aumenta o risco para desenvolvimento de compuls�o e outros transtornos alimentares. Ruth Egg alerta que, al�m da consist�ncia de uma alimenta��o saud�vel e treinos bem orientados, a estrat�gia para o ver�o � simples: dieta com baixa caloria que seja rica em fibras, frutas, vegetais e muita hidrata��o.
"Emagrecer significa perder gordura. J� a perda de peso implica perda de massa magra, massa gorda e �gua"
Ruth Egg, nutricionista esportiva

“As fibras ajudam no funcionamento do intestino e promovem saciedade. As frutas e vegetais s�o carboidratos sem a��cares adicionados, mais saud�veis que os produtos industrializados. Tamb�m � importante ingerir uma quantidade adequada de prote�na em todas as refei��es, mas sem exagero, pois assim como os carboidratos, as prote�nas tamb�m engordam se ingeridas em excesso. �gua e ch�s (sem a��car) s�o bem-vindos n�o s� para ajudar a refrescar do calor, mas para manter um bom funcionamento renal e intestinal, auxiliando no ganho de massa magra e redu��o do incha�o causado pela reten��o de l�quidos, e tamb�m na regula��o termo-corporal.”
A nutricionista destaca que alguns nutrientes tamb�m podem ajudar no “Projeto Ver�o”, se a pessoa j� tem h�bitos alimentares saud�veis. “Mas eles tamb�m n�o fazem milagres. �mega 3, aveia, canela, gengibre, c�rcuma e vitamina D s�o nutrientes que podem ajudar com a menopausa e TPM, auxiliam no ganho de massa magra, redu��o de colesterol e triglic�rides, funcionamento intestinal, acelera��o do metabolismo basal e antioxidantes.”
RECEITA CERTA Quem n�o embarca nessa onda de “milagre” � o casal Erivelton Braz, de 40 anos, professor e jornalista, e Renata Cely Frias, advogada, de 46, pais de Lu�sa Frias Braz, de 7. Eles resolveram juntos mudar o h�bito alimentar e de vida e come�aram a miss�o em fevereiro. “Como muitos brasileiros, houve um descontrole da minha alimenta��o em 2020, agravado pela pandemia. Tenho 1,80m e, pelo meu biotipo, o peso ideal seria 80 quilos. Sempre tive sobrepeso, mas cheguei a 117 quilos, com dor no joelho, na sola do p� e press�o alta. Num checape anual com a cardiologista, ela me perguntou se queria ir ao casamento da minha filha um dia. Porque aqueles resultados dos exames n�o indicavam uma vida saud�vel e longa. Foi um baque.”
Diante do susto, Erivelton conta que procurou um nutr�logo que lhe prescreveu uma dieta com reeduca��o alimentar para a perda de peso. E indicou exerc�cio f�sico. “Tudo com orienta��o e supervis�o de profissionais da sa�de. Fa�o academia, muscula��o e aer�bico cinco vezes por semana. E �s 6h, para n�o ter desculpa e ser um desafio. Acordo e � meu primeiro compromisso. Sempre fui sedent�rio, nunca tinha feito nenhuma atividade f�sica antes. Nada.”
Erivelton j� perdeu 30 quilos e atualmente est� com 86 quilos. Ele diz que percebe melhora em tudo. “Durmo melhor, estou menos ansioso, esteticamente gosto mais do meu corpo. Foi uma transforma��o. N�o foi r�pido ou tranquilo. A primeira mudan�a chegou com tr�s meses e acredito que tudo na vida exige esfor�o, for�a de vontade. N�o h� dieta milagrosa. � disciplina e comprometimento”.
Erivelton destaca que seu erro nem era uma alimenta��o ruim, mas exagerada. “Era o excesso, j� que nunca fui de comer errado. Descobri que � poss�vel ter prazer me alimentando de forma controlada. Percebi que posso aproveitar com responsabilidade e consci�ncia. E ainda tive a companhia da minha mulher nessa jornada”, conta.
Renata, ali�s, revela que emagreceu 21 quilos, tamb�m por meio de dieta, reeduca��o alimentar e academia tr�s vezes por semana. “Sinto que minha vida mudou para melhor com esse acompanhamento profissional e mudan�a de prop�sito. Sa� dos 104 quilos, sofria com dores e mobilidade reduzida. Agora, estou com 83 quilos, mantendo os exerc�cios f�sicos e sem dores. Estou bem mais feliz.”
