O branco moment�neo e os lapsos de mem�ria preocupam muita gente por estarem associados a dem�ncias, mas as causas podem ter a ver com outros fatores
No mundo atual, nosso c�rebro recebe uma enorme quantidade de informa��es ao mesmo tempo. Isso atrapalha muito o foco necess�rio para ter um processo adequado de mem�ria
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Quem nunca esqueceu onde deixou o celular ou o nome de um ator ou atriz famosos que atire a primeira pedra, n�o � mesmo?
O branco moment�neo e os lapsos de mem�ria preocupam muita gente por estarem associados a dem�ncias, mas as causas podem ter a ver com momentos de cansa�o excessivo, estresse emocional, depress�o, transtorno de d�ficit de aten��o, priva��o de sono, dieta pobre em determinados nutrientes ou com o excesso de algumas subst�ncias e medicamentos.
De acordo com a geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da Sa�de no Lar, empresa especializada em home care, o esquecimento n�o gera muita preocupa��o quando o paciente tem no��o de que est� esquecendo algo, como, por exemplo, onde colocou a chave, mas logo em seguida se lembra. � s� ter calma e a informa��o/mem�ria solicitada chega ao c�rebro.
"Ele se torna preocupante se est� impactando a vida do paciente, como n�o conseguir mais tomar rem�dio sozinho por estar esquecendo, perder-se num lugar j� conhecido, n�o conseguir sair mais sozinho, n�o saber mais fazer um caminho de carro que era comum, n�o dar conta mais de cozinhar sendo que antes era um excelente cozinheiro."
A especialista chama a aten��o tamb�m para o que est� sendo esquecido. "N�o se lembrar do nome de algu�m � muito diferente de esquecer da pr�pria pessoa conhecida. E isso acontece de vez em quando, principalmente quando nos encontramos pouco com determinada pessoa, mas, mesmo assim, nos lembramos que a conhecemos. Quando n�o nos lembramos daquele algu�m, j� gera maior preocupa��o", ressalta.
No mundo atual, nosso c�rebro recebe uma enorme quantidade de informa��es ao mesmo tempo. Isso atrapalha muito o foco necess�rio para ter um processo adequado de mem�ria.
Um bom exemplo disso seria atender o celular enquanto dirige e precisar guardar uma not�cia recebida. A capacidade de conservar na mem�ria essa not�cia � menor porque o c�rebro precisa manter a aten��o na dire��o tamb�m.
Outras duas causas comuns de queixa de esquecimento, de acordo com a m�dica, s�o a depress�o e a ansiedade.
"Essas doen�as podem dificultar a capta��o das informa��es, refletindo numa piora da forma��o da mem�ria. A mem�ria depende de v�rias etapas: aquisi��o da informa��o, armazenamento da mesma e, depois, recupera��o. Quando a pessoa est� sem foco e aten��o pode prejudicar o processo."
Depois disso, Simone ressalta que at� as emo��es influenciam, como as lembran�as de algo afetivo, como uma m�sica, um cheiro. S�o fatores que v�o se associando com o intuito de tornar a mem�ria mais relevante, mais importante e mais f�cil de ser guardada.
Dem�ncia
V�rias quest�es podem causar esquecimento, entre elas as dem�ncias. Estas, na sua maioria, s�o irrevers�veis como a doen�a de Alzheimer, a dem�ncia vascular por AVC (dependendo de onde ocorreu), dem�ncia por corpos de Lewy.
A geriatra, que lida diretamente com esse tipo de situa��o em cuidados de home care, pondera que cada tipo de dem�ncia tem suas caracter�sticas.
"As perdas da cogni��o, capacidade que temos de adquirir conhecimento e reagir de forma emocional e intelectual adequada variam. Temos doen�as em que o esquecimento � a principal caracter�stica, com a piora da mem�ria em si, como ocorre com o Alzheimer. Outras, como a dem�ncia frontotemporal, n�o acometem tanto a mem�ria, mas modificam o comportamento de forma importante. J� a dem�ncia por corpos de Lewy interfere um pouco na mem�ria e um pouco na parte motora, gerando quedas."
