A psicopatia � geralmente � associada aos homens, particularmente aos criminosos, e � muito pouco estudada nas mulheres
A psicopatia � uma condi��o que condena e fascina muitas pessoas, mas o estigma profundamente arraigado em volta dela indica que o dist�rbio ainda � mal compreendido — especialmente quando afeta as mulheres.
Victoria sabia que seu namorado tinha uma esposa, mas, depois de alguns anos, ela come�ou a suspeitar que ele tivesse outras amantes.
"Acontece que tenho excelente mem�ria quando se trata de conversas", ela conta. "Ele n�o sabia mentir bem. N�o sei como a esposa dele nunca o desmascarou."
Diversas formas de puni��o surgiam na mente de Victoria, at� que ela se decidiu por uma delas. Levaria algum tempo e ela precisaria agir como se n�o soubesse de nada. Foi assim que, por v�rios meses, Victoria continuou a v�-lo, mas enviava fotos do seu namorado nu para a esposa dele.
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Perturbado, ele procurou Victoria, se perguntando quem poderia estar enviando essas fotos. Sua esposa estava arrasada.
Ele confessou a Victoria que, de fato, estava dormindo com outras mulheres. E n�o suspeitou que era Victoria quem estava enviando as fotos.
Quando Victoria se cansou de tudo e quis terminar o relacionamento, ela enviou � esposa do namorado uma cole��o final de fotografias. Na �ltima imagem, a pr�pria Victoria aparecia junto ao homem. Com essa revela��o explosiva, Victoria saiu da vida deles para sempre.
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Quando Victoria contava esta hist�ria para as pessoas, sua petul�ncia as espantava.
"Elas me perguntavam 'por que voc� fez isso com a esposa dele? O que a esposa dele fez para merecer isso? O que ela fez para magoar voc�?'", ela conta. "E eu pensava, 'bem, a vida � injusta'."
Ela faz uma pausa.
"Acho que este � um bom exemplo de uma caracter�stica psicopata extrema que eu costumava ter. Indiferen�a."

Mulheres com psicopatia costumam exibir menor tend�ncia � viol�ncia que os homens e mais manipula��o interpessoal
Somsara RiellyA defini��o da psicopatia
A psicopatia n�o � um diagn�stico oficial de sa�de mental e n�o est� presente na mais recente edi��o do Manual Estat�stico e de Diagn�stico de Dist�rbios Mentais. Ela est� agrupada sob a classifica��o mais ampla de dist�rbio da personalidade antissocial, embora a psicopatia seja amplamente usada em ambientes cl�nicos em todo o mundo.
Ela � entendida como sendo um dist�rbio neuropsiqui�trico, em que uma pessoa exibe n�veis anormalmente baixos de empatia ou remorso, muitas vezes resultando em comportamento antissocial e, �s vezes, criminoso.
O termo foi usado por m�dicos europeus e americanos no in�cio dos anos 1900 e tornou-se comum em 1941, ap�s a publica��o do livro The Mask of Sanity ("A m�scara da sanidade", em tradu��o livre), do psiquiatra norte-americano Hervey M. Cleckley.
"Os principais acad�micos do mundo v�m debatendo a defini��o da psicopatia", segundo a psic�loga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown em Washington DC, nos Estados Unidos. "Voc� ter� explica��es muito diferentes da psicopatia, se falar com um psic�logo forense ou criminologista."
Marsh afirma que os psic�logos criminalistas tendem a classificar as pessoas como psicopatas somente se exibirem comportamento extremo e violento. Mas, para ela, a condi��o se apresenta na forma de espectro com outros comportamentos menos dram�ticos, que podem variar de uma pessoa para outra.
Os psic�logos e psiquiatras, de forma geral, concordam que uma ou duas a cada 100 pessoas, na popula��o em geral, atendem ao crit�rio de psicopatia. Mas Marsh afirma que at� 30% das pessoas exibem algum grau de caracter�sticas psicopatas na popula��o em geral.
Para as pessoas com psicopatia, isso pode significar que elas t�m dificuldades para manter amizades pr�ximas e se colocam em situa��es de risco, mas a condi��o tamb�m � prejudicial para as pessoas � sua volta.
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"Muitas vezes, ter por perto uma pessoa insens�vel ou manipuladora � devastador e cansativo para as pessoas que vivem com algu�m com psicopatia extrema", afirma Marsh.
