
As formas como pensamos no amor e no sexo est�o sempre evoluindo. Elas s�o influenciadas por acontecimentos culturais, pol�ticos e globais.
Este ano n�o foi diferente. Grande parte dessa influ�ncia se espalhou online, especialmente em comunidades que se identificam no espectro LGBTQIA+.
Ao mesmo tempo, a autorreflex�o conduzida ao longo da pandemia de covid-19 continua abalando, em efeito cascata, o mundo dos relacionamentos de forma geral, resultando em mais pr�ticas intencionais. Com isso, as pessoas passaram a pensar mais sobre quem e como gostariam de namorar.
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Vimos pessoas ainda mais dependentes da internet para encontrar poss�veis parceiros, para o bem e para o mal.
E as pessoas passaram a se expressar cada vez mais sobre a experi�ncia de diferentes tipos de relacionamentos, desde o poliamor solo at� parcerias de vida plat�nicas.
Afastando-se dos padr�es bin�rios
Na cultura ocidental, os relacionamentos, o g�nero e a sexualidade, h� muito tempo, s�o definidos por padr�es bin�rios. Ou o casal est� namorando, ou n�o est�; algu�m � atra�do por mulheres ou por homens, a pessoa � homem ou mulher.
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Mas, nos �ltimos anos, esses padr�es bin�rios ficaram cada vez menos arraigados e mais pessoas v�m observando as orienta��es sexuais e identidades de g�nero de formas diferentes. E este processo foi especialmente marcante em 2022.
Com rela��o � orienta��o sexual, o g�nero de uma pessoa perdeu relev�ncia para muitos em busca de um parceiro, especialmente no caso de muitos millennials e jovens da Gera��o Z em seus relacionamentos �ntimos.
Para alguns deles, o g�nero passou at� a ser um dos �ltimos itens da lista do que eles desejam em um parceiro. Isso � especialmente v�lido para pessoas que se identificam como queers ou pansexuais, o que significa que suas atra��es rom�nticas e/ou sexuais s�o independentes do g�nero.
Ella Deregowska tem 23 anos de idade e mora em Londres. Ela afirma que identificar-se como pansexual permitiu a ela mover-se "com maior fluidez e aceitar cada atra��o que sinto sem achar que preciso reconsiderar minha identidade ou r�tulo para explic�-la".
Especialistas afirmam que o aumento da abertura para atra��es n�o-bin�rias, em parte, est� relacionado ao crescimento da sua representa��o em meios populares.
H� desde programas de televis�o como o canadense Schitt's Creek, em que o ator Dan Levy interpreta o personagem pansexual David Rose, at� celebridades como a cantora e compositora norte-americana Janelle Mon�e, que se identificou com a pansexualidade.
N�o foi apenas a orienta��o sexual que se afastou dos padr�es bin�rios neste ano. Outros jovens (e celebridades) tamb�m se afastaram dos bin�rios para descrever seu g�nero.
Identificar-se como n�o-bin�rio ou de g�nero fluido permite que muitas pessoas se expressem de forma mais aut�ntica, sem classifica��o r�gida entre uma defini��o e outra.
"Um dia, eu acordo me sentindo mais feminina e posso talvez vestir um top curto e usar brincos. E h� momentos em que meio que preciso do meu binder [colete para minimizar o volume dos seios] porque n�o estou me sentindo daquela forma", afirma Carla Hernando, que tem 26 anos de idade e mora em Barcelona, na Espanha.
Mas, com cada vez mais pessoas rompendo os padr�es bin�rios de g�nero e sexo, namorar ainda pode ser um campo minado para as pessoas que se identificam como n�o bin�rios.
Desde aplicativos de encontros que exigem g�neros bin�rios at� pessoas que for�am parceiros n�o bin�rios a adotar pap�is de g�nero, nem toda a sociedade aderiu ao movimento para afastar-se das normas de g�nero bin�rio.

Desafiando cada vez mais os tabus e tradi��es
No ano passado, os relacionamentos entre os jovens sacudiram ainda mais as normas arraigadas da sociedade.
Particularmente, a Gera��o Z adotou a zona cinza do namoro, entrando intencionalmente em "situa��es".