INFLEX�VEIS Para os inflex�veis com as metas do “Projeto Ver�o, a nutricionista Ruth Egg explica que o principal � compreender que o ganho de peso n�o ocorre de um dia para o outro. Da mesma forma, a perda para ser saud�vel, tamb�m n�o. “A mudan�a de h�bitos acontece de m�dio para longo prazo.
Ela � poss�vel quando colocamos metas ating�veis. Algo fora da realidade o far� desanimar ou desistir. Por exemplo: reduzir a ingest�o de doces: n�o adianta se propor a nunca mais comer doces. O ideal � reduzir a frequ�ncia de tr�s vezes na semana para duas, at� que um dia, o h�bito de consumir doces todos os dias n�o exista mais. Essa mudan�a n�o � linear. Pode ser que em uma semana voc� consiga atingir a meta, mas na semana seguinte n�o. E est� tudo bem, n�o s�o esses pequenos deslizes que ir�o te prejudicar. O importante � manter a const�ncia da boa alimenta��o e deixar o que n�o � t�o saud�vel como pequenas exce��es”.
Tenha uma b�ssola pr�pria
A psiquiatra Maria Francisca Mauro, especializada em transtornos alimentares e obesidade, membro do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares (GOTA/IPUB/UFRJ) e doutoranda do PROPSAM/UFRJ, afirma que n�o � o manequim que d� liberdade �s pessoas, referindo-se �quelas que ainda se sentem “obrigadas” a se encaixar em um padr�o que ganha for�a especialmente no per�odo que antecede o ver�o.
Com mulheres bombardeadas com imagens de corpos magros usando biqu�nis, � cada vez mais frequente a venda de dietas milagrosas e exerc�cios que prometem mudar a apar�ncia f�sica. “� f�cil ser seduzida por dietas em que o foco n�o � a sa�de, mas o resultado. Pessoas vulner�veis s�o mais suscet�veis a acreditar nessas promessas, j� que buscam uma resposta r�pida.”
“Questione, pense se quer um ver�o ou v�rios ver�es. A vontade de ir a determinados lugares que exp�em o f�sico precisa ser naturalizada, n�o porque far� uma mudan�a em seu corpo, mas porque voc� pode circular em qualquer lugar que deseja. Tenha uma b�ssola pr�pria que d� a dire��o das qualidades que voc� tem, quais s�o as caracter�sticas que fazem todos te reconhecerem. Suas medidas n�o ser�o a partir da balan�a ou de determinada roupa que n�o coube”, diz Maria Francisca.
A verdade � que para muitos � tentador se comparar e achar que um determinado corpo pode ser o ideal. De acordo com a Associa��o Brasileira de Psiquiatria (ABP), estima-se que mais de 70 milh�es de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia e compuls�o por comida, por exemplo. E eles est�o diretamente relacionados com a distor��o da imagem. “Para al�m daquilo que considera perfeito, � importante se atentar ao que voc� tem e � sua sa�de. O f�sico n�o pode ser atravessado pelo �dio, mas pelo amor pr�prio”, recomenda a psiquiatra.
Maria Francisca Mauro enfatiza que quando se tem vergonha da pr�pria condi��o f�sica, n�o adianta perder peso por meio de dieta ou participar da pr�xima chamada da internet para um programa milagroso. “A pessoa precisa se localizar dentro dela e de suas necessidades, pois pode ser que aquilo encubra outras fragilidades emocionais”, destaca.
Vale lembrar que o problema n�o est� somente no corpo gordo, o magro tamb�m sofre. “Sempre que falamos das dificuldades, o foco acaba sendo as pessoas que t�m tamanhos maiores, como obesidade, como se elas necessariamente tivessem que sofrer por n�o se encaixarem em um padr�o.
� importante compreender que aquelas que s�o extremamente magras podem estar adoecidas, terem complica��es cl�nicas graves, podendo fazer uso de diversos medicamentos sem indica��o, com uma alimenta��o restritiva que provoque altera��es hormonais grav�ssimas e isto n�o � discutido. Precisamos conversar sobre as pessoas terem os seus corpos livres, independentemente de seu tamanho ser 34 ou 50, ou qualquer que seja”, exp�e a psiquiatra.