Estudos nos �ltimos anos encontraram um modus operandi comum na mente de pessoas altamente criativas
Parte do problema � que essas pesquisas se deparam com um obst�culo fundamental. � que j� � um pouco tarde para estudar as mentes de g�nios famosos que morreram h� s�culos, como Isaac Newton ou Ludwig van Beethoven.
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No entanto, nos �ltimos anos estudos encontraram um modus operandi comum na mente de pessoas altamente criativas.
Isso poderia nos dar pistas sobre, por exemplo, o que se passava dentro do pequeno Wolfgang Amadeus Mozart quando comp�s sua primeira sinfonia aos oito anos.

Mozart aos sete anos de idade
Getty ImagesO que � um g�nio?
Antes de tentarmos navegar pelas mentes dos prod�gios mais famosos da hist�ria, vamos primeiro estabelecer o que � exatamente um g�nio. "Uma defini��o de g�nio � algu�m que fez contribui��es originais e duradouras para a civiliza��o humana , sejam descobertas cient�ficas ou de criatividade art�stica", explica Dean Keith Simonton, professor em�rito de psicologia da Universidade da Calif�rnia � BBC Mundo, o servi�o em espanhol da BBC. "Outra defini��o especifica um QI alto e outra � usada para designar crian�as superdotadas", acrescenta Simonton.
Na mesma linha, Craig Wright, Ph.D. em musicologia e professor da Universidade de Yale, observa que um g�nio � "aquele com a capacidade de pensar com perspic�cia e implementar esses pensamentos no mundo real, tendo um impacto na dire��o do pensamento e atividade humana".
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"O g�nio humano est� ligado � alta criatividade", disse Wright � BBC Mundo. "� o que Mozart, Shakespeare ou Einstein parecem ser; indiv�duos com grandes capacidades criativas que mudam os rumos da humanidade h� s�culos."
Os problemas de estudar os c�rebros dos g�nios
A curiosidade de entender o c�rebro dos g�nios atingiu limites insuspeitados em 18 de abril de 1955.
Naquele dia, Albert Einstein morreu. Seu corpo foi cremado, mas o c�rebro n�o.
Thomas Harvey, o patologista americano que realizou a aut�psia, removeu- o e trouxe-o para casa. Ele queria analis�-lo minuciosamente para descobrir a chave para a mente por tr�s da Teoria da Relatividade Restrita.
Suas investiga��es nunca se concretizaram, mas Harvey tirou fotos do c�rebro, cortou-o em mais de 200 fatias e as enviou a v�rios neuropatologistas americanos da �poca.

Thomas Harvey segurando peda�os do c�rebro de Einstein
Getty ImagesE embora os cientistas tenham encontrado algumas caracter�sticas "�nicas", elas apenas levaram a conclus�es inconsistentes.
"Existe muita especula��o sobre o que o c�rebro de Einstein nos diz sobre os g�nios, mas � simplesmente rid�culo como ci�ncia, absurdo", diz Simonton.
"Ningu�m tem um c�rebro 't�pico' e para que os estudos fossem v�lidos exigiriam uma grande amostra de c�rebros de g�nios em compara��o com outra grande amostra de c�rebros normais", defende o acad�mico.
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"Mesmo que pud�ssemos discernir seus c�rebros com uma simples resson�ncia magn�tica ou realizar alguns testes de receptores de neurotransmiss�o, por que n�o usar essa capacidade para identificar g�nios mais cedo? Porque n�o podemos."
Conex�es cerebrais
Como parece improv�vel que o c�rebro de um g�nio seja diferente do de uma pessoa de intelig�ncia normal, os neurocientistas se concentraram em investigar como diferentes �reas do c�rebro s�o ativadas ao gerar ideias.
Quando Craig Wright come�ou sua pesquisa, as no��es de como os g�nios pensavam eram muito diferentes do que s�o agora.
"Depois nos baseamos no n�vel bilateral do c�rebro, em como o hemisf�rio esquerdo, mais anal�tico, e o direito, mais art�stico e visual, interagiam. Mas essa linha de pensamento n�o durou muito", explica.
Wright associa o g�nio humano a uma alta capacidade criativa. E para essa qualidade que une alguns dos g�nios mais revolucion�rios da hist�ria, existem estudos mais conclusivos.
Roger Beaty, especialista em neuroci�ncia cognitiva da Universidade de Harvard, liderou v�rias dessas investiga��es.
Por meio de exames de resson�ncia magn�tica de pessoas altamente criativas na popula��o em geral, Beaty e sua equipe encontraram redes neurais espec�ficas que s�o ativadas na gera��o de ideias.
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Especificamente, o pensamento criativo ocorre dentro de tr�s redes.
"A primeira seria a rede neural padr�o , usada para criar ideias. A segunda seria a rede de controle executivo , encarregada de avaliar as ideias geradas, se s�o boas ou n�o e se atendem aos requisitos do que se est� tentando A terceira rede se encarrega de alternar entre as duas primeiras ", explica Beaty � BBC Mundo.