Essas conex�es satisfazem a necessidade de companhia pr�xima, intimidade e sexo, mas n�o dependem necessariamente de objetivos de relacionamento de longo prazo - em vez disso, eles ficam em algum ponto entre um relacionamento fixo e um encontro ocasional.
Segundo a professora de sociologia Elizabeth Amstrong, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, que estuda esses tipos de relacionamentos, os jovens da Gera��o Z acreditam que "a 'situa��o', por alguma raz�o, funciona no momento. E, no momento, n�o vou me preocupar em ter algo que 'd� em alguma coisa'."
De forma geral, a abertura para muitos tipos de relacionamentos n�o tradicionais tamb�m ganhou visibilidade.
A n�o monogamia �tica est� espalhada pelo TikTok, muitas vezes na forma de relacionamentos poliamorosos, envolvendo mais de dois parceiros rom�nticos e sexuais que moram juntos.
Existem ainda as rela��es abertas, que podem variar desde parceiros que se encontram com outros casais at� aqueles que t�m relacionamentos separados com outras pessoas al�m dos seus parceiros prim�rios.
H� tamb�m as pessoas p�li que preferem viver sozinhas, adotando o estilo de vida do "poliamor solo". Elas moram sozinhas, mas se dedicam a diversos relacionamentos comprometidos.
E outras preferem morar junto com parceiros plat�nicos, formando relacionamentos duradouros e at� adquirindo casa e planejando o futuro com amigos pr�ximos, em vez de amantes.
Mas, apesar de tudo isso, muitos mitos e tabus de relacionamento sobreviveram e provavelmente ir�o permanecer.
O constrangimento por ser solteiro, por exemplo, continua forte desde o in�cio da pandemia, quando uma pesquisa do servi�o de encontros Match concluiu que 52% dos adultos solteiros do Reino Unido sofreram constrangimento pela sua falta de relacionamento amoroso.
E as pessoas ainda condenam o ator Leonardo DiCaprio e muitas outras pessoas pelos seus relacionamentos com grande diferen�a de idade. Tamb�m persistem mitos como a ideia de que "os opostos se atraem", ainda que, muitas vezes, n�o seja a realidade.

Rompimentos s�o dif�ceis — ainda mais com covid e economia
A maior tranquilidade entre diferentes formas de namoro n�o facilitou os rompimentos.
Muitos casais que floresceram com as restri��es da covid-19 sentiram muito essa dificuldade em 2022.
Depois de come�arem a namorar em "bolhas de casais" durante os lockdowns, muitos est�o enfrentando dificuldades para adaptar-se a relacionamentos em condi��es mais normais. E alguns casais que se deram bem s� entre eles n�o se adaptaram ao mundo real.
Em 2022, vimos tamb�m solu��es para casais que est�o � beira do rompimento. Coaches de div�rcio v�m ajudando os casais a atravessar as dificuldades de sa�de mental nos seus rompimentos, do Reino Unido at� o Canad�.
Esses coaches representam uma mudan�a rumo � normaliza��o da procura por aux�lio terap�utico em tempos de alto n�vel de estresse e ao longo do processo de div�rcio.
"Divorciar-se n�o � mais visto como falha de car�ter ou fracasso na pr�pria vida", segundo a psic�loga cl�nica Yasmine Saad, fundadora dos Servi�os Psicol�gicos Madison Park em Nova York, nos Estados Unidos.
Portanto, contratar um coach de div�rcio � t�o natural quanto "buscar consultoria financeira antes de investir o seu dinheiro".
J� os casais que preferem distanciar-se podem tentar um ano sab�tico — um per�odo extenso separados que n�o significa o fim do relacionamento.
Terapeutas de relacionamento afirmam que t�m visto um aumento desta pr�tica em consequ�ncia da pandemia, com casais que se sentiram confinados juntos ao longo dos dois �ltimos anos querendo explorar uma vida solo sem se separarem.
Entre os casais decididos a se separarem, as �ltimas tend�ncias de queda da economia fizeram com que eles ficassem presos um ao outro, morando juntos. Afinal, atualmente n�o � barato viver sozinho, nem comprar a parte de um ex-parceiro em uma moradia conjunta.
Foi o caso de Chantal Tucker, que tem 37 anos de idade e � copropriet�ria de um im�vel em Londres com seu ex-parceiro: "Eu sabia que nunca conseguiria comprar novamente um im�vel e a perspectiva de viver de aluguel em Londres para sempre era cada vez mais desagrad�vel".

