Atriz Claudia Rodrigues em cama de hospital

Atriz Claudia Rodrigues em cama de hospital

Claudia Rodrigues/Instagram/Reprodu��o

 

H� mais de 22 anos com o diagn�stico de Esclerose M�ltipla, a atriz Cl�udia Rodrigues (Querida pelos brasileiros por personagens como a Mariente, de "A Diarista", ou a Of�lia, de "Zorra Total"), tem buscado diversos tratamentos para enfrentar a doen�a. Recentemente, sua equipe anunciou a venda de uma cobertura no Rio de Janeiro para custear uma t�cnica controversa e sem sustenta��o cient�fica, liderada por um brasileiro nos Estados Unidos.

Como � realizado o suposto tratamento?

A t�cnica, chamada de "T�nel T�rmico Cerebral", ainda � experimental, ou seja, n�o est� definido que realmente tenha efic�cia, o que significa que quem se submete � t�cnica est� sendo testado. Ela � proposta por um m�dico brasileiro (Marc Abreu) atrav�s da utiliza��o de um aparelho de cria��o pr�pria, no entanto, essa m�quina recebeu autoriza��o do FDA - Ag�ncia de Administra��o de Alimentos e Medicamentos dos EUA - apenas para medir a temperatura cerebral, n�o para a aplica��o de tratamentos.




O neurocirurgi�o Bruno Burjaili, que trata doen�as como Parkinson (uma das que seriam tamb�m alvo do "t�nel t�rmico"), explica que o modo como funcionaria a tentativa n�o fica muito claro nas descri��es do colega. "S�o descri��es confusas como aquecer o organismo a 100 graus Celsius, o que, naturalmente, n�o seria resistido, j� que o corpo humano n�o consegue manter a vida nessa temperatura", afirma.

"Tamb�m h� confus�o na tentativa de explicar cura ou regress�o de doen�as consideradas cr�nicas, j� que cientistas e m�dicos do mundo todo n�o t�m acesso a esses resultados. � improv�vel que esse tipo de promessa seja cumprida, se ele afirma ser poss�vel, precisa provar, e isso certamente teria repercuss�es fant�sticas. Algo t�o essencial que n�o � revelado gera, naturalmente, suspeitas, e remete a outras iniciativas de intuito pouco claro, que caem em descr�dito conforme a ilus�o � desfeita. No final das contas, quem pode se prejudicar � o paciente e sua fam�lia".

Arte gráfica representando sinapses, ligações entre os neurônios do cérebro

Arte gr�fica representando sinapses, liga��es entre os neur�nios do c�rebro

Hospital Israelita Albert Ainstein


"O alto custo � outra quest�o que gera questionamentos da comunidade m�dica e cient�fica, uma vez que tratamentos experimentais, via de regra, n�o s�o cobrados dos pacientes, j� nesse caso, o custo total do tratamento pode chegar a R$ 25 milh�es de reais. � uma pena que n�o se disponha � divulga��o, pois sempre estamos ansiosos para oferecer novos tratamentos a quem precisa, por�m, que sejam seguros, amplamente documentados e que funcionem. Os pacientes e fam�lias sentem que n�o podem esperar e, muitas vezes, esse sentimento, diante de uma promessa estranha, os induz a riscos e custos obscuros." Ressalta.

 Ap�s a repercuss�o do tratamento, tanto a Academia Brasileira de Neurologia, quanto a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia divulgaram notas onde ressaltam, respectivamente que a t�cnica � "estranha aos postulados da medicina" e que "a ci�ncia ainda procura uma cura para essa patologia [...] toda nova possibilidade de interven��o terap�utica deve passar por uma rigorosa etapa de testes cl�nicos multic�ntricos".

E os pacientes que afirmam serem beneficiados pela t�cnica?


Uma das afirma��es que mais supostamente embasam o tratamento s�o os efeitos positivos em quem se submeteu � t�cnica, mas apenas os relatos de pacientes n�o podem sustentar a efic�cia de um m�todo pois podem resultar do chamado "efeito placebo".

O efeito placebo ocorre quando uma parte da melhora conseguida � devido � cren�a no que est� sendo feito, ele pode fazer com que pessoas que tomam p�lula de farinha possam sentir melhoras.

"Existem t�cnicas na ci�ncia para separar o que � placebo do que � efeito real do tratamento e verificar, ent�o, se aquela iniciativa est� realmente sendo eficaz. Assim, quando algu�m relata haver melhorado, n�o conseguimos saber se foi o pr�prio t�nel t�rmico ou se foi a cren�a nele, j� que os dados n�o s�o disponibilizados", afirma Burjaili.

O que pode ser feito?


Tanto a Esclerose m�ltipla, quanto a doen�a de Parkinson, Esclerose Lateral Amiotr�fica (ELA) e Alzheimer s�o doen�as muito diferentes entre si, mas que t�m em comum o fato de ainda n�o haver cura ou modos conhecidos de interromp�-las, por�m existem diversos tratamentos que trazem uma bagagem de pesquisas e evid�ncias demonstrando efeitos reais para redu��o de sintomas e melhor qualidade de vida para o paciente.

"A doen�a de Parkinson, sobre a qual posso falar, tem uma gama de medicamentos comprovadamente eficazes para reduzir sintomas, assim como t�cnicas de Fisioterapia e Fonoterapia, entre outras, sem contar at� o implante do chamado 'Marca-passo cerebral', demonstrando que h� sim muito estudo e tecnologia empregados para fazer o melhor poss�vel a quem enfrenta esses desafios. Tudo isso sempre embasado pela ci�ncia s�ria e pelo respeito a essas pessoas." Afirma o neurocirurgi�o.