Pessoas altamente criativas possuem redes neurais espec�ficas que s�o ativadas na gera��o de ideias
Getty ImagesSua equipe determinou que pessoas altamente criativas tinham melhor comunica��o entre essas redes.
"O interessante � que muitas vezes essas redes nem funcionam juntas em uma pessoa t�pica. Pessoas criativas conseguem vincular melhor essas redes , sendo mais eficientes na gera��o e avalia��o de ideias", diz o pesquisador.
Mas mesmo o uso dessas redes neurais tem limita��es quando se trata de diferenciar g�nios. "As mentes comuns podem entrar nesse modo neural sem produzir uma �nica ideia . N�o � algo que os g�nios tenham ao contr�rio das pessoas normais", diz Simonton.
"Parte do problema � que um g�nio, no final das contas, n�o pode ser separado de ter experi�ncia suficiente em um campo espec�fico. Einstein sabia matem�tica e f�sica, por exemplo, e esse conhecimento � armazenado em regi�es muito espec�ficas do c�rebro", acrescenta o especialista.
Quando ocorre o momento 'eureca'?
Wright ficou surpreso ao saber como os g�nios que ele estudou tiveram as ideias mais perspicazes. Longe do que eu pensava, seu "momento eureca" n�o ocorreu quando eles estavam mais focados ou mais determinados a encontrar solu��es.
"Lendo sobre os g�nios ao longo dos s�culos, entendi que eles tinham suas melhores ideias quando menos pensavam na solu��o , quando menos esperavam; caminhando por um parque, pela costa ou anotando o que lembravam de seus sonhos no dia seguinte manh�", conta Wright.
O acad�mico lamenta que, mais uma vez, tenhamos informa��es limitadas sobre como pensaram outros grandes g�nios da hist�ria.
“Shakespeare e Mozart nunca nos contaram, mas sabemos mais sobre como Einstein via o mundo, acrescenta.

Einstein em praia no Estado de Nova York em 1939
Getty ImagesConfronto entre g�nio e QI
A l�gica nos diz que um g�nio tem um QI acima da m�dia.
Estima-se que Mozart, por exemplo, tinha um QI entre 150 e 155 pontos . Um n�vel que sem d�vida lhe confere a distin��o de g�nio.
Mas n�o se trata apenas disso, pelo menos na vis�o de Simonton.
" Nem todos os g�nios t�m QIs excepcionais , e nem todas as pessoas com QI alto alcan�am conquistas que os qualifiquem como g�nios", diz ele.
Simonton lembra um estudo cl�ssico de crian�as com alto QI que foram testadas para ver se alguma vez ganhariam um Nobel quando adultas. Nenhum o fez. "No entanto, duas crian�as que foram rejeitadas por terem pontua��es baixas na amostra receberam o Nobel quando cresceram", diz Simonton.
Essas contradi��es podem nos levar a pensar se um g�nio nasce ou se faz. E nisso ele tamb�m n�o parece dar respostas totais.
"Acho que a educa��o e a gen�tica influenciam a intelig�ncia e a criatividade de uma pessoa. H� evid�ncias de que voc� nasce com eles, mas tamb�m pode trein�-los", diz Beaty.
Neste caso, melhor o quanto antes e com a maior liberdade poss�vel.
“O mais importante � manter a motiva��o e evitar decep��es. Trabalhe para que os indiv�duos expressem todas as suas habilidades e n�o os classifique primeiro em um campo espec�fico”, diz Wright.
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