Alzheimer
Foi o caso da av� da confeiteira de 42 anos, Melissa Rios Cardoso. Dona Janete, de 90 anos, j� apresentava alguns sinais leves de esquecimento, mas no per�odo pand�mico teve esses sintomas agravados. Nesta mesma �poca, segundo a neta, ela passou pela perda de um de seus filhos mais novos. "Creio que foi muito pra ela", conta.
Entre as primeiras manifesta��es da doen�a, Melissa relata a varia��o no tempo em que sua av� falava: "Ao mesmo tempo que falava comigo no presente, por exemplo, falava comigo crian�a. A mem�ria recente tamb�m desapareceu. Toda vez que a vejo, para ela, parece que passou muito tempo".
A partir desses ind�cios at� o diagn�stico, a neta relatou ser tudo muito r�pido. "Ela nem parece a mesma pessoa de cinco anos atr�s. Muito diferente mesmo. Mais fraquinha, debilitada. H� dias que nem conversa direito, n�o se alimenta e tem de usar uma sonda de alimenta��o."
Dona Janete foi levada ao m�dico pelos familiares para que ele pudesse investigar uma poss�vel depress�o e a mem�ria e, ap�s consultas e exames, surgiu o diagn�stico da dem�ncia.
"Ela est� bem assistida e quase n�o sai da cama. �s vezes, n�o sabe o nome das pessoas, embora ainda reconhe�a. Dos bisnetos, ela lembra deles apenas pequenos e � novamente apresentada a eles a cada visita. Mesmo tendo esquecido o nome do Roberto Carlos, ama ouvi-lo comigo. Quando coloco para ela, o sorriso � imediato, e algum tempo depois, canta."
Com o passar do tempo e da idade, de acordo com Simone de Paula, h� uma maior chance de aparecerem algumas doen�as como hipertens�o e diabetes, hipotireoidismo, insufici�ncia card�aca, doen�a renal, doen�a pulmonar, dentre outras. V�rias delas, quando n�o est�o compensadas, s�o fatores de risco para as dem�ncias. "Ou seja, esses pacientes correm mais risco de evolu�rem para dem�ncia do que aquelas pessoas que n�o t�m essas patologias."
Outros fatores de risco, de acordo com a geriatra, seriam baixo n�vel de escolaridade, tabagismo, alcoolismo, sono ruim, baixa atividade f�sica. A preven��o, no entanto, � sempre a melhor arma contra as doen�as. Para isso, o ideal � aumentar a nossa capacidade/atividade cerebral. Exemplos disso, segundo a especialista, seriam estudar, aprender novas l�nguas, jogar, ler, entre outros.
"Caso aconte�a de uma dem�ncia aparecer, o c�rebro vai estar bem "cheio" de informa��es, perdendo primeiro aquelas que n�o v�o impactar na independ�ncia, demorando mais a atingir uma perda avan�ada."
Falando em preven��o para doen�as que podem ser fatores de risco para o esquecimento, podemos citar:
- Uma boa qualidade de vida iniciada desde cedo.
- Cuidado com a sa�de f�sica e mental
- Investimento em uma boa alimenta��o com variedade de vitaminas e um bom aporte de prote�nas - Exerc�cio f�sico para a libera��o de subst�ncias que geram prazer e melhora muscular - Controle do peso
- Hidrata��o adequada
- Acompanhamento e tratamento adequados quando doen�as ocorrerem
Problemas nutricionais
Aline Aparecida Nascimento Dias Xavier, t�cnica em administra��o de pessoal (RH), de 34 anos, conta que seu esquecimento teve in�cio em 2019, quando come�ou a ter problemas nutricionais. "Fiz cirurgia bari�trica (bypass) em 2018 e, mesmo comendo bem e com qualidade, existem alguns nutrientes que s� a reposi��o consegue suprir."
O esquecimento, segundo ela, � recorrente e agravou quando come�ou a ter convuls�es, no fim de 2021. O quadro est� sendo investigado, mas aparentemente tem rela��o com a falta de vitaminas. Atualmente, ela est� fazendo um acompanhamento nutricional e neurol�gico.
De acordo com a RH, ela recebeu recentemente o diagn�stico de autismo, atrav�s de um m�dico psiquiatra e, apesar de ainda estar sendo investigado, pode ter rela��o direta com as convuls�es.
Para melhorar o esquecimento, Aline n�o est� realizando nenhum acompanhamento espec�fico, mas toma medica��o para controlar as convuls�es, j� que a cada convuls�o o esquecimento piora.