Ela afirma que a maioria dos estudos referentes �s pessoas com psicopatia tem sido conduzida com criminosos. Alguns desses estudos indicam que os psicopatas — ou as pessoas que exibem caracter�sticas psicopatas—- representam um n�mero desproporcional de pessoas na pris�o, embora existam controv�rsias sobre sua real incid�ncia.
De forma geral, as pesquisas indicam que a incid�ncia de psicopatia � maior entre os criminosos homens (representando talvez 15 a 25% dos prisioneiros) do que entre as mulheres (10 a 12%).
Mas este ainda � um campo pouco estudado na popula��o em geral e ainda menos pesquisas s�o realizadas com mulheres.
As mulheres com psicopatia
Embora diversos estudos indiquem que a incid�ncia da psicopatia � maior entre os homens do que entre as mulheres, Marsh argumenta que isso pode se dever, em primeiro lugar, � forma em que os exames foram idealizados.
"As escalas iniciais de psicopatia foram principalmente desenvolvidas e testadas na popula��o prisional de homens na Columbia Brit�nica [no Canad�] por Bob Hare", afirma ela.
O psic�logo canadense Robert Hare desenvolveu a Lista de Controle da Psicopatia (agora chamada PCL-R) nos anos 1970 e uma vers�o revisada � frequentemente considerada o padr�o-ouro global para o teste de caracter�sticas psicopatas. Ela � agora a ferramenta de diagn�stico validada e mais frequentemente empregada para determinar a psicopatia.
A PCL-R mede a escala de desconex�o emocional que algu�m pode ter, tal como sua disposi��o de manipular algu�m at� um resultado desejado, independentemente das consequ�ncias, bem como seu comportamento antissocial, como escolhas agressivas ou impulsivas que podem ser violentas ou envolver o abandono abrupto das responsabilidades.
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"Adapta��es dessa escala s�o utilizadas hoje em dia em amostras n�o institucionalizadas, incluindo mulheres e crian�as em diversos pa�ses, mas permanece aberta a quest�o de se voc� usaria essas mesmas quest�es para come�ar se fosse lidar com mulheres n�o criminosas", afirma Marsh.
Uma an�lise dos pesquisadores em 2005 tamb�m comparou caracter�sticas centrais de mulheres e homens com psicopatia. Eles indicaram que as mulheres, muitas vezes, exibiam caracter�sticas como impulsividade debilitadora (como falta de planejamento), falsidade nos relacionamentos interpessoais e agress�es verbais.
Por outro lado, os pesquisadores concordaram que a psicopatia nos homens tende a se manifestar com viol�ncia e agress�es f�sicas. Mas, na �poca, elas indicaram que n�o haviam sido realizadas pesquisas suficientes sobre o motivo para isso. E, 17 anos depois, n�o houve grandes mudan�as.
A estudante de PhD de psicologia da Universidade de Madri, na Espanha, Ana Sanz Garc�a e seus colegas realizaram uma an�lise mais recente, em 2021, de estudos de pesquisa publicados, que avaliaram mais de 11 mil adultos para determinar psicopatia. Ela concorda que s�o necess�rios mais estudos concentrados nas mulheres e em pessoas n�o criminosas com psicopatia.
Sanz Garc�a afirmou � BBC que os estudos at� hoje demonstram que as mulheres com psicopatia exibem menos propens�o � viol�ncia e ao crime do que os homens, mas existem mais exemplos de manipula��o interpessoal.
"Seria interessante estudar os fatores que explicam por que, entre as mulheres com alto grau de psicopatia, existe menor probabilidade de cometer atos criminosos e antissociais do que entre os homens", afirma ela. "Se esses fatores forem descobertos, ser� poss�vel criar um programa para evitar que homens e mulheres com alto grau de psicopatia cometam esses atos antissociais e criminosos."

Acredita-se que a gen�tica e o ambiente de cria��o de uma pessoa influenciem a psicopatia.
Somsara RiellyTamb�m neste caso, n�o h� pesquisas suficientes para determinar os motivos, mas um estudo recente na Fran�a indica uma poss�vel resposta: a frieza e a falta de emo��o parecem desempenhar um papel mais central na psicopatia feminina do que entre os homens. E as mulheres tamb�m exibem menos comportamentos violentos e antagonistas que na psicopatia masculina.
Manipula��o como entretenimento
Victoria afirma que o seu comportamento manipulador come�ou a surgir como forma de entretenimento pr�prio.
