Pesquisa apontou ser alto o percentual de pacientes que relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, um ano ap�s a interna��o com COVID grave
Os pacientes foram comparados de acordo com a gravidade da doen�a: desde aqueles internados que n�o precisaram de oxig�nio at� os que necessitaram de intuba��o (ventila��o mec�nica).
Entre os 1.508 inscritos no estudo, 36 morreram antes de completar um ano de acompanhamento. A taxa de mortalidade por todas as causas entre os que foram intubados foi de 7,9%. A de pessoas que tiveram a forma menos grave de COVID foi de 1,2%.
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O estudo mostrou que 1 em cada 4 pessoas intubadas precisou ser internada novamente ao longo dos 12 meses subsequentes (24% contra 19,6%). O �ndice de eventos cardiovasculares, como o infarto, tamb�m foi mais do que o dobro em rela��o �quelas n�o precisaram de ventila��o mec�nica (5,6% contra 2,3%).
Alerta para pacientes, familiares e gestores de sa�de
"Os resultados servem de alerta n�o s� para os pacientes que tiveram COVID grave e seus familiares como tamb�m para os gestores de sa�de. [O uso de ventila��o mec�nica] pode ser um marcador de f�cil reconhecimento para a identifica��o de pacientes com maior risco e para ajudar a tra�ar metas de reabilita��o", diz o m�dico intensivista Regis Goulart Rosa, pesquisador do Hospital Moinhos de Vento e autor principal do estudo.
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Segundo a pesquisa, � alto o percentual de pacientes que relataram novas incapacidades, como dificuldade de se locomover, um ano ap�s a interna��o (40,4% contra 23,5%). Eles tamb�m t�m menor taxa de retorno ao trabalho (88,1% contra 97,5%) e aos estudos (88,9% contra 96,9%).
"O acompanhamento e os cuidados mais personalizados desses pacientes tamb�m podem significar uma boa rela��o de custo e efetividade para os sistemas de sa�de. Se a pessoa reinterna menos, consegue retornar mais rapidamente � sociedade, ao seu trabalho, aos estudos, todos ganham com isso."
A intuba��o e o impacto na sa�de mental
O estudo revela ainda que pacientes que passaram por intuba��o sofrem grande impacto na sa�de mental. A preval�ncia do transtorno do estresse p�s-traum�tico entre eles foi o dobro em rela��o ao grupo com menos gravidade (14% contra 7%). Um em cada quatro apresentou sintomas de ansiedade (24,7% contra 17,5%).
A idade m�dia dos participantes do estudo foi de 53 anos; 60,8% eram homens. Hipertens�o (45%), obesidade (30%) e diabetes (24%) est�o entre as comorbidades mais prevalentes. A dura��o m�dia da ventila��o mec�nica durante a interna��o foi de 10 dias.
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Outros estudos j� apontaram que pacientes com COVID-19 que precisaram de ventila��o mec�nica t�m maior probabilidade de apresentar marcadores inflamat�rios elevados, envolvimento pulmonar mais extenso, disfun��o de m�ltiplos �rg�os e maior mortalidade hospitalar. "A ventila��o mec�nica � um tratamento muito eficaz, salva vidas, mas n�o � isento de efeitos adversos", afirma Regis Rosa.
A literatura cient�fica mostra que fatores como seda��o profunda, medicamentos (agentes bloqueadores neuromusculares e corticosteroides), imobiliza��o e pneumonia est�o associados a piores resultados a longo prazo, com fraqueza adquirida na UTI, estresse p�s-traum�tico, mortalidade p�s-alta e qualidade de vida reduzida.
Os autores do estudo apontam ainda que a superlota��o das UTIs causada pela pandemia de COVID-19 tamb�m pode ter sido associada a uma menor ades�o a interven��es destinadas a prevenir incapacidades de longo prazo entre pacientes ventilados mecanicamente. Entre elas est�o minimizar a seda��o e o uso de agentes bloqueadores neuromusculares, controle da dor, mobiliza��o precoce e presen�a da fam�lia.Milhares de paciente sofrendo de algum grau de acomentimento da COVID
O Brasil j� registrou, desde o in�cio da pandemia, mais de 36 milh�es de casos de Covid e cerca de 695 mil mortes. "Temos milhares de pessoas sofrendo de algum grau de acometimento da COVID. E j� sabemos por outros estudos que n�o s�o apenas os casos graves os afetados [pela COVIDd longa]. Precisamos de mais pesquisa para entender essa nova condi��o, os fatores de risco, al�m de reconhecer e oferecer reabilita��o a esses pacientes", afirma Regis Rosa.
Na opini�o da m�dica intensivista Suzana Lobo, que esteve � frente da Amib (Associa��o de Medicina Intensiva Brasileira) no per�odo cr�tico da pandemia, o impacto a longo prazo dos casos mais graves de COVID j� era uma trag�dia anunciada.
"Por in�meras vezes, n�s, das sociedades cient�ficas e cientistas, alertamos para os riscos de complica��es de longo prazo e o impacto na qualidade de vida. Conhecemos isso muito bem h� d�cadas por causa da sepse bacteriana com a qual convivemos diariamente nas nossas UTIs. E a COVID-19 nada mais � que uma sepse viral", explica.
Lobo lembra que em uma reuni�o em abril de 2021 com o ex-ministro da Sa�de Marcelo Queiroga, a Amib alertou sobre a necessidade de preparo e de investimentos em reabilita��o para os pr�ximos cinco anos, em que haveria milhares de sequelados da COVID-19.
A pesquisa tamb�m alerta para a necessidade de rastreamento dos pacientes p�s-alta, pois muitos morrem em decorr�ncia de complica��es da doen�a, mas constam nos levantamentos como recuperados. Outra medida importante � preparar os profissionais para atuarem precocemente na reabilita��o.
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A rela��o entre a gravidade da COVID-19 e a maior ocorr�ncia de eventos cardiovasculares � um outro achado que preocupa os pesquisadores. "Essa associa��o n�o � nova e existe em outros quadros, como de sepse grave, que causam disfun��o org�nica. H� um risco maior de acometimento do [m�sculo] mioc�rdio, de arritmias. � grande a preocupa��o com o aumento da incid�ncia desses eventos nesses anos seguintes � pandemia", diz Rosa.
O estudo tem algumas limita��es, como o fato de que a COVID-19 pode ter efeitos diferentes nos resultados de longo prazo em contextos distintos, por exemplo, pacientes com acesso precoce a servi�os de reabilita��o no p�s-alta.
Tamb�m n�o foram avaliadas vari�veis que poderiam, em tese, modificar a associa��o entre a gravidade aguda da Covid-19 e desfechos de longo prazo, como vacina��o, infec��o por diferentes variantes de Sars-CoV-2 e tratamentos espec�ficos.
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