Família Précoma Moro

Em 2019, Daniele e Gabriel decidiram colocar desejo de adotar uma crian�a em pr�tica e se cadastraram no Sistema Nacional de Ado��o e Acolhimento

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro
Desde quando eram namorados, o assunto ado��o esteve presente na vida da psicomotricista Daniele Ribas Pr�coma Moro, de 40 anos, e do gerente de comunica��o e marketing Gabriel Moro, 39 de anos. Ela, desde a adolesc�ncia, dizia querer adotar uma crian�a e ele tamb�m j� havia pensado no assunto.

Os anos se passaram, os dois se casaram e h� nove anos tiveram a primeira filha, Alice. Com a vida estabilizada, a fam�lia, moradora de Col�der, no norte de Mato Grosso, sentia que ainda faltava algo. Apesar de estarem felizes, a casa ainda n�o estava completa. 


"A gesta��o da Alice foi tranquila e sem intercorr�ncias. A gente poderia ter um segundo filho biol�gico, mas o nosso sonho sempre foi ter tamb�m um filho adotivo", conta Daniele.


Foi quando em 2019, Daniele e Gabriel decidiram colocar o desejo de adotar uma crian�a em pr�tica e se cadastraram no Sistema Nacional de Ado��o e Acolhimento.


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A ideia do casal nunca foi adotar um beb�, mas sim uma crian�a mais velha. Ap�s passar pelo processo que tornou o casal apto para adotar uma crian�a, a fam�lia ent�o p�de selecionar as caracter�sticas do filho que deseja, como idade, cor de pele e g�nero, por exemplo. 

 

Daniele, Alice e Gabrielly

Daniele e suas filhas, Alice e Gabrielly

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro

 

Ap�s fazer toda a documenta��o, eles entraram em uma lista de espera que considera a ordem de chegada e as prefer�ncias de cada adotante. "Quando nos cadastramos a Alice j� estava com 5 anos e quer�amos uma menina em uma faixa et�ria pr�xima, de 4 a 8 anos, para que as duas fossem amigas e ter bastante proximidade. Al�m de que elas pudessem dividir quarto e os brinquedos", recorda Daniele.

Tr�s anos se passaram e a fam�lia seguia na lista de espera. A Alice crescia e sua irm�zinha nunca chegava. No entanto, essa situa��o mudou no ano passado depois que o casal se prop�s a adotar uma crian�a ainda mais velha, de at� 12 anos.


"Durante esses tr�s anos n�o recebemos nenhuma liga��o do sistema de ado��o. A Alice j� estava com 8 anos e ent�o decidimos aumentar tamb�m a idade da crian�a que pretend�amos adotar, at� para tentar aumentar as chances de termos a nossa segunda filha", conta psicomotricista.

 

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Alice e Gabrielly

Gabrielly (� esq.) tinha 11 anos quando foi adotada

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro

Como crian�as mais velhas pertencem a uma faixa et�ria menos concorrida, cerca de cinco meses depois a fam�lia foi selecionada para conhecer uma menina de 11 anos chamada Gabrielly que vivia em um abrigo e aguardava na fila de ado��o.

Por morarem em cidades diferentes, os primeiros contatos foram por fotos. Depois come�aram as videochamadas. Conforme os la�os iam se estreitando, foram autorizados visitas e passeios aos finais de semana. At� que, em outubro de 2022, Gabrielly ganhou um novo lar.

"� como uma gesta��o, a gente vai passando por diversos processos e quando finalmente chega o dia de a gente receber essa crian�a em casa � uma alegria imensa. Desde quando conhecemos a Gabi, teve uma identifica��o e um amor gigante entre todos n�s, n�o tinha como n�o ser ela a nossa segunda filha", diz Daniele.

