
Antes, o medicamento j� havia sido incorporado ao SUS pelo Conitec (Comiss�o Nacional de Incorpora��o de Tecnologias no Sistema �nico de Sa�de). Outro medicamento tamb�m aprovado para uso contra COVID � o antiviral molnupiravir, da farmac�utica MSD. Em comunicado no �ltimo dia 27 de outubro, a Anvisa disse aguardar mais resultados para autorizar sua comercializa��o em farm�cias.
Por�m, a evid�ncia do uso do nirmatrelvir combinado com ritonavir (composto ativo do Paxlovid) no atual momento da pandemia acaba de ser contestado em um artigo publicado na revista cient�fica BMJ Evidence-Based Medicine (do grupo British Medical Jounal).
No estudo, os autores Todd Lee e Andrew Morris, do Departamento de Medicina da Universidade McGill, no Qu�bec (Canad�), e da Universidade de Toronto, junto com os pesquisadores Jason Pogue e Erin McCreary, da Universidade de Michigan e da Escola de Medicina de Pittsburgh (EUA), afirmam que, com base nas evid�ncias mais recentes, o benef�cio do uso de nirmatrelvir e ritonavir para pacientes imunocompetentes vacinados e/ou recuperados da Covid � incerto.
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A pesquisa cient�fica, que fez uma revis�o da literatura dispon�vel, listou os principais achados sobre o Paxlovid e a sua efic�cia contra hospitaliza��es e �bitos. O primeiro estudo cl�nico randomizado e duplo-cego, conduzido pela Pfizer, incluiu 2.246 participantes, dos quais metade recebeu placebo e metade, a droga. S� foram considerados pacientes com alto risco de evolu��o para quadro grave da doen�a e maiores de 18 anos n�o hospitalizados.
A conclus�o do estudo foi que o Paxlovid evitou uma hospitaliza��o a cada 18 casos, por�m mesmo esse benef�cio foi encontrado em um contexto de circula��o da variante delta, mais agressiva.
Os autores refizeram a an�lise do estudo da Pfizer no contexto de circula��o da �micron e suas subvariantes. Considerando um risco de hospitaliza��o com a �micron cerca de 40% menor do que o da delta, a expectativa era que o medicamento prevenisse mais hospitaliza��es, mas o resultado obtido foi de uma hospitaliza��o evitada a cada 42 casos.
Outro ponto mais importante � que a prote��o nos indiv�duos vacinados e que fizeram uso do medicamento ainda � desconhecida. Como a vacina��o foi um fator determinante para reduzir hospitaliza��es e mortes, os pesquisadores esperavam encontrar um maior benef�cio tamb�m no uso do medicamento por esses indiv�duos, o que n�o foi encontrado, j� que pessoas vacinadas (incluindo com refor�o) se infectam com a �micron, mas raramente evoluem para hospitaliza��o e morte.
Por fim, os cientistas consideram que, se n�o h� benef�cio evidente atualmente do uso de Paxlovid para evitar hospitaliza��o e morte, a resolu��o dos sintomas em poucos dias poderia ser um uso poss�vel, melhorando assim o quadro cl�nico da doen�a. Mas, como esse n�o foi um desfecho buscado nos ensaios cl�nicos da farmac�utica at� ent�o, n�o h� essa indica��o para uso, e o benef�cio continua desconhecido.
Para os autores, o medicamento, assim como outros antivirais, tem o seu valor, mas a aprova��o de ag�ncias como a FDA americana (Food and Drugs Administration) no atual momento da pandemia n�o considerou a melhor evid�ncia dispon�vel. Os pesquisadores ressaltam ainda que o alto custo desses tratamentos antivirais deve ser considerado quando forem pensadas pol�ticas p�blicas de sa�de.
O artigo diz que o governo americano gastou cerca de US$ 100 bilh�es (cerca de R$ 557 bilh�es) com terapias com "baixo valor" de evid�ncia m�dica, ou seja, tratamentos com falta de indica��o para uso ou ofertados a pacientes que n�o correspondem aos crit�riosdefinidos no estudo.
No Brasil, o dif�cil acesso aos medicamentos contra Covid foi criticado por muitos especialistas, especialmente em momentos da pandemia com maior n�mero de casos e, consequentemente, de hospitaliza��es e mortes.
Faltam mais estudos para indicar um poss�vel benef�cio dos antivirais em todos os tipos de pacientes e frente �s novas variantes. Os autores do estudo concluem, no entanto, que o coronav�rus � um v�rus que vai permanecer em circula��o por muito tempo, e parece "razo�vel fazer escolhas sobre como vamos escolher e priorizar terapias para n�o repetir as escolhas do passado".