Ela nasceu na Mal�sia, em uma fam�lia de classe m�dia. O alcoolismo do seu pai e a falta de responsabilidade pessoal pelas consequ�ncias da bebida tornaram seu lar infeliz.
Ela teve sucesso nos estudos, mas se sentia frequentemente aborrecida. Para se divertir, ela gostava de passar adiante informa��es confidenciais que recebia das pessoas, segredos que ela havia jurado guardar. Quem odiava quem. Quem gostava de quem.
As tens�es entre os alunos no ensino m�dio, muitas vezes, eram causadas por ela. Victoria sabia manipular os outros para que assumissem a responsabilidade pelos erros que ela cometeu e sabia o que dizer para se livrar de problemas. Ela chegou a convencer uma professora de que tinha atirado um giz nela apenas por press�o dos colegas.
"Era o que ela queria ouvir", ela conta. "Ela queria acreditar que aquela menina inteligente n�o era ruim, apenas facilmente influenci�vel."
Mais recentemente, Victoria estava obtendo ajuda para controlar seus impulsos. Mas ela tamb�m encontrou apoio, embora possa parecer estranho, de pessoas como ela.
Pergunto a ela sobre diversos v�deos recentes conhecidos como "o desafio do psicopata", que viralizaram no TikTok, somando mais de 20 milh�es de visualiza��es. Eles discutem como os espectadores podem "identificar um psicopata".
A hashtag "psicopata" � uma das mais populares naquela rede social, com mais de dois bilh�es de visualiza��es. Ela � usada para marcar diversos assuntos, incluindo imagens de pessoas com psicopatia em julgamentos, e tamb�m � usada como insulto para maus comportamentos.
O que fica claro � que pessoas acham o tema da psicopatia e seus portadores, ao mesmo tempo, fascinantes e repulsivos.
Victoria n�o acha esses v�deos ofensivos.
"Parte de ser psicopata � n�o se importar com o que as pessoas pensam, de forma que isso n�o me aborrece", afirma ela. "Mas mostra a pouca compreens�o das pessoas sobre o espectro completo da condi��o."
A exce��o, para ela, s�o os v�deos que discutem se as pessoas com psicopatia s�o mais propensas a maltratar os animais. "Muitos de n�s preferimos animais aos seres humanos", afirma ela, secamente.
Sociopata ou psicopata?
O que Victoria indica como "n�s" � uma comunidade online de mulheres como ela. Ela est� concentrada principalmente no blog da escritora M. E. Thomas, talvez uma das mais conhecidas mulheres com psicopatia. A avalia��o de psicopatia de Thomas, realizada pelo psic�logo forense John Edens, da Universidade A&M do Texas, nos Estados Unidos, foi de 99%.
O blog de Thomas, intitulado Sociopath World, detalha como � a vida com psicopatia. Ela afirma que usava a palavra sociopata em vez de psicopata porque achava que era um termo que seria compreendido por mais pessoas.
Sociopatia n�o � um termo cl�nico amplamente aceito, e psic�logos como Abigail Marsh afirmam que, �s vezes, ele � usado por indiv�duos que podem sentir o estigma relacionado � palavra "psicopata".
Um agente liter�rio descobriu o blog de Thomas e ofereceu um contrato para um livro. Confessions of a Sociopath: A Life Spent Hiding in Plain Sight ("Confiss�es de uma sociopata: uma vida passada escondendo-se � vista de todos", em tradu��o livre) foi publicado em 2012 e traduzido para mais de 10 idiomas. Um filme baseado no livro, estrelado pela atriz norte-americana Lisa Edelstein, est� atualmente em produ��o.
"Vejo-me como uma f�rmula, n�o como uma pessoa", afirma Thomas. "� como ser uma planilha do Excel, onde examino o que fa�o e digo calculando o poss�vel resultado."
Um exemplo pode ser dizer a algu�m que ela o ama quando quer algo dele, afirma Thomas. Ela conta que j� fez isso algumas vezes e gerou o rompimento de v�rios relacionamentos.
Um estudo de 2012 da Universidade de Zurique, na Su��a, tamb�m descobriu que a risada � frequentemente usada pelas pessoas psicopatas como instrumento intencionalmente manipulador. Ela as ajuda, por exemplo, a controlar a conversa.
Ou, �s vezes, a rir da pessoa com quem est�o falando - e n�o com ela.