Lista de espera


Précoma Moro

Daniele e Gabriel sempre desejaram adotar uma crian�a

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro

Acompanhamento psicol�gico

 

A m�e conta ainda que durante todo o processo — desde o cadastro no sistema de ado��o at� conhecer pela primeira vez a crian�a selecionada — Alice sempre esteve presente e sempre fez parte de todo o contexto que inclui a ado��o. Situa��es que a fizeram aceitar muito bem a nova irm� mais velha.

"Elas s�o muito parceiras, brincam o tempo todo juntas e estudam na mesma escola. Andam de bicicleta, patins, correm pela casa, aonde uma vai a outra vai junto. Claro, que vez ou outra tem um ci�me, mas � coisa de irm�o", acrescenta.

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Al�m disso, para lidar com todas as mudan�as que a chegada de uma nova crian�a no lar exige, a fam�lia fez quest�o de que as duas crian�as tivessem um acompanhamento psicol�gico. "Agora, sim, a nossa fam�lia est� completa com nossas duas filhas. A gente n�o lembra mais como era as nossas vidas antes da Gabi chegar", complementa.


Daniele Ribas Précoma Moro e as filhas, Alice e Gabrielly

Daniele Ribas Pr�coma Moro e suas duas filhas, Alice e Gabrielly

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro

Ado��o tardia no Brasil

 

Dados do Sistema Nacional de Ado��o e Acolhimento, mostram que no ano passado 362 crian�as com mais de 12 anos foram adotadas no pa�s. O n�mero representa 10% das 3.608 ado��es registradas no per�odo.

Atualmente as crian�as acima de 12 anos que aguardam um novo lar somam 2.085 representando quase a metade das crian�as aptas para ado��o, que s�o 4.227. Por outro lado, aquelas com idades entre 2 e 4 anos representam quase 50% daquelas que ganham uma nova fam�lia. Uma crian�a � considerada apta para ado��o quando todo o processo de retirada dela da fam�lia biol�gica � conclu�do.

Ainda segundo o Sistema Nacional de Ado��o e Acolhimento, quase 33 mil (32.913) pretendentes aptos est�o na fila para adotar uma crian�a no pa�s, n�mero maior do que o de crian�as que vivem em abrigos no pa�s, 31.256.

Essa conta s� n�o fecha porque a grande maioria dessas pessoas adotantes (26.490) aguardam por uma crian�a entre 2 e 6 anos. E apenas 786 delas informaram ao sistema o interesse por crian�as maiores de 10 anos.

As pessoas interessadas em adotar uma crian�a passam por um processo de habilita��o � ado��o com palestras e entrevistas com psic�logos. Se forem consideradas aptas, elas far�o parte de um cadastro nacional unificado, onde os dados s�o cruzados com as crian�as que est�o na fila aguardando um lar. 


Gabrielly

Gabrielly e o c�o da fam�lia

Arquivo pessoal/Fam�lia Pr�coma Moro

"A espera por adotar uma crian�a nessa faixa et�ria de 2 a 4 anos, que � a mais buscada, pode demorar at� 4 anos. J� quando falamos de crian�as mais velhas, acima de 10 anos, esse tempo � reduzido a quatro, seis meses, porque elas s�o muitas e h� poucos adotantes que aceitam perfis mais velhos", diz Noeli Reback, ju�za e presidenta do Col�gio de Coordenadores da Inf�ncia e Juventude dos Tribunais de Justi�a do Brasil.

Para mudar essa realidade, os Tribunais de Justi�a do pa�s t�m realizado trabalhos de conscientiza��o e tamb�m de aproxima��o dessas crian�as que precisam de um lar com a sociedade, como os projetos de apadrinhamento.

"Essas crian�as precisam ser vistas para serem lembradas. Al�m disso, quando a colocamos em contato com as pessoas vai mudando um pouco aquela vis�o que a sociedade tem sobre elas. Estamos tendo um avan�o com rela��o � ado��o tardia, mas ele ainda � t�mido", acrescenta a ju�za.

Nos �ltimos quatro anos 13.966 foram adotadas no Brasil, desse total 7.927 tinham idades entre 2 e 8 anos e 4.964 eram maiores de 9 anos.