Melhorando o mundo dos encontros
Enquanto isso, para os solteiros, ainda � dif�cil navegar pelas �guas trai�oeiras dos aplicativos de relacionamento.
� ineg�vel que os aplicativos de relacionamento agora s�o a principal forma usada pelos mais jovens (millennials e Gera��o Z) para conhecer pessoas.
Existem milhares de sites de encontros online, que s�o usados por 48% dos jovens com 18 a 29 anos de idade nos Estados Unidos.
Mas, infelizmente, o mau comportamento nesses aplicativos � uma constante, incluindo as pessoas que os usam para praticar a infidelidade ou at� ass�dio - a maior parte, dirigido aos usu�rios identificados como mulheres.
Por isso, n�o � de se estranhar que muitas pessoas sofram total burnout sobre o namoro online.
Pessoas de todos os g�neros afirmam que ficam sobrecarregadas com as op��es dispon�veis nos aplicativos de relacionamento. Eles contam que se sentem em um jogo de n�meros e n�o interagindo com poss�veis parceiros reais.
"�s vezes, fico esgotada quando sinto que preciso pesquisar literalmente 100 pessoas para encontrar algu�m que eu ache razoavelmente interessante", afirma Rosemary Guiser, que tem 32 anos de idade e mora na Filad�lfia, nos Estados Unidos.
� quase imposs�vel evitar o uso de aplicativos para conhecer algu�m.
"Voc� pode comparar um pouco [os aplicativos de relacionamento] com a Amazon ou o Facebook", segundo Nora Padison, conselheira graduada e licenciada de Baltimore, nos Estados Unidos.
Mas, devido � pandemia, as pessoas se acostumaram a ter seus encontros iniciais online. Muitos consideram essa pr�-sele��o uma forma mais segura e inteligente de decidir sair para um encontro real e ainda � assim que muitos solteiros est�o se encontrando de forma mais "intencional".
Outra forma � abster-se de beber durante os encontros.
Uma pesquisa de tend�ncias de 2022 do servi�o de encontros Bumble concluiu que 34% dos seus usu�rios brit�nicos eram mais dispostos a sair em encontros sem bebida desde o in�cio da pandemia, enquanto 62% afirmaram que teriam mais condi��es de formar "conex�es genu�nas" durante os encontros s�brios.
Quartos 'mortos' enquanto outros est�o no auge
Embora a pandemia tenha dado �s pessoas tempo para explorar e at� reconsiderar suas sexualidades, ela definitivamente prejudicou a vida sexual das pessoas, especificamente dos casais de millennials.
Dados de 2021 demonstram que os millennials casados nos Estados Unidos relataram os maiores problemas com desejo sexual naquele ano, frequentemente atribu�dos � exaust�o causada pela forte sobrecarga de trabalho, problemas de sa�de mental e fatores de tens�o financeira.
Aprendemos neste ano que os casamentos entre millennials parecem estar se tornando relacionamentos sem sexo com mais rapidez que as gera��es anteriores.
A terapeuta sexual Celeste Hirschmann, de S�o Francisco, nos Estados Unidos, percebeu que seus clientes casados costumavam levar cerca de 10 a 15 anos para parar de ter sexo entre si. "Agora, pode estar levando de tr�s a cinco", segundo ela.
Mas, enquanto muitos millennials casados enfrentam dificuldades em casamentos sem sexo, os Baby Boomers podem estar tendo o melhor sexo de suas vidas. Sua experi�ncia e sua paci�ncia resultaram em melhor habilidade e comunica��o na cama.
Seu foco n�o � em estabelecer um relacionamento duradouro como objetivo de vida, mas em estruturar suas pr�prias vidas antes de trazer um parceiro comprometido ou pensar em come�ar uma fam�lia.
E, independentemente do tipo de sexo que as pessoas est�o tendo, existem boas not�cias. Adotar uma mentalidade de crescimento positiva pode melhorar sua vida sexual.
Com todas essas op��es, algu�m tem alguma resolu��o de Ano Novo em vista?
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) na se��o Lovelife do site BBC Worklife.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/vert-cap-64124540