Thomas afirma que seu agente a instrui a n�o usar a palavra "manipuladora" quando falar sobre si mesma, mas sim dizer que sabia como influenciar as pessoas desde a inf�ncia. Mas "manipuladora" � a palavra que ela usa. Ela afirma que essa qualidade a ajudou a tornar-se uma boa advogada, que ainda � a sua profiss�o.
Quando ela fala, as pessoas n�o conseguem identificar seu sotaque. Elas acham que Thomas pode ser de Israel ou da Europa oriental, embora ela tenha vivido toda a sua vida na Calif�rnia.
"Voc� tem sotaque quando se socializa para ter identidade. Eu nunca tive identidade", ela conta. "Tenho um sentido muito fraco de mim mesma."
Poss�veis benef�cios?
No seu blog, M.E. Thomas compartilha seus pensamentos di�rios e entrevista outras pessoas que vivem com caracter�sticas psicopatas. Ela conta que muitos dos seus leitores encontram ref�gio nas suas postagens e v�deos, pois � um lugar onde elas reconhecem seus pr�prios padr�es e compartilham experi�ncias sem que sejam julgadas por isso.

Observar a psicopatia como um espectro pode significar que as caracter�sticas que a definem s�o muito mais comuns entre a popula��o em geral do que o indicado pela maioria dos estudos
Somsara RiellyUma de suas leitoras � Alice, uma mulher alem� de 27 anos de idade. Ela afirma que � frustrante ler artigos ou assistir a ilustra��es de pessoas com psicopatia como indiv�duos maldosos que precisam ser evitados. "N�s existimos em uma escala, como todos os demais", afirma ela.
Como Thomas, Alice � agrad�vel � primeira vista, talvez porque ela sorri muito. Ela admite desde o in�cio que est� imitando o que ela sabe ser socialmente adequado.
Alice vem fazendo isso por toda a vida. Quando sua av� morreu, ela observou o luto da sua irm� e copiou seu comportamento.
Ela afirma que tamb�m finge ser sarc�stica, pois isso permite que ela diga impunemente o que tem na mente, sem causar alarme.
Alice aprendeu isso j� aos 12 anos de idade, quando estava de f�rias em um navio e se perguntou em voz alta como seria observar as pessoas afundarem em caso de acidente. A rea��o dos seus pais e amigos a ensinou que era importante enquadrar esse tipo de pensamento como humor �cido e n�o como um pensamento obscuro.
Embora Thomas descreva sua caracter�stica psicopata dominante como manipula��o e Victoria afirme que sua marca � a indiferen�a, Alice aponta sua falta de empatia como sua caracter�stica mais evidente.
"N�o tenho nenhuma empatia emocional, mas tenho muita empatia cognitiva", afirma ela, com sorriso inabal�vel. "Se algu�m se machucar, por exemplo, ferir o joelho ou quebrar um bra�o, posso n�o sentir nada por eles emocionalmente, mas sei que preciso conseguir ajuda e assim o fa�o."
E isso, segundo ela, faz com que ela seja uma boa pessoa para ter por perto em situa��es de emerg�ncia.
"As pessoas me contam seus problemas e n�o fico ofuscada pelas emo��es, de forma que aquilo n�o me afeta e posso ouvi-las e oferecer conselhos racionais", ela conta. "Outras pessoas podem querer se distanciar porque aquilo aciona suas pr�prias emo��es, mas isso n�o acontece comigo."
Alice n�o � a �nica que acredita que suas caracter�sticas podem ser ben�ficas para a sociedade. Os tra�os "positivos" da psicopatia s�o explorados pelo psic�logo Kevin Dutton, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, no seu livro A
Sabedoria dos Psicopatas: O que Santos, Espi�es e Serial Killers Podem nos Ensinar sobre o Sucesso (Ed. Record, 2018).
Em 2011, Dutton conduziu uma pesquisa no Reino Unido intitulada "A Grande Pesquisa sobre os Psicopatas Brit�nicos". As profiss�es onde as pessoas mais exibiam caracter�sticas psicopatas foram os altos executivos, jornalistas, policiais, militares, cirurgi�es e advogados.
Dutton argumenta que certas caracter�sticas de personalidade do espectro psicopata - incluindo a frieza sob press�o e rea��es menos emp�ticas �s intera��es interpessoais - podem ajudar as pessoas a realizar seu trabalho sem que sejam, como diria Alice, "ofuscadas".
