
infertilidade e reprodu��o humana no Instituto Ideia F�rtil de Sa�de Reprodutiva, destaca que nos �ltimos anos, a oncofertilidade apresentou um enorme desenvolvimento, principalmente porque o diagn�stico tem vindo cada vez mais cedo e os tratamentos est�o cada vez mais eficientes. "Com isso, o c�ncer tem se transformado de uma doen�a quase sempre fatal, para uma enfermidade que pode-se tornar cr�nica ou, em algumas situa��es, cur�vel, abrindo possibilidades antes inimagin�veis para quem vive com ela - como, por exemplo, a gesta��o".
Ana Fl�via Hostal�cio, m�dica ginecologista e obstetra da Oya Care, especialista em reprodu��o humana e com atua��o na �rea de A partir do momento em que a sobrevida dos pacientes oncol�gicos aumenta, outras quest�es passam a ser consideradas. Ana Fl�via Hostal�cio diz que "um dos pontos mais importantes � a manuten��o da fertilidade futura, tendo em vista que muitos pacientes no momento do diagn�stico e tratamento do c�ncer ainda s�o crian�as, adolescentes ou adultos jovens e, na maioria das vezes, este grupo ainda n�o tem filhos ou essa decis�o definida".
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A m�dica ginecolosita destaca que nem sempre as terapias contra o c�ncer afetam as fun��es reprodutoras e causam infertilidade, contudo, recomenda-se uma conversa com o oncologista antes do in�cio do tratamento. "O di�logo com o m�dico torna-se essencial para se abordar os riscos de diminui��o da fertilidade, ou ainda, a infertilidade tempor�ria ou permanente".
Conversar com o oncologista sobre quais os riscos associados � infertilidade antes de iniciar o tratamento � a maneira mais promissora para uma gesta��o futura.
Como os tratamentos de c�ncer podem prejudicar a fertilidade feminina

A m�dica conta que a quimioterapia e a radioterapia causam les�es nas c�lulas da zona pel�cida que t�m a fun��o de proteger e dar suporte ao gameta feminino, necess�rias para a gesta��o. "A literatura m�dica diz que a maioria dos medicamentos quimioter�picos podem danificar os �vulos da mulher e, com isso, afetar a fertilidade. Estima-se que uma dose menor que 2 Grays - medida para a radia��o - seja suficiente para destruir 50% dos fol�culos primordiais e que 5 a 10 Grays podem levar � fal�ncia ovariana. Contudo, a intensidade desse dano depender� da idade da mulher, dos tipos de medicamentos utilizados e doses administradas".
Doses elevadas de radia��o no abdome ou pelve podem destruir alguns ou todos os �vulos, provocando infertilidade ou menopausa precoce. "A irradia��o no �tero pode provocar cicatrizes, limitando a flexibilidade e o fluxo de sangue. Isso pode refrear o crescimento e a expans�o do �tero durante a gravidez, aumentando, assim, o risco de aborto e nascimentos de beb�s prematuros", esclarece a ginecologista.
Ana Fl�via Hostal�cio diz que, em geral, a gravidez n�o coloca em novo risco ou piora o progn�stico de mulheres sobreviventes ao c�ncer. Desta forma, com o bom progn�stico de cura, essas mulheres s�o autorizadas a desenvolver a gesta��o ap�s um per�odo sem a presen�a da doen�a.
Congelamento de �vulos como alternativa para a gesta��o futura
A medicina reprodutiva evoluiu, acompanhando os progressos da oncologia, ao proporcionar �s mulheres sobreviventes do c�ncer a possibilidade de terem filhos no futuro."Algumas t�cnicas dispon�veis j� est�o bem estabelecidas, enquanto outras t�m resultados controversos ou s�o consideradas experimentais. A mais utilizada atualmente � o congelamento de �vulos (criopreserva��o), que podem ficar guardados por at� 15 anos em temperatura de 196ºC negativos", explica a m�dica ginecologista.
Mulheres com c�ncer de mama ou de origem hematol�gica (linfomas Hodgkin/ n�o Hodgkin/ leucemia) s�o as que com maior frequ�ncia t�m indica��o para preserva��o da fertilidade. As estat�sticas mostram que a fertilidade passou a ser foco de aten��o na vida das sobreviventes ap�s a cura.
Ana Fl�via Hostal�cio enfatiza que as op��es para preservar a possibilidade de gravidez futura passam pelo congelamento de �vulos, que tornou-se a primeira op��o de preserva��o da fertilidade feminina por n�o necessitar do gameta masculino. "A ci�ncia ainda desenvolveu a criopreserva��o de embri�es, que consiste no congelamento de embri�es j� fecundados e que tem tido �timos resultados h� muitos anos".
O congelamento exige pelo menos duas semanas para a estimula��o ovariana e coleta dos o�citos maduros para a criopreserva��o. "Contudo, esse prazo pode trazer adversidade para os pacientes com indica��o imediata da quimioterapia. Vale ressaltar que meninas pr�-p�beres n�o podem utilizar esta t�cnica, que ainda tem limita��es em adolescentes sem vida sexual", lembra a ginecologista.
De acordo com o Instituto Nacional de C�ncer (Inca), no Brasil, a estimativa, com base no tri�nio 2020-2022, pode ocorrer at� 625 mil casos novos da doen�a. Especificamente na mulher, os c�nceres de pele n�o melanoma, de mama (29,7%), c�lon e reto (9,2%), colo do �tero (7,5%), pulm�o (5,6%) e tire�ide (5,4%) figurar�o entre os principais.
O diagn�stico e os projetos futuros
Ana Fl�via Hostal�cio conta que ap�s o diagn�stico de um c�ncer, h� a tend�ncia entre paciente e m�dico de buscar agilidade no tratamento, com foco em melhores resultados. "Entretanto, essa “pressa” pode comprometer algumas oportunidades na vida das sobreviventes e uma delas � a preserva��o da fertilidade. Pouco se sabe sobre qual seria o intervalo ideal entre diagn�stico de c�ncer e in�cio do tratamento, sem comprometer as taxas de cura ou sobrevida, o que muitas vezes coloca as pacientes em um dilema".
Contudo, enfatiza a m�dica, h� uma boa not�cia: um novo estudo comparativo demonstrou que optar pela preserva��o da fertilidade n�o atrasa o in�cio da terapia oncol�gica. "A pesquisa “Fertilidade otimizada em mulheres com c�ncer: da preserva��o � contracep��o” realizada pelos profissionais do Centro de Fertilidade de Ribeir�o Preto, em parceria com o professor Rui Alberto Ferriani, da Faculdade de Medicina de Ribeir�o Preto - USP, aponta que o congelamento de �vulos e embri�es � uma das alternativas mais eficazes, j� que n�o atrasa o in�cio do tratamento contra a doen�a. “O receio em atrasar o in�cio do tratamento oncol�gico e a falta de encaminhamento em momento oportuno � uma das principais barreiras para o encaminhamento de pacientes para a preserva��o da fertilidade” traz o texto do estudo".
A m�dica explica que estudos sobre a fisiologia ovariana possibilitaram o melhor desenvolvimento de protocolos de estimula��o chamados random start, que podem ser iniciados em qualquer dia do ciclo independente do per�odo menstrual. Com isto, a terapia pode ser iniciada de forma �gil, sem atrasar o tratamento oncol�gico.
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"A ci�ncia j� comprovou tamb�m que a indu��o de ovula��o, feita para acelerar a matura��o dos fol�culos ovarianos, pode ser realizada logo ap�s a aspira��o folicular, sem a necessidade de se aguardar a menstrua��o, possibilitando uma nova coleta de �vulos num intervalo curto de tempo. Com isso, aumentam-se as chances de sucesso no procedimento, com menos tempo de espera, dando agilidade ao tratamento".
Coberturas, conv�nio e SUS
A ginecologista lembra que o Sistema �nico de Sa�de (SUS) oferece de forma gratuita e universal o congelamento dos �vulos para pacientes oncol�gicas que podem ter a fertilidade prejudicada. De acordo com o Minist�rio da Sa�de, para ter acesso ao congelamento de �vulos, mulheres em tratamento de c�ncer devem agendar o procedimento por meio da Unidade B�sica de Sa�de (UBS) para iniciar o processo.
Segundo dados do �ltimo relat�rio do Sistema Nacional de Produ��o de Embri�es (SisEmbrio), publicado em 2019, a taxa nacional de fertiliza��o in vitro (FIV), por meio da t�cnica RHA (Reprodu��o Humana Assistida), foi de 76% no Brasil.
Tamb�m � poss�vel recorrer aos planos de sa�de nesse momento. "Na sa�de suplementar, o benefici�rio da criopreserva��o � protegido pelo C�digo de Defesa do Consumidor: a Justi�a brasileira considera nula qualquer restri��o que ponha o consumidor em situa��o de desvantagem excessiva. Neste sentido, uma negativa do plano de sa�de para quem busca o congelamento de �vulos nesse contexto � considerada abusiva", informa a m�dica. No entanto, a cobertura do benef�cio s� deve durar at� o momento em que a paciente receber alta do tratamento. A partir desse momento a manuten��o e eventual utiliza��o dos �vulos seria de responsabilidade da contratante.
Segundo a ginecologista, o procedimento de coleta e congelamento de �vulos (que inclui estimula��o por horm�nio, coleta e congelamento) custa entre R$ 15 mil e R$ 30 mil. Al�m disso, a pessoa paga R$ 1 mil para a manuten��o dos �vulos congelados.