Alimenta��o x mem�ria
Segundo a nutricionista Renata Brasil, de 33 anos, n�s utilizamos as informa��es que est�o na nossa mem�ria para quase tudo que fazemos no dia a dia, desde atividades simples como nos vestir, a aquelas que nos exigem maior foco e concentra��o como um processo de trabalho, por exemplo.
"A todo tempo, usamos toda a nossa capacidade cognitiva. Por isso, uma alimenta��o deficiente em vitaminas do complexo B, ferro, lute�na, nitratos, vitamina D, �mega 3 e antioxidantes, pode favorecer a queda de informa��es sensoriais. Al�m disso, um intestino com sua microbiota desequilibrada favorece o processo inflamat�rio do organismo e reduz a absor��o das vitaminas essenciais para o nosso c�rebro."
A nutricionista cita que alguns alimentos podem contribuir para o esquecimento, como os alimentos fritos, aqueles com alto teor de glicose, como o a��car, as farinhas brancas, bebidas industrializadas e carboidratos refinados.
"Gorduras saturadas e trans s�o extremamente prejudiciais para nossa mem�ria, ent�o vale a pena uma aten��o especial para fast foods, margarina, queijos muito gordurosos e at� mesmo pipoca de micro-ondas. Essas gorduras nos alimentos fritos danifica a barreira hematoencef�lica, que funciona como um complexo de transportes para levar nutrientes ao c�rebro.
Se afetada, pode permitir que subst�ncias prejudiciais entrem no c�rebro e lhe causem danos, assim como pode impedir a entrada de subst�ncias que s�o importantes para as fun��es cerebrais."
O a��car, conforme explica Renata, reduz a flexibilidade cognitiva, assim como a mem�ria de longo e curto prazo e contribui diretamente para o aumento do processo inflamat�rio e esse, cria um ambiente t�xico para o nosso c�rebro.
"A melhor forma de nos proteger � n�o alimentar a inflama��o. Massas, doces, refrigerantes, sucos ado�ados, bolachas e p�o branco liberam muita glicose na nossa corrente sangu�nea, o que causa um aumento das citocinas mensageiras da inflama��o."
Outro ponto que merece aten��o � a pouca ingest�o de �gua e fibras, fundamentais para nosso eixo intestino-c�rebro, j� que a forma��o de bact�rias prejudiciais na manuten��o do funcionamento do intestino traz consequ�ncias na intera��o entre a comida, nas mudan�as microbiais e nas respostas neurocerebrais.
Alimentos para quem anda esquecido
Renata cita como importante o espinafre, br�colis, r�cula, agri�o e todos os vegetais verde-escuros, por terem alto teor de Lute�na, Ferro, Vitaminas do complexo B e principalmente alta capacidade antioxidante.
Azeite de oliva, castanhas e sementes e abacate tamb�m devem ser inclu�dos na dieta. O abacate � rico em vitaminas B6, B12, C e E, al�m de sel�nio, lute�na, colina e outros compostos fundamentais para os neur�nios. J� o azeite e as castanhas possuem alto teor de gordura monoinsaturada, que protege as art�rias, garantindo �timo fluxo sangu�neo inclusive para o c�rebro.
"Peixes como salm�o, sardinha, atum e cavalinha s�o prote�nas e fontes de �mega-3, que atua na conex�o entre os neur�nios, facilitando a plasticidade sin�ptica. A gordura auxilia ainda na produ��o de neurotransmissores e tem a��o anti-inflamat�ria, deixando o caminho livre para c�lulas do c�rebro se regenerarem."
A uva tamb�m deve ser inclu�da. Segundo a nutricionista da Soloh, o motivo � por ser rica em polifen�is, que penetram a barreira hematoencef�lica e protege o c�rebro, inibindo danos ligados ao excesso de radicais livres.
Vale lembrar que a alimenta��o n�o acarreta problemas com rela��o ao esquecimento de forma isolada, afinal nosso corpo � um sistema integrado, mas sem d�vidas, tem um peso muito grande quando se trata de sa�de do nosso sistema nervoso.
"Ela deve estar associada a uma boa hidrata��o, � pr�tica de atividade f�sica, a um intestino e sono saud�veis, e claro, ao controle das nossas emo��es negativas."
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