� preciso apoio e desmistifica��o
"Todos conhecemos algu�m com caracter�sticas psicopatas", afirma Marsh, que � uma das fundadoras da organiza��o Psycopathy Is. Ela oferece uma das poucas plataformas online que fornecem apoio para psicopatas e pessoas pr�ximas.
Marsh afirma que seu objetivo � desmistificar a psicopatia e fornecer ferramentas de sele��o para que as pr�prias pessoas possam se avaliar, com instrumentos confi�veis, e conseguir boas informa��es sobre o que fazer em seguida.
"A psicopatia n�o � uma categoria, � um espectro", afirma ela. "Ela � distribu�da entre a popula��o em graus vari�veis. Algumas pessoas causam destrui��o cont�nua e outras precisam apenas administrar os seus sintomas."
"Quando n�o discutimos isso abertamente, as pessoas se lembram de Ted Bundy e Hannibal Lecter [assassinos em s�rie - o primeiro, real, e o segundo, da fic��o]", afirma ele. "E ent�o vemos tend�ncias do TikTok preenchendo a lacuna de informa��es de especialistas."
Muitos especialistas, incluindo Marsh, acreditam que est� na hora de desfazer os mitos e o estigma que envolvem a psicopatia.
As causas subjacentes da psicopatia ainda s�o mal compreendidas, embora cada vez mais pesquisas de imagens neurol�gicas venham ajudando a indicar algumas das poss�veis anormalidades do c�rebro que podem explicar os sintomas.
Pesquisas indicam, por exemplo, que homens com psicopatia possuem rea��o reduzida em regi�es do c�rebro relacionadas ao processamento do medo e que existem indica��es de que efeitos similares podem ser encontrados nas mulheres.
Alguns pesquisadores tamb�m indicaram diferen�as no circuito neural das am�gdalas cerebelosas, uma estrutura importante do c�rebro respons�vel pelo processamento das emo��es. Mas, como a maior parte das pesquisas sobre psicopatia, essas conclus�es est�o longe de ser consistentes e ainda precisam ser mais estudadas.
A gen�tica e o ambiente das pessoas tamb�m s�o pe�as importantes do quebra-cabe�a. Mas Marsh acredita que conseguir essas respostas exigir� que a sociedade como um todo desenvolva uma rela��o mais madura com a psicopatia.
"Eu realmente admiro o que a comunidade de pesquisa sobre o autismo fez nos anos 1990", afirma ela. "Eles decidiram se libertar do estigma, dizendo �s pessoas a verdade sobre a condi��o. Que � um dist�rbio de espectro."
"N�s, como pesquisadores de psicopatia, precisamos definir uma abordagem para realmente nos atirarmos ao desenvolvimento de melhores interven��es que possam ajudar as pessoas com psicopatia a viver vidas produtivas e pr�speras", defende Marsh.
Mas ela acrescenta que, at� que isso aconte�a, estamos fracassando com as pessoas com psicopatia.
"Isso significa que as pessoas - pessoas com o dist�rbio, seus amigos e sua fam�lia - n�o est�o conseguindo o apoio de que precisam", afirma ela. "E isso prejudica a todos."
Victoria, Alice e M. E. Thomas usam a medita��o, terapia psicol�gica e apoio de colegas da sua comunidade online para ajudar a controlar o seu dist�rbio.
"N�o estar nas sombras ajuda", afirma Thomas. "Mas ainda existe um estigma para a palavra 'psicopata'. Ainda h� muito trabalho a fazer e � preciso ter muitas conversas mais abertas. A realidade � que n�s existimos."
Caracter�sticas da psicopatia
Segundo o site PsychopathyIs.org (que teve como uma de suas criadoras a psic�loga e neurocientista Abigail Marsh, da Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos), estas s�o algumas das principais caracter�sticas que se manifestam em casos extremos de psicopatia:
- Abordagem ego�sta e indiferente aos relacionamentos interpessoais.
- Falta de empatia sobre o sofrimento ou ang�stias dos demais.
- Falta de demonstra��o de remorso depois de machucar os outros ou desobedecer regras.
- Pouco sentido de identidade consigo pr�prio.
- Manipula��o das pessoas para conseguir as coisas.
- Dedica��o a atividades perigosas ou arriscadas.
- Charme superficial.
* Megha Mohan � jornalista especializada em g�nero e identidade da BBC.
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.
Ilustra��es: Somsara Rielly
Essa reportagem foi originalmente publicada em - http://news.bbc.co.uk/1/hi/63732